sábado, 14 de dezembro de 2013

Ler «Memórias Póstumas de Brás Cubas»

"Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas."

Ler um livro escrito por uma personagem que morreu - é este o exercício que Machado de Assis leva aos seus leitores. Brás Cubas, meu herói literário, nasce rico e mimado - acolhido no seio de uma família burguesa. E reflecte, após a sua morte, sobre o sentido da vida e o que é isto de ser humano.

São relatos humorísticos fabulosos (sem ordem particular ou cronológica) das suas paixões, aventuras, da família e amigos. O amor encontra sempre a frustração, Brás Cubas viveu relações muito violentas. Este homem sofre já morto a memória de muitas aventuras falhadas.

Machado de Assis é um escritor profundo, senhor de um sentido de observação apurado. É muitas vezes considerado o Eça de Queirós brasileiro, e não é por acaso. Através da sua escrita, Machado vai descrevendo os hábitos sociais da época, criticando aqui e ali aquele tempo.

Memórias Póstumas de Brás Cubas é um livro muito humorístico e cativante. Um ensaio filosófico profundo sobre o ser humano e a vida. Mas sempre num relato inteligente, descontraído e leve. Não estamos perante uma obra densa e inacessível.

Estou em crer que lê-lo será sempre um exercício bom e divertido. Diria mais: Machado de Assis é obrigatório.

E se a nossa cama fosse um livro?

Encontrado na página Improbables Bibliothèques, 
Improbables Librairies. A não perder por nada! 

Tiago na toca e os Poetas: David Mourão-Ferreira, Tiago Bettencourt e Tiago Maia


Soneto do amor difícil

A praia abandonada recomeça
logo que o mar se vai, a desejá-lo:
é como o nosso amor, somente embalo
enquanto não é mais que uma promessa...

Mas se na praia a onda se espedaça,
há logo a nostalgia duma flor
que ali devia estar para compor
a vaga em seu rumor de fim de raça.

Bruscos e doloridos, refulgimos
no silêncio da morte que nos tolhe,
como entre o mar e a praia um longo molhe

de súbito surgido à flor dos limos.
E deste amor difícil só nasceu
desencanto na curva do teu céu.

*David Mourão-Ferreira


MANIFESTO:

[...são os poetas que me fizeram começar a escrever. Eram no fundo os livros que tinha lá em casa e versões de fados que oiço desde que comecei a ouvir fado.Fui lendo o que tinha lá por casa. Fui roubar uns livros à biblioteca do meu pai. E depois fui marcando nos livros os vários poemas que gostava até ficarem dez. Depois mais duas ou três versões...] (Tiago Bettencourt).
NOTA: As receitas da venda do disco revertem para a associação solidária "Ajuda-me a Ajudar", por tal,se gostam,comprem o disco...
(publico o disco/livro na integra,com foto do poeta David Mourão-Ferreira)

«Ler é um carrossel» - tenha um sábado diferente!

Bairro dos Livros «Ler é um carrossel»13 a 22 de Dezembro // 13h00 – 23h00
MERCADO BOM SUCESSO – BOAVISTA
14 SÁBADO 11H-24H
14h30
«As nossas canções» por Bando dos Gambozinos
Concerto infanto-juvenil
Todas as idades
Varanda
15h30
«Sete sábios portugueses» de Pedro Sinde por Joaquim Domingues
Apresentação de livro
Maiores de 12
Palco
20h00
«I Story Slam Bairro dos Livros» por Thomas Bakk, Saphir Cristal e Alexandre Sá
Concurso de contos
Todas as idades
Palco
22h30
Skeezos
Concerto de rock
Maiores de 12
Palco

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Bairro dos Livros: Já sabem que livros vão oferecer este Natal?


Já sabem que livros vão oferecer este Natal?

O 3.º Festival do Livro do Porto, com o tema "Ler é um Carrossel", acontece de 13 a 22 de Dezembro, no Mercado Bom Sucesso (Boavista) e no Ed. Montepio (Aliados).

