sábado, 20 de julho de 2013

Poema à noitinha... Neruda - as vezes que forem precisas!

Amo-te Sem Saber Como

Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou seta de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te directamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,

a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.


*Pablo Neruda, in Cem Sonetos de Amor - Dom Quixote. 

Handwritten Manuscript Pages From Classic Novels: Maquiavel

Já alguma vez pensou ver O Príncipe desta forma? Então fique com uma das suas páginas, escritas pelo próprio Nicolau Maquiavel.

Visite o site http://flavorwire.com para encontrar mais. 
Siga o link directo.

A drinking Song - poema de Yeats

Letras na Avenida: Um dia em cheio que só termina às 23:00!

PROGRAMA DO DIA
20/07/2013

Apresentação do livro “Porto sem Filtro”, de José Efe, Ed. Mosaico das Palavras
 Auditório
 20/07/2013 - 16:00 às 18:00
Apresentação do livro "Percursos Através das Lendas: Porto, Matosinhos, Gaia” de Emília Lemos, Ed. Mosaico das Palavras
 Auditório
 20/07/2013 - 16:00 às 18:00
Lançamento de “Um Búzio na Rota de Paris”, de Emília Lemos, Ed. Mosaico das Palavras
 Auditório
 20/07/2013 - 16:00 às 18:00
TEATRO DE MARIONETAS DO PORTO
 Edifício AXA/ Sala Serviço Educativo, Piso 1
 20/07/2013 - 17:30
Apresentação do livro "Excertos do Quotidiano" da autora Clara do Vale
 Edifício AXA/ Auditório
 20/07/2013 - 18:00
"Vivaldi vem à Avenida"
 Esplanada
 20/07/2013 - 18:30
Tertúlia “Poesia no feminino”
 Auditório
 20/07/2013 - 18:30 às 19:30
Tertúlia “A pronúncia do Norte: à moda do Porto, Minho e Trás-os-Montes”
 Auditório
 20/07/2013 - 21:30 às 22:30
Monólogo “A menina Olímpia e a sua criada Belarmina” do livro “Histórias de Mulheres”, de José Régio, por Margarida Fernandes
 Esplanada
 20/07/2013 - 22:00 às 23:00
-  Mais em: http://letrasnaavenida.cm-porto.pt/

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Espiando o Facebook de Maria Teresa Horta: A Infância

A INFÂNCIA

São folhas
é febre
e são as casa

É toda uma infância agasalhada

os meandros da água
estagnada
em lentos tanques onde peixes nadam

São as fibras do vento
As fendas da muralha

São os goivos - as estátuas
dos jardins

São meigos portões
de ferro em brasa

é aquilo que passa
e não se quis

São as copas das espadas
que se agarram
a beber pela cal o sangue aberto

não negues o que é teu
e os outros não sabem

nem descubras o sexo
no começo das lágrimas

Oh, que fazes?
que fendas!

E que fundas as fráguas

as tréguas
as trevas

que se abrem e rasgam

*Maria Teresa Horta

Letras na Avenida: Lendas, tertúlias e entrevistas...

LENDA DOS TRIPEIROS
 Auditório
 19/07/2013 - 14:30 às 15:30
Tertúlia “Autodefesa Energética”, por Denis Alves Viático
 Auditório
 19/07/2013 - 17:30 às 18:30
Tertúlia “O Livro Infantil”
 Esplanada
 19/07/2013 - 21:30 às 22:30
Entrevistas com Autores Históricos do Bairro dos Livros
 Auditório
 19/07/2013 - 21:30 às 22:30
Mais informações em: http://letrasnaavenida.cm-porto.pt/

a-ver-livros: traduzindo o caos e Ana Almeida

O meu a-ver-livros de ontem. Traduzido.
Porque foi divertido. Porque as palavras são tanto o que fizermos delas - e tomara eu fazer delas as coisas grandes que os meus sonhos imaginam. Porque as palavras têm vidas próprias e caminhos estranhos, tornando a viagem uma permanente descoberta da capacidade de dizermos o universo. Mesmo que seja apenas o nosso. 

Em permanente e metódico caos.

