sábado, 2 de abril de 2011

Constituição da República Portuguesa

A Constituição da República Portuguesa completa hoje 35 anos. Resulta da Assembleia Constituinte eleita nas primeiras eleições gerais livres, a 25 de Abril de 1974.

Fica o preâmbulo.


'A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista.

Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação revolucionária e o início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa.

A Revolução restituiu aos Portugueses os direitos e liberdades fundamentais. No exercício destes direitos e liberdades, os legítimos representantes do povo reúnem-se para elaborar uma Constituição que corresponde às aspirações do país.

A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno.'

Dia Internacional do Livro Infantil - 2 de Abril

Deixo, neste dia, uma selecção de boas histórias...






sexta-feira, 1 de abril de 2011

Fernando Pessoa e Gal Costa

Fernando Pessoa, sempre tão actual. Com 'Nevoeiro', o último poema de 'Mensagem'.
Canta Gal Costa.

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer –
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.


Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

quinta-feira, 31 de março de 2011

Minha culpa

'Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou? Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém

Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou? Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...


Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro..
Uma chaga sangrenta do Senhor...

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...'

O Cemitério de Praga, Umberto Eco

Umberto Eco regressa. Eis um livro que pode animar o mercado livreiro. É um grande reforço para a editora Gradiva, que foi buscar o principal escritor / pensador Italiano da actualidade.

Para já, pouco se sabe. Deixo a sinopse.


'Durante o século XIX, entre Turim, Palermo e Paris, encontramos uma satanista histérica, um abade que morre duas vezes, alguns cadáveres num esgoto parisiense, um garibaldino que se chamava Ippolito Nievo, desaparecido no mar nas proximidades do Stromboli, o falso bordereau de Dreyfus para a embaixada alemã, a disseminação gradual daquela falsificação conhecida como Os Protocolos dos Sábios de Sião (que inspirará a Hitler os campos de extermínio), jesuítas que tramam contra maçons, maçons, carbonários e mazzinianos que estrangulam padres com as suas próprias tripas, um Garibaldi artrítico com as pernas tortas, os planos dos serviços secretos piemonteses, franceses, prussianos e russos, os massacres numa Paris da Comuna em que se comem os ratos, golpes de punhal, horrendas e fétidas reuniões por parte de criminosos que entre os vapores do absinto planeiam explosões e revoltas de rua, barbas falsas, falsos notários, testamentos enganosos, irmandades diabólicas e missas negras. Óptimo material para um romance-folhetim de estilo oitocentista, para mais, ilustrado com os feuilletons daquela época. Há aqui do que contentar o pior dos leitores. Salvo um pormenor. Excepto o protagonista, todos os outros personagens deste romance existiram realmente e fizeram aquilo que fizeram. E até o protagonista faz coisas que foram verdadeiramente feitas, salvo que faz muitas que provavelmente tiveram autores diferentes. Mas quando alguém se movimenta entre serviços secretos, agentes duplos, oficiais traidores e eclesiásticos pecadores, tudo pode acontecer. Até o único personagem inventado desta história ser o mais verdadeiro de todos, e se assemelhar muitíssimo a outros que estão ainda entre nós. Um romance fantástico, de um autor que uma vez mais mostra saber como nenhum outro combinar erudição, humor e reflexão.'

quarta-feira, 30 de março de 2011

As velas ardem até ao fim, Sándor Márai

'Deslumbrante. Cheia de ritmos e brilhos com uma prosa fértil e subjugadora. Uma obra incomparável.' (Reseña)

'Este belíssimo romance é uma reflexão sobre a amizade, a paixão e um mundo que não regressará jamais. A sua profundidade é das que brilham à flor da pele.' (El Correo)

'Sándor Márai nasceu em 1900 em Kassa, uma pequena cidade húngara que hoje pertence à Eslováquia.' E escreveu este romance, um dos mais vendidos de sempre em Portugal.

Penso que há uma explicação lógica para este fenómeno: a história é simples, desafia a amizade entre dois velhos conhecidos, quarenta anos depois.


Um permaneceu, o outro partiu em aventuras pelo Oriente. Um segredo, envolvendo a mulher de um deles (ou dos dois?), fica escondido todos estes anos. Até que, no fim, será revelado.

Mas será o único segredo?

