sábado, 14 de maio de 2011

A 13 de Maio no Parque Eduardo VII

As editoras não se definem apenas pelos autores que aceitam ou recusam, mas sobretudo pela maneira como os aceitam ou recusam.
Fundada em Junho de 1979, a Antígona iniciou a sua actividade com a publicação do livro Declaração de Guerra às Forças Armadas e outros Aparelhos Repressivos do Estado. Esta obra emblemática anunciava já o programa editorial que se tem vindo a concretizar, sem desvios, nos últimos trinta e um anos.
Hoje, com mais de 200 títulos, a Antígona mantém a sua paixão inicial pelos textos subversivos, e vai continuar, ainda por muito tempo, a empurrar as palavras contra a ordem dominante do mundo.

Desta editora que resiste, que tem no seu editor Luís Oliveira uma figura de referência no mundo dos livros e que é um amante dos livros, segue-se a filha que é responsável pela chancela Orfeu Negro e Orfeu Mini, que são já uma marca de sucesso e qualidade.

Para destaque um livro, entre tantos e tantos, com tanta qualidade...

Crimes Exemplares (Edição Ilustrada)

Max Aub é autor de mais de 40 títulos, entre os quais Crimes Exemplares, publicado em 1957 e que, em 1981, conquistou o Grand Prix de L'Humour Noir em Paris. São 87 confissões curtas, secas e directas, por vezes muito violentas, outras com uma certa beleza poética e galhofeira, feitas por quem praticou um crime contra a vida de alguém. Crimes de todo o tipo, por envenenamento estrangulamento, etc., em que se constata não só a grande perversidade humana, mas também uma inacreditável ingenuidade. O livro mantém uma nada surpreendente actualidade, num mundo como o nosso onde a violência real parece cada vez mais ficção. Ou o contrário. Esta edição especial de grande formato apresenta os delitos originais e 32 ilustrações a preto e encarnado, executadas por artistas maioritariamente espanhóis.

Alguns destes episódios foram gravados em forma de curtas metragens no projecto "Menos 9". Fica aqui um exemplo em vídeo e em texto.



"Começou a mexer o café com leite com a colherzinha. O líquido quase transbordava da chávena empurrado pelo movimento do utensílio de alumínio (o recepiente era vulgar, o sitio era ordinário e a colher estava arredondada pelo uso). Ouvia-se o barulho do metal contra o vidro. Tim, tim tim. E o café com leite girava, girava com uma cova no meio. E eu encontrava-me sentado mesmo à frente. O café estava à pinha. O homem continuava a mexer, a mexer, imóvel, e sorria ao olhar-me. Senti uma coisa a subir-me por mim acima. Fitei-o de tal maneira que se viu na obrigação de se explicar:
- O açucar não está derretido.
Para mo provar, bateu com a colher várias vezes no fundo do copo. Recomeçou a mexer metodicamente a beberagem, com uma energia redobrada. Voltas e mais voltas, sem parar, eternamente. Voltas e mais voltas. E continuava a olhar para mim sorrindo. Então puxei da pistola e disparei."

Prémio Camões para Manuel António Pina

Manuel António Pina vai à livraria Almedina levantar livros jurídicos para a filha. É de lá que o conheço. Apesar de também ser jurista de formação, é no jornalismo que dá cartas - com crónicas que assina no Jornal de Notícias.

Há uns tempos perguntou (a mim e à minha colega de turno Diana) para onde tinha ido a poesia... Na verdade, tínhamos mudado a secção de sítio: passou do fim da prosa estrangeira para o fim da prosa portuguesa.

Aproveitei para lhe dizer que a poesia estava um pouco 'em crise'. Isto porque é cada vez mais fácil encontrá-la na internet. Não sei se concordou. Limitou-se a rir e dizer que era escritor...

