sábado, 22 de dezembro de 2012

Porto Sentido/ Meaningful Porto - Valéria Wiendl e Pedro Camelo


Porto Sentido/ Meaningful Porto é um livro bilingue (português e inglês) que combina a poesia das imagens de Valéria Wiendl e Pedro Camelo com a técnica e a memória afectiva dos arquitectos e engenheiros que todos os dias cruzam a cidade do Porto.  

O PORTO DAS PESSOAS 

A cidade como cenário, o património construído que apenas tem sentido enquanto espaço  vivo e vivido pelas pessoas. Valéria Wiendl e Pedro Camelo partiram desta premissa para, enquanto apaixonados pela fotografia e pelo Porto, fazer um livro que representasse a cidade. Fizeram-se à estrada e convidaram os «responsáveis» pela edificação da Invicta. O convite foi dirigido a 51 profissionais da área da arquitectura, engenharia e arquitectura paisagista que vivem e trabalham no Porto, mas que, como todos nós, têm experiências, vivências e memórias que ultrapassam os aspectos meramente físicos da cidade. É este o Porto Sentido: o Porto das pessoas. Com depoimentos de 51 arquitectos e engenheiros e prefácio de Rui Moreira, Presidente do Conselho de Administração da Porto Vivo SRU.

Que privilégio fazer parte de um bairro da cidade. – Laura Roldão Costa

Se alguém viesse ao Porto e apenas tivesse duas horas disponíveis para se aperceber da cidade, onde é que eu o deveria levar? Certamente que o levava à plataforma da serra do Pilar, em Gaia, obrigando-o a percorrer com o olhar a deslumbrante perspectiva da Ribeira até à Arrábida e, mais longe, à Foz. Perante este cenário eloquente e majestoso, o visitante apressado teria a oportunidade de ter uma primeira síntese do Porto e de o compreender. E tudo isso de um só golpe de vista. – Luís Braga da Cruz 

Vejo o Porto como um enorme bazar […] um jogo enorme onde se juntam peças sem parar – feito por gerações de arquitectos (e não só) a trabalhar, a adicionar, a renovar, a substituir. E a cidade não estranha isso. – Pedro Balonas


OS AUTORES 

«O feliz encontro no grande reboliço e efervescência da cidade em antecipação e preparação para a Capital da Cultura 2001 foi um ponto de partida marcante para os dois no desenrolar de uma vida que nos trouxe a este momento. Não sendo ambos do Porto, eu (Pedro) nascido em Macau, mas tendo vindo para cá em tenra idade, sempre reconheci a cidade como a «minha». A Vá, nascida em São Paulo, chegou cá em 2000 com o objectivo de realizar um estágio de seis meses… Que longos seis meses estes! A descoberta da cidade pela Vá foi, para os dois, uma aventura inolvidável pelo natural deslumbramento que a exploração do desconhecido comporta. Da experiência resultou uma enorme identificação e afecto pela cidade, que sempre tivemos vontade de registar. Sendo eu designer gráfico e a Vá arquitecta, a fotografia sempre foi uma área de paixão e exploração para os dois e naturalmente o Porto um grande enfoque das nossas lentes.» – Pedro Camelo

*Porto Sentido/ Meaningful Porto é uma novidade publicada pela QuidNovi. 

sublinhado natalino: Erri de Luca


Entro em casa, um frio parado silencioso, que dá vontade de dormir. Arranjo o capão com sal e pimenta ponho-o no forno com as batatas, é uma fonte de calor. Na cozinha chega até mim o som do rádio de uma casa em frente. Na rua Santa Maria della Neve uma mendiga idosa saiu à rua e lançou ao ar todas as moedas das esmolas, juntou-se uma multidão, as forças da ordem intervieram. Liquefez-se o sangue de Santo André Avellino. Fora de Nápoles, na América, um jovem foi eleito presidente. Os russos lançaram um cão num foguetão, os americanos, por sua vez lançaram um macaco. Apago a luz, olho para fora. É Natal, quartos iluminados, as famílias sentam-se à mesa. Na minha há lugar para o bumerangue, para o capão e para Maria, com os biscoitos. No ano passado nem sonhava pedir isto, aconteceu por si só, sem um desejo. O corpo crescido, a boca de Maria, as asas de Rafaniello, quanta abundância chegou sem eu pedir, fora do Natal. Com a luz apagada, algumas carícias de espíritos perpassam-me pela nuca, no escuro movimentam-se melhor. Aproveito o candeeiro da rua para escrever encostado ao parapeito da janela, o ruído do lápis no papel faz o resumo do barulho do dia.




