sábado, 12 de outubro de 2013

Handwritten Manuscript Pages From Classic Novels: William Faulkner

Já alguma vez pensou ver William Faulkner desta forma? Então fique com uma das páginas de Luz de Agosto, escrita pelo próprio.

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Cronicando pela Ásia... Objectivo Laos

Chiang Kong, fronteira entre a Tailândia e Laos - vista para o Rio Mekong
04 de Maio 2009

Acertei preços com uma Mini Van e parti rumo à fronteira. O objectivo era chegar ao Laos, fosse de que jeito fosse. O problema é que o Laos não é um país qualquer - tem apenas uma estrada "alcatroada" a atravessá-lo, não tem comboios, só tem um hospital na capital e muitas surpresas que vou descobrir mais à frente...

Perante este cenário, acabei por entrar no país de barco. Sem saber muito bem o que me esperava, descontraído em mais uma aventura. Não havia tempo para exigências de última hora e o tempo estava a contar.

Antes de chegar à pequena aldeia fronteiriça parei no meio do nada. Para meu grande espanto, o cenário era o seguinte: uma casa de campo, umas quantas crianças, alguns animais de quinta. O que seria aquilo? Se a sua resposta foi «o sítio onde se tratava do visto», então acertou!


Tive de dar 35 dólares por fotografias e pelo visto. O bilhete do barco ficou também assegurado para os dois dias de viagem. E tudo isto numa base de confiança, que eu suspeitei... mas que tive de aceitar. Não ia voltar para trás!

Estacionado em Chiang Kong, tive problemas em levantar dinheiro. Os cartões não funcionavam. Isto quer basicamente dizer que tinha uns 8 euros para dois dias de barco. Precisava de dormir na paragem do primeiro dia e, como é óbvio, comer.

Relaxei o que pude. Estava ainda no paraíso e aqui tudo se resolve por milagre. Naquele lugar inóspito, fui jantar a um bar que tinha alguns cachecóis de clubes ingleses e bandeiras de países espalhadas. O tecto carregado de andorinhas a construir o ninho, a pairar sob as nossas cabeças.


Dois americanos ainda arranjaram polémica ao jantar, pois queriam um menu à parte (e não o que estava estabelecido com a agência de viagens). Fugi dali com uma cerveja e fui para perto do quarto. Chegou a altura de arrancar conversa a alguns viajantes. Ninguém sabe muito bem o que esperar deste barco e desta viagem de dois dias até Luang Prabang. E isso, curiosamente, relaxa-me. Não sou o único!

O sono, por fim, venceu. Amanhã as surpresas continuarão...

Rodrigo Ferrão

A Granta de Rodrigo Ferrão

Chegou a casa e foi conhecer os seus novos amigos.

Descubra a página da Revista Granta 

Snobidando: Giovanni Quessep

Esfinge, Giovanni Quessep

Feliz tú que no miras
los ojos de la Esfinge,
y no ves que es azul el laberinto
de su arena; terrible
conocimiento de una vida amarga
el que nos dan los últimos jardines.
Feliz tú que no sabes
quién teje la ilusión de tus tapices,
ni quién es la hilandera de tus días,
vendimiadora que da un vino triste.
Cantas tu himno, loco de esperanza,
y no sabes si mueres o si vives.


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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

«Ler é D. Quixote» - o próximo Bairro dos Livros

Este sábado, «Ler é D. Quixote» no Moinho de Vento
Os mais distraídos podem não ter reparado, mas o Bairro dos Livros inundou a Internet de pedidos de voluntários para uma acção especial e secreta com máquinas de escrever antigas, enquadrada na próxima edição do Bairro dos Livros. O apelo à acção e à imaginação funcionou e são várias dezenas aqueles que se juntarão este sábado, 12 de Outubro, para fazer do Largo Moinho de Vento, bem no centro da cidade, um espaço para a escrita colectiva e espontânea. «Em cada máquina de escrever vai nascer uma estória diferente, que vai ser elaborada pouco a pouco com a participação das pessoas anónimas que estejam a passar na rua», explica a Cultureprint. Em comum, todas as histórias terão a figura literária de Dom Quixote e o diálogo entre a realidade e o sonho, característico da personagem cervantesca. O resultado vai decorar as montras de algumas das livrarias do Bairro durante o mês de Outubro.
A iniciativa decorre no âmbito da Feira do Bairro que a Cultureprint vai começar a promover, já a partir deste sábado, naquele espaço, e que se repete nos dias 19 e 26 de Outubro, entre as 11h00 e as 18h30. Tratam-se de pequenas feiras dedicadas ao livro novo, antigo, usado, raro e em saldo, com espaço para artigos de papelaria, artesanato de papel, artistas e serviços criativos de qualidade e micro-escala. O projecto é apoiado pela Câmara Municipal do Porto, através da Porto Lazer. À feira junta-se um programa cultural sempre diferente, a misturar a Literatura com o Papel e as Artes Plásticas e a nostalgia de uma música ambiente.
Este sábado, a iniciativa é dedicada a homenagear um dos maiores clássicos da Literatura com o tema do Bairro dos Livros deste mês «Ler é D. Quixote».

