sábado, 31 de agosto de 2013

«Leda and the Swan» - o poema de Yeats descoberto


Leda and the Swan

A sudden blow: the great wings beating still
    Above the staggering girl, her thighs caressed
    By the dark webs, her nape caught in his bill,
    He holds her helpless breast upon his breast.

    How can those terrified vague fingers push
    The feathered glory from her loosening thighs?
    And how can body, laid in that white rush,
    But feel the strange heart beating where it lies?

    A shudder in the loins engenders there
    The broken wall, the burning roof and tower[20]
    And Agamemnon dead.

                        Being so caught up,

    So mastered by the brute blood of the air,
    Did she put on his knowledge with his power
    Before the indifferent beak could let her drop? 

----------

Repentino golpe: batendo inda as grandes asas
Sobre a rapariga vacilante, negras patas
A afagar-lhe as coxas, presa no bico a nuca,
Aperta contra o seu peito o peito fraco.

Como afastarão aterrados os dedos frouxos
Das coxas desfalecidas o esplendor das penas?
E como não sentirá o corpo, esmagado pelo branco ardor,
Pulsar onde pulsa o coração do estranho?

Um estremeção dos rins ali engendra
A muralha em ruínas, o teto e a torre em chamas
E Agamémnon morto.
                 
              Tão dominada,

Tão presa do sangue animal dos ares,
Pôde ela dele tomar saber e força
Antes que a largasse o bico indiferente?

*Poema de Yeats encontrado no livro O Complexo de Portnoy, Philip Roth. Traduzido por Ana Luísa Faria.



David pinta... Céline

David pinta... Céline

Quanto à beleza, pelo menos sabemos que acaba por morrer, e por isso, sabemos que existe.

Estar sozinho é treinarmo-nos para a morte.

A maior parte das pessoas morre apenas no último momento; outras começam a morrer e a ocupar-se da morte vinte anos antes, e ás vezes até mais. São os infelizes da terra.

A verdade é uma agonia sem fim. A verdade deste mundo é a morte. É preciso escolher: morrer ou mentir. E eu nunca me consegui matar.

Marina Colasanti - o amor e o mundo em palavras

Foto: Isabel Garcia
Marina Colasanti nasceu em Asmara, na Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Estudou Belas-Artes e trabalhou como jornalista, tendo ainda traduzido importantes textos da Literatura italiana. Como escritora, publicou 33 livros, entre contos, poesia, prosa, literatura infantil e infanto-juvenil.

Recebeu o Prémio Jabuti com "Eu sei mas não devia" e também por "Rota de Colisão". Dentre outros escreveu "E por falar em Amor", "Contos de Amor Rasgados", "Aqui entre nós", "Intimidade Pública", "Eu Sozinha", "Zooilógico"...

Escreve, também, para revistas femininas e é constantemente convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. Tem editados dois áudio-livros com contos e histórias. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

Destaco pela sua actualidade este texto:

"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia."

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma."



sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Neruda: «Grita»

Grita

Amor, quando chegares à minha fonte distante,
cuida para que não me morda tua voz de ilusão:
que minha dor obscura não morra nas tuas asas,
nem se me afogue a voz em tua garganta de ouro.

         Quando chegares, Amor
         à minha fonte distante,
         sê chuva que estiola,
         sê baixio que rompe.

         Desfaz, Amor, o ritmo
         destas águas tranquilas:
sabe ser a dor que estremece e que sofre,
sabe ser a angústia que se grita e retorce.

         Não me dês o olvido.
         Não me dês a ilusão.
Porque todas as folhas que na terra caíram
me deixaram de ouro aceso o coração.

         Quando chegares, Amor
         à minha fonte distante,
         desvia-me as vertentes,
         aperta-me as entranhas.

E uma destas tardes - Amor de mãos cruéis -,
ajoelhado, eu te darei graças.


*Pablo Neruda, in Crepusculário
Tradução de Rui Lage.

Despir o corpo: Seamus Heaney

Do poeta irlandês Seamus Heaney conheço pouco, além de que publicou o primeiro livro um ano antes de eu nascer, ganhou um Nobel da Literatura em 1995 e acaba de despedir-se deste mundo, aos 74 anos.
Fico a saber, entretanto, pelas notícias de que veio várias vezes a Portugal. Nomeadamente "a convite da capital da cultura Porto 2001 – quando participou, ao lado de Nuno Júdice, numa sessão na Biblioteca Almeida Garrett –, e depois em 2004 em Coimbra, cuja universidade o doutorou honoris causa", indica o Público.
 E faço uma nota mental para o ir descobrir um dia destes.
Afinal, os poetas não morrem. Apenas despem o corpo.