a-ver-livros: a onda e Lisa Schneider

De dentro de ti
a onda que enrola
e agarra
e puxa
para dentro de ti

De dentro de mim
a vontade de naufragar

* para conhecer mais da pintura de Lisa Schneider
siga o link www.lisaschneider.com

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Podia ser o fim do mundo...


Podia ser o fim do mundo.
Podia ser o fim de uma viagem.

Podia escrever estas palavras como se fossem as últimas, afoga-las na mágoa de uma tinta passageira que teima em manchar a pureza de uma folha de papel. Podia ser o fim da tinta da caneta e o fim do contar de uma história.

Todos os dias o mundo acaba e todos os dias recomeça. O carrossel com direito de entrada mas sem condição de saída. Podia ser o fim do circo, os palhaços a chorarem, trapezistas no chão e o leão em liberdade.

Podia ser eu e tu. Podíamos ser nós no fim. Nós o fim, Somos nós o fim do mundo... basta fechar os olhos e os ouvidos.

Podia ser o poesia mas essa também caminha para o fim.
Podia ser o fim das letras mas depois ninguém sabia como contar.

Dizem que acaba sempre por chegar um dia que nasce diferente de todos os outros. Não o distinguimos nesse instante, só o vemos mais tarde, muito mais tarde, olhando longinquamente para trás.

Gostava de pedir ao encenador desta peça para repetir o texto que ainda não sei... é que o mundo não acabou! Mas quando acabar que se ouça murmurar sob a lembrança de mim o sonho de ter nascido no tempo das palavras.

Texto e Fotografia: Pedro Ferreira

citação natalinha: Nuno Markl


A conversa chegou, neste ponto, a um silêncio desconfortável. Secretamente, tanto o Pai Natal como o Menino Jesus estavam, pela primeira vez em muito tempo, a questionar a bizarria dos seus métodos. Depois de dois mil e tal anos de rotina, as duas criaturas do Natal paravam, finalmente, para pensar. E agora nenhum queria dizer a primeira palavra depois do momento de reflexão. Foi, por isso, com um misto de alívio e susto que ouviram uma terceira voz na sala, acompanhada por um aplauso solitário, seco e irónico.

  Vocês são formidáveis – disse um homem em roupão, entrando na sala a bater palmas. 
 – Quem é você? – disseram o Pai Natal e o Menino Jesus, em coro.

– Quem sou eu? Sou o único tipo que realmente existe nesta história toda do Natal! – disse o homem. – E, sinceramente, estou farto. Farto de gastar o meu dinheiro em prendas, para que depois um velho que anda num trenó voador e um Peter Pan de 2004 anos fiquem com a glória toda. Eu sou o pai do miúdo que vive nesta casa.


Nuno Markl






 


 in “Noite de Paz” / “Outros Belos Contos de Natal”, Ediraia

1º Parágrafo: Ladrão de Cadáveres


Chafurdamos no calor.


a-ver-livros: o chá e Marta Kiss

Ouço-te do outro lado
da folha de papel
que nos separa
que nos une no tempo

Sinto-te nota por nota
letra por letra
outra metade de mim

Amo-te sem te conhecer
tenho a certeza

Espero-te para o chá

* para conhecer mais da pintura da húngara Marta Kiss
basta seguir o link www.kissmarta.com