Não conhecia a sua cara! Só conversando com a Diana é que lá cheguei. E, a partir daí, a minha admiração - que a minha colega partilha. Recordo-me de uma frase que a Di descobriu:

'‎Uma geração assim sacrificada no altar dos inextrincáveis deuses da política e do dinheiro só será "parva" enquanto se conformar em vez de transbordar e arrasar as margens que a comprimem.'

Parece-me tão acertada!


Obviamente que fico muito contente por Manuel António Pina ter ganho o Prémio Camões 2011. Dele conheço alguns poemas avulso... Apesar de escrever essencialmente poesia, tem livros infantis, crónicas e peças de teatro. Sei que é um apaixonado por gatos: escreveu um livro exactamente com esta palavra.

Posso dizer que nestes dias vendi todas as obras do autor. Agora só para a semana...

Vou dedicar-me a conhecê-lo melhor!

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Em tempo de Feira...

...hoje nas palavras dos outros.


Feira do Livro e farturas vistas pelo Pedro Vieira (ex-livreiro da Almedina), rabisacador, blogger e mais recentemente entretainer no Canal Q, em vários programas e também autor, e pela Catarina Homem Marques. O programa é o "Ah, a Literatura" (dito como se fosse o Manuel Alegre).

Quem disse que humor e livros não combinam?


Sobre este seu livro, publicado pela Quetzal nada como as palavras do próprio para o descrever. Em mini entrevista à revista Novos Livros, o Pedro descalça assim esta bota.

1- O que representa, no contexto da sua obra, o livro «Última Paragem: Massamá»?
R- Digamos que representa ao mesmo tempo um papel nuclear, até porque se trata do único que publiquei até agora. Por todas as razões e mais alguma tem um estatuto central.

2- Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R- No princípio era o verbo e a intenção de encaixar a Roma imperial num contexto contemporâneo. Daí aos subúrbios de Lisboa com vista para um triângulo amoroso foi um passo, o que é mais ou menos evidente. Talvez menos, concedo.

3- Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Neste momento estou a escrever a resposta a este micro-questionário. No que toca à ficção não tenho planos imediatos, a realidade tem-se revelado mais rica e tem-me atropelado repetidamente nos últimos tempos. Vou tendo literatura que baste.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Ó Gente da Minha Terra - o poema de Amália Rodrigues



'É meu e vosso este fado
Destino que nos amarra
Por mais que seja negado
Às cordas de uma guitarra

Sempre que se ouve o gemido
De uma guitarra a cantar
Fica-se logo perdido
Com vontade de chorar

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi

E pareceria ternura
Se eu me deixasse embalar
Era maior a amargura
Menos triste o meu cantar

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi.'


Pouca gente sabe que o fado cantado por Mariza foi escrito por Amália Rodrigues. Sempre que ouço esta canção, sinto uma união entre as duas. De Alma e Coração.

Passem numa livraria a comprar este livro. Em 'Versos', Amália Rodrigues deixa poemas como este:

Depois Disto...Desisto

'Tantas coisas que já li
Outras tantas que vivi
Fazem de mim o que sou
Ai se eu tivesse esquecido
Tudo o que tenho vivido
E o coração decorou
Tudo é questão de memória
É o nosso pensamento
Que a vida nos vai passando
A memória faz história
Do que foi cada momento
Que nós vamos recordando
Isto da alma é segredo
Ninguém sabe desvendar
Os porquês de tudo isto
Sabemos que tarde ou cedo
Iremos a enterrar
E depois disto...desisto'

O PORTUGAL FUTURO, Ruy Belo

Dito por Miguel Ramos.

