sábado, 30 de março de 2013

As prateleiras e estantes do Marc Giai-Miniet


Demora um tempinho para se perceber que as prateleiras, os livros e os ambientes nas fotos que estão mais abaixo não são na verdade em tamanho real. São sim incríveis miniaturas criadas pelo artista francês Marc Giai-Miniet.

 

Marc nasceu em Trappes, no norte de França, onde mantém seu estúdio de desenho, pintura e escultura. O artista inspira-se em Borges e Kafka para criar essas caixas labirínticas, cenários para histórias imaginárias onde podemos perder os nossos olhares explorando as miniaturas de livrarias, submarinos, casas de máquinas e prédios inteiros.


Tão impressionante quanto a composição e a complexidade das imagens são os pequenos detalhes, os títulos nos livros, as lombadas que simulam o design clássico da Penguin, a confusão e a sujidade, tudo ordenado na sua complexidade.

Podem ver outros exemplos no site do artista.


Cronicando pela Ásia... Praia, 25 de Abril e música Sul-Americana

Ko Phi-Phi, 
25 de Abril 2009


Longe do simbolismo da revolução dos cravos e com um cenário destes... assim foi o 25 de Abril de 2009 (na minha vida). Um dia extraordinário, alegre e carregado de fotografias. Muita, muita praia e o desejo eterno para que todos os dias fossem assim.

Passei uma tarde óptima; a comer bem e a beber melhor. A água convidou a mergulhos, um ritual repetido até ao pôr do sol. Tinha que tomar banho com a barriga para baixo, o maldito escaldão das pernas ainda estava a sarar. 

Sorria com o que via ali à volta, as pessoas desfilavam à minha frente e eu acreditava piamente ser o director de um filme. Fazia pausas para ler um pouco. Lá pedia mais uma coca-cola. O almoço foi uma pizza magnífica. 

- "Não quero acreditar que isto tem um fim", penso.

Mais um mergulho... As vibrações positivas brotavam daquela gente. Tudo parecia ser a melhor coisa do mundo, a melhor sensação de sempre. O desejo que nada tivesse fim crescia com mais força!

Os senhores do bar puseram a tocar o mp3 que levava. E de repente o cenário ficou perfeito e completo. A jornada começou com Manu Chao.

À medida que a tarde prosseguia, as baladas continuavam a tocar pela praia. Fecho os olhos e penso estar a sonhar: passam músicas brasileiras ali... tão longe de casa. 

De um momento para o outro, as pessoas começam a juntar-se no bar e apreciam Martinho da Vila. Sem saberem o que estão a ouvir, agitam-se com a batida perfeita de Marcelo D2. Arrepio-me quando começa a dar Cassia Eller e mais louco fico quando chega Maria Rita.

Morri e subi ao céu, vi Deus e os anjos. Escutei a filha de Elis Regina, em plena praia da Tailândia. As águas quentes e transparentes, o sol a bater, a sensação de estar a viver o dia mais paradisíaco de sempre. Ao som de grandes músicas e num dos cenários mais bonitos que vi. 

Nesta viagem pela Ásia. Nesta viagem pela vida.


Cara Valente, Maria Rita

Não, ele não vai mais dobrar
Pode até se acostumar
Ele vai viver sozinho
Desaprendeu a dividir...

Foi escolher o mal-me-quer
Entre o amor de uma mulher
E a certeza do caminho
Ele não pôde se entregar
E agora vai ter de pagar
Com o coração
Olha lá!
Ele não é feliz
Sempre diz
Que é do tipo Cara Valente
Mas veja só
A gente sabe...

Esse humor
É coisa de um rapaz
Que sem ter protecção
Foi se esconder atrás
Da cara de vilão
Então, não faz assim rapaz
Não bota esse cartaz
A gente não cai não...



Ê! Ê!
Ele não é de nada
Oiá!!!
Essa cara amarrada
É só!
Um jeito de viver na pior

Ê! Ê!
Ele não é de nada
Oiá!!!
Essa cara amarrada
É só!
Um jeito de viver
Nesse mundo de mágoas...

Não, ele não vai mais dobrar
Pode até se acostumar
Ele vai viver sozinho
Desaprendeu a dividir...