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Livros que deram filme: A Vida de Pi de Yann Martel


A Vida de Pi
De: Ang Lee
Com: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Adil Hussain, Gérard Depardieu

«Durante toda a sua existência, o jovem Pi (Gautam Belur/Suraj Sharma/Ayush Tandon/Irrfan Khan nas várias idades) viveu na Índia, num jardim zoológico administrado pela família. Leitor voraz, alimenta a sua curiosidade com tudo o que se relacione com hinduísmo, budismo e cristianismo, assimilando e tendo a mesma fé nas três religiões. Até que a família decide mudar-se com os animais para o Canadá e o navio em que viajam naufraga. Pi inicia então a maior aventura da sua vida, dando por si à deriva num pequeno bote salva-vidas com uma hiena, uma zebra de perna partida, um orangotango e um tigre-de-bengala. Apenas Pi e o tigre sobrevivem à primeira semana. Depois, partilham o mesmo bote durante 227 longos dias no mar...

Baseado no romance de Yann Martel, vencedor de um Booker Prize e publicado em mais de 40 países, "A Vida de Pi" passa agora para o grande ecrã pelas mãos do conceituado realizador Ang Lee ("O Tigre e o Dragão", "O Segredo de Brokeback Mountain", "Taking Woodstock"), com argumento de David Magee.» - in PÚBLICO

Quanto ao livro, está editado pela Presença. «A Vida de Pi valeu a Yann Martel o Man Booker Prize de 2002, entre outros prémios, e figurou como bestseller do New York Times durante mais de um ano. Sete anos após a primeira edição, a obra ocupa a 74ª posição no top de ficção da Amazon americana e o 99º lugar na tabela de vendas da amazon inglesa. A Vida de Pi encontra-se publicada em mais de 40 países.

Quando Pi tem dezasseis anos, a família decide emigrar para a América do Norte num navio cargueiro juntamente com os habitantes do zoo. Porém, o navio afunda-se logo nos primeiros dias de viagem. Pi vê-se na imensidão do Pacífico a bordo de um salva-vidas acompanhado de uma hiena, um orangotango, uma zebra ferida e um tigre de Bengala. Em breve restarão apenas Pi e o tigre.»

«Martel recria [neste livro] os grandes temas romanescos: um herói à procura de aventuras maravilhosas, a liberdade para as viver, a fuga permanente para a frente, seguindo os desígnios do destino e da própria fantasia - depois, há que pagar o preço pela exaltação dos delírios. (...) "Podemos ler esta história como uma alegoria da vida, dos 'trabalhos' e provações pelas quais, de uma maneira ou de outra, todos passamos. Será que alguém está absolutamente protegido contra o medo, o desgosto, a sensação de ter perdido tudo? Para Pi, é indispensável vencer o medo, ultrapassar as provações e manter intacta a humanidade. É bom que seja a literatura a ensinar isso.»
Helena Vasconcelos, Público, Mil Folhas, 28/6/03

«Uma obra soberba, muito bem escrita e capaz de prender o leitor da primeira à última linha, com algumas paragens pelo meio para pensar, reflectir, sorrir, ou simplesmente para respirar fundo…»
Diário de Notícias

citação natalinha: Nilton

Quando o despertador tocou já estava morto! Aconteceu pela manhã. Nunca esperou ir desta forma e muito menos nesta altura do ano. No Natal, quando muito morre-se na estrada, a contrariar os números a uma qualquer operação da GNR, não numa cama com a mesma posição de quem apanha banhos de sol nas Caraíbas, com o senão do tecto não prover melhor vista que as beldades que por lá se passeiam.

Não se lembra de ter tirado nenhuma senha para outra vida! Não fez nenhum teste nem se candidatou a nada parecido! Terão acabado os voluntários e agora têm que vir buscar candidatos à força?
Não gostou e interrogou-se se isto da morte não terá livro de reclamações!"