Com quantos livros se faz um leitor

Foto: Pedro Ferreira

adjetivo: Que lê; substantivo masculino: aquele que lê; O leitor, na teoria literária, é uma das três entidades da história, sendo as outras o narrador e o autor. O leitor e o autor habitam o mundo real, e o narrador existe no mundo da história;

Na verdade as definições acima são incompletas. O leitor não é só um adjectivo, senão bastaria que alguém lesse bulas de medicamentos, flyers ou outdoors ou versos escritos em wcs públicos para ser leitor ou que lesse apenas uma vez quando criança para ser leitor para sempre.O leitor não lê por obrigação, ler para ele, além de uma necessidade vital, é um prazer. Constrói uma biblioteca, varia as secções, salta de prateleira em prateleira. Elabora listas de leitura e tem apontamentos, relaciona temas.

A linguagem não é mero código que se aprende e aplica, de modo mecânico e/ou automático. Não pode, portanto, ser considerada segundo uma visão mecanicista, que leva a uma produção discursiva acrítica e/ou limitada em suas possibilidades. A boa prática discursiva, ao contrário, implica compreender que a linguagem não pode ser estudada independentemente de seu contexto sócio-histórico, isto é porque traz em si os valores e a história social de diferentes grupos.

Hoje é o dia em que vamos conhecer melhor quem nos vista. Dos gostos pessoais ao genérico, das perguntas que aqui estão às que queiram responder. O que nos motiva?

Quantos livros lês por ano?
Quantos livros compras por ano?

Qual é o processo de compra de um livro? Pela capa, porque conheces o autor, confias na editora, criticas?

... e no fim o que fazes?

Quando tinha 16 anos, o jovem argentino Alberto Manguel trabalhava numa livraria em Buenos Aires. Certo dia viu entrar pela porta, acompanhado da mãe, um homem cego, já de meia-idade, que havia encomendado uma obra esquisita – um dicionário de anglo-saxão. Toda a gente conhecia o homem. Era o Jorge Luis Borges, um dos mais importantes escritores da actualidade. Manguel atendeu o escritor e este, quando já estava para ir embora, resolveu fazer-lhe uma proposta: que tal se nas horas livres o rapaz fosse até sua casa, para ajudá-lo com os textos que ele não conseguia ver? Nos dois anos seguintes, foi exactamente o que aconteceu. Ele leu em voz alta para Borges. Para si mesmo, enquanto isso, confirmou sua paixão pela leitura. Hoje, aos 55 anos, ele é um especialista de renome internacional nesse tema. A sua obra mais conhecida é mesmo esta "Uma História da Leitura", que em Portugal está editada pela Editorial Presença, foi top de vendas em muitos países e é uma obra de referência em todo o mundo. Escrito em linguagem clara e atraente, repleto de histórias e curiosidades, o ensaio aborda o assunto das mais diversas perspectivas – da iniciação à literatura à relação do texto escrito com as imagens e as novas tecnologias. Filho de um diplomata, Manguel, que se lembra de ter decifrado o significado das letras de um cartaz pela primeira vez aos 4 anos, já viveu em diversos países, da Itália ao Taiti, e é fluente em cinco línguas. Actualmente, é cidadão do Canadá, "um país onde sua voz é escutada como se fosse um político", é assim que escrevem normalmente na sua apresentação. Sobre o livro nada mais a acrescentar se não um enorme leiam!

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Luís de Camões

Dito por Ana Deus. Vocalista dos Três Tristes Tigres.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Happy hour, sad ideas!

