sábado, 3 de agosto de 2013

Como lês o sexo?

A literatura erótica vive um novo impulso. Porque fazemos menos sexo, as líbidos andam atormentadas com a realidade, e precisamos de algo que volte a acender as luzes do corpo, argumentava um amigo meu há dias. Só isso, crê ele, justifica o entusiasmo bacoco com volumes cheios de sombras, por exemplo.

Ouvi e achei que faz algum sentido, sim. Mas tenho agora - que me cruzei com o vídeo que vos apresento a seguir - muita pena de não ter aproveitado o tema e a ocasião para fazê-lo ler em voz alta um trecho picante. Sempre queria ver como reagiria.

Mas fico-me pelo video que se segue. Parte de uma campanha da agência Mood contratada pela editora brasileira Paralela para promover os livros de Sylvia Day, ícone erótico-literário do momento, coloca vários homens a ler parágrafos do livro "Para Sempre Sua". E eles suam, ó se suam, perante "o misterioso e intenso prazer de ser possuída", como reza na capa. 





Se achou graça, saiba que a campanha inclui também uma aplicação de facebook - na qual, se tiver mais de 18 anos, pode lançar uns dados virtuais e ter acesso a vários trechos do dito livro caliente.

Quer experimentar? Siga este link e divirta-se.

(e, por favor, tente não se irritar com as faltas de concordância entre sujeito e predicado, com a repetição ad nausea do verbo reverberar e com a fraca qualidade literária da coisa em geral; é verão e este post é mesmo só para descontrair um pouco)

Handwritten Manuscript Pages From Classic Novels: John Steinbeck

Já alguma vez pensou ver As vinhas da Ira desta forma? Então fique com uma das suas páginas, escritas pelo próprio John Steinbeck.

Visite o site http://flavorwire.com para encontrar mais. 
Siga o link directo.

David Pinta... Lope de Vega

David pinta... Lope de Vega


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

A paixão por Pedro



A página não oficial de Pedro Paixão, no Facebook, que descobri há algum tempo, está recheada de mimos para os fãs do escritor.
Como este, ao que percebi um texto inédito do próprio PP, que hoje partilho convosco, fã assumida.


"Hoje o Pedro deixou-nos um pequeno texto para vocês. Tem a ver com aquilo que ele sente quando escreve. Esperamos que gostem deste mimo :-)

"Alguém escreve como quem morre.

Quando acaba de escrever atinge-o uma aflição. Ao lavar a loiça, por exemplo, uma pessoa sabe o que está a fazer, conhece os gestos que faz, tem o cuidado preciso para não deixar cair um copo de vidro no chão. Quando está a escrever, não. Há uma parte de si, a parte preciosa, que não sabe o que está a fazer, não acompanha o que as mãos vão escrevendo, espanta-se com o que lê. As palavras vêm de muito longe e partem para muito longe. Num instante passam por ele e desaparecem para sempre. Já os antigos sabiam que as palavras têm asas e voam sem nunca se deixarem aprisionar. Nenhuma palavra fica quieta onde está.
 
Quando acaba de escrever senta-se no sofá e olha fixamente em frente como se estivesse a olhar para uma coisa que não está lá e sente a aflição a chegar.
 
Quando julga saber o que vai escrever, nada escreve. Quando quer achar por onde começar, nada começa. Quando quer dizer uma coisa de uma maneira, escreve-a de uma outra maneira, aquela pela qual nunca previu começar. Quando quer continuar pára até desistir e só então pode continuar. Quando quer acabar, os dedos persistem em trabalhar até que o que se impunha a ser escrito se esgotar. Ninguém sabe o que faz uma pessoa quando está a escrever. Em primeiro lugar para o que escreve. Para ele isso é uma certeza. Escreve sem razão, para ninguém, sem nada esperar. Escreve como quem morre.
 