Foi escolher o mal-me-quer
Entre o amor de uma mulher
E as certezas do caminho
Ele não pôde se entregar
E agora vai ter de pagar
Com o coração
Olha lá!
Ele não é feliz
Sempre diz
Que é do tipo Cara Valente
Mas veja só
A gente sabe...



Esse humor
É coisa de um rapaz
Que sem ter protecção
Foi se esconder atrás
Da cara de vilão
Então, não faz assim rapaz
Não bota esse cartaz
A gente não cai não..

Ê! Ê!
Ele não é de nada
Oiá!!!
Essa cara amarrada
É só!
Um jeito de viver na pior



Ê! Ê!
Ele não é de nada
Oiá!!!
Essa cara amarrada
É só!
Um jeito de viver
Nesse mundo de mágoas...(2x)

Ê! Ê! Ê! Ê!
Ê! Ê! Ê! Ê!
Ê! Ê!

Ele não é de nada...(6x)

Rodrigo Ferrão

William Somerset Maugham - na Tinta da China

Somerset Maugham volta a ser publicado em Portugal. Desta vez pela Tinta da ChinaUm Gentleman na Ásia - assim se chama este livro de grandes viagens. Fiquem com algumas opiniões e a pequena sinopse.

«Já conheci escritores que fizeram viagens aventurosas, mas levaram consigo a casa que tinham em Londres, o seu círculo de amigos, os seus interesses ingleses e a sua reputação; e surpreenderam-se quando voltaram a casa e descobriram que estavam exactamente como quando partiram. Não é assim que um escritor pode tirar proveito de uma viagem. Ao partir para as suas viagens, a única pessoa que deve deixar para trás é ele próprio.»
Somerset Maugham

«Neste período da sua vida absolutamente curioso, activo e até emotivo, enquanto viajava pelo Extremo Oriente e pelo Pacífico, escutando histórias e tirando notas, Somerset Maugham estava na sua melhor forma e no seu momento mais feliz. Uma pessoa só embarca numa viagem assim se estiver confiante de que descobrirá algo novo. Estóico e intrépido, o seu caminho fora da rota habitual transforma Um Gentleman na Ásia num livro invulgar, o melhor adjectivo para descrever a literatura de viagens.»
Paul Theroux

O assinalável sucesso de Somerset Maugham enquanto escritor tornou concretizável a sua paixão por viajar. Um Gentleman na Ásia é o relato de uma viagem que começa em Rangum, actual Birmânia, e termina em Haiphong, no Vietname. O escritor atravessou vários países, e ao longo do seu intricado percurso subiu o rio até Mandalay, e atravessou montanhas e florestas a cavalo até Banguecoque.


sexta-feira, 29 de março de 2013

Poema à noitinha... José Jorge Letria

Ode ao Gato

Tu e eu temos de permeio
a rebeldia que desassossega,
a matéria compulsiva dos sentidos.
Que ninguém nos dome,
que ninguém tente
reduzir-nos ao silêncio branco da cinza,
pois nós temos fôlegos largos
de vento e de névoa
para de novo nos erguermos
e, sobre o desconsolo dos escombros,
formarmos o salto
que leva à glória ou à morte,
conforme a harmonia dos astros
e a regra elementar do destino.

*José Jorge Letria


Um pensamento de J.M. G. Le Clézio. In 'A Febre'

Do Nobel da literatura, o francês J.M. G. Le Clézio:

O estado de transe é um estado quase normal no ser humano; basta muito pouco para provocá-lo. Uma coisa de nada, um pouco de álcool no sangue, um pouco de droga, excesso de oxigénio, a cólera, o cansaço. Mas este estado é interessante na medida em que é orientável. Trata-se de um balanço, mas esse lança mão das regiões desconhecidas do nosso espírito. De facto, não há fundamentalmente nenhuma diferença, entre um homem intoxicado pelo álcool e um santo que se entregue ao êxtase. E no entanto há apesar de tudo uma diferença: a da interpretação. O momento de loucura é preparado por uma etapa onde o assunto é mergulhado numa espécie de vacilação da consciência, de excitação cerebral violenta. É esse momento que fabrica verdadeiramente o êxtase e lhe dá o sentido. Enquanto o êxtase em si mesmo é cego. É o vazio total, sem ascensão nem queda. A calma plana. Tanto quanto se possa dizer que o santo nunca conhecerá Deus. Aproxima-O, depois regressa. E estas duas etapas são as que são. Entre as duas, é o nada. O vazio, a amnésia completa. No momento X do êxtase, o santo e o intoxicado são semelhantes, estão no mesmo local. Habitam o mesmo paraíso vazio e terrífico.