Snobidando: Margaret Atwood

Or: all dolls come
from the land of the unborn,
the almost-born; each
doll is a future
dead at the roots,
a voice heard only

on breathless nights,
a desolate white memento.

Or: these are the lost children,
those who have died or thickened
to full growth and gone away.

The dolls are their souls or cast skins,
which line the shelves of our bedrooms
and museums, disguised as outmoded toys,
images of our sorrow,
shedding around themselves
five inches of limbo.


*Quinto poema dos "five poems for dolls", de Margaret Atwood.

*Escultura de Hans Bellmer.




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a-ver-livros: tempero e Fred Cress

A tesão floresce
como fungo
no entulho fedorento 
dessa história
apetite que a fruta 
da mosca 
não contenta
venha carne e sangue 
e ossos
um pingo de suor
para tempero
e digestão

* para saber mais sobre o pintor Fred Cress
siga o link www.buratti.com.au/#!fred-cress-estate

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

É do borogodó: manjar de coco

Leite morno e amido de milho até dissolver. Mexe Rosário com afinco, mais um cadinho de amido a dissolver bem. Despeja flocos carnudos de coco, deixa lá até que encharquem. Adoça com carinho e faz engrossar com chaminha branda, cortininha de renda balançando em tarde linda de primavera.
- Faz tanto calor aqui.
Abanando-se sem perder o ponto, Rosário despeja o manjar de coco suavemente nas cumbuquinhas de barro e cobre cada qual com uma porção de calda de ameixas pretas.
Depois descansa. Lava as mãos e a nuca, suspende a saia, senta na soleira da porta da cozinha com os pés tocando o terreiro. O chão batido apronta desenhos nos pés de Rosário e ela sorri.
Lá na mangueira, teima balançar, feito criança, no velho banco dependurado por boas cordas em mais alto galho. Rosário se atira contra as nuvens, para frente e para trás, as pernas alongadas no céu riscam o mais belo traço. As pernas lindas de tornozelos fininhos quase a sumir, os pés pequeninos. Para frente e para trás, as florzinhas do vestido escapando no ar, Rosário se entrega sem vigília e atormenta Bento, o vizinho que acabou de se mudar com a família.
- Óia eu aqui, Bento!
- Boa tarde, dona menina.
Bento foge o olhar para a ponta da enxada, cavucando um pouco mais o solo ressequido.
- Faz isso não, Bento. – Salta a menina Rosário num passo ágil de quem viveu subindo em árvores. – Deixa ajudar nisso, Bento. Bora ali buscar água no poço para molhar esse chão seco.
Bento não resiste nem aos tornozelos nem aos apelos de Rosário, pensa em dizer não, pensa em se afastar, mas a menina assanha com jeitos sempre tão faceiros e ares de insubordinação, levada, imprevisível. Bento pensa tudo e cala; cala sua boca com os olhos despejando desejo pela vivacidade de Rosário.
- A água do poço tá boa, morna, quer ver?