Sentado no sofá aguarda que a aflição que lhe morde o corpo inteiro o largue. Pode demorar mais tempo ou menos tempo. É outra coisa que ele não consegue controlar. Levanta-se para ir buscar um copo com álcool. Senta-se com ele na mão. Leva-o à boca e dá um pequeno gole. O sabor do álcool ocupa-lhe a boca. Quando desaparece leva de novo o copo à boca e dá um mais um golo. Continua assim até acabar o álcool que o copo continha. Continua a olhar em frente fixamente. Com um ligeiro esforço, um aumento de atenção ao seu corpo, procura saber se a aflição ainda lá está. O melhor seria tomar uma aspirina, um ansiolítico, e um indutor do sono. Engolir tudo ao mesmo tempo. Ou então nada disso. Ele já devia estar habituado, só que está cada vez mais frágil, mais sensível à mais pequena perturbação do espírito.
 
Depois de escrever entra numa zona perigosa, de fronteiras instáveis. É que não sabe onde esteve e agora não sabe onde está. Levanta-se do sofá e carrega num botão. Há meses que a música é a mesma. Não encontra razões suficientes para mudar de disco compacto. A música é sempre igual e diferente. Depende da forma como se sente, da maneira como a ouve. Agora só presta atenção ao violoncelo, agora aos violinos, agora à flauta. Sempre gostou mais de reler do que de ler, voltar a ouvir do que ouvir pela primeira vez, voltar a ver do que ver pela primeira vez, regressar ao mesmo lugar do que descobrir um outro lugar. Volta a sentar-se no sofá e ouve a música como se fosse pela primeira vez. Pouco a pouco regressa ao espaço entre as coisas, as coisas voltam a ser o que eram e a terem o peso que tinham, o tempo começa a passar, primeiro muito devagar e depois a correr como se nunca mais voltasse a asfixiar. Há pouco que se possa mudar.
 
Sente-se cansado. Vai-se deitar. Desliga a luz que está sobre a mesinha de cabeceira do seu lado esquerdo. Subitamente vem-lhe uma frase não sabe de onde. Uma frase imperiosa. Acende a luz e escreve-a num papelinho que encontra. Apaga a luz. Sabe que quando acordar vai encontrar uma frase que a noite consumiu por completo e não vale de nada. Pede a si próprio cinco minutos em que não seja incomodado por nenhum pensamento, nenhuma memória, má ou boa, o que lhe é concedido. Depois adormece a pensar que não consegue adormecer.
 
No dia seguinte vai ter de reescrever tudo de novo."



* Se quiserem também visitar o site oficial do escritor Pedro Paixão é só seguirem o link www.pedropaixao.net






Ciclo Júdice: «Escola»

Escola

O que significa o rio,
a pedra, os lábios da terra
que murmuram, de manhã,
o acordar da respiração?

O que significa a medida
das margens, a cor que
desaparece das folhas no
lodo de um charco?

O dourado dos ramos na
estação seca, as gotas
de água na ponta dos
cabelos, os muros de hera?

A linha envolve os objectos
com a nitidez abstracta
dos dedos; traça o sentido
que a memória não guardou;

e um fio de versos e verbos
canta, no fundo do pátio,
no coro de arbustos que
o vento confunde com crianças.

A chave das coisas está
no equívoco da idade,
na sombria abóbada dos meses,
no rosto cego das nuvens.


*Nuno Júdice, in Meditação sobre Ruínas - Ed. Quetzal

a-ver-livros: a raposinha e Lori Pensini

A raposa não perde
sílaba nem vírgula
atenta 
ao ritmo do teu sopro

entenderá ela 
mais do que tu
sobre os mistérios
de ser


* para conhecer mais do trabalho da pintora australiana Lori Penini
siga o link loripensini.com

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Ciclo Júdice: «Poema de Amor para Uso Tópico»

Poema de Amor para Uso Tópico

Quero-te, como se fosses
a presa indiferente, a mais obscura
das amantes. Quero o teu rosto
de brancos cansaços, as tuas mãos
que hesitam, cada uma das palavras
que sem querer me deste. Quero
que me lembres e esqueças como eu
te lembro e esqueço: num fundo
a preto e branco, despida como
a neve matinal se despe da noite,
fria, luminosa,
voz incerta de rosa.