*in A Febre, publicado pela Ulisseia.


1º Parágrafo: Estarás aí?


É uma tarde de domingo de Setembro, sob um céu da Florida…


* Tradução de Sérgio Coelho

Fakebook dos Escritores - para conhecer e investigar

Chama-se Fakebook dos Escritores e é uma página humorística que faz trocadilhos fabulosos. Anotem: https://www.facebook.com/pages/Fakebook-dos-Escritores/154605381356528

Deixo um exemplo - cliquem na imagem. 

Os heterónimos de Fernando Pessoa celebrados ao seu expoente máximo.


quinta-feira, 28 de março de 2013

Poema à noitinha... Erich Fried

Pescado na Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, este belo poema de Erich Fried.

Livros que deram filme: Comboio Nocturno para Lisboa. Um livro de Pascal Mercier


Sinopse do livro:

Fenómeno editorial na Europa, Comboio Nocturno para Lisboa vendeu dois milhões e meio de exemplares desde que foi publicado em 2004 na Alemanha, onde ficou três anos na tabela dos livros mais vendidos. O sucesso transformou até o título do livro escrito por Pascal Mercier - pseudónimo literário do filósofo Peter Bieri -, numa expressão idiomática, usada para referir alguém que pretende mudar de vida. São, de resto, muitos os estrangeiros que, nos últimos anos, se deslocam até Lisboa em demanda de Amadeu do Prado.

Mas tudo começa numa manhã chuvosa. Uma mulher prepara-se para saltar de uma ponte de Berna. Raimund Gregorius, um banal professor de grego e latim de 57 anos, evita o acto desesperado e fica surpreendido com o som de uma palavra. Português, responde ela, ao ser questionada sobre a língua que fala.

Antes de desaparecer da história ainda tem tempo de escrever um número de telefone na testa deste míope professor que descobre, por acaso, um livro de um autor português, Amadeu Inácio de Almeida Prado, intitulado Um Ourives das Palavras. Sem conseguir explicar porquê, entra num comboio para Lisboa atrás deste médico que morreu 30 anos antes, em 1975, pouco depois da Revolução, numa descoberta do outro que acaba por ser uma descoberta de si próprio.

Amado pelos pobres que atendia de graça no seu consultório, Amadeu passa a ser rejeitado pelo povo no dia em que aceita tratar o "Carniceiro de Lisboa", assim conhecido por ser chefe da polícia política. Integrará posteriormente a resistência contra o regime de Salazar.

Porquê Portugal? Porquê a ditadura de Salazar? Estas são as perguntas mais feitas a um autor que admira Pessoa, "esse gigante da literatura", há mais de 20 anos, e escreve um livro do desassossego com a escrita de Prado a assemelhar-se aos textos do poeta português. Pela sua cultura, pela sua atitude de outros tempos, Raimund precisava de um ambiente de século XIX e Lisboa é a grande cidade europeia que mais se aproxima pelo seu aspecto, pela sua topografia, afirma Pascal Mercier, para quem a principal razão para escolher Lisboa e Portugal prende-se com o pai de Prado, um juiz em funções durante uma ditadura, mas que não trabalharia sob as ordens de Mussolini, Hitler ou Franco. "Salazar era diferente. Era um intelectual brilhante, era muito inteligente, culto, de uma brutalidade mais subtil que poderia seduzir pessoas como o juiz Prado e só nas ditaduras se dão as condições necessárias para tratar os problemas morais no contexto político."

O Comboio Nocturno para Lisboa é o terceiro romance de Pascal Mercier. Está traduzido em 15 idiomas.