Trata-se de um grande festival das livrarias da cidade, de entrada gratuita e com uma forte programação cultural articulada entre os dois espaços, que fará do Porto a cidade dos livros, este Natal.

A iniciativa, promovida pela Cultureprint, no âmbito do Bairro dos Livros, em parceria com o Mercado Bom Sucesso e a CMP, através da PortoLazer, promete muitos livros com descontos e um programa cultural e artístico imperdível. O evento é apoiado pela Metro do Porto e pela Rádio Manobras. São parceiros média o Público, a Rádio Nova e o Porto24. Será um carrossel de livros da Boavista aos Aliados!

Mais informações em www.bairrodoslivros.wordpress.com

Spot promocional por Eduardo Morais e Joana Costa.
Música "Hitmans Lovesong feat. Paola Graziano" (by The Freak Fandango Orchestra)

Está aí mais um festival do Bairro dos Livros - Ler é um Carrossel


MERCADO BOM SUCESSO – BOAVISTA
13 SEXTA 13H-24H
15h00
«Unir versos» por Cristina Silva
Hora do conto e actividade infantil
7 a 12 anos
Espaço infantil
19h00
Encontro com José Duarte e Paulo Mesquita
Sessão de música e conversa
Maiores de 12
Hotel
20h00
«Lou Reed_Raven no Porto» – Parte 1: Rui Manuel Amaral dos Anacronistas convida Margarida Vale de Gato
Concerto / jantar / homenagem a Lou Reed
Maiores de 12
Palco
21h00
«Recital de Natal» por Coro de Pais do Conservatório de Música do Porto
Concerto de Natal
Todas as idades
Varanda
21h30
«Lou Reed_Raven no Porto» – Parte 2: Transmissão da música de Lou Reed
Maiores de 12
MBS
22h00
José Duarte (JAZZÉ) na Rádio Manobras (em directo)
Entrevista a João Pedro Brandão da Porta Jazz por Carlos Costa, com concerto ao vivo de Paulo Mesquita ao piano
Maiores de 12
Palco
EDIFÍCIO MONTEPIO – ALIADOS
13 SEXTA 13H-24H
21h30
«Às voltas nas canções mirandesas» por Abílio Topa
Concerto comentado
Maiores de 12
Palco
23h00
«Queimada galega com poesia galega e jam session mirandesa» por Associação Extrapolar e La Çaramontaína
Sessão de poesia e música
Maiores de 12
Avenida

"a-ver-livros": jardim e Osaki

Tenho em mim
um planeta jardim
perenes
suculentas
caducas ali
para cobrir de cor
o coração de pedra
folhas
mais folhas
e a ressureição
num dia de sol
numa papoila
de que não estarei
à espera

* para saber mais sobre este artista
siga o link http://www.pixiv.net/member.php?id=655626

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Snobidando: Christopher (Kit) Kelen

Christopher (Kit) Kelen -tradução de Andreia Sarabando.

Acompanhe a página da Livraria Snob no Facebook. Abre brevemente, em Guimarães. Pode lá encontrar este e muitos outros textos.

É do borogodó: das cerejas aos prazeres

Nunca havia pensado na possibilidade de usar o elétrico para transporte, em meio aos cliques e arigatôs que se misturavam aos dankes e outras coisas dos turistas que por ali andavam. Mas não era pra já que ele tinha algo mais o que fazer, então, se deu ao desfrute de inverter a ordem lógica de seu pensamento cotidiano para andar a fazer coisas nunca antes experimentadas, quer por preconceito, quer por falta de disponibilidade emocional p’aquilo.

Tinha um ar marinho acima de tudo, o rosto redesenhado pelo tempo, os cabelos grisalhos bem cortados que acompanham a barba serrada. O casaco de lã, embora pesado e em tom profundo de azul, não conseguia esconder a imensidão daqueles ombros e a longitude dos braços que lhe compunham a rústica delicadeza de um senhor do trabalho duro.
Ingressou no transporte um tanto tímido, felizmente pôs-se sentado ao fundo no vazio que beneficiava o acaso.