Seamus Heaney (1939 - 2013)
***

Deixo-vos um poema de Seamus Heaney traduzido para o português por Rui Carvalho Homem - e ainda alguns vídeos do próprio poeta a ler as suas palavras, para aqueles que entendem o inglês.

"A ÁRVORE DOS DESEJOS

Recordei-a como a árvore dos desejos que morreu
E vi-a subir, inteira, até ao céu,
Deixando um rasto de tudo o que se cravara
Por cada carência, uma e outra vez, na têmpera
Da sua casca e sâmago: moeda, alfinete e prego
Desfraldaram dela como uma cauda de cometa
Recém-cunhada e dissolvida. Tive uma visão
De uma ramada aérea atravessando húmidas nuvens,
De rostos erguidos, onde a árvore estivera."

***

VIDEO: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=30LR0tIDb3g#t=105


"THE UNDERGROUND

There we were in the vaulted tunnel running,
You in your going-away coat speeding ahead
And me, me then like a fleet god gaining
Upon you before you turned to a reed

Or some new white flower japped with crimson
As the coat flapped wild and button after button
Sprang off and fell in a trail
Between the Underground and the Albert Hall.

Honeymooning, moonlighting, late for the Proms,
Our echoes die in that corridor and now
I come as Hansel came on the moonlit stones
Retracing the path back, lifting the buttons

To end up in a draughty lamplit station
After the trains have gone, the wet track
Bared and tensed as I am, all attention
For your step following and damned if I look back"

***

E vários poemas mais, a propósito da atribuição do prémio Griffin de Poesia.

VIDEO: http://www.youtube.com/watch?v=bxKiij7Q788&feature=player_embedded#t=210


"A DRINK OF WATER

She came every morning to draw water
Like an old bat staggering up the field:
The pump's whooping cough, the bucket's clatter
And slow dimineundo as it filled,
Announced her. I recall
Her grey apron, the pocked white enamel
Of the brimming bucket, and the treble
Creak of her voice like the pump's handle.
Nights when a full moon lifted past her gable
It fell back through her window and would lie
Into the water set out on the table.
Where I have dipped to drink again, to be
Faithful to the admonishment on her cup,
"Remember the Giver," fading off the lip."

"OYSTERS

Our shells clacked on the plates.
My tongue was a filling estuary,
My palate hung with starlight:
As I tasted the salty Pleiades
Orion dipped his foot into the water.

Alive and violated
They lay on their beds of ice:
Bivalves: the split bulb
And philandering sigh of ocean.
Millions of them ripped and shucked and scattered.

We had driven to the coast
Through flowers and limestone
And there we were, toasting friendship,
Laying down a perfect memory
In the cool thatch and crockery.

Over the Alps, packed deep in hay and snow,
The Romans hauled their oysters south to Rome:
I saw damp panniers disgorge
The frond-lipped, brine-stung
Glut of privilege

And was angry that my trust could not repose
In the clear light, like poetry or freedom
Leaning in from the sea. I ate the day
Deliberately, that its tang
Might quicken me all into verb, pure verb."


O video inclui ainda  "Tate's Avenue", "The Baylor" e "Postscript".
Deliciem-se.

a-ver-livros: amálgama e Oliver Ray

Amálgama
amara de mim
animada de mim
abandonada de mim
na tela dos dias 
cinzentos

Embrulhada 
em nós
que o vento não desfaz
e o mar
recusa embalar
Quem me desata
ou colore? 

* para saber mais sobre o pintor canadiano Oliver Ray
siga o link www.oliverray.ca

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Neruda: «Para o Meu Coração...»

Para o Meu Coração...

Para o meu coração basta o teu peito,
para a tua liberdade as minhas asas.
Da minha boca chegará até ao céu
o que dormia sobre a tua alma.

És em ti a ilusão de cada dia.
Como o orvalho tu chegas às corolas.
Minas o horizonte com a tua ausência.
Eternamente em fuga como a onda.

