terça-feira, 10 de janeiro de 2017

A bailarina

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A profissão de bufarinheiro está regulamentada; contudo, ninguém mais a exerce, por falta de bufarinhas. Passaram a vender sorvetes e sucos de fruta, e são conhecidos como ambulantes. 

Conheci o último bufarinheiro de verdade, e comprei dele um espelhinho que tinha no lado oposto uma bailarina nua. Que mulher! Sorria para mim como prometendo coisas, mas eu era pequeno, e não sabia que coisas fossem. Perturbava-me. 

Um dia quebrei o espelho, mas a bailarina ficou intacta. Só que não sorria mais para mim. Era um cromo como outro qualquer. Procurei o bufarinheiro, que não estava mais na cidade, e provavelmente teria mudado de profissão. Até hoje não sei qual era o mágico: se o bufarinheiro, se o espelho.



- Carlos Drummond de Andrade - 



* este texto está publicado em Conversa de Morango e outros textos cheios de graça, com ilustrações de Fido Nesti, selo da Editora Companhia das Letrinhas, de São Paulo, Brasil.



** esta publicação é uma contribuição semanal de Penélope Martins, direto do Brasil para a ponte com os irmãos portugueses, na rubrica É do Borogodó!

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coração


enxertei
o coração numa
sebe
quando por lá
passares
plantá-lo-ás
na planta
da mão.


Helder Magalhães




domingo, 8 de janeiro de 2017

A História de Ferdinando, Munro Leaf & Robert Lawson

Li-o na versão portuguesa, publicada recentemente pela Kalandraka Editora Portugal.

Uma história simples, de um touro que cresceu no campo sem se interessar pelas touradas, mesmo com a promessa de um dia glorioso na arena de Madrid.

Ferdinando só queria saber do cheiro das flores, de contemplar a paisagem debaixo de uma árvore. Mas um dia foi escolhido e rumou à capital. 

Uma vez lá, sentiu o cheiro das flores que as mulheres do público traziam para a arena e não se mexeu, levando todos os participantes da tourada à loucura.

Regressou ao prado e ainda hoje está lá, contemplando as flores.

Que significado tem tudo isto? Descubram-no!


"Era uma vez, em Espanha… um pequeno touro que se chamava Ferdinando. Todos os touros da mesma idade gostavam de correr e saltar e dar marradas uns aos outros. Todos, menos Ferdinando. Do que ele gostava era de estar sossegado, a cheirar as flores...» "A história de Ferdinando" é uma alegoria pacifista e antibélica que conta com mais de 60 traduções. A KALANDRAKA recupera agora a primeira versão a preto e branco deste clássico, ainda tão atual, mas que já data de 1936. 

O lirismo da prosa, a linguagem próxima da infância e um humor muito subtil são algumas das qualidades deste texto com que Munro Leaf questiona as touradas e rejeita a violência, para além de apoiar a liberdade individual e o respeito pela diferença. Ilustrado por Robert Lawson, este álbum foi selecionado pela Internationale Jugend Bibliothek com um dos 10 clássicos em prol da paz e da tolerância."

"A Utilidade do Inútil" - Manifesto, de Nuccio Ordine

Nuccio Ordine é professor de Teoria da Literatura na Universidade da Calábria. Dedicou a Bruno, além de O Umbral da Sombra, outros estudos, dentre os quais se destacam La cabala dell’asinoAsinità e conoscenza in G. Bruno (1987) e Giordano Bruno, Ronsard et religion (2004), tendo coordenado também, em 2002, a edição de Opere Italiane, deste filósofo. Pesquisador do Centro de Estudos da Renascença Italiana da Universidade de Harvard e da Fundação Alexander von Humboldt, foi Professor Convidado em diversos institutos de pesquisa e universidades nos Estados Unidos e na Europa. É membro fundador e secretário geral do Centro Internazionale di Studi Bruniani do Istituto Italiano per gli Studi Filosofici.



Não é verdade, mesmo em tempos de crise, que só é útil o que produz lucro. Nas democracias mercantis há saberes considerados «inúteis» que revelam uma utilidade extraordinária. Neste manifesto brilhante e original, Nuccio Ordine chama a atenção para a utilidade do inútil e para a inutilidade do útil através da reflexão de grandes filósofos (Platão, Aristóteles, Zhuang-zi, Montaigne, Campanella, Bacon, Kant, Heidegger, Bataille…) e de grandes autores (Ovídio, Dante, Moro, Shakespeare, Cervantes, Hugo, Dickens, Stevenson, García Lorca, Ionesco, García Márquez, Calvino, Lessing…). «A utilidade do inútil» está traduzida em 19 línguas, publicada em 26 países e é já um best-seller em Espanha, França e Grécia.

*in contra-capa

«Existem saberes absolutos que – precisamente pela sua natureza gratuita e desinteressada, longe de qualquer vínculo prático e comercial – podem ter um papel fundamental na educação do espírito e no desenvolvimento cívico e cultural da humanidade. Dentro deste contexto, considero útil tudo aquilo que nos ajuda a tornarmo-nos melhores…»

A utilidade do inútil é um manifesto que reúne citações e reflexões que Nuccio Ordine foi armazenando ao longo da sua vasta experiência como professor e investigador. Esta obra está estruturada em três partes: uma primeira que aborda a útil inutilidade da literatura, para a qual contribuem as considerações de uma série de personalidades da esfera da cultura que, ao longo da história, se debruçaram sobre este tema; uma segunda parte que analisa a repercussão da lógica do lucro no mundo do ensino, da investigação e das atividades culturais em geral, na perspetiva daquilo a que o autor qualifica criticamente como “universidade-empresa” e “alunos-clientes”; e uma terceira parte que congrega a voz de alguns clássicos para mostrar o papel ilusório da posse e os seus múltiplos efeitos devastadores sobre a dignitas hominis, o amor e a verdade, através da promoção daquilo a que Ordine apelida de “ilusão da riqueza” e “prostituição da sapiência”. 

Nuccio Ordine rejeita a ditadura do lucro e do utilitarismo, que invadiu o nosso quotidiano, e propõe uma profunda reflexão sobre a importância daqueles conhecimentos que, aparentemente, não produzem benefícios materiais numa sociedade global em que só é considerado útil aquilo que é passível de ser transformado em rendimento monetário ou num outro tipo de compensação material e quantificável. Face à crise do sistema, este livro convida os leitores a pensar que – agora, e mais do que nunca – são necessários esses saberes que alimentam o espírito, que reivindicam o bem comum, o respeito pelo próximo, a solidariedade e a paz. 

A utilidade do inútil é um manifesto atual e desafiador que apela à luta contra a corrupção causada pelo dinheiro e pelo poder.


*todos os textos são disponibilizados no livro, pela Kalandraka Editora Portugal