Ela já estava lá. Um banco a frente, na outra fila. Uma saia encarnada lhe vestia as pernas, e por cima, aquilo que deveria ser uma espécie de suéter não fosse o caimento mais do que despojado, prestes a fazer nascer dali um novo vestido. Os cabelos longos e loiros, soltos sobre o rosto escondiam os olhos e o resto.
Observou primeiros os pés mantidos em pontas para tocar o chão. Aquilo era tão curioso quanto improvável para se sentir bem e relaxado, pois não há gente que se disponha a relaxar em pontas de pés, nem que elas venham enquanto se está sentado.
As pernas se dispunham ondas, os quadris se viam fartos e entre os tais uma praia recôndita, da qual se procriavam chamamentos. Um saco de cerejas desenhava a satisfação da menina e lhe conferia um status de pintura impressionista.
Os dedos longos se metiam no saco de papel branco e enlaçavam aquela que parecia única pela voracidade do apetite e interesse pelo sabor.
Entre as mechas dos cabelos ele avistava a boca lascando a fruta até lhe reter o caroço entre os dentes. Depois o caroço ao saco e o talinho que não lhe importava remexer entre os dedos antes da próxima cereja.

Apaixonou-se como não deveria; já lhe percebia o hálito de cereja exalando pelos poros e os olhos a faiscar açúcares enquanto lhe dissesse seu nome.
Tão menina, tão delgada, o corpo todo vibrante no correr da viagem no tilintar do bonde, desde os pequenos passos à alta estrela.
O sol lhe derramava ainda mais brilho e os cabelos soltos, frescos de banho – o que se podia notar, do volume ao perfume eram voluptuosamente bem dispostos como moldura àquele rosto de anjo que fatalmente devorava a vida daquelas frutas.
Desejou morder sua boca e deslizar as mãos por sobre o desmembrado suéter branco aonde lhe apontavam os seios firmes. Desejou apanhar naquela cintura e pintar nela uma santa ceia de verbos com movimentos lentos, mesmo lentos, típicos de quem compreende o tempo e se torna dele fiel depositário.

Sentiu em si o romper do barco agitado, uma convulsão de quimeras, a espuma das ondas dos dias em que lhe cabiam tão bem esperanças. Já não tardava chegar, então não quis evitar os outros olhares abusivos sobre a menina e no meio das tantas, sem mais cerejas, teve dela um sorriso com o saco de papel amarrotado, recheado de caroços.
- E já não resta mais nada.
Disse ela para ele ou para o ar, não se sabia, e a voz que lhe saía do peito era da mesma cor avermelhada da saia e no mesmo macio veludo de cereja e havia o mesmo fio desfiado, alongado, branco nuvem do suéter que lhe aquecia o colo.
Na parada final ela desceu com agilidade, sacou a mala e logo já era vista ao longe no parque, longe demais para que lhe entrassem pelos ouvidos as palavras dele:
- Todo homem tem o direito de sonhar.

Penélope Martins

a-ver-livros: dançando e Adelaide Giannini

Do outro lado
do vidro
a figueira despe-se
folha a folha
dançando no vento

Deste lado
despe-se a alma
linha a linha
na página
que se vira
como os dias

* para saber mais sobre a pintora italiana Adelaide Giannini,
siga o link  www.quirinale.it/

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Wilde para matar a noite

Encontrado na página Improbables Bibliothèques, 
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«O ensino da gramática», por Rubem Fonseca