 
 
Nilton



 


in “O João Morreu” / “Outros Belos Contos de Natal”, Ediraia

1º Parágrafo: Sobre a Neblina


Água turva. Um corpo boiando na correnteza. Está longe, quase não se vê que é um corpo. Emerge, submerge, pregado na parede. Depois desaparece completamente. Foco nas pedras da beira do rio. Os musgos formam mapas de países brancos e verdes na pele rígida da pedra.


a-ver-livros: natal perfeito e Deborah DeWit Marchant

Abraço a preguiça como um filho há muito perdido
Agradeço o prazer de ter o tal livro para ler e não o fazer
Aconchego-me na mesa que mais logo será palco de vitualhas
e entrego-me ao silêncio da casa 
parada no tempo e longe das memórias 
de outros natais.

Perfeito o nada. Talvez o mundo acabe agora.

* para conhecer melhor a pintura de Deborah DeWit Marchant
siga o link /www.dewit-marchant.com

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Poema à noitinha... Fernando Namora

A Mais Bela Noite do Mundo

«Hoje,
será o fim!

Hoje
nem este falso silêncio
dos meus gestos malogrados
debruçando-se
sobre os meus ombros nus
e esmagados!

Nem o luar, pano baço de cenário velho,
escutando
a minha prisão de viver
a lição que me ditavam:
- Menino! acende uma vela na tua vida,
que o sol, a luz e o ar
são perfumes de pecado.
Tem braços longos e tentadores – o dia!

- Menino! recolhe-te na sombra do meu regaço
que teus pés
são feitos de barro e cansaço!

(Era esta a voz do papão
pintado de belo
na máscara de papelão).

Eram inúteis e magoadas as noites da minha rua...
Noites de lua
que lembravam as grilhetas
da minha vida parada. 

- Amanhã,
terás os mestres, as aulas, os amigos e os livros
e o espectáculo da morgue
morando durante dias
nos teus sentidos gorados.

Amanhã,
será o ultrapassar outra curva
no teu caminho destinado.

(Era esta a voz do papão
que acendia a vela, tinha regaço de sombra
e velava
as noites da minha rua e a minha vida
e pintava-se de belo
na máscara de papelão).

Hoje,
será o fim!

Hoje,
nem a sombra do que há-de vir,
nem os mestres, nem os amigos, nem os livros,
nem a fragilidade dos meus pés
feitos de barro e cansaço!
Todas as minhas revoltas domadas,
todos os meus gestos em meio
e as minhas palavras sufocadas
terão a sua hora de viver e amar!

Hoje,
nem o cadáver a sorrir na morgue,
nem as mãos que ficaram angustiosas,
arrepiadas
no seu medo de findar!

Hoje,
será a mais bela noite do mundo!»

*Fernando Namora, in 'Mar de Sargaços'

Foi assim que aconteceu... no Porto

Clique na imagem para aumentar

Hoje lançamos um grande desafio aos nossos leitores mais a norte. Depois da apresentação do livro "Lendas do Porto II", promovida pelo Clube de Leitores no último Festival do Livro/ Bairro dos Livros, decidimos presentear com um exemplar autografado uma história, lenda ou memória que nos queiram enviar.

É com certeza um tema em voga e com grande actualidade, pelas redes sociais e pela internet multiplicam-se grupos e páginas sobre a história da cidade. A bibliografia é muito vasta e é uma lista que não pára de aumentar.

Queremos que vocês sejam também parte activa, queremos saber o que tem para nos contar. Até 3 de Janeiro de 2013 vamos receber os vossos textos ilustrados por uma fotografia, em seguida faremos a escolha e a atribuição do prémio. Publicaremos no blogue o vencedor e caso se justifique as que consideramos com qualidade, obviamente devidamente creditadas ao autor.

Participem!
Enviem os textos e fotos para: clubedeleitores@blogclubedeleitores.com e não se esqueçam de fazer Like nas páginas do Facebook do Clube de Leitores e da QuidNovi Editora.