 Hora H ou Happy hour como também é conhecida. Na verdade parece ser algo muito atractivo para quem compra livros e de alguma forma até para quem os vende.
Analisando a fundo a questão constatamos que de todas as áreas dos ditos produtos culturais os livros são os que menos apoio têm por parte das entidades públicas, compare-se com os poucos mas existentes apoios ao teatro ou ao cinema. Em segundo esta iniciativa é injusta logo à partida e logo pela organização que a promove. A APEL representa livreiros e editores. Os editores negoceiam com os livreiros com uma determinada margem e estando na mesma associação uns passam a ter privilégios de concorrência que são à partida injustos e desleais. Para além disso mina uma relação que existe para além das feiras e que sustenta comercialmente as editoras e livrarias o resto do ano. Não é justo negociar a 30% ou a 40% com os livreiros e depois estar ao lado deles a fazer 50%. Aliás é de tal forma caricato que estas Happy Hours têm sido altamente frequentadas por responsáveis de livrarias que têm aproveitado para se fornecer. Para além disso esta medida só favorece os grandes grupos e grandes editoras que têm fundos editoriais que podem desbaratar até porque em alguns casos seriam livros para guilhotinar... isso sim uma prática condenável!
Para os clientes é também injusto porque obriga as pessoas a jogarem com esse horário, impossibilitando, por exemplo, quem tem problemas em se deslocar à noite ou quem só pode frequentar a Feira noutros horários de aproveitar também esta iniciativa que devia ter como fim promover a leitura e não o lucro fácil. Coragem não é fazer uns dias de livros muito baratos, coragem é manter preços acessíveis e ajustados durante todo o ano. Coragem é publicar com qualidade como critério e não com rentabilidade ou rapidez de sucesso como critério principal e essencial.
Apostar em novos autores e em matérias editoriais com valor tem custos que se tem de sustentar todo o ano e não com foguetes promocionais de aparente rentabilidade.
Querem fazer promoções, assumam e mantenham-nas durante todo o dia ou durante toda a feira, seleccionando títulos. Façam cumprir verdadeiramente a lei do preço fixo. Retirem o IVA do preço dos livros. Promovam o livro enquanto objecto e enquanto mais valia cultural.
Não andem é a atirar areia para os olhos das pessoas e a engana-las com estratégias de marketing for dummies!
A APEL tem o dever de proteger os interesses de todos: livreiros, editores e também dos leitores e já se devia ter apercebido que a promoção desta iniciativa em nada ajuda quem mais dificuldades tem. Cria guetos na própria feira, espaços isolados e desiguais com regras próprias e com o tempo afastará não só as pessoas como as próprias editoras com menos capacidade de implantação financeira.


Não restam dúvidas de que é também um problema socio-económico, o de acesso ao livro, quer pelo preço que tem no mercado completamente desfasado do preço de produção e edição quer pela acessibilidade à rede nacional de bibliotecas. A ainda baixa escolaridade e iliteracia e a má qualidade da educação faz com que para muitos a leitura seja um estorvo, um desafio para uma elite cultural. A aquisição de um livro continua a não ser uma prioridade nas escolhas de uma família. Para além do dinheiro, há também a questão do tempo. Crianças, jovens e adultos perdem uma boa parte do seu tempo a deslocarem-se entre local de trabalho e casa. Os jovens restringem ao obrigatório as suas leituras, os mais adultos procuram leituras mais rápidas nas revistas e nos jornais. Nas políticas de promoção da cultura voltam a falhar as interacções com outros sectores e aspectos das vidas das pessoas. Falta o tempo para viver, falta o tempo para o lazer.
A cultura envolve duas vertentes, uma mais activa e a outra mais passiva, a criação e a fruição cultural. Na verdade, sendo um direito consagrado na Constituição, nem por isso significa que todos têm acesso à criação e à fruição. Sendo que, mais facilmente fruímos um bem cultural, do que o criamos. Nem todos podemos ser pintores, ou escritores. No entanto, todos podemos observar um quadro, ler um livro. A escrita é, de facto, a primeira grande revolução de ordem intelectual e de uma importância que é inegável, não seria possível imaginarmos a nossa realidade sem a escrita, ainda que pensemos nos avanços tecnológicos, ela lá está, nos telemóveis, nos computadores, na Internet, enquanto meio de comunicação e enquanto suporte de transmissão e aquisição de informação.
A leitura é um hábito como outro qualquer: cria-se. E cria-se mais facilmente quando se é mais novo. E cria-se mais facilmente quando o contexto envolvente o propicia. Contexto é um país onde a cultura seja um aposta a sério e não um aparato de figuras, eventos e inaugurações para aparecer na televisão e nos jornais. Poderemos distinguir educação e cultura?