  • O ensino da gramática
  • Você está triste? Não sei. Talvez. Tristeza dá câncer, sabia? Pensei que dava verruga no nariz. Estou falando sério. Ultimamente você vive falando sério. Quando eu brincava você reclamava. Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Você colocou vírgula depois de mar. Estou falando, não estou escrevendo. Mas na sua fala tinha uma vírgula depois de mar? Não. Você está fazendo uma análise sintática e morfológica da frase? Na frase há o uso da figura de sintaxe chamada elipse. Chega. É por coisas assim que eu não quero mais viver com você. Porque eu sei gramática e você não? Entre outras coisas. Não gosta mais de foder comigo? Usarei uma elipse aqui. Ou melhor, uma zeugma. Zeugma é um substantivo masculino. Uma zeugma, então. Significado? Que é fácil subentender. Subentender por que você não gosta mais de foder comigo? Precisamente. Pensa. Estou pensando e não consigo. Pensa em nós dois na cama. Você sempre se manifesta pomposamente na hora do orgasmo. Pomposamente? Explica. Exibição de magnificiência sensual. Mímica. Mímica? Mímica. Muito bem-feita. Vou fazer as malas. Diga: já vai tarde. Já vai tarde. E esses olhos úmidos de lágrimas? Mímica. Acho que vou ficar mais um pouco. Um pouco? Uns dias. Dias? Pensando bem, uns meses. Mas você me ensina gramática durante esse tempo. Então deixa de ficar triste. Tenho uma razão. Já estou com câncer. Jura? Juro. Pulmão. O cigarro. Meu amor, vou cuidar de você. Mas antes me ensina gramática.
    *Rubem Fonseca, Axilas & outras histórias indecorosas.

  • *Sugerido por Soraya Semenzato

Emílio Miranda lança «Os Autos da Barquinha»


a-ver-livros: facilitar e Johann Georg Meyer

Desvia o olhar,
anda,
ignora-me 
faz de conta que não estou
aqui
joga o jogo
do invisível
esquece a minha sombra
finge não dares
pela deslocação de ar
que deixa o meu rasto
na tua pele
faz ouvidos moucos
ao bater deste coração

Será mais fácil
o adeus

* para saber mais sobre o pintor alemão Johann Georg Meyer
siga o link www.artrenewal.org/pages/artist.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Snobidando: Vinicius de Moraes

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente 
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos 
Das horas que passei à sombra dos teus gestos 
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos 
Das noites que vivi acalentado 
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo 
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente 

E posso te dizer que o grande afeto que te deixo 
Não trai o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas 
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma... 
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias 
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta 
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o 
[olhar extático da aurora. 

*Vinicius de Moraes, Antologia Poética

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É do borogodó: gelo e limão

Monsieur, gostaria uma dose dupla de ilusão com gelo, limão e guarda-chuva colorido. Sirva-me, por favor, o quanto antes, porque já estou sofrendo os tremores da abstinência na fatal realidade dos meus dias.

Penélope Martins



Abrunhosa em contramão: pequena forma de literatura


"Para mim, um disco é cada vez mais um livro, uma narrativa contínua de histórias desencontradas que se reencontram na música que escrevo, de personagens, por vezes atormentadas, outras felizes, de sentimentos de perda ou de conquista que acabam por ser comuns a muitos de nós. Falo de mim através das vozes de outros e transponho-me para os outros usando a minha própria voz. Ao longo de todo este tempo, diria quase desde que me conheço enquanto músico, procurei melhorar a simplicidade daquilo que verdadeiramente me fascina: escrever canções. O que aí vem é apenas isso. A minha vida tornada palavra e harmonia."

As palavras são do cantor Pedro Abrunhosa - que acaba de lançar já este mês um novo disco: "Contramão". Mais do que o tema que dá nome ao álbum, um outro tem vindo a conquistar e a comover os portugueses, por cá e espalhados pelo mundo.
Leia este poema/letra e perceba porquê.

