sexta-feira, 2 de outubro de 2015

A roupa como mensagem

What banned books do you have on your list this#BannedBooks Week?

Censorship is so 1940 - - bit.ly/1YC3k2D
I read Banned Books - - bit.ly/1ixbacM
A Book worth Banning - - bit.ly/1iMM2zr

Encontrado na página For Reading Addicts

Correndo o Brasil: A Garota

Rio de Janeiro
10 de Agosto de 2014




Desperto no Domingo, manhã perdida. Agora percebo bem o significado de celebrar até não poder mais. O dia foi passado na máxima escuridão, até bem perto das 3 da tarde, na cama.

Na casa está pouca gente, a maioria da comitiva levantou-se a horas decentes e partiu para o centro. Eu não aguentaria a pedalada e o calor. Olho para o pão e ataco, bebo litradas de água para repor a energia e espreito à janela.

Hoje é dia de fazer alguns contactos, pôr os olhos na internet e lançar uma ou outra foto. A noite de ontem foi memorável, foi saltar até não poder mais. E depois foi o esticão de vários quilómetros pela praia fora. Parece que ainda sinto as pernas a latejar.

Cai a noite num ápice e o fim de tarde traz a magia do Brasil à praia. Olho pela janela da sala e avisto uma procissão. Mas não é como em Portugal, não vejo centenas de pessoas atrás de uma ou mais imagens de santo. Aqui a festa parece ser outra e vai um camião com uma banda no cimo. Alinham-se as vozes e grita-se bem alto os desígnios da fé. Qualquer ser menos informado podia ser levado a crer que se trata de um Carnaval assim mais leve. Mas não é, isto é mesmo uma procissão.

O melhor é vermos o vídeo.


Arranjo-me e aguardo o grupo, vamos para um dos sítios mágicos do meu imaginário - a Garota de Ipanema. O bar fica numa esquina, aberto para a rua. O cheiro intenso de picanha invade os narizes. As caipirinhas e os chopes rolam à frente dos nossos olhos. As paredes revestem-se de fotografias dos mestres - Vinícius e Tom - e a letra da canção está em toda a parte. Cantarola-se um pouco e imagina-se os mestres compondo e bebendo mais um whisky, naquelas tardes sem fim do Rio de Janeiro.

Saímos rumo ao Hotel Pestana, em plena linha de praia. O edifício alto tem um bar no topo. A noite fresca convida a pôr a camisola - por vezes esquecemo-nos que Agosto é pleno inverno. A conversa anima com o testemunho de portugueses que vivem no Rio. Nem tudo são rosas, nem tudo é mau. Podemos ter o melhor e o pior dos mundos, mas assim é este país. Sobrevive uma alegria imensa, uma festa constante e um povo de sorriso e alegria fáceis. E isso contagia qualquer um.

Parto para dormir, hoje recolho cedo. Antes de me deitar dou por mim a assobiar a música. Podia estar com os mestres a cantar dias sem fim, sem promessas de um futuro, levado apenas pela corrente dos amigos e dos dias belos.


Rodrigo Ferrão 

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

História Prodigiosa de Portugal - II Volume - Magias e Mistérios

Depois de História Prodigiosa de Portugal – Mitos & Maravilhas, ilustrativo de uma história «extraordinária» de Portugal, das origens ao século XVIII, Joaquim Fernandes dá continuidade a uma narrativa de crenças e lendas, em regra desprezada e minimizada pela historiografia comum.

Neste segundo volume prosseguimos a viagem ao imaginário onírico e mítico português, agora nos séculos XIX e XX, quando os antigos feiticeiros, profetas e teúrgicos se transformam em magnetizadores, magos e sugestionadores. As primeiras práticas do Espiritismo em Portugal, fenómeno marcante de Oitocentos, são aqui pela primeira vez historiadas, com revelações inéditas que ajudam a retratar a identidade essencial da «alma portuguesa».




Temas em destaque na obra:

1 - a divulgação do uso terapêutico do "magnetismo animal", na década de 1840, iniciada na Universidade de Coimbra;

2 - o acolhimento entre nós do fenómeno das "mesas-girantes", em 1853, em que se destacam ilustres deputados que, nas Cortes de então, preferiam abandonar o hemiciclo
e os oradores de serviço e refugiarem-se noutra dependência de S. Bento para ... experimentar os movimentos das mesas de pé de galo!

3 - a "vaga espírita" de 1900, com epicentro no Porto, onde se destaca o papel decisivo, fulcral, do Jornal de Notícias, que no Outono de 1900 levou os leitores e sociedade portuense a experimentar
as célebres "séances! " em redor das mesas de pé de galo, conduzindo a uma autêntica "febre" daquilo que designo de "espiritismo social" expandindo-se e contaminando,
pela imprensa, outras regiões do país.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

É do borogodó: (a) Receita de Mulher


As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como o âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos, então
Nem se fala, que olhem com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar as pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteia em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37º centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras
Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não mais estará presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.´

*Vinicius de Moraes


* escolhido por Penélope Martins

outono


dentro dos meus sonhos
encarnas a estação do outono
pé ante pé flutuas
leveza da brisa que anoitece
entre nuvens rosadas

quedo-me no corpo da brancura
em que poisas tecida de flor.


Helder Magalhães


Anka Zhuravleva arts

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

domingo, 27 de setembro de 2015

Não sei se escrevo para me encontrar ou para de mim próprio fugir

O ato de escrever afigura-se-me cada vez mais como tentar encher de nadas uma casa já de sempre vazia. O mais que se faz é abrir as janelas desviar as portadas e afastar os cortinados, tudo isto com o devido jeitinho silencioso e tudo isto a fim de deixar entrar uma corrente de ar que cirande alegre pela casa e a tente, mal ou bem, limpar dos pós mais graúdos e das sujidades mais invisíveis. Sendo-me a escrita um ato de cada vez maior solidão e na impossibilidade de me tentar encher seja do que for, aproveito essa leve e terna brisa para me purificar do mundo e me distrair de tudo quanto há de tragédias e infortúnios, tribulações e amarguras.
Tento sempre esvaziar tudo o que é a mim relativo de todas as palavras que escrevo (afinal, à primeira vista, pintavam-se-me como coisas diferentes). Imediatamente fracasso. Todas as palavras que escrevo fracassam em todos os propósitos: palpar tempos que para sempre serão impalpáveis, explanar histórias que de sempre se tiveram impossíveis de entender, ter mais sentidos do que aqueles que lá nas letras que as formam estão expostos. Como digo, as palavras que escrevo fracassam em tudo, em tudo menos em quase nada. A favor ou contra vontade, vão, a pouco e pouco, revelando de mim pequenos espetros de sombras escondidas, migalhas e pedacinhos, uma a uma, um a um, como se disso lhes dependesse a sobrevivência e como se dentro de mim não pudessem mais sobreviver.

Gonçalo Naves

Foto tirada daqui: http://www.revistabula.com/522-os-10-melhores-poemas-de-fernando-pessoa-2/