- Pare com isso, menina, tenho de trabalhar um bocado… Hei…
Atira água em Bento, novamente, novamente. Rosário sem segredos para os desassossegados olhos que a consomem, vai desenhando o corpo no vestido molhado. Na paleta de cores, Rosário tem cor de cravo nos cabelos algumas notas acima da cor de sua pele.
Bento cora e Rosário se aproxima, com as mãos molhadas enlaça o pescoço do moço:
- Refresca, Bento, faz calor aqui…
A terra subindo dos pés aos joelhos como finos raminhos, brotando do solo, deixando surgir altiva a flor: um pé de Rosário. Dentro dali, sem distração que ludibrie o apetite, o melhor dos frutos.
- Para com isso, menina.
- Que foi, Bento? Gosta de beijo, não? Tua mulher num beija?
- Ara, para com essa prosa, menina, é claro que ela me beija.
- Então, carece ficá com medo que ocê já sabe o que se faz.
- Isso num é certo, ara, a menina sabe que eu sô home casado, pai de família, sô.
- Tô incomodando ocê, Bento, to pedindo alguma coisa de arrancar pedaço?
Rosário se aproximou bem de Bento. Colou inteira ao corpo dele e debruçou sobre o peito. Assim de pertinho, Rosário parecia ainda mais miúda, pequena, frágil. Bento quis protegê-la com braços enormes a lhe rodear a cintura. Neste exato instante, as tangerinas se curvaram fazendo sombra numa leve bruma cítrica que embriagava os lados da plantação.
O cheiro da boca de Rosário era uma fatia de coco açucarado, a carne dos lábios macia, tenra feito ameixa madura.
O beijo dos dois desencadeou o canto alegre do bem-te-vi lá no pé de graviola.

Penélope Martins

O Prémio justo que faltava a Alice Munro

Quem anda nestas andanças dos livros ficou contente com a atribuição do Prémio Nobel a Alice Munro. A Canadiana é bem conhecida do público português, tendo vários livros traduzidos pela Relógio D'Água.

Dona de uma prosa formidável, tem tiradas mágicas. Como estas que vos deixo:

A story is not like a road to follow … it's more like a house. You go inside and stay there for a while, wandering back and forth and settling where you like and discovering how the room and corridors relate to each other, how the world outside is altered by being viewed from these windows. And you, the visitor, the reader, are altered as well by being in this enclosed space, whether it is ample and easy or full of crooked turns, or sparsely or opulently furnished. You can go back again and again, and the house, the story, always contains more than you saw the last time. It also has a sturdy sense of itself of being built out of its own necessity, not just to shelter or beguile you.

There is a limit to the amount of misery and disarray you will put up with, for love, just as there is a limit to the amount of mess you can stand around a house. You can't know the limit beforehand, but you will know when you've reached it. I believe this.

Talvez a melhor forma de conhecer esta escritora de 82 anos seja ler o seu livro A Vista de Castle Rock, onde "ela combina a história da sua família com as suas próprias experiências numa antologia de contos, que é talvez a mais pessoal e intensa das que escreveu.

Um rapaz, levado a Castle Rock, em Edimburgo, para ver o mar que o levará até à América, vislumbra o sonho do pai. Emigrantes escoceses fazem uma viagem, de amor e de perda, que os leva ao Ontário rural. Esposas, mães, pais e filhos vivem entre incertezas, ambivalências e contemplações nestas histórias de esperança, adversidade e admiração. A Vista de Castle Rock revela o essencial da arte de Munro: o seu subtil entendimento de vidas normais." (in sinopse)


Diz o Jornal de Negócios:

A Academia atribuiu o galardão a Munro por considerar a escritora "mestre do conto contemporâneo", um género literário raramente distinguido pela Academia das Ciências Sueca. Esta é a primeira vez que um escritor canadiano é laureado como este prémio. Alice Munro é a 13.ª mulher a ganhar o Nobel da Literatura desde que o prémio foi instituído, em 1901.

Na biografia que foi divulga da escritora, a Academia Sueca aplaude os contos de Munro, que focam "a fragilidade da condição humana", e elogiam a "narrativa afinada" da escritora, "que se caracteriza pela clareza e pelo realismo psicológico".

"Alguns críticos consideram-na um Tchekhov canadiano", acrescenta a Academia.

"As suas histórias passam-se frequentemente em pequenas localidades, onde a luta por uma existência socialmente aceitável muitas vezes resulta em relações tensas e conflitos morais. Problemas que resultam de diferenças geracionais e ambições de vida que colidem", escreve ainda.

Os seus textos descrevem frequentemente "eventos do dia-a-dia, mas decisivos; verdadeiras epifanias que iluminam a história e deixam questões existenciais aparecer num relâmpago", pode ler-se no texto da academia.