*Nuno Júdice, in Poesia Reunida - Dom Quixote

É do borogodó: fruta

pequenas cerejas, minhas divas,
sabor de maçã e glória: sumo.

 

 

a-ver-livros: suspensa e Isabel Guerra

Suspensa na luz
a crença, a fé
paixão talvez
Suspensa cá dentro
a realidade
e a fábula
suspensa de mim
na sombra
e sustenido em fá

* para conhecer mais sobre a freira pintora espanhola Isabel Guerra
siga o link http://isabelguerra.com/

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Ciclo Júdice: «Plano»

Plano

Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
que se despeja no copo da vida, até meio, como se
o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
boca. Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos, que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima,
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro.


*Nuno Júdice, in Poesia Reunida - Dom Quixote


Como foi ler Clarice Lispector? «Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres» em breve análise

Porque no Impossível é que está a realidade. Lóri suportava a luta porque Ulisses, na luta com ela, não era seu adversário: lutava por ela.
 - Lóri, a dor não é motivo de preocupação. Faz parte da vida animal.
Ela apertou as mandíbulas, olhou para a lua gelada, olhou o zénite da esfera celeste.
Ele esmagava uma folha que caíra da árvore sobre a mesa do bar. E como para lhe dar de presente alguma coisa, ele disse:
- Sabe o que é sarcofila?
- Nunca ouvi esta palavra, respondeu.
- Sarcofila é a parte carnosa das plantas. Segure esta e sinta.
Estendeu-lhe a folha, Lóri tacteou-a com dedos sensíveis e esmagou-lhe a sarcofila. Sorriu. Era lindo dizer e pegar em: sarcofila.


Este livro é um constante diálogo interior, uma passagem pelas emoções de alguém que ama. E quem ama, experimenta todas as fases da paixão - as inseguranças e medos, a descoberta de quem está do outro lado, a dúvida, o vai / não vai... E Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres é esta estranha e fascinante viagem pelo mundo de Lóri (Loreley) e Ulisses.

Na verdade, esta história põe a nu várias questões: a morte, Deus, o amor, a existência, o ser. O magnífico cruzamento entre a professora primária e o professor de Filosofia... na constante busca da aprendizagem e na busca interior (a viagem ao mundo de Lóri, personagem que nos fica para sempre). Narrativa de diálogos desconcertantes, carregados de pensamentos profundos e de frases lindíssimas - é impossível parar de sublinhar o livro. Clarice Lispector leva-nos bem longe, num turbilhão de sensações que nos arrastam para grandes pensamentos.

Não sei se repararam que o início do romance começa com uma vírgula (,) e termina com dois pontos (:). Que quererá Lispector significar com isto? Uma sequência? Provavelmente devíamos ter começado o nosso caminho noutro romance da autora; muito possivelmente os dois pontos no fim quererão significar um convite a permanecermos na sua escrita.

Será a vida uma constante Aprendizagem? Espero que tenham aprendido alguma coisa com a dor desta personagem, as suas dúvidas, inseguranças e angústias. Pessoalmente gostei imenso de fazer esta viagem com a sua escrita e convosco.

a-ver-livros: memória e Jonathan Burton

Escapas-me 
por entre os dedos
retalhos de outono
que não voltam
sobejos do que julgámos 
ser
um para o outro
um perante o outro
e o mundo
resíduos voláteis
de carne, memória 

e meia dúzia de linhas
* para conhecer melhor o pintor britânico Jonathan Burton
(a viver em França) é só seguir o link www.jonathanburton.net

terça-feira, 30 de julho de 2013

Ciclo Júdice: «Quotidiano (Reflexão)»

Quotidiano (Reflexão)

Por exemplo, as coisas que faltam neste lugar:
uma enxada para que as mãos não toquem na terra,
um ninho de pardais no canto da relha,
para que um ruído de asas se possa abrigar,
um pedaço de verde no monte que ainda vejo,
por detrás dos prédios que invadem tudo.

Mas se estas coisas estivessem aqui,
também faria falta um copo de água para ver,
através do vidro, um horizonte desfocado;
e ainda os restos de madeira com que,
no inverno, é costume atiçar o fogo
e a imaginação que ele consome.