~*~

Na metódica criação do universo
o caos são palavras
criadas à revelia  

o caos é merripen  
e iktsuarpok  
talvez também nakhur 
e um pouquinho de koro

O caos sou eu   
pochemuchka

~*~ 

Merripen - em romani, a língua cigana, significa a dualidade vida/morte. Curiosamente, em Inglaterra, foi em tempos idos um nome dado aos rapazes.

Iktsuarpok- em inuíte, a língua dos esquimós, significa aquela pessoa que está à espera de alguém, de convidados, por exemplo, e passa o tempo a ir à porta ver se estão a chegar. Uma espécie de ansiedade, talvez. Que também pode descrever as nossas constantes idas ao mail ver se já chegou aquele de que estamos à espera, não é...

Nakhur- palavra persa que se refere a um camelo fêmea que não dá leite enquanto não fizerem cócegas nas suas narinas. E só isto. 

Koro - em japonês, o medo de que o próprio pénis esteja a encolher para dentro do corpo.

Pochemuchka - em russo, uma pessoa que faz muitas perguntas. Vem de 'pochemu', que significa 'porquê'. 


~*~ 
 
Eis a versão 'traduzida':
 


Na metódica criação do universo 
o caos são palavras
criadas à revelia

o caos é vida e morte
e ansiedade
talvez também uma camelo fêmea
que não dá leite enquanto 
não coçam as suas narinas 
e um pouquinho de medo
que o pénis encolha
para dentro do corpo


  O caos sou eu
a mulher que faz

muitas perguntas


~*~ 

Termino assim por hoje: gadrii nombor shulen jongu.
Ou seja, em tibetano, dando uma resposta verde a uma pergunta azul
Chama-se desconversar, está bem?


quinta-feira, 18 de julho de 2013

Espiando o Facebook de Maria Teresa Horta: Anjo do teu Corpo

ANJO DO TEU CORPO

A parte que é
anjo
no teu corpo

e me procura a meio
da madrugada

Sobrevoando o lago
que é suposto
ser no meu sono
aquilo que calava

A parte que é
anjo
no teu corpo

e me visita
a meio da madrugada

descansando as asas
dos teus ombros
a meu lado:
em cima da almofada

*Maria Teresa Horta

É do borogodó: a fada e a lua

a fada perguntou à lua

“quem é mais bela,

quem é mais faceira,

qual de nós duas?”

a lua calou

com ar de riso iluminou

o espelho d’água.

Bailava a lótus,

sobre águas calmas e frias

inquieta a fada

perguntou à flor:

“quem de nós duas

quem poderia

qual seria a melhor dançarina?”



* a ilustração de Bárbara de Carvalho me foi enviada como um “mimo”. Bárbara é artista, tem 11 anos e mora em Portugal. Meu poema é um mimo para Báh e para todas as fadas que passeiam nos nossos quintais.

Penélope Martins

Letras na Avenida: Vivaldi, tertúlias, concertos e performances...

PROGRAMA DO DIA

18/07/2013

CONTOS PARA A INFÂNCIA DE GUERRA JUNQUEIRO
 Auditório
 18/07/2013 - 14:30 às 15:30
A NOSSA VIDA PODIA DAR UM FILME - Filme de animação
 Edifício AXA/ Auditório
 18/07/2013 - 16:00 às 16:30
Apresentação do livro “Destino Quebrado”, Adão Moreira, Ed. Lugar da Palavra
 Auditório
 18/07/2013 - 17:00 às 18:00
MOVE - performance
 Praça D. João I
 18/07/2013 - 18:30
Apresentação do projecto Chat Analógico, da Chave d’Afectos
 Auditório
 18/07/2013 - 18:30 às 19:00
Concerto “Collectif Medz Bazar”
 Auditório
 18/07/2013 - 19:30 às 20:30
"Viva Vivaldi"
 Esplanada
 18/07/2013 - 20:30
Tertúlia “Jovens Leitores, esse público tão difícil…”, com Maria Clara Miguel, Patrícia Silveira e João Coelho
 Auditório
 18/07/2013 - 21:30 às 22:30
Exibição de “O medo vai ter tudo”
 Esplanada
 18/07/2013 - 21:30 às 22:30
- See more at: http://letrasnaavenida.cm-porto.pt/#sthash.i6y4MEKr.dpuf

a-ver-livros: dialecto do caos e Mark Kostabi

Na metódica criação do universo
o caos são palavras
criadas à revelia

o caos é merripen 
e iktsuarpok
talvez também nakhur
e um pouquinho de koro. 