Porá em causa a amizade entre eles? Numa só noite são contados 40 anos de vida, enquanto são consumidas as velas que iluminam aquela sala, no Castelo.

Convido-vos a ler. E a descobrir todos estes mistérios...

Acima de tudo!



Abriu – feche
Acendeu – apague
Ligou – desligue
Desarrumou – arrume
Sujou – limpe
Está a usar algo – trate com carinho
Quebrou – conserte
Não sabe consultar – chame quem sabe
Para usar o que não lhe pertence – peça licença
Pediu emprestado – devolva
Não sabe como funciona – não mexa
É de graça – não desperdice
Não sabe fazer melhor – não critique
Não veio ajudar – não atrapalhe
Ofendeu – desculpe-se
Falhou – assuma
Não critique à toa – traga soluções

terça-feira, 29 de março de 2011

3 Cantos

Prossigamos com o sonho de chegar à Índia...

Canto V

41

'Os homens estão desolados e com insónias.
Tomam comprimidos e dizem
versos belíssimos, mas esquecem-se de regar
as plantas. Todos os seres vivos morrerão
se passares dia e noite a recitar versos,
a corrigir pequenos problemas de dicção,
a organizar, por fora, a História da beleza.
É feio e ficou, eis o Homem.'

50

'Devemos perceber o que significa os pequenos gestos
terem sido substituídos
pelos grandes movimentos.
Na cidade já não há pormenores,
verifica-o. As pessoas cruzam-se
sempre em momentos de partida ou de chegada.
Ninguém fica. Não há estados intermédios.
Do coração dos homens o que as mulheres conhecem
são electrocardiogramas saudáveis. E vice-versa.'



Canto VI

34

'A Natureza é simultânea em todo o lado,
o que por vezes irrita. Seria interessante
uma suspensão: entrar num sítio onde
a natureza não existisse, uma máquina
que excluísse todas as matérias naturais. Uma
máquina literária, talvez, mas cujas letras pousassem
em nada, pois em qualquer suporte
abundam partículas naturais.
O problema é ainda o famoso Nada. Será o Nada
não natural? Não nos parece.'

81

'E rezar não é simples. As palavras vulgares
confrontam-se com finalidades mais altas.
E rezar não é fácil - é necessário construir
um discurso organizado
para dialogar com a estranheza.
Porque o que é estranho pode proteger ou não,
mas obriga sempre a inventar outras línguas.
Só se reza, por exemplo, com palavras novas vindas das velhas;
olha-se para coisas que só existem depois de se sofrer.'

Canto VII

75

'Trago ainda uma flor artificial para um objecto
único me lembrar, ao mesmo tempo,
da floresta selvagem e da estufa. Das melhores orquestras
trago uma música na memória e o meu assobio.
Trago ainda uma certeza: cada invenção perturba
a ordem, mas a civilização é um somatório contínuo
de invenções; de desordens, portanto. Aprecio o facto
de o dia nascer, mas não gosto de previsões
meteorológicas. Que cada dia invente sobre mim
uma surpresa.'

segunda-feira, 28 de março de 2011

Pritzker 2011, Souto Moura

Souto Moura como poucos o conhecem, em livro.

Ficam alguns títulos. No dia do maior galardão mundial na área da arquitectura.




Amanhã

Regresso a ti, querida Ana...


'Um dia perco-me
contigo

Ou talvez me encontre em ti,
sem medo dos passos
que se seguem

Encontrar-me-ei
nos teus braços
nos teus olhos

Naquele recanto
do teu pensamento
do teu coração
a que só eu chego

Provar-te-ei
estar ao teu lado
sejam quais forem
as curvas da vida

E a estrada
será nossa'

domingo, 27 de março de 2011

Poema em Iz

Poema da minha infância, de Luísa Ducla Soares. Tropecei nele, por acaso. Muitos anos depois!

Poema em Iz

Na vila de Avis
junto do chafariz
vivia feliz
o doutor Moniz
que, sendo juiz,
caçava perdiz.

Num dia infeliz
uma perdiz
picou-lhe o nariz,
deixou cicatriz.

O doutor Moniz
partiu para Paris
tratou do nariz
com licor de anis.


E voltou feliz
para a vila de Avis
junto do chafariz,
casou com a actriz
Dona Beatriz
e teve um petiz
chamado Luís.

Segundo ele diz,
não, não, não condiz
com o doutor Moniz
caçar mais perdiz.