1º Parágrafo: Máquina de Pinball


Planeta: Terra. Cidade: São Paulo. Como todas as metrópoles, São Paulo encontra-se hoje em desvantagem na sua luta contra o maior inimigo do homem: a poluição. Caralho, que cidade suja.


a-ver-livros: o clandestino e Lori Preusch

Estou pronta para a viagem
levo bagagem
e tenho montada

tenho vontade
e tenho caminho
só falta destino

vai clandestino
o coração
trago-o de volta
talvez um Natal
* para conhecer mais sobre a pintura da norte-americana Lori Preusch
basta seguir o link www.borsini-burr.com/cm/Artists/LoriPreusch

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Um Festival de Livros em imagens

Para quem não viu poder espreitar.... mas só um bocadinho!










Fotos: Pedro Ferreira

citação natalinha: Carlos Quevedo e Rui Zink

28 de Maio

A Maria voltou. Está mais gordinha.Voltou de novo aquela história do pombo e do anjo. Continuo a não perceber nada. 


16 de Junho

Já percebi. Parece que afinal nem eu sou pai nem ela está grávida. A notícia abalou-me tanto que fiquei a martelar até tarde.


27 de Junho

Afinal não tinha percebido. O que se passa é que ela está grávida mas continua virgem. Eu sou o pai, mas não sou o pai biológico. Agora cada vez que vou ao café perguntam-me se quero um whisky biológico ou legal. São uns brincalhões, estes nazarenos. É o humor judeu!



 
Carlos Quevedo e Rui Zink




 


in “São José – O Filofax” / “Outros Belos Contos de Natal”, Ediraia

1º Parágrafo: As Horas Nuas


Entro no quarto escuro, não acendo a luz, quero o escuro. Tropeço no macio, desabo em cima dessa coisa, ah! meu Pai. A mania de Dionísia largar as trouxas de roupa suja no meio do caminho. Está bem, querida, roupa que eu sujei e que você vai lavar, reconheço, você trabalha muito, não existe devoção igual mas agora dá licença? eu queria ficar assim quietinha com a minha garrafa, ô! delícia beber sem testemunhas, algodoada no chão feito o astronauta no espaço, a nave desligada, tudo desligado. Invisível. O que já é uma proeza num planeta habitado por gente visível demais, gente tão solicitante, olha meu cabelo! olha meu sapato! olha aqui o meu rabo! E pode acontecer que às vezes a gente não tem vontade de ver rabo nenhum.


a-ver-livros: olhos, coração e Eva Vázquez

Os olhos vêm 
o que o coração quer

e eu quero que seja natal
e que estejas aqui 
e que o ano termine em cores
e libelinhas esvoaçantes
e o outro comece
na relva que cresce a meus pés
e no cheiro dos livros

* para conhecer melhor a ilustradora madrilena Eva Vázquez
é seguir o link evavazquezblog.blogspot.pt/

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Uma conversa lendária no Festival do Livro/ Bairro dos Livros


Foi assim ao fim da tarde, com a Corrida de S. Silvestre prestes a começar lá fora e depois de um contador de histórias, que traçamos esta conversa sobre as lendas do Porto. Acompanhado pelo Joel Cleto e o Sérgio Jacques, autores do livro "Lendas do Porto II", ficamos à conversa.

O tema escolhido para este Festival foi “Ler é Mágico” e daqui deixámos uma primeira pista em tom de provocação aos convidados. Para nos mostrarem e falarem da magia da cidade e claro, das marcas dos livros na cidade. Nomes como Camilo Castelo Branco, Almeida Garrett, Sophia de Mello Breyner, Eugénio de Andrade, Manuel António Pina e tantos tantos outros são também um bocadinho da nossa história. Desta cidade cenário de estórias recheadas de história.