O caos sou eu
pochemuchka


* para saber mais sobre o artista Mark Kostabi siga os links
en.wikipedia.org/wiki/Mark_Kostabi e http://id3480.securedata.net/kostabi/

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Charles Bukowski encontrado no mural de Alice Vieira e traduzido por Julieta Monginho

ELES E NÓS

estavam todos na varanda da frente
a conversar:
Hemingway, Faulkner, T.S.Eliot,
Ezra Pound, Hamsun, Wally Stevens,
e.e.cummings e alguns outros.

"ouve lá", disse a minha mãe, "não podes
pedir-lhes que parem de falar?"

"não", disse eu.

"só dizem disparates", disse o meu
pai, "deviam era arranjar
emprego"

"eles têm emprego", disse
eu.

"uma treta", disse o meu
pai.

"exactamente", disse
eu.

nesse preciso momento Faulkner entrou
a cambalear
encontrou o uísque no
armário e saiu com
ele.

"uma pessoa terrível"
disse a minha mãe.

então levantou-se e foi espreitar
à varanda
"e está uma mulher com ele",
disse ela, "embora mais pareça um
homem".

"é a Gertrude", disse
eu.

"há outro tipo a exercitar os
músculos", disse ela, "gaba-se de
conseguir açoitar três de entre
eles"

"é o Ernie", disse eu.

"e ele", o meu pai apontou para mim,
"quer ser como eles!"

"isso é verdade?", perguntou a minha mãe.

"não como eles", disse eu, "mas um
deles".

"vais arranjar um rico trabalho",
disse o meu pai.

"cale a boca", disse eu

"o quê?"

"eu disse, "cale e boca", estou atento à conversa
destes homens"

o meu pai olhou para a mulher:
"isto não é filho
meu!"

"espero bem que não", disse eu.

Faulkner voltou a entrar cambaleando.

"onde é que está o telefone?"
perguntou.

"para que raio é que o quer»?", perguntou
o meu pai

"o Ernie acabou de rebentar os
miolos", disse ele.

"vês o que acontece a homens
como esses?", gritou o meu pai

levantei-me
devagar
e ajudei o Bill a encontrar
o
telefone.


CHARLES BUKOWSKI
(tradução de Julieta Monginho)



Espiando o Facebook de Maria Teresa Horta: Escrita

ESCRITA

Vai tomando lugar
num ondear desfeito
tocando cada um dos meus sentidos

Indo depois restolhar
rolando no meu peito
como uma tempestade que tivesse vestido

Feito de marear o olhar turvado
roçagando o verso
com um pranto desfeito

Vistoria a desordem na busca do errado
com a sua perfeição
apontando o defeito

*Maria Teresa Horta

Letras na Avenida: Hoje há tanto para ver!

Já sabem, é nos Aliados - Porto.

Programação de hoje:

14:30 - 15:30
A MENINA DO MAR - Hora do Conto, de Sophia de Mello Breyner Andresen

Hora do Conto seguida de atividade de expressão plástica e criativa
CRIANÇAS DOS 4 - 8 ANOS
Auditório Pelouro do Conhecimento e Coesão Social - por Divisão Municipal de Bibliotecas

14:30 
OS CAVALOS – INSTALAÇÃO
Duração: 4 horas
Praça da Liberdade / Estátua D. Pedro IV - por SETE/ ESMAE SETE/ ESMAE
16:00 - 16:30
ANDA AQUI BRUXEDO - Filme de animação
Há quem acredite que as bruxas existem e que alguns dos nossos males resultam de bruxarias. Partindo de algumas histórias reais, este filme revela algumas crenças e fenómenos que dão que pensar!
Edifício AXA/ Auditório Pelouro do Conhecimento e Coesão Social - por Anilupa Escola EB1 de Carlos Alberto S.A.O.M.