Eu disse que no vento ias cantando
como os pinheiros e como os mastros.
Como eles tu és alta e taciturna.
E ficas logo triste, como uma viagem.

Acolhedora como um velho caminho.
Povoam-te ecos e vozes nostálgicas.
Eu acordei e às vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam na tua alma.


*Pablo Neruda, in Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada.

É do borogodó: havia uma curva

havia uma curva, gotas prateadas cintilantes. cismas verdes penetravam o silêncio; havia uma curva e dentes que roçavam o lóbulo esquerdo. suaves fisgadas franziam a pele,  poros abertos exalando fino fio < desespero >. experimentava a curva, sentia a mistura.  aproximavam-se lóbulo e escápula em flagrantes deslumbres da memória. nunca mais haveria outra, nem tão curva. o ódio acompanhava a possibilidade da perda. atraentes rumores na escadaria, eles se deram. tilintantes se esfregavam, dois bichos. havia uma curva, um chão frio, ângulos retos que gemiam abafados pela sedução morna. havia uma outra curva dentro da curva, tenra e doce. a parede branca marcava o rastro da língua. a língua marcava o rastro da curva.

Penélope Martins

a-ver-livros: dicotomia e Nigel Gillings

Divido-me entre
a que ama

e a que deixa a emoção
para as páginas
que folheia
com desenfado
a salvo no casulo

* para saber mais sobre o pintor britânico Nigel Gillings
siga o link www.nigelart.com

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Cristiano Gouveia (en)cantador contador de histórias



Cristiano Gouveia, directamente do Brasil é um actor, músico multi instrumentista, compositor e director musical, Cristiano Gouveia é um artista brasileiro que possui vasta pesquisa dedicada à música inserida na linguagem teatral. Actuando há 6 anos a Cia. Prosa dos Ventos, núcleo paulista de pesquisa de teatro,música e narrativa pra crianças,
Cristiano Gouveia recebeu prêmios na categoria “melhor trilha sonora” e “direção musical” em diversos festivais de teatro pelo país, além de ter sido indicado ao prêmio Coca Cola Femsa, na categoria “melhor trilha sonora”. Ao longo de 6 anos (2005 - 2011) foi responsável, juntamente com Gustavo Kurlat, pela Coordenação da Pesquisa Musical na Escola Livre de Teatro de Santo André, escola conceituada internacionalmente, dando aulas para as turmas de primeiro, segundo e terceiro ano do Núcleo de Formação Teatral. Foi também diretor musical de mais de 20 espetáculos, elaborados para palcos e ruas. Em sua trajetória criou um repertório pessoal de mais de 70 canções, destinadas ao público infantil e adulto.Faz parte do elenco do programa infantil Quintal da Cultura, veiculado na TV Cultura e TV Ra Tim Bum, onde interpreta o personagem Teobaldo. Também compõe trilhas sonoras para o programa.

Foi um dos convidados do II Festival Um Porto de Contos e veio encantar Portugal numa mini tournée a propósito do recente lançamento do trabalho "Amor e Outros Brinquedos". Mas melhor que as palavras ouçam as músicas, na página do Facebook, no Vimeo e no Soundcloud.



Neruda: «O Oleiro»

O Oleiro

Há em todo o teu corpo
uma taça ou doçura a mim destinada.

Quando levanto a mão
encontro em cada lugar uma pomba
que andava à minha procura, como
se te houvessem, meu amor, feito de argila
para as minhas mãos de oleiro.

Os teus joelhos, os teus seios,
a tua cintura,
faltam em mim como no côncavo
duma terra sedenta
a que retiraram
uma forma,
e, juntos,

estamos completos como um só rio,
como um só areal.


*Pablo Neruda, in Os Versos do Capitão.

a-ver-livros: almoço e Selçuk Demirel

Passa-me o abre-latas
quero Joyce para o almoço
um retrato bem passado
polvilhado de cidade
e sem medo de cães

Deixemos Proust
para o jantar

há que dar tempo para
deduzir a essência
do atributo

* para saber mais sobre o ilustrador turco Selçuk Demirel
siga o link www.selcuk-demirel.com

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Neruda: «Não Me Sinto Mudar»

Não Me Sinto Mudar

Não me sinto mudar. Ontem eu era o mesmo.
O tempo passa lento sobre os meus entusiasmos
cada dia mais raros são os meus cepticismos,
nunca fui vítima sequer de um pequeno orgasmo

mental que derrubasse a canção dos meus dias
que rompesse as minhas dúvidas que apagasse o meu nome.
Não mudei. É um pouco mais de melancolia,
um pouco de tédio que me deram os homens.