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Na praia lá da Boa Nova, um dia, António Nobre

Dito por Rita Reis.

Pelas linhas nostálgicas da memória de um país...

Aproveitando a dica do texto e sugestão do Rodrigo, a escolha de hoje vai para um livro em jeito de guia para quem gosta de conhecer o Portugal escondido e tantas vezes esquecido - "Pelas linhas da Nostalgia".


Um livro que procura dar nova vida às linhas de caminhos-de-ferro desactivadas, sugerindo passeios a  pé nas vias férreas abandonadas. Propostas de descoberta de um inestimável património feito de histórias e memórias através de percursos que agora renascem. Salientam os autores que nos últimos 20 anos, Portugal perdeu mais de 700 km de vias férreas. Agora procura-se reavivar e reaproveitar este imenso património nomeadamente para fins turísticos e de lazer, com a criação de ciclovias e outros percursos turísticos.

Com a chancela das Edições Afrontamento, este livro procura contribuir para esse reavivar de memórias, que os mais velhos evocam das suas viagens e da matéria da escola primária onde os rios, as serras e as linhas férreas constavam da cartilha. Outro objectivo é a preservação de um inestimável património, sugerindo passeios a pé ao longo dessas vias férreas desactivadas. São sugestões de percursos em linhas abandonadas, bem como em itinerários que foram entretanto transformados em ciclovias. Cada percurso é caracterizado com a sua história, devidamente ilustrada com imagens (maioritariamente do arquivo CP), o estado actual e a descrição detalhada de percursos a pé, incluindo mapas, fotos e notas de orientação.

O projecto deste livro foi desenvolvido entre 2004 e 2007 e contou com o apoio da REFER, CP e Cimpomotor (importadora da Suzuki), com a autoria de Rui Cardoso e Mafalda César Machado.
 
E porque falamos de nostalgia mas da nova, daquela que nos motiva para fazer coisas novas. Porque tantas vezes o passado nos pode impulsionar para redescobrir mundos e construir novas utopias, mais uma sugestão também das Edições Afrontamento.

Num país onde a ilustração anda tantas vezes mal, se confunde com o livro infanto-juvenil e onde os hábitos de leitura só recentemente descobriram as qualidades de projectos deste género, este projecto ousa quebrar com esses preconceitos. Manuela Bacelar, artista plástica, mais que reconhecida pelo seu já extenso percurso na ilustração (Os Ovos Misteriosos, Tobias, O Meu Avô, O Dinossauro, Sebastião, Bernardino…), ilustra “Cimo de Vila” em diálogo perfeito com os textos inéditos de Carlos Tê também sobejamente conhecido como escritor e letrista, em particular na parceria com Rui Veloso mas também com os Clã ou os Trovante.

“Cimo de Vila” é uma viagem pelo Porto de outros tempos, pelo Porto que ainda permanece, os pormenores das vivências, dos quotidianos, dos vícios e qualidades e da arquitectura desta cidade. Remete-nos para uma viagem em jeito de guia por uma cidade que nem sempre se percebe ao primeiro olhar. Um livro com excelente cuidado gráfico em todos os pormenores da edição “embrulhado” numa capa a imitar o histórico papel de mercearia.

domingo, 8 de maio de 2011

Pare, Escute, Olhe

Numa paisagem deslumbrante talhada por gente que trabalha na agricultura, a imbecilidade do poder político que impõe a força do cimento e das barragens...

'Pare, Escute, Olhe' é um livro de imagens únicas. Testemunho de tudo aquilo que uma comunidade se prepara para perder. É a condenação absoluta ao isolamento. De gente velha que dedicou a sua vida a colher o que plantou. Numa miséria que poucos de nós imagina.

Em nome de um progresso que não procura outras soluções.