18:30 
“Puro Instinto" 
Esplanada PortoLazer - por Centro de Dança do Porto
19:00 
“Mulheres de Palavra”, tertúlia do projecto Word of Women 
Auditório Cultureprint - por Word of Women
21:00 - 21:30
“As palavras têm veneno na boca”, performance pelo colectivo poético Sujeitas ao Verbo
Auditório Cultureprint - por Sujeitas ao Verbo
21:30 - 22:30
Tertúlia “Das Tripas Coração”,
com participações de Filmesdamente, O Porto Encanta, Gbliss e moderação Manuel dos Santos, d’O Porto Desaparecido
Auditório Cultureprint - por Cultureprint
21:30 
Tertúlia “Cordão de Poesia II” com os livros: «Ménage à Trois» - José Pinto Leite, José Soares Martins e Pedro de Andrade, «Lucubrações» e «Esmerilando… Mundividências» - Duarte Klut, «Poemas do tamanho de nós» - Conceição T. Sousa
Edifício AXA/ Auditório - por Cordão de Leitura Invicta

22:00 
POEMA PARA O FIM DO MUNDO – performances
Duração: 30 minutos
Praça D. João I - por SETE/ ESMAE SETE/ ESMAE
22:30 
SETE: “SÍTIO...NÃO SÍTIO...ÁGUA...DANÇA...ELEMENTOS...ANTAGONISMO...MOVIM
Av. dos SETE/ ESMAE SETE/ ESMAEENTO...CRIAÇÃO”
– performance
Duração 10 minutos - por Aliados/ Espelho d’água
23:00 
MILONGA PARA UN LOCO – música
Duração 4 horas
Praça D. João I - por SETE/ ESMAE SETE/ ESMAE


Ontem: Rui Manuel Amaral, Patrícia Lino e Leonor Figueiredo nas leituras do "Contos em Conta", com uma selecção de livros escolhidos nos stands das livrarias presentes no Letras na Avenida - Foto: Letras na Avenida. 

a-ver-livros: promessa e Alphonse Fritzner

Não abrirei
a primeira página
enquanto não chegar
a hora da cotovia 
necessária suavidade
da luz primeira
para iluminar
a lúgubre fábula

Nem abrirei
o coração 
enquanto não chegar
a hora do mocho
no seu voo
silencioso

* para saber mais sobre o pintor haitiano Alphonse Fritzner
siga o link www.westindiesbooks.com/AlphonseFritzner

terça-feira, 16 de julho de 2013

Espiando o Facebook de Maria Teresa Horta: Morrer de Amor

MORRER DE AMOR

Morrer de amor
ao pé da tua boca

Desfalecer
à pele
do sorriso

Sufocar
de prazer
com o teu corpo

Trocar tudo por ti
se for preciso

*Maria Teresa Horta

É do borogodó: menininha

O balanço de cordas grossas tramadas a segurar a velha tábua de madeira. Na árvore, as formigas a subir e descer trabalhavam duro. A avó lavava a roupa e corava algumas peças brancas no quintal. Dentro da casa, girando na vitrola o disco colorido da Arca de Noé embalava brincadeira de gente grande e gente miúda.

Vinícius de Moraes e Toquinho fizeram três musicais infantis para televisão, todos com gravações disponíveis actualmente e completamente imprescindíveis para o divertimento geral!
Formiga, leão, foca, abelha, gato, pinguim, coruja e mais, todos animais interpretados por grandes nomes da música brasileira, em “Arca de Noé”, volumes 1 e 2. Depois, a dupla Vinícius e Toquinho elegeram bicicleta, espingarda de rolha, bola, robô e mais, também com grandes intérpretes, para cantar a “Casa de Brinquedo”.

Inevitável gostar de poesia para quem cresce ouvindo boas canções. Ao menos foi assim que eu me apaixonei pela literatura, com olhos vidrados nos encartes dos discos. “Arca de Noé”, publicado no formato livro em 1970, depois de uma década surgiu em disco e estreou como musical para programa de televisão, hoje disponível até em download.

Crescendo assim, a menininha ficou guardada no peito, com um pedaço generoso de infância coberto por cheiro de bolo da avó e notas musicais.