Não mudei. Não mudo. O meu pai está muito velho.

As roseiras florescem, as mulheres partem
cada dia há mais meninas para cada conselho
para cada cansaço para cada bondade.

Por isso continuo o mesmo. Nas sepulturas antigas
os vermes raivosos desfazem a dor,
todos os homens pedem de mais para amanhã
eu não peço nada nem um pouco de mundo.

Mas num dia amargo, num dia distante
sentirei a raiva de não estender as mãos
de não erguer as asas da renovação.

Será talvez um pouco mais de melancolia
mas na certeza da crise tardia
farei uma primavera para o meu coração.


*Pablo Neruda, in Cadernos de Temuco.
Tradução de Albano Martins

É do borogodó: poesia em carrossel




Sete pedrinhas de sal,
sete estrelas-do-mar,
sete barcos de pesca,
sete ondas de promessas.

Sete caracóis na areia
sopram no oceano o desejado,
onde sete sereias cantoras
tecem o infinito imaginário. 

* Penélope Martins
 
 
 VIDEO - http://www.youtube.com/watch?v=l6OCQuFGzck
  
 
Do espaço do largo espaço a distância ocorre
Deixa pegadas na areia como corre a criança
Descalça deixando-se no rasto, pelo mar morre
A dor no areal da ausência e o que nos separa pois
Do espaço largo somos tão perto como o ar ao sol.

* Alexandre Honrado
 
nota: Alexandre Honrado é escritor e poeta, radialista, jornalista, escritor e tantas outras coisas que faz e faz bem. Alexandre é de Lisboa e faz comigo parceria neste Carrossel de Poesias.
 
 

a-ver-livros: marcar páginas e Olimpia Zagnoli

Na chuva ansiada
as linhas que não chegam
os nós que ficam 
por atar
letras soltas sem amo
ou escravo
beijos que o tempo
deixou esquecidos
a marcar páginas
já lidas
memórias

* para saber mais sobre a ilustradora italiana Olimpia Zagnoli
siga o link www.olimpiazagnoli.com

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Neruda: «A Emoção Fugitiva»

A Emoção Fugitiva

Vamos buscando a emoção
que não podemos encontrar
neste tédio sempre igual
que nos envolve o coração.

Enfermos deste eterno mal
que antes que nasça algum amor
alegrará com sua canção
esta amarga solidão,

o matará com sua dor
que soa como perpétuo
e lento toque de maldade
dentro do nosso coração.

Vamos buscando a emoção
que não podemos encontrar
e desejamos com ardor.


*Pablo Neruda, in Cadernos de Temuco.
Tradução de Albano Martins


Cronicando pela Ásia... Regresso do mar para Pukhet e partida rumo a Norte

Mar da Tailândia e Pukhet Town, 
30 de Abril 2009

A viagem de barco estava quase a chegar ao fim. Mas ainda houve tempo para algumas peripécias.


Ia a bordo um exibicionista... com o seu corpo musculado, uma tatuagem cravada na pele, óculo escuro e calção justo. Ria-se estrondosamente, tinha más maneiras e falava alto. A melhor parte: não sabia nadar. A suposta virilidade caiu depressa por terra, o papagaio foi o único a precisar de um colete para flutuar na água.

O barco galga as águas de regresso a Pukhet. E, pelo caminho, começa um show: aparece um rapaz de saias, uma peruca cor de laranja e todo maquilhado! Neste espectáculo, o tipo "atirava-se" aos homens do barco e sacava umas notas que depois punha no soutien... 

Escapei.

Existe um fascínio enorme na Tailândia por máscaras, pelo transformismo. É usual vermos homens vestirem-se de mulheres. Em todo o lado.

Com os pés em terra, dirigi-me ao hotel (hospício de baratas) para tomar um banho e jantar. A noite foi um pouco triste - já estava farto de Pukhet. Escrevi uns postais, ao sabor de uma cerveja. Fui ver Jazz novamente, por uma última vez. Regressei ao sítio onde já tinha ido na noite anterior e fiquei à conversa.
Deitei-me e dormi sossegado. Quando acordei, estava na hora de voltar a Bangecoque e ir rumo ao norte do país.