(clique na imagem para ver o trailer do filme)

A rodagem da longa-metragem "Comboio Noturno para Lisboa", do realizador dinamarquês Bille August, começou em Março 2012 em Berna, e mais tarde na capital portuguesa. O filme conta no elenco com nomes como Jeremy Irons, Charlotte Rampling, Christopher Lee, Mélanie Laurent, Bruno Ganz, Jack Huston, Nicolau Breyner, Adriano Luz, Beatriz Batarda, Filipe Vargas e Joaquim Leitão. É uma co-produção entre Portugal, Alemanha e Suíça.
*(fonte para informação do filme: wikipedia)

1º Parágrafo: Mágoa Passageira


-       E já fumava há muito tempo?


* Tradução de Samuel Soares

a-ver-livros: o tempo e Irving Ramsey Wiles

Devolve-me ao tempo
em que procurava a sombra
e havia sombra para procurar

Devolve-me ao tempo
em que a noite era noite
e o dia era resplandecente de ser dia

Devolve-me ao tempo
que nunca mais chega

* para conhecer mais sobre o pintor americano Irving Ramsey Wiles
siga o link vallejogallery.com/artist.php

quarta-feira, 27 de março de 2013

Os livros não se medem aos palmos



A editora japonesa Toppan Printing publicou no inicio do mês de Março o menor livro do mundo, com apenas 0,75 milímetros, produzidos graças a uma tecnologia de impressão ultrafina, anunciou a companhia em comunicado.

A empresa japonesa registrará o livro, de 22 páginas, no livro Guinness dos Recordes como o menor do mundo.

A publicação conseguiu reduzir os 0,9 milímetros da obra «O Camaleão», do dramaturgo russo Anton Pavlovitch Tchecov, publicado em 1996, na Sibéria, e que ostentava o título de menor livro do mundo. O exemplar da editora japonesa, chamado «Flores das quatro estações», é um compêndio de ilustrações da flora do arquipélago, como por exemplo as tradicionais cerejeiras e ameixoeiras do país, e com o nome de cada espécie escrito nos diversos alfabetos da língua japonesa.

O livro, que sem o uso de uma lente de aumento quase não pode ser lido, está exposto num museu no bairro de Bunkyo, em Tóquio. A editora está a vender exemplares do livro por 29.400 ienes (cerca de 234 euros). A obra é comercializada juntamente com uma lupa e uma edição ampliada.

Já o livro russo tem 30 páginas de 11 linhas cada uma e ilustrações em três cores diferentes. Da mesma forma que o exemplar japonês, os editores siberianos colocaram à venda 100 edições limitadas da obra, comercializadas, em 1996, por 500 dólares (cerca de 383 euros).

1º Parágrafo: Brincadeiras de Crianças


-       QUE BELO EDIFÍCIO – disse Carmen O’Inns.



* Tradução de Ana Mafalda Tello
* Revisão de Levi Condinho

a-ver-livros: confirmação e Karel Maes

Sossega.
Lê e respira.

Que a morte é apenas
a confirmação da vida

* para conhecer mais sobre o artista belga Karel Maes
siga o link www.karelmaes.be

terça-feira, 26 de março de 2013

a-ver-outros-livros no Metro: Lobo Antunes

Vejo-o ali, no mármore, e fico à espera que diga algo naquela voz meio rouca, naquele tom meio romântico-desdenhoso que lhe conheço desde sempre. Fico à espera que deixe de olhar para mim com aquele olhar de quem vê o que não sei que sou e siga caminho. Pode ser que esteja à espera da carruagem seguinte. Afinal, é - de todos os escritores que o cartoonista António retrata nas paredes da estação do Aeroporto do Metropolitano de Lisboa - o único ainda vivo.

 António também, mas Lobo Antunes de apelido, (Lisboa, 1 setembro 1942), médico psiquiatra de formação, escritor de veias e tripas e tudo. Burguês marcado pela Guerra Colonial, homem marcado pela vida de todos os dias, sarcástico e impiedoso. A Penélope do Nobel que não chega tecendo ainda a tela que nunca está feita, de forma obssessiva e, como alguém disse, labiríntica.