Arca de Noé - Menininha [Toquinho]

Penélope Martins

a-ver-livros: nudez e William Shih-Chieh Hung

Despe-te 
da tua história
que outras narrativas
aguardam a tua pele

Despe-te 
do que julgas
que foste
melhor serás
quando aceitares
o manto novo

A nudez
abraça melhor
o amor

* para saber mais sobre o pintor chinês William Shih-Chieh Hung
siga o link www.williamhung.com

Letras na Avenida: Muitos contos para esta terça

Já sabem, é nos Aliados - Porto.

Programação de hoje:

14:30 – 15:00
O MONGEZINHO DE NOVA SINTRA - Hora do Conto
O Mongezinho de Nova Sintra, era assim que chamavam a António
Carneiro...". Com esta introdução inicia esta Hora do Conto…
6 - 10 anos
Auditório Pelouro do Conhecimento e Coesão Social - por Divisão Municipal de Museus e Património Cultural

15:00 – 15:30
VER, MEXER E APRENDER COM AZULEJOS
Sessão de exploração de azulejos originais e suas técnicas decorativas.
Todas as Idades
Auditório Pelouro do Conhecimento e Coesão Social - por Divisão Municipal de Museus e Património Cultural

16:00 – 16:30
CORAÇÕES DE PANO - Filme de animação
Inspirado na arte popular de construção de bonecos de pano e ráfia, este filme é um pretexto para conhecermos a vida de outros tempos.
Todos os públicos
Edifício AXA/Auditório Pelouro do Conhecimento e Coesão - por Anilupa / Escola EB1 de António Aroso / Centro de Dia do Ceta Social de Aldoar

21:00 – 22:00
“Contos em Conta”, leituras por Rui Manuel Amaral 
Auditório Cultureprint - por Cultureprint

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Poema à noitinha... «As Facas» de Manuel Alegre

As Facas

Quatro letras nos matam quatro facas
que no corpo me gravam o teu nome.
Quatro facas amor com que me matas
sem que eu mate esta sede e esta fome.

Este amor é de guerra. (De arma branca).
Amando ataco amando contra-atacas
este amor é de sangue que não estanca.
Quatro letras nos matam quatro facas.

Armado estou de amor. E desarmado.
Morro assaltando morro se me assaltas.
E em cada assalto sou assassinado.

Quatro letras amor com que me matas.
E as facas ferem mais quando me faltas.
Quatro letras nos matam quatro facas.

*Manuel Alegre, in Obra Poética.

Espiando o Facebook de Maria Teresa Horta: Cicuta

CICUTA

Debruça-te, amor
e colhe-me a manhã

bebe-me o hálito
morde-me os gemidos

eu sou o copo
de cicuta

(o vinho)

com o qual envenenas
os sentidos

*Maria Teresa Horta

Letras na Avenida: Esquecer o "I hate Mondays"

Já sabem, é nos Aliados - Porto.

Programação de hoje:

14:30 - 15:30
PARA QUE SERVE AQUELA TORRE?
Leitura de um conto, seguida de oficina de marcador de livro. Crianças dos 3 – 10 anos; famílias
Auditório Pelouro do Conhecimento e Coesão Social - por Divisão Municipal do Arquivo Histórico

15:30 - 16:00
Apresentação do livro “Pedaços de mim” de Irene Lopes 
Auditório 1ª Avenida - por 1ª Avenida

16:00 - 20:00
Homenagem a Agustina Bessa-Luís, com a leitura integral de ”A Sibila”, por Nuno Meireles
Auditório Cultureprint - por Cultureprint

21:00 - 22:00
“Mulheres de Palavra”, tertúlia do projecto Word of Women
Auditório Cultureprint - por Word of Women

a-ver-livros: equilíbrio e Andreas Noßmann

Como equilibrar
todas as sombras que eu sou
no mesmo eclipse

As de tempos solares
quentes e húmidas
a cheirar aos nossos corpos
As do nevoeiro
carregadas de esperas

Como equilibrar
tudo o que aprendi
nos livros que li
com as sombras
dos dias
e as luzes das noites

e o apagar de tudo?