A chuva era intensa naquela manhã. E Pukhet ficava finalmente para trás. O norte da Tailândia e o Laos estavam no horizonte para os próximos dias...


Rodrigo Ferrão

a-ver-livros: cair e Christian Schloe

Quem é que disse
que cair é como voar
mas com destino definido?

Quem disse 
que as aves não entendem
a poesia dos homens
ou que os céus
não guardam as letras
com que a escrevem

Quem disse
nunca voou
nunca caiu


* para conhecer mais sobre Christian Schloe
siga o link www.facebook.com/ChristianSchloeDigitalArt

domingo, 25 de agosto de 2013

Um blog dedicado a capas de livros antigos - de Portugal e do Brasil

Um mundo muito interessante para descobrir - em livingdeadcovers.wordpress.com




The History of Typography

Por Ben Barrett-Forest.



10 melhores finais para grandes clássicos!

E se todos estes livros terminassem assim?


1. Death in Venice by Thomas Mann
Ol’ Gussie thinks to himself, “hmm, that Tadzio is pretty smokin’, but he’s just not worth kicking the bucket for- I’d rather avoid cholera or malaria or whatever and find me some other hot thing,” and leaves Venice on the next boat. So simple!
2. Paradise Lost by John Milton
God thunders, “yo, you guys broke the rules, outta my garden!” and Adam and Eve are like, “oh, man, we’re super sorry, God, um, if we trim some animals’ claws and tidy up a bit around here, could we maybe stay? Cause we’re REALLY sorry. Won’t happen again.” And God’s like, “wellllllll…..ok, one more chance. But I’m watching you.” Adam and Eve clean their hut up and take care of the animals better and they get to keep their chill digs.
3. Little Dorrit by Charles Dickens
After Amy and Arthur finally declare their love, blah, blah, blah, and Arthur says “marry me, babe!” Amy should have said, “ok, cool, but first we have to go all around the town and beat the crap out of all the people who treated us like dog poop,” and Arthur’s like, “rockin’!” and they kick some well-deserved ass. The End.
4. The Iliad by Homer
The clueless Trojans are about to let in the pretty horsie when someone stands up and says, “are you guys INSANE? I don’t know, but I’m gonna guess that that horse is bad news, considering we’ve got the enemy at the gates, etc. So, ixnay on the orshay! Seriously!” and some of the non-brainless people are like, “yeah, girl’s got a point,” and they say, “no thank you!” to the guy delivering the horse.
5. Beowulf by some unknown dude
The monster is about to wreak himself some good-old-fashioned havoc at the local mead hall when one very brave Dane steps up and says, “You, freaky monster thing! Just tell us what you want!” and Freaky Monster Thing says, “Uhhhhhhhrrrrr, me want cookie and mead.” So the Danes are like, “well! If that’s all you want…” and the monster sits down to a big feast of cookies and mead. And then he goes home to his mommy (who lives under a lake) and she puts him to bed.
6. The Magic Mountain by Thomas Mann
Hans finds out that World War I is going down and decides, eh, he’d really rather not do that whole killing/maiming/shooting/gassing thing and just stays at the sanitorium with his cuz Joachim, sipping lemonade and checkin’ out that hot Claudia Chaucat chick.
7. Murder on the Orient Express by Agatha Christie
Poirot did it! (Figure that one out!)
8. Waiting for Godot by Samuel Beckett
One dude says to the other dude (after about a minute)- “Godot’s not coming, let’s split.” And they split.
9. Romeo and Juliet by Shakespeare
Romy and Jule see how thick-headed their families are being and run off to Vegas. Problem solved!
10. “The Awakening” by Kate Chopin
Edna is about to hurl herself into the ocean when she thinks, “wait, I’m doing this because of some little punk? Screw that!” and has herself a nice little swim, returns to the beach, and suns herself while reading a romance novel.
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This is a guest post by Rachel Cordasco. Rachel has a Ph.D in literary studies (which means she’s read WAY TOO MANY books over the years) and has taught American literature and composition. She has also worked as an editorial assistant at the Wisconsin Historical Society Press. Keep up with her in the Facebook group for And the Moral of the Story Is… and on Twitter @rcordasc.
*Aconselho a visita ao site bookriot.com