Fico contente com este prémio. Ler Munro é uma experiência muito boa, posso garantir. Atirem-se aos livros dela! 

a-ver-livros: ir e Claire Elan

a vontade de partir é um contágio
a de ficar corre nas veias
como um rio poderoso
que arrasta tudo
na corrente
rasga margens, esperanças
no aguardar das marés
cheias 
fluxo refluxo águas vivas
lutando contra a força maior
virar costas, subir o leito
ir

* para saber mais sobre a pintora Claire Elan
siga o link www.leftcoastgalleries.com/artists/claire_elan

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Quando a literatura pode mudar a sociedade - Luiz Ruffato

Para o brasileiro Luiz Ruffato “escrever é um compromisso”. O autor de “Estive em Lisboa e lembrei-me de ti” (que é editado em Portugal pela Quetzal e Tinta da China) quer “afectar o leitor”, modificá-lo, para transformar o mundo. “Trata-se de uma utopia, eu sei, mas me alimento de utopias”, disse nesta terça-feira, na cerimónia oficial de abertura da Feira do Livro de Frankfurt, que este ano tem o Brasil como país convidado.

O escritor de Minas Gerais foi escolhido para ser o orador literário da cerimónia de boas vindas ao país convidado ao lado da presidente da Academia Brasileira de Letras, Ana Maria Machado, naquela que é a mais importante feira mundial do sector e que nesta quarta-feira abre portas. Fez um discurso que não deixou ninguém indiferente, mostrando como o Brasil é um “país paradoxal”: “Ora o Brasil surge como uma região exótica, de praias paradisíacas, florestas edénicas, carnaval, capoeira e futebol; ora como um lugar execrável, de violência urbana, exploração da prostituição infantil, desrespeito aos direitos humanos e desdém pela natureza.”

Falou do genocídio histórico dos índios, que em 1500 eram quatro milhões e hoje são 900 mil, das desigualdades sociais, da violência, do racismo, afirmando que a história do Brasil se tem alicerçado “quase que exclusivamente na negação explícita do outro, por meio da violência e da indiferença”. No final havia gente a aplaudir de pé.

Emocionou, por exemplo, a mais importante agente literária brasileira, Lucia Riff, uma das veteranas de Frankfurt, e foi ao encontro do que pensa o escritor brasileiro Paulo Lins, autor de Cidade de Deus e de Desde que o Samba é Samba (ed. Caminho), que se sentiu muito bem representado e para quem o discurso do colega mostrou “o Brasil como ele é”. “A gente fica passando essa visão debaixo do pano, ele falou somente a verdade”, disse ao PÚBLICO, surpreendido com a opinião daqueles que consideraram não ser a Feira do Livro de Frankfurt o lugar para se fazer um discurso daquele tipo argumentando que só iria aumentar o estereótipo. “Não seria o lugar?! Mas qual seria o lugar, no congresso nacional brasileiro? Ainda mais tendo os escritores um compromisso com a verdade.” Também o escritor Cristovão Tezza, autor do premiadíssimo O Filho Eterno (ed. Gradiva) disse ao PÚBLICO ter sentido o discurso de Luiz Ruffato como “muito autêntico e verdadeiro”, alegando que não reforçava o cliché.


Luiz Ruffato começou com uma interrogação pertinente: "O que significa ser escritor num país situado na periferia do mundo, um lugar onde o termo capitalismo selvagem definitivamente não é uma metáfora? Para mim, escrever é compromisso.” Lembrou o “mito corrente” da chamada “democracia racial brasileira”, de que não houve “dizimação, mas assimilação dos autóctones”. “Esse eufemismo, no entanto, serve apenas para acobertar um facto indiscutível: se nossa população é mestiça, deve-se ao cruzamento de homens europeus com mulheres indígenas ou africanas – ou seja, a assimilação se deu através do estupro das nativas e negras pelos colonizadores brancos.” Silêncio na sala.