* para conhecer mais sobre o pintor alemão Andreas Noßmann
siga o link www.facebook.com/people/Andreas

domingo, 14 de julho de 2013

Primeiro foi o FIM


Primeiro foi o fim do trabalho.
O princípio da reforma.
Sentia-se no princípio do fim
O Verão passou como se férias.
O mar, e não o mar, que desde a operação aos intestinos nunca mais se despiu em público, e não derivado da cicatriz, vinte e oito pontos, mas por perceber que o corpo lhe envelheceu, não se sentia apresentável, tinha ultrapassado o prazo de validade no rótulo, o rótulo carcomido e amarelo.
Que velhos são os trapos!
Sim, sim. Então o seu corpo um trapo.
O mar, e não o mar, as esplanadas, e não o seu corpo, os corpos dos outros.
Deleitava-se com os corpos à distância do seu olhar, a miopia a obrigar a distâncias curtas.
E gostava especialmente dos vértices, de joelhos, de cotovelos, de ombros, de narizes.
Meu Deus, quanto mais novas mais bonitas!
E recriminava-se pelos seus pensamentos, que tinham idade para ser suas netas.
Depois recriminava o tempo por transformar os corpos em trapos.
O mar, e não o mar, as esplanadas, o sol, a aldeia, mais esplanadas, os primos da aldeia, tremoços, finos ou imperiais, sardinhadas, procissões, à falta de bola conversas sobre a bola, música e bailaricos que nunca dançavam.
A última vez que dançaram, a valsa no dia do casamento.
Um sufoco.
O colete, a gravata, os sapatos, ela dentro de um vestido feito de sedas e rendas, vantagens de ter uma madrinha costureira.
Há-de levar o vestido mais bonito que a paróquia alguma vez viu, igual ao daquela princesa inglesa, da que casou com… como é mesmo o nome da princesa?
Sedas e rendas que o impediam de lhe encontrar as mãos, os pés, as curvas do corpo.
O seu corpo tinha curvas.
E desde o primeiro acorde da valsa, os dois sérios, concentrados nos pés, nas mãos, em fazer bonito, em respeitar o compasso.
Os pés descompassados, os sorrisos nos olhos, em sincronia, sorrisos resignados com a evidente falta de acerto e um leve encolher de ombros.
Depois das vindimas, o Outono, o sossego dos primeiros dias de chuva.
O inevitável regresso ao T3 na cidade, aos dias de chuva urbana, ao silêncio entre as paredes, apesar do barulho do vizinho do lado, um barulho abafado de berbequim, porque perito ou apenas incontrolavelmente adicto à bricolage.
E a cortar o silêncio, palavras, não suas, não entre os dois.
Entre os dois sorrisos parcos em sincronia e um breve encolher de ombros.
As palavras, dentro de casa, da rádio, giravam o botão à procura de vozes, da televisão, mais botões, dos vizinhos do andar debaixo, um casal novo e ainda sem filhos, que regressa a casa sempre depois do sol posto, por volta das nove, não, depois das nove, que as luzes dos candeeiros da rua já acesas, de Inverno noite cerrada, mas com fôlego e resistência para discutir, como se ciclistas em contra-relógio na prova de montanha, durante três horas.
Conseguem ouvir as palavras em discussão.
Podiam ter discussões com as mesmas palavras, mas olham um para o outro e um leve encolher de ombros e sorrisos resignados com a evidente falta de acerto.
Tem saudades da antiga vizinha do andar debaixo, a D. Lídia, que infelizmente não se mudou, finou-se, mudou-se definitivamente.
Uma vizinha silenciosa, educada, penteada, perfumada, apenas excesso de pó-de-arroz e os lábios pintados em desalinho, porque as mãos desalinhadas pelo Parkinson.
Uma vizinha que perfumava o vão das escadas do prédio, em regra, com o N.º 5 da Maison Chanel que, em rigor, não o quinto mas o primeiro perfume da casa, e assim seu nome porque para costureira o seu número da sorte, mesmo motivo porque também escolheu para apresentar o perfume o 5º dia do 5º mês de 1921.
Coco Chanel disse quanto ao N.º 5 que era um perfume com cheiro de mulher, pelos vistos as mulheres têm à flor da pele o cheiro a baunilha.