Não pensem que me vou esticar hoje. De Lobo Antunes lembro-me do primeiro volume comprado ao senhor que trazia o Círculo de Leitores à minha porta - e me olhava sempre como se partilhássemos um segredo -, chamava-se "Memória de Elefante" e nem tinha direito a capa dura. Lembro-me que o li de um fôlego e, logo em seguida, comprei "Os Cus de Judas". E rendi-me. Quando "Explicação dos Pássaros" me chegou à mão eu já o esperava como a um bom amigo que andara por aí.

A modos que me perde no final dos anos 90, nem sei bem porquê. Mas faço as pazes todas as semanas ou, hoje em dia, de quinze em dias, com as crónicas que publica na revista Visão.

E é isso mesmo que vos ofereço: o link para as crónicas de Lobo Antunes.
Isso e este apontamento, que absolutamente adoro:

"Conto até cem e, se não chegares antes dos cem, vou-me embora. Não chegaste antes dos cem. Conto de cem a um e, se não chegares antes do um, vou-me embora. Não chegaste antes do um. Conto dez automóveis pretos e, se não chegares antes dos dez automóveis pretos, vou-me embora. Não chegaste antes dos dez automóveis pretos. Nem antes dos quinze táxis vazios. Nem antes dos sete homens carecas. Nem antes das nove mulheres loiras. Nem antes das quatro ambulâncias. Nem sequer antes dos três corcundas e, entretanto, começou a chover."

António Lobo Antunes

1º Parágrafo: O Tempo dos Imperadores Estranhos


- Se já ninguém se importa com os vivos, imagine com os mortos.


* Adaptação para a Língua Portuguesa: Alcinda Marinho

a-ver-livros: hora da luz e Katya Andreeva

Leva a minha dor
a dançar
dá-lhe a beber uns canecos
afoga-a em gargalhadas
sem nexo
nem sexo
e devolve-ma de manhã
sandálias dependuradas dos dedos
dormentes
quando a luz afugenta
os espíritos maus

* para conhecer mais sobre a pintora búlgara Katya Andreeva
siga o link www.kandreeva.com/eng

segunda-feira, 25 de março de 2013

ViajaR é PrecisO


Esta história começa assim: eu tenho um amigo canadiano, Mr. Julian Hanna, que foi para uma ilha.
Foi fazer o quê?
Foi dar aulas, é professor de literatura, e falando de literatura, devo-lhe, no sentido de estar em dívida ou falta, a leitura do Ulisses, é que ainda estou a ganhar fôlego para começar a empreitada, como se eu um nadador, amador.
E qual é a ilha.
A ilha da Madeira.
Pois dois meses depois de, como Diogo Cão, chegar à ilha, o que me pediu: histórias com 150 caracteres, letras e espaços vazios.
Histórias como se tweet’s, como se Pio’s.
Histórias que no instantâneo tenham viagens dentro,  palavras que nos levem, as palavras fazem voar mais depressa do que asas de avião, para centenas, milhares de quilómetros.
Histórias a fazer história no projecto: Madeira story Generator.
Uma instalação a correr, em simultâneo, em três espaços, no placar de partidas e chegadas no Aeroporto Internacional do Funchal, no seu homónimo físico em exibição, e no seu homónimo virtual no site: http://mstoryg.m-iti.org/ 

E o que fiz, 15 small trips, even smaller songs: Viajar


I.
Viajar é aprender a dizer saudade em todas as línguas.

II.
Continua a viagem até encontrares o chão perfeito para criar raízes.

III.
Não tenho a mínima dúvida que a terra é redonda.
Mas, com todo o respeito, senhor Galileu, prefiro andar e ver com os meus próprios olhos.

IV.
O pior café que bebi até hoje, foi em Goa, tão mau que não sei explicar.
É um café, por favor. Que me deixe memórias de Goa!

V.
Afinal o sorriso da Mona Lisa é quase igual ao que tenho pendurado no meu quarto mas, o sorriso invisível do japonês ao meu lado, de olhos como janelas, não tem par.

VI.
Um lugar mágico?
Açores.
Porquê?
Porque há dias em que céu e mar se liam num cinzento metálico, inexplicável.

VII.
Aterrar em Génova e sentir-se imediatamente um marinheiro.
Palazzo Ducale?
Girare a destra e poi a sinistra.
Portanto a estribordo e depois bombordo.

VIII.
Como Jobim, como Vinícius, como Buarque, uma água de coco no Calçadão de Ipanema.
Gostaste?
Não. Mas não conseguia parar de beber!