O escritor continuou. “Até meados do século XIX, cinco milhões de africanos negros foram aprisionados e levados à força para o Brasil. Quando, em 1888, foi abolida a escravatura, não houve qualquer esforço no sentido de possibilitar condições dignas aos ex-cativos. Assim, até hoje, 125 anos depois, a grande maioria dos afrodescendentes continua confinada à base da pirâmide social: raramente são vistos entre médicos, dentistas, advogados, engenheiros, executivos, jornalistas, artistas plásticos, cineastas, escritores.” E lembrou que 75% de toda a riqueza brasileira se encontra nas mãos de 10% da população branca e apenas 46 mil pessoas possuem metade das terras do país. Disse que “quem mais está exposto à violência não são os ricos que se enclausuram atrás dos muros altos de condomínios fechados, protegidos por cercas eléctricas, segurança privada e vigilância electrónica, mas os pobres confinados em favelas e bairros de periferia, à mercê de narcotraficantes e policiais corruptos.”

Lembrou que são “machistas”, ocupam “o vergonhoso sétimo lugar entre os países com maior número de vítimas de violência doméstica”, e que são “hipócritas”, sendo reveladores os casos de intolerância em relação à orientação sexual : “O local onde se realiza a mais importante parada gay do mundo, que chega a reunir mais de três milhões de participantes, a Avenida Paulista, em São Paulo, é o mesmo que concentra o maior número de ataques homofóbicos da cidade.”

Mas o discurso de Ruffato em Frankfurt terminou com optimismo. Além de referir a conquista da sua geração, a democracia, voltou à pergunta inicial: “O que significa habitar essa região situada na periferia do mundo, escrever em português para leitores quase inexistentes, lutar, enfim, todos os dias, para construir, em meio a adversidades, um sentido para a vida? Eu acredito, talvez até ingenuamente, no papel transformador da literatura. Filho de uma lavadeira analfabeta e um pipoqueiro semianalfabeto, eu mesmo pipoqueiro, caixeiro de botequim, balconista de armarinho, operário têxtil, torneiro-mecânico, gerente de lanchonete, tive meu destino modificado pelo contacto, embora fortuito, com os livros. E se a leitura de um livro pode alterar o rumo da vida de uma pessoa, e sendo a sociedade feita de pessoas, então a literatura pode mudar a sociedade.”

*in Jornal O Público.

Um Porto de encontro com Valter Hugo Mãe

"A Desumanização" de Valter Hugo Mãe.
Apresentação: Paula Moura Pinheiro
Participação musical: Ana Deus e Ricardo Serrano
Leituras: Paula Miranda

Espaço de diálogo e partilha, “Porto de Encontro” é o nome de um ciclo de conversas com escritores, a decorrer em locais emblemáticos da cidade do Porto. Todos os meses, um autor vai estar disponível para falar sobre os seus livros, numa série de entrevistas conduzidas pelo jornalista Sérgio Almeida.

Snobidando: Drummond de Andrade

Sob o Chuveiro Amar, Carlos Drummond de Andrade

Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo — é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fonte?



*pintura de Degas

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terça-feira, 8 de outubro de 2013

Snobidando: = a ler.


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É do borogodó: escrito no espelho

duas águias solenes: o macho suporta o peso da fêmea enroscada sob suas asas, a fêmea alimenta o macho soprando vida dentro do seu bico. lá fora o mato está alto e já passa a altura dos nossos joelhos. uma pedra vermelha reluz entre as ervas daninhas. uma pedra vermelha é toda crueldade atirada sobre o mundo. um homem suspira aliviado enquanto saboreia os beijos de sua amada. um pastor colhe seu rebanho. um poeta dá de comer aos pássaros. um príncipe se prostra aos pés da idolatrada. são dias de sustentação plena, os sonhos do guardião do mundo.

Penélope Martins

a-ver-livros: navegação à vista e Olimpia Zagnoli

Guarda-me no porão
da essência, motor
ânimo fulcro
serei o combústivel das horas
tempestuosas, vela
presa ao mastaréu
protegendo o sono
dos livros lidos
estante instante
do que nunca será
bastante

Salva-me do naufrágio
enxuto, ressonância ausente
presente envenenado
dos dias

* para conhecer mais sobre a ilustradora italiana Olimpia Zagnoli
siga o link www.olimpiazagnoli.com

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Snobidando... Vikram Seth

All You Who Sleep Tonight

All you who sleep tonight
Far from the ones you love,
No hand to left or right

And emptiness above -

Know that you aren't alone
The whole world shares your tears,
Some for two nights or one,
And some for all their years. 


*Vikram Seth




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A viúva de David Foster Wallace conta-nos a sua história...