Depois, a Marilyn Monroe veio dizer que dormia vestida com apenas duas gotas do perfume, e o mundo quis ser uma Marilyn, sonolenta e nocturna, que de noite os gatos podem ser pardos, e as vendas dispararam ao ponto de o N.º 5 se transformar no n.º 1 em vendas.
Será que a D. Lídia sabia disto?
Será que a D. Lídia tinha um não sei quê de Marilyn que ele nunca percebeu!
Faz um exercício de imaginação e consegue ver o seu sorriso perfeito e pintado, sem rugas, os seios altivos, lascivos, cativos sob os botões da camisa, a cintura fina.
A filhadaputice do tempo a transformar os corpos em trapos.
Uma vizinha que sempre que fazia um bolo de laranja, O Bolo de Laranja, por saber que o seu preferido, o convidava para um chá uma fatia de bolo, convite que aceitava sem hesitar, apesar da sua tendência constitucional para a diabetes, depois pensava que se lixe, e comia sempre uma segunda fatia.
Mais fininha, se não se importa!
As mãos da D. Lídia, trémulas e desalinhadas pelo Parkinson, a cortar uma fatia de bolo igual ou maior do que a primeira.
Quase não falavam.
Este foi feito com laranjas do Algarve, para o meu gosto melhores que as andaluzas. – Informava a D. Lídia. – E o chá é de cidreira, dizem que bom para a digestão.
E encolhiam os ombros em sincronia quando na rádio palavras tristes, notícias, letras de canções, engarrafamentos, que esqueciam a cada garfada, num consolo sacarino.
Nos dias de bolo de laranja, o cheiro a bolo acabado de sair do forno, a citrinos, a sol, perfumava o prédio do rés-do-chão ao oitavo andar.
O prédio tem oito andares, como o da canção da Elis.
E no 4º esquerdo, onde mora, o silêncio pesado, desconfortável, como um sofá que em má hora compraram, caro, enorme, em pele, um paquiderme, onde os corpos ou escorregavam ou se mantinham à proa tortos e sem posição definida.
Ofereceram o sofá aos primos da aldeia, carregaram-no todos contentes porque não sabiam o que levavam.
A felicidade também é isto, não saber o que nos espera.
O silêncio pesado!
Será que o silêncio engordou?
Ele engordou. Ela engordou.
Seria antes mais leve?
Não sabe responder.
Não estava em casa.
Queria estar em casa.
Agora está em casa.
Não se sente em casa.
A casa um boião de aquário. Dois peixes no boião.
Abriam e fechavam a boca e palavra nenhuma.
Não sabia o que dizer.
Não encontrava o que dizer.
Percebeu, demorou a perceber, que as palavras entre os dois foram sempre corteses sem nunca serem amorosas, cordiais sem nunca serem confidenciais, dóceis sem nunca serem íntimas.
O presente, o provável futuro, os dois sentados lado a lado no sofá, mais modesto, mais confortável, a mesma manta xadrez sobre o reumático dos joelhos, supostamente a fazer companhia um ao outro, e companhia nenhuma, apenas prontos para morrer de tédio um ao lado do outro e, um sorriso síncrono e resignado, um leve encolher de ombros.
Assim o Outono.
Assim o Inverno.
A casa um boião de aquário. Dois peixes no boião.
Abriam e fechavam a boca e palavra nenhuma.
Não sabia o que dizer.
Não encontrava palavras para dizer.
No primeiro dia de Primavera, como se o degelo, apesar de nunca nevar na cidade, apenas chuva, uma chuva urbana que lhe fomenta o reumático e os problemas respiratórios, que nem tudo pode ser culpa do tabaco, depois de muito procurar encontrou palavras.
Três dias depois, ela encontrou as mesmas palavras, numa folha de papel aos quadradinhos pendurada na porta do frigorífico.
Demorou mais de vinte minutos à procura dos óculos, que sem graça encontrou à segunda volta no primeiro lugar onde procurou, que o mesmo é dizer, no lugar dos óculos, na mesinha de cabeceira. Encolheu os ombros irritada, porque fica irritada quando isto acontece, uma irritação cada vez mais frequente, e com os óculos postos leu o que estava escrito na folha de papel aos quadradinhos.
Nunca me senti tão perdido.
Agora que sei que não tenho tempo a perder.
Fui.
O Fui roubou-o ao neto, que assim remata e-mails, cartas e até postais de Natal.
Deixando, no entanto, uma pergunta sem resposta.
Mas, foi para onde?

Raquel Serejo Martins