Como se tudo estivesse no lugar,
pronto para ser usado na data prevista,
sento-me à janela, e fixo a única coisa
que não se move:
o gato, hipnotizado por um olhar
que só ele pressente.


*Nuno Júdice, in Meditação sobre Ruínas - Quetzal

É do borogodó: berimbau

pode-se ouvir gotas de chuva?

talvez areia a correr na peneira.

pode-se ouvir o lamento?

sorriso moreno a embalar o tempo.

pode-se ouvir a voz que canta?

berimbau entoa a esperança.

pode-se ouvir o povo a sonhar?

de mãos dadas é que se aprende a amar.


Penélope Martins



“O berimbau é um instrumento de resistência cultural que atravessou o Atlântico e, no Brasil, tornou-se símbolo de luta pela liberdade.”
“A ideia de uma Orquestra de Berimbaus surgiu nos encontros informais que aconteciam na pracinha do morro, ao cair das tardes de domingo, quando Dinho Nascimento e alguns amigos se reuniam para tocar, jogar capoeira e passar seus ensinamentos aos mais jovens e outros recém-chegados.”
in http://www.dinhonascimento.com.br/orquestradeberimbaus/






a-ver-livros: esconde-esconde e Norberto Nunes

Escondo a voz
no meio das vossas
sem ânsia maior
que os ecos do estro
que corre em nós
Escondo-a sob risos
e invernos e piadas parvas
sem senso ou tento
e lençóis suados
das noites em claro
a procurar palavras
Voz oculta
sob pó e traças
sob ego e rebeldias
e camadas e camadas
de ilusões

* para conhecer mais sobre o pintor português Norberto Nunes
siga o link norbertonunes.com

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Ciclo Júdice: «Deus»

Deus

À noite, há um ponto do corredor
em que um brilho ocasional faz lembrar
um pirilampo. Inclino-me para o apanhar
- e a sombra apaga-o. Então,
levanto-me: já sem a preocupação
de saber o que é esse brilho, ou
do que é reflexo.
Ali, no entanto, ficou
uma inquietação; e muito tempo depois,
sem me dar conta do motivo autêntico,
ainda me volto no corredor, procurando a luz
que já não existe.


*Nuno Júdice, in Meditação sobre Ruínas - Quetzal

a-ver-livros: da inutilidade e Olaf Hajek

É fútil e inútil
a fuga
puro malogro
frustradas são
as horas de evasão
patética a erosão
do que resta
desgasta-se a margem
crescem as águas
e nascem deuses
na barriga dos homens

* para saber mais sobre o pintor alemão Olaf Hajek
siga o link www.olafhajek.com

domingo, 28 de julho de 2013

Handwritten Manuscript Pages From Classic Novels: Somerset Maugham

Já alguma vez pensou ver Servidão Humana desta forma? Então fique com uma das suas páginas, escritas pelo próprio Somerset Maugham.

Visite o site http://flavorwire.com para encontrar mais. 
Siga o link directo.

XYZ - fotografia no Chiado

Abrir uma livraria é loucura - quando tantas outras vão fechando?

Pedro Guimarães decerto achará que não e por isso arriscou. A XYZ abriu no Chiado, em Lisboa, e é inteiramente dedicada a essa arte maravilhosa que é a fotografia.

Para a ficarem a conhecer melhor, partilho este link de uma reportagem do jornal "Sol".


Pedro Guimarães, fotografado por Miguel Silva / Sol

Letras na Avenida: mais um Domingo nos Aliados

PROGRAMA DO DIA
28/07/2013

Tertúlia "Heróis de calções": A épica do desporto pela via literária
 Esplanada
 28/07/2013 - 16:00
Tertúlia “Escrever para o Teatro do Mundo”
 Auditório
 28/07/2013 - 16:00 às 17:00
Sessão “Um Porto de Livros com Porto”
 Auditório
 28/07/2013 - 17:30 às 19:00
Mean Swing Machine
 Esplanada
 28/07/2013 - 22:00
- Mais em: http://letrasnaavenida.cm-porto.pt/