IX.
Já ouviste tocar acordeão?
Agora imagina um acordeão em cada rua e tens Paris!
Pois, percebo, alegre e melancólico.

X.
A primeira viagem, o olhar em estado puro e a felicidade intocável, mesmo se choveu toda a semana, Dublin como Dublin tem que ser.

XI.
A Mesquita azul.
O muezzin a cantar em tons de azul.
Uma rapariga de vestido azul.
O amor pode ser azul.

XII.
O último dia da viagem, o paradoxo da vontade, a vontade de ficar, a ânsia de voltar.

XIII.
Demonstração da importância de uma almofada: atentos à evidência da quantidade de pessoas que sempre que viajam levam a almofada.

XIV.
Um capuccino em Roma!
Todos os fins de tarde tenho vontade de apanhar um avião para Roma.

XV.
Um amanhecer? Um barco na Turquia.
Um entardecer? Sob o cel blau de Barcelona.
Um anoitecer? Nova Iorque.
Mas dizem que Nova Iorque nunca anoitece?
E eu confirmo.

Raquel Serejo Martins

Gostaram da viagem?
E para os que entraram no link lembram-se do barulhinho!

1º Parágrafo: A Arte de Matar Dragões


- Chamava-se Manuel Cortina Molins e morreu como viveu: com um grande par de tomates.


* Tradução de Alcinda Marinho

a-ver-livros: piratas e Lan Nguyen

E o corpo recusa-se
e tosse
e cospe 
e range como um velho navio pirata
em tempo de tempestade
e torce-se
e retorce-se
e reencontra-se do outro lado 
da noite
exausto da batalha consigo mesmo
sem tesouro que valha

* para saber mais sobre a pintora vietnamita Lan Nguyen Stanley
siga o link www.lan-art.com

domingo, 24 de março de 2013

Romance e ensaio para acabar... por agora


Aqui serei breve, apenas enumerei quatro títulos, são os que ultimamente me têm prendido mais e também os tenho usado regularmente como material de trabalho. Começo com Montaigne e “Dos Livros”, de seguida passo para uma pequena, mas gigante em profundidade, surpresa do meu amigo António Cabrita, que trocou terras lusas por Moçambique, já lá vão dez anos. Essa surpresa é um ensaio que saiu o ano passado e só foram impressos oitenta exemplares, “Respiro”. Não resisto a deixar umas linhas:

“Um dizer de Plotino exclui à priori o dualismo em que Platão atolou o mundo das ideias: “Ninguém aí (alude-se a Uno) marchará como sobre uma terra estrangeira”. Um direito de linhagem que abstrai as exclusões, o que me agrada sobremaneira, pois fui prematuramente atraído pelo clamor das contradições, tapeçaria em cujo avesso leio as complementaridades.”

Os outros títulos entrego-os a George Steiner com “O Silêncio dos Livros” e a Michel Crépu com “Esse vício Ainda Impune”, aliás este último título muito me apraz.

Seguiremos então para o Teatro. Certo é, para mim, que o teatro começa na literatura. Agora vejam que amores me dividem, palcos e livros. Um mal nunca vem só. Avanço já com três textos que são companhias de cabeceira, há já vários anos. Édipo de Sófocles, Berenice de Jean Racine e Na Solidão dos Campos de Algodão de Bernard Marie Koltés. Namoro-os há muito, talvez um dia venha a coragem ou o tempo certo de os realizar. Autores que também me marcaram e marcam desde os primeiros tempos, nesta arte de Talma são os Mestres Gil Vicente, Shakespeare e Moliére, já passei por todos. E também Brecht, Lorca e Beckett. No enlaço, aponto também grande parte do teatro Ateniense. Em tom de nota final neste item: Leiam e não deixem de o fazer, a “Floresta de Enganos” do Mestre Gil.