"Para os Braços da Minha Mãe"
letra e música: Pedro Abrunhosa
interpretação: Pedro Abrunhosa e Camané


Cheguei ao fundo da estrada,
Duas léguas de nada,
Não sei que força me mantém.
É tão cinzenta a Alemanha
E a saudade tamanha,
E o verão nunca mais vem.
Quero ir para casa
Embarcar num golpe de asa,
Pisar a terra em brasa,
Que a noite já aí vem.
Quero voltar
Para os braços da minha mãe,
Quero voltar
Para os braços da minha mãe.

Trouxe um pouco de terra,
Cheira a pinheiro e a serra,
Voam pombas
No beiral.
Fiz vinte anos no chão,
Na noite de Amsterdão,
Comprei amor
Pelo jornal.
Quero ir para casa
Embarcar num golpe de asa,
Pisar a terra em brasa,
Que a noite já aí vem. 
Quero voltar
Para os braços da minha mãe,
Quero voltar
Para os braços da minha mãe.

Vim em passo de bala,
Um diploma na mala,
Deixei o meu amor p'ra trás.
Faz tanto frio em Paris,
Sou já memória e raiz,
Ninguém sai donde tem Paz.
Quero ir para casa
Embarcar num golpe de asa,
Pisar a terra em brasa,
Que a noite já aí vem. 
Quero voltar
Para os braços da minha mãe,
Quero voltar
Para os braços da minha mãe."

 
Depois assista à entrevista que o cantor portuense deu na RTP.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Palavras de Luigi Pirandello


Julga que se conhece, se não se construir de algum modo? E julga que eu posso conhecê-lo, se não o construir à minha maneira? E julga que me pode conhecer, se não me construir à sua maneira? Só podemos conhecer aquilo a que conseguimos dar forma. Mas que conhecimento pode ser esse? Não será essa forma a própria coisa? Sim, tanto para mim como para si; mas não da mesma maneira para mim e para si: isso é tão verdade que eu não me reconheço na forma que você me dá, nem você se reconhece na forma que eu lhe dou; e a mesma coisa não é igual para todos e mesmo para cada um de nós pode mudar constantemente. E, contudo, não há outra realidade fora desta, a não ser na forma momentânea que conseguimos dar a nós mesmos, aos outros e às coisas. A realidade que eu tenho para si está na forma que você me dá; mas é realidade para si, não é para mim. E, para mim mesmo, eu não tenho outra realidade senão na forma que consigo dar a mim próprio. Como? Construindo-me, precisamente.

*Luigi Pirandello, in Um, Ninguém e Cem Mil - Ed. Cavalo de Ferro

Eu poético: «Carta»

Carta

Escrevi-te outro dia
e não tive resposta

(um like no ídolo pop)
(um share da notícia do dia)

Escrevi-te, sabes?
E fui ao correio

(convite aceite para evento)
(fotografia com frase filosófica)

A minha mão tremia
pensei rasgar
e desistir

(nova amizade)
(causa defendida e partilhada no mural)

Sabes o que te escrevi, sabes?

(larga a porra do computador)
(acorda)

Escrevi que te amo

[Sabias? Ou estás apenas a ver o tempo passar?]

Rodrigo Ferrão

Foto: Rodrigo Ferrão

a-ver-livros: repetições e Gavin Glakas

Ele diz que esta é a taberna Laurels
e eu acredito
mas vejo um recanto que conheço
noutro sítio
e sou capaz de jurar que o mundo 
se repete
aqui e ali
e aposto que estou sentada agora
noutra sala 
sob uma árvore morta
e abraçada a um amor vivo
como estou agora 
aqui

* para saber mais sobre o pintor norte-americano Gavin Glakas
siga o link www.gavinglakas.com


domingo, 8 de dezembro de 2013

Tiago na toca e os Poetas: Alexandre O'Neill, Tiago Bettencourt e Mafalda Nascimento