Depois do sucesso de Lendas do Porto, este segundo volume dá a conhecer mais duas dezenas de histórias tradicionais da região, não abdicando de uma análise crítica que não só explica o que nelas é inverosímil, mas que valoriza também o que nelas há de credível. Do povo que habitava há mais de dois mil anos o Monte da Senhora da Saúde, de que se perdeu a memória, até aos surpreendentes materiais de construção utilizados por Siza Vieira na Casa de Chá da Boa Nova, o leitor encontrará também, ao longo das páginas deste livro, as lendas que justificaram a relação da cidade com os seus três santos padroeiros, o motivo da associação do Futebol Clube do Porto ao dragão, a explicação de topónimos como Vitória ou Campanhã.
 
E porque o Porto é um território comum de Identidade, de Memória e de Património(s), de uma comunidade que não se confina ao espaço definido pelo rio Douro e pela Estrada da Circunvalação, as lendas que explicam a construção da igreja de Matosinhos, o reflexo da peste negra nas margens de Gaia, ou a origem das Águas Santas da Maia, juntam-se às suas congéneres portuenses, à mistura com tesouros até hoje escondidos, belas mouras encantadas, misteriosas deslocações de igrejas…

Desmontaram algumas lendas e falaram dos projectos a vir. Um prazer ter podido contar com a presença deste dois excelentes comunicadores que cruzam duas linguagens, a escrita e a fotografia num conjunto fantástico.

As novidades não irão parar de chegar e nós cá estaremos para os acompanhar. Prometemos também para breve uma surpresa para os nossos leitores... aguardem!

 Fotos: Daniela Tedim

Nuno Camarneiro - Prémio Leya 2012

Nuno Camarneiro passou pelo blogue Clube de Leitores com o seu livro «No meu peito não cabem pássaros» - foi leitura conjunta em Agosto/2011. 

Aquele mês calhou à Raquel Serejo Martins. E ela sublinhou o 1.º Parágrafo como factor que pesou na sua escolha.

“ – São quatro segundos, caro amigo, quatro segundos de aflição que não dão para um pai-nosso. O amigo experimente, pai-nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como PAM!, quatro segundos e o corpo despedaçado contra o cimento, pense bem no que há-de pedir ao altíssimo, mas que seja em menos de quatro segundos.”

Recordo-me de considerar a sua leitura interessante, para um primeiro romance. Sobretudo por algumas tiradas. Como esta que aqui deixo:

"Uma outra vida à espera no cais. Tias engalanadas em lenços de seda e luva brancas como mãos de porcelana. Vamos lá ser menino com um sorriso que é de cara e não é de mais nada. A viagem chegou ao fim e Lisboa é o fim do mar.

Junto às tias e a esta terra, tudo volta a ser pequenino. O sufixo parece ser anterior às palavras, o menino está cansadinho, a viagem foi boazinha, está tão branquinho, coitadinho. Portugal é assim, diminutivo e manso. O que foi chegando fez-se à escala e por cá ficou, as Indiazinhas, as Americazinhas, os pretitos, pobrezinhos. Os portugueses não querem nada que não possam meter no bolso. Como é que esta gente descobriu tanto mundo?"


ilustração de Paulo Freixinho

Quanto à notícia, deixo apenas o essencial - sublinhado aqui pela notícia do Jornal Público:

«O júri "apreciou no romance Debaixo de Algum Céu a qualidade literária com que, delimitando intensivamente a figura fulcral do 'romance de espaço' e do 'romance urbano', faz de um prédio de apartamentos à beira-mar o tecido conjuntivo da vida quotidiana de várias personagens - saídas da gente comum da nossa actualidade, mas também por isso carregadas de potencial significativo".

O romance, continua o júri, que é um "retrato de uma microsociedade unida pelo espaço em que vivem os personagens", organiza-se a partir de um conjunto de vozes que dão conta de vidas e destinos que o acaso cruzou num período de tempo delimitado entre um Natal e um Fim do Ano".

Manuel Alegre telefonou ao vencedor esta manhã. "Estou num estado de euforia: o meu objectivo para hoje é tentar não ter um ataque cardíaco", disse ao PÚBLICO, Nuno Camarneiro, que concorreu ao prémio com aquele que é o seu segundo romance mas não o escreveu a pensar no prémio. "Só decidi concorrer ao prémio depois de o ter escrito", confessou o autor.