David Foster Wallace suicidou-se em 2008; agora, quase cinco anos depois, a sua viúva, Karen Green, dá conta dessa morte em Bough Down, colectânea de textos e colagens.
No dia 12 de Setembro de 2008, o escritor norte-americano David Foster Wallace (n. 1962) enforcava-se em casa, terminalmente derrotado por 20 anos de depressão e de tratamentos anti-depressivos. Karen Green, a artista com quem estava casado desde 2004, foi a primeira a encontrá-lo — mas não é essa a única experiência pós-morte que agora conta no seu primeiro livro, Bough Down (Siglio Press), uma colectânea de poemas em prosa e de colagens em que ressaca a espiral de luto privado e de exposição pública para que foi subitamente atirada após o suicídio do marido. “Tenho a impressão de que te parti as rótulas quando te puxei para baixo. Continuo a ouvir esse som”, diz num dos textos iniciais do livro, que a crítica norte-americana está a receber com fervor. E a seguir: “Quero-o zangado com os políticos (...), a tentar manipular-me para lhe fazer favores que eu faria de qualquer maneira. Quero-o à procura dos óculos, a tentar não se vir (...), a ficar com espinafres entalados entre os caninos e a gengiva, a resmungar com a minha verborreia, ou com a minha mãe. Não o quero em paz.”
Do Wall Street Journal ao Los Angeles Times, passando pelo New York Daily News, os méritos de Bough Down ­— não tanto como buraco na fechadura da porta que se fechou com a morte de David Foster Wallace, mas sobretudo como descoberta de uma voz autoral autónoma — têm sido sistematicamente elogiados. “Karen Green revela-se uma escritora profundamente boa: Bough Down é afectuoso, inteligente e divertido, além de brutalmente claro e triste”, escreveu Martin Riker no Wall Street Journal. No Los Angeles Review of Books, Maggie Nelson considera o livro “um clássico instantâneo”: “É um dos mais comoventes, estranhos, originais, assombrosos e belos documentos acerca da dor que já li”, escreve Nelson, celebrando não só as passagens mais sombrias (o buraco sem fundo da relação da autora com psiquiatras e medicamentos, como que ecoando a experiência de Wallace, e o vazio da casa onde a mancha de suor que o marido deixou na almofada parece o mapa de um plano de fuga) mas também a forma como Karen Green arranjou espaço dentro do luto para declarar o seu amor, e a sua luxúria, por David Foster Wallace.

No site da editora, o escritor George Saunders compara o pequeno livro de memórias da viúva de Karen Green ao “fado português”: “um lamento apresentado com tanta precisão que se torna luminoso e afirmativo”. Minúsculo e precioso, Bough Down não se tornará certamente um fenómeno de culto como os livros de David Foster Wallace — cujo colossal A Piada Infinita, de 1996, que a Queztal editou em Portugal no Outono passado, foi considerado pela Time um dos melhores romances em língua inglesa publicados entre 1923 e 2005. Mas depois dele talvez os estranhos deixem de se sentir à vontade para mandar e-mails a Karen Green dizendo-lhe que ninguém a conhece
*Notícia do Ípsilon / Jornal Público: http://ipsilon.publico.pt/livros/texto.aspx?id=321386

a-ver-livros: pressa e Kazushige Nitta

Corre
que o mundo 
não espera que contemples
o passo saltitante
do melro
no jardim

Apressa-te
que há um tique
taque
cruel
no ar

* para saber mais sobre o ilustrador japonês Kazushige Nitta
siga o link www.kazustudio.com

domingo, 6 de outubro de 2013

David pinta... Daniel Defoe

David pinta... Daniel Defoe


O grau mais elevado da sabedoria humana é saber adaptar o seu carácter às circunstâncias e ficar interiormente calmo apesar das tempestades exteriores.

Desejar o melhor, recear o pior e aceitar o que vier.

A justiça parece sempre violenta a quem a recebe, pois cada pessoa é, aos seus próprios olhos, inocente.

O medo do perigo é mil vezes pior do que o perigo real.

Handwritten Manuscript Pages From Classic Novels: Marilynne Robinson

Já alguma vez pensou ver Marilynne Robinson desta forma? Então fique com uma das páginas de Gilead, escrita pela própria.
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The Literary Mafia

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