Poema do Desamor

Desmama-te desanca-te desbunda-te
Não se pode morar nos olhos de um gato

Beija embainha grunhe geme
Não se pode morar nos olhos de um gato

Serve-te serve sorve lambe trinca
Não se pode morar nos olhos de um gato

Queixa-te coxa-te desnalga-te desalma-te
Não se pode morar nos olhos de um gato

Arfa arqueja moleja aleija
Não se pode morar nos olhos de um gato

Ferra marca dispara enodoa
Não se pode morar nos olhos de um gato

Faz festa protesta desembesta
Não se pode morar nos olhos de um gato

Arranha arrepanha apanha espanca
Não se pode morar nos olhos de um gato

*Alexandre O'Neill


MANIFESTO:

[...são os poetas que me fizeram começar a escrever. Eram no fundo os livros que tinha lá em casa e versões de fados que oiço desde que comecei a ouvir fado.Fui lendo o que tinha lá por casa. Fui roubar uns livros à biblioteca do meu pai. E depois fui marcando nos livros os vários poemas que gostava até ficarem dez. Depois mais duas ou três versões...] (Tiago Bettencourt).
NOTA: As receitas da venda do disco revertem para a associação solidária "Ajuda-me a Ajudar", por tal,se gostam,comprem o disco...
(publico o disco/livro na integra,com foto do poeta Alexandre O'Neill)

Literary Coffee

Encontrado na página Detras de la Biblioteca.

Adeus ao sorriso... de Nelson Mandela

Morreu Nelson Mandela. Não há palavras. Só olhares líquidos. Fica o exemplo.

Esta a minha reacção primeira.
Eu sem capacidade de reacção, depois das palavras do presidente sul-africano Jacob Zuma na televisão: Apesar de sabermos que este dia chegaria, nada pode diminuir o sentimento de profunda perda, o presidente solene, a mais informar que o ex-presidente terá um funeral de Estado.
O que mais me impressionava, impressiona!, em Mandela, era a alegria, o sorriso constante.
O improvável sorriso atendendo à sua história, que se confunde com a História.
Mandela, Madiba!, é de todos, mesmo desta transmontana (e aposto que não saberia apontar Trás-os-Montes num mapa) que nasceu 56 anos depois.
Madiba é de todos pela sua omnipotente capacidade de nos fazer sonhar, acreditar que é possível, fazer o gesto para um mundo melhor.
Assim o fim do apartheid, e depois a democracia, provavelmente o mais defeituoso e o melhor dos regimes.
E se todos queremos um mundo melhor, porque é que o mundo não é melhor?
Não sei responder.
Ou sei! Porque vivo num país, numa Europa, num mundo e num tempo que explica o que está a acontecer.
Porque o apartheid, não se resume a branco e negro, há toda uma paleta de cinzentos a que é preciso dar cor, esclarecer.
Porque o momento actual é também de resistência, de intransigência, de terrorismo sobre o terrorismo, seja racial, de género, económico, social, militar, de revolução, de preferência sem perder o sorriso.
Que não nos falte, que não nos levem, nos façam perder, a capacidade de sorrir.
A winner is a dreamer who never gives up, diz que disse.
Assim nós num tempo, em que, talvez como nunca antes, a precisar de pessoas exemplares.
E morreu-nos um exemplo.
Os exemplos nunca morrem.
E defeitos, também os teria, porque humano, mas não tive o privilégio de lhos conhecer.
Defeitos, talvez as camisas, um excesso de cor, de padrões, os botões dentro das casas até ao colarinho, e apenas tecido, embrulho, não pele.

E assim o dia acabou triste, com um país inteiro a dançar em sua memória, os pés em compasso, a bater no chão, num continente que estranhamente tem a forma de um coração.



A minha small SONG para Nelson Mandela.

Snobidando: Frida Kahlo

I used to think I was the strangest person in the world but then I thought there are so many people in the world, there must be someone just like me who feels bizarre and flawed in the same ways I do. I would imagine her, and imagine that she must be out there thinking of me too. Well, I hope that if you are out there and read this and know that, yes, it’s true I’m here, and I’m just as strange as you.

Frida Kahlo, The Diary of Frida Kahlo: An Intimate Self-Portrait

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