Este livro é, para Nuno Camarneiro, "uma exploração da ideia de purgatório": "Quase todo passado dentro de um prédio e em oito dias, entre o Natal e o Ano Novo, e cada inquilino atravessa durante esse período o seu purgatório pessoal", explica.»

1º Parágrafo: Rakushisha


Para andar, basta colocar um pé depois do outro. Um pé depois do outro. Não é complicado. Não é difícil. Dá para ter em mente pequenas metas: primeiro só a esquina. Aquele sinal com a faixa de pedestres e o homem esperando para atravessar com um guarda-chuva transparente e um cachorro de capa amarela.


a-ver-livros: papel encerado e Michael Rohani

Uso o casaco que me deste
e volto à natividade de antes

as tuas mãos rugosas no meu rosto
augurando-me o amor
que ainda não chegou,
embrulhado em mil Natais
de papel encerado
e laços que recolhias metódica
para outro Natal que não chegou

Uso o casaco que me deste
e aconchegas-me a espera

* para conhecer mais da arte de Michael Rohani, britânico
a viver nos Estados Unidos, siga o link michaelrohani.com

domingo, 16 de dezembro de 2012

Memorial

(ao domingo) Letras Focadas

“Na ponta da pena, soltam-se letras conjugadas, bem focadas, para serem percebidas"


Memorial...
Das esperanças,
Dos sonhos,
Das palavras pensadas,
Das palavras escritas.

Memorial...
De todos os conventos
Que em nós se constroem
E que em nós ficam
Para sempre!

Elsa Martins Esteves

Biblio-Mat, a máquina de vender sonhos antigos



No inicio deste ano o dono da livraria de livros manuseados, "The Monkey's Paw", Stephen Fowler, teve a ideia que acabou por lhe mudar a loja.

Enquanto tentava encontrar uma forma de "se livrar" dos milhares de títulos esquecidos e mais mal tratados teve a ideia de conceber uma espécie de máquina de venda automática para esses livros. A sua ideia original passava por ter alguém dentro de uma construção de madeira e sempre que uma moeda entrasse um livro saía.

Em conversa com um amigo, este ofereceu-se para construir a máquina e criar um automatismo para que ficasse realmente semelhante a uma máquina de venda automática. Assim nasce o "Biblio-Mat".

O "Biblio-Mat" é do tamanho de um frigorifico, pintado de verde pistache vintage com detalhes cromados. Na frente, num tipo de letra vintage, lê-se: "Cada livro uma surpresa, não há dois iguais. Coleccione todos os 112 milhões de títulos..."

Fowler diz que a máquina reforça algo que ele aprendeu no comércio de livros: As pessoas estão sempre à procura de significados. E o que começou por ser uma brincadeira da qual não pretendia fazer muito dinheiro, tornou-se num enorme atractivo que leva cada vez mais pessoas à livraria.

Aqui fica o vídeo para perceberem melhor esta ideia. Agora só falta espalhar pelo mundo!



a-ver-livros: Natal couché e Carlos C. Laínez

Dizem que era um livro de Natal.

Começou a lê-lo naquela manhã, acabadinho de desembrulhar, edição especial, um cheiro a papel couché tão reconfortante quanto o das rabanadas do serão da véspera.

Dizem que ninguém o tirava do cadeirão grande junto às estantes, ninguém o convencia a ir ver - pela enésima vez - o Grinch, ninguém o seduzia com um joguinho de Trivial Pursuit.

Nem o cheiro do almoço natalício - está servido! - lhe arrancou os dedos do livro.Tinha os olhos presos das páginas. Os ouvidos moucos aos apelos. Deixaram-no ficar. 


Ao final da tarde procuraram-no. Não o voltaram a encontrar.

* para conhecer melhor a pintura do espanhol Carlos C. Laínez
é seguir o link carlosclainez.blogspot.pt