Vamos então romancear, quatro autores e quatro livros aos quais retorno como se fosse a primeira vez: Camilo Castelo Branco, apesar de ser para mim o Escritor Português, delicio-me com frequência nas suas “Duas horas de Leitura”, mais precisamente com a segunda parte “Do Porto a Braga”! Uma viagem atribulada de quatro amigos que, para saírem dos lares, inventaram que estão com a bicha solitária e metem-se ao caminho, para realizarem uma cura de vinhos e bacalhau até à Santa Terra do Minho. “Alegria Breve” de Vergílio Ferreira, impressionante leitura. Um verdadeiro tratado sobre a solidão e o silêncio. José Rodrigues Miguéis e a tortura da emigração em “Gente da terceira classe”. Um relato cruel. O último, talvez com alguma surpresa, até para mim, foi a paixão que fui ganhando por Simenon. Estas coisas acontecem, acreditem que é verdade, acontecem mesmo. O título que mais folheio é “Le Temps D´Anais”.

São estes alguns dos livros que me têm construído e motivado ao longo deste 39 anos de existência. Agora mesmo no final não posso deixar de lado um dos melhores trabalhos sobre a nossa literatura “História da Literatura Portuguesa” de Óscar Lopes e António José Saraiva.

Pedro Estorninho

Fizeram chegar-me por correio o livro de Daniel Gonçalves


Fizeram chegar-me por correio o livro de Daniel Gonçalves. Quem foi? Provavelmente uma das suas maiores seguidoras. E, de facto, Daniel Gonçalves inclui o seu nome logo nos agradecimentos iniciais. Falo de Clara Amorim, responsável por rever o texto final.

O livro é uma edição de autor. Numerada e assinada. Tem a particularidade de o sentido do livro estar de avesso, como se o estivéssemos a ler do fim para o início. Foi, também, publicado com duas capas diferentes.

Alguns poemas encontram-se no blogue a bainha dos dias. Convido-vos a visitarem este espaço e, claro está, comprarem o livro.


Kawabata inédito: Magnífico!

Notícia o Público:

Kawabata inédito: Magnífico!

O texto, de 1927 e intitulado "Utsukushiki!" (Magnífico!, em português), foi encontrado nos arquivos esquecidos de um jornal

Dois especialistas na obra de Yasunari Kawabata (1899-1972) encontraram uma novela perdida daquele escritor, o primeiro japonês a ganhar o Nobel da Literatura, nos arquivos esquecidos de um jornal de Fukuoka, o Nichi Nichi Shimbun. O texto, de 1927 e intitulado Utsukushiki! (Magnífico!, em português), foi autenticado pela Fundação Kawabata, que concluiu tratar-se de um conto em quatro capítulos publicado entre Abril e Maio desse ano no suplemento literário de segunda-feira daquele jornal local. Obra de juventude (Kawabata tinha então 27 anos), a novela agora redescoberta pelo académico Takumi Ishikawa e pelo editor Hiroshi Sakaguchi narra a história de um túmulo onde jazem duas pessoas (o filho deficiente de um industrial e uma rapariga morta acidentalmente ao visitar da campa do primeiro) - ecoando assim, como notou Ishikawa, um conto posterior do autor, Utsukushiki Haka (Um belo túmulo), de 1954. Kawabata, que viria a suicidar-se em 1972 num pequeno apartamento, sem deixar qualquer nota ou testamento, cresceu obcecado pela solidão e pela morte: quando escreveu Utsukushiki!, já tinha perdido os pais, a irmã mais velha, a avó e o avô, a única pessoa que dele se ocupara durante a sua juventude. Na altura em que Utsukushiki! saiu no Nichi Nichi Shimbun, tinha acabado de publicar a sua primeira novela, Kanjo soshoku, e preparava a edição da segunda, A Dançarina de Izu, mas continuava a tentar interessar os jornais locais nos seus inéditos. "Nessa época muitos escritores conhecidos procuravam fazer-se publicar na imprensa local, porque os diários nacionais de grande tiragem tinham sido arrasados pelo sismo de 1923 em Tóquio", explicou o investigador da Universidade de Rikkyo à AFP. A redescoberta desta novela até aqui desconhecida traz novos dados ao estudo da formação literária do escritor que a Academia Sueca premiou com o Nobel em 1968 por exprimir "com grande sensibilidade a essência do espírito japonês".


*Kawabata é o autor lido este mês no blog, com Kyoto

Não pares a tua tempestade, José Gomes Ferreira

Levei para casa este poema. Estava na Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto.