sábado, 25 de dezembro de 2010

Para ser grande, sê inteiro

'Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive'


Ricardo Reis

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Livro de Novembro, Mês de Laxness

Vou quebrar as regras do blogue e escrever primeiro. Já ando há muito tempo para falar do livro do mês de Novembro, pois foi a melhor leitura que fiz em 2010.

Tenho que pedir desculpa ao Ubik, mas a vontade supera a lógica da organização. E ele virá, com certeza, dar a opinião acerca do livro que escolheu.

O mês de Dezembro é sempre duro para qualquer livreiro. Tanto Ubik como eu estamos loucos para que o Natal chegue, por fim. Para poder descansar um pouco e apontar baterias para mais um ano... (ambos estamos desculpados pelo atraso deste debate).


Não é exagerada a nota no fim do livro: 'Laxness falece aos 96 anos, consagrado como um dos maiores escritores de sempre.' Entra, efectivamente, para o meu passeio da fama.

O curioso ao ler 'Os peixes também sabem cantar' é a sensação de querer ler mais 10 livros assim. Por momentos pensei na analogia com os sul americanos: Laxness é um romancista do mundo mágico - só que vem do frio.

'Mundo mágico' ganha sentido nas descrições tão apuradas e intensas desse país que ninguém imagina - a Islândia. Das expressões da gente e do simbolismo presente nesta maneira de falar.

A Raquel Serejo Martins já tinha sublinhado o pedaço que aqui vou deixar, para concretizar tudo isto:

'... e se uma pessoa estivesse mais morta que viva, dizia-se “Oh, está um bocado em baixo”. Se alguém estivesse a morrer devido à idade avançada, empregava-se a seguinte frase: “Sim, tem comido menos nestes últimos dias.” Acerca de alguém que estivesse no leito da morte, dizia-se: “Sim, está a fazer as malas, o desgraçado.” De um jovem mortalmente doente, dizia-se que não parecia que viesse a ter alguma vez cabelos grisalhos para pentear. Quando um casal se separava, usava-se a seguinte frase: “Sim, acho que se passa algo de errado por ali”.'

É esta a linguagem de Álfgrímur - um miúdo que vai crescendo com a simplicidade de um desejo: ser pescador de peixes-lapa, como o avô. Mas o seu sonho vai sendo desviado pelo misterioso e famoso cantor - 'o orgulho da Islândia' - Garõar Hólm. É o desvendar dos segredos deste personagem que vai empurrar Álfgrímur para o mundo do canto, em busca da 'nota pura'. Mas será que ele vai estudar mesmo música?

Brekkukot é a terra de onde é natural: definitivamente marcado no meu mapa! Foi abandonado pela mãe e adoptado por duas pessoas a quem ele chama de avós. Gente de valores muito simples, das pescas e do campo.

A descrição das paisagens e das gentes da Islândia deixou-me completamente apaixonado. Com vontade de ir para lá e conhecer Brekkukot, de ir à apanha dos peixes, de assistir aos serviços fúnebres da 'gente pobre' - assegurados pelo canto de Álfgrímur.

Este livro é uma enorme lição de simplicidade. Tem vários valores camuflados entre as metáforas nas conversas dos personagens. Valores também vincados na beleza daqueles lugares - tão inóspitos... Mas tão ricos e espirituais!

É dos maiores livros que li. Este faz com que mantenha a paixão pela leitura... Venha mais disto! Obrigado, amigo Ubik - a escolha foi maravilhosa.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Poema de Natal

Feliz Natal para todos os leitores deste blogue!


'Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.'

O crime de Lorde Artur Savile e outros contos, Oscar Wilde

Petisco literário. Para degustar numa viagem longa de comboio ou enquanto a hora do lanche não chega!

Dos 4 contos deste livro, 'O crime de Lorde Artur Savile' e 'O fantasma de Canterville' são extraordinários. Estão bem presentes na minha memória. Arrisco a hipótese de 'O fantasma de Canterville' ser um dos melhores contos que li.


Muito ao estilo britânico, a escrita de Wilde adapta-se a todos os gostos. É impossível ficar indiferente. Até hoje estou para conhecer quem não goste do que ele pensa...

Volto a fazer um convite para que conheçam um dos melhores escritores de sempre. Este livro é uma óptima introdução.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Transcrito de Saramago...

O Amor não tem nada que ver com a Idade

Penso saber que o amor não tem nada que ver com a idade, como acontece com qualquer outro sentimento. Quando se fala de uma época a que se chamaria de descoberta do amor, eu penso que essa é uma maneira redutora de ver as relações entre as pessoas vivas. O que acontece é que há toda uma história nem sempre feliz do amor que faz que seja entendido que o amor numa certa idade seja natural, e que noutra idade extrema poderia ser ridículo. Isso é uma ideia que ofende a disponibilidade de entrega de uma pessoa a outra, que é em que consiste o amor.


Eu não digo isto por ter a minha idade e a relação de amor que vivo. Aprendi que o sentimento do amor não é mais nem menos forte conforme as idades, o amor é uma possibilidade de uma vida inteira, e se acontece, há que recebê-lo. Normalmente, quem tem ideias que não vão neste sentido, e que tendem a menosprezar o amor como factor de realização total e pessoal, são aqueles que não tiveram o privilégio de vivê-lo, aqueles a quem não aconteceu esse mistério.

José Saramago

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Oferenda

A Ana é uma grande amiga. Ela inaugura este mundo desconhecido de escritores sem livro. Com estas palavras...


Apetece morrer devagar.

Tão devagar
que não dês pela minha falta
até que seja tarde demais
e a minha ausência te expluda
no peito
como uma granada

Quero que sintas dor
e sangres
e tenhas por fim alguma certeza

Nem que seja apenas
a de que foste amado
até à morte

Ana Almeida

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O Código Da Vinci, Dan Brown

Único livro que li de Dan Brown. Há uns dias procurava sobre o que escrever aqui no blogue e dei de caras com ele.

Temos que recuar a 2004, à loucura mundial que foi este lançamento. Não sabia, mas descobri que vendeu 80 milhões de exemplares. Notável, tendo em conta que 'ainda está vivo'.

Robert Langdon e Sophie Neveu. Os grandes protagonistas desta história. O mistério? A morte do curador do museu do Louvre. E toda a simbologia que este deixou junto ao seu corpo. Um código aparentemente indecifrável.

Um livro que abala com a natureza da Religião Católica, pois funda-se em várias suposições e revelações. Desde uma linhagem descendente da união de Jesus Cristo e Maria Madalena, aos negócios da Opus Dei; os mistérios em volta do Santo Graal, os segredos do Vaticano, as histórias dos Templários.


Muita simbologia. Muita acção e suspense. A descoberta do Priorado do Sião, organização poderosa que reuniu nomes como Victor Hugo ou Leonardo da Vinci. Uma sociedade secreta, que teorizava sobre documentos, obras de arte, segredos...

E que a morte deste curador do museu, também ele pertencente a este círculo restrito, vem revelar. Um livro para pegar numa tarde... e não parar.

Nova rubrica

Há uns tempos que venho reflectindo nos imensos talentos que escrevem e que, por uma razão ou outra, não são partilhados.

Escritores sem livros. Sem nada publicado. Ou por falta de coragem ou porque nunca pensaram nisso. Ou porque têm vergonha.

Tantas e tantas razões.

Meus amigos, o mundo mudou. Hoje há muita gente a escrever. E nem tudo resulta em livros! Ainda bem, dizem uns. Permitam-me corrigir: pena que haja tanto talento no anonimato. E que se dê à estampa tanta, mas tanta coisa má!


Vou partilhar convosco coisas que me chegam. Visitas a blogues, textos que me enviam. De amigos e desconhecidos. Prometo apenas partilhar o autor. Sem mais referências...

Este é o meu compromisso.

domingo, 19 de dezembro de 2010

2010 - Vencedores e derrotados

O ano de 2010 foi um ano de poucos nomes no mundo editorial. Os vencedores acabam por ser os livros com adaptação ao cinema. 'Comer, orar, amar' consegue um ano nos lugares do top, repetindo o sucesso de anos anteriores. Também os vampiros por lá andaram. Mas aqui... Nada de novo!

Ano, igualmente, de José Saramago...

Destaque para a geração de 70 portuguesa, com José Luís Peixoto a vender bem. Ao invés, Gonçalo M. Tavares não conseguiu convencer com 'Uma Viagem à Índia'. Um livro apelidado de 'épico', mas que ainda mantém vendas muito reduzidas. O seu outro livro 'Matteo perdeu o emprego' também não rendeu o esperado.


João Tordo, por seu turno, com 'O bom Inverno', teve uma prestação positiva. Terminando os portugueses, Miguel Sousa Tavares deu um tiro no pé, com o seu álbum de fotografias por África. Já José Rodrigues dos Santos passeia-se no número um. Sem rival.

Mesmo assim, já vendi mais quantidade do número 1 português.

Culpa do preço! É este o resultado que afundou Ken Follett e a sua 'Queda dos Gigantes'. Grande expectativa no primeiro da trilogia, mas não vingou. Safou-se com outros títulos.

Nicholas Sparks voltou naturalmente ao top. Num ano que teve 'Marina' de Zafón e a re-publicação da obra do prémio Nobel. Novidade em Vargas Llosa, só mesmo o 'Sonho do Celta'.

O ano vai inteiramente para os livros de não ficção. 'A caderneta de cromos' vence o primeiro lugar, seguido da biografia de António Feio - 'Aproveitem a Vida'. A biografia de Nelson Mandela e a 'consciência' de António Damásio foram, também, livros fortes. Destaque para vários títulos sobre 'Camarate', com a biografia de Francisco Sá Carneiro a ser publicada.

O fiasco vai para o segundo livro de Rhonda Byrne com 'O poder'. A mil léguas do fenómeno que vendeu mais de 700 mil em Portugal, 'o segredo'.

Dentro dos meus destaques, Haldór Laxness viu publicado mais um livro - 'os peixes também sabem cantar' - e é a melhor leitura que fiz. Sugiro, igualmente, a importante obra reunida de Mário de Sá-Carneiro, 'Verso e Prosa'. Na minha lista de compras está 'Todos os Contos Vol. 2' de Edgar Allan Poe e um dos meus heróis: 'Primavera há-de chegar, Bandini' de John Fante. Sophia tornou-se obrigatória, mas cara...