'Este livro é um documentário fotográfico realizado pelo fotojornalista Leonel de Castro, com texto do jornalista Jorge Laiginhas, motivado pela supressão da chamada Linha do Tua, que irá ficar submersa após a construção da barragem do Tua. Trata-se de um documento histórico, uma vez que é um trabalho inédito e único de registo fotográfico exaustivo. Os registos fotográficos captam não só a enorme beleza e dignidade da paisagem, como a própria vida da linha ferroviária: as pessoas que a utilizam, a presença dos carris e do comboio na terra e na vida das gentes da região.'

Reparem em toda a beleza que o mundo vai deixar de ver (pelo meio do sorriso parvo de 'quem manda'):



'O documentário "Pare, Escute, Olhe" recebeu este sábado, na 59ª Edição do Trento Film Festival, em Itália, o Prémio "Cittá di Bolzano", para Melhor Filme de Exploração e Aventura.

Na opinião do júri, "este documentário mostra o que acontece ao povo quando o sistema político é mais influenciado pelos interesses privados do que os interesses de uma comunidade. É um grande exemplo de cinema interventivo que nos deixa a pensar".

Neste festival, dedicado na sua maioria a filmes de montanha, estiveram a concurso 27 filmes de vários países. Para o realizador, este prémio "comprova que o fecho da linha ferroviária e repetidas injustiças para com o povo transmontano também não deixaram indiferente o público italiano e júri internacional. Espicaçar, não deixar as pessoas indiferentes, era um dos objectivos deste documentário. Mesmo a uma grande distância de Portugal, as pessoas sentiram a revolta. A mensagem do filme foi compreendida".

Depois do reconhecimento em Portugal (DOCLISBOA, CINE ECO e Caminhos do Cinema Português), este é o oitavo prémio para "Pare, Escute, Olhe", um documentário que pretende ser um grito de alerta na defesa da identidade de uma região transmontana.'

Há umas semanas tive a oportunidade de ver esta reportagem na Sic Notícias. Posso afirmar que vale bem a pena.

(esta informação e outros assuntos relativos ao livro e documentário neste blogue ---»» aqui)

Até quando...


 Numa época em que tudo está transformado em produto e em negócio, os livros continuam a ter algumas especificidades que deviam ser tomadas em conta principalmente pelos principais agentes do mercado. Falando na linguagem que esta gente entende e que eu odeio, a adaptação do produto ao seu "target". As questões que se colocam às editoras são desafios diários de sobrevivência. Os livros têm cada vez uma durabilidade de exposição em loja menor. Um mercado inundado todos os dias de novidades editoriais e sem agentes livreiros, substituídos por vendedores e precários desinteressados e desmotivados leva a que as prateleiras se encham de tudo e de nada. Livros descontextualizados porque há um truque no título que leva a que acabe por ser arrumado fora de sitio, livros ilustrados que são automaticamente sector infanto-juvenil.... casos e mais casos.

Perante isto as editoras têm que ter formas de manter os livros a mexer e de preferência a vender. Um livro bom vende sempre mas nem sempre um livro que vende bem é um bom livro - regra que continua a ser ignorada pela maioria das lojas. O que vale e quanto vale a promoção de um livro? Quanto vale a pena arriscar para que o produto se torne rentável?

O que fazer quando a associação que devia zelar pelos interesses de livreiros e editores os ignora, persegue e mente. Todos os anos as tarifas de participação nas Feiras do Livro são agravadas, as editoras pagam quotas mensais regulares e é sabido que os resultados têm vindo a decrescer de ano para ano. Onde está a APEL aquando das feiras internacionais? O que tem feito a APEL na promoção de editoras e autores portugueses nestas feiras?

Até onde podem ir os leitores, ou melhor, o que podem fazer os leitores. Fala-se de crise mas pouco de soluções. Nos livros como no país começa a ser tempo de reinventar e dar espaço para que surjam novas formas de pensar e fazer.