Vou quebrar as regras do blogue e escrever primeiro. Já ando há muito tempo para falar do livro do mês de Novembro, pois foi a melhor leitura que fiz em 2010.
Tenho que pedir desculpa ao Ubik, mas a vontade supera a lógica da organização. E ele virá, com certeza, dar a opinião acerca do livro que escolheu.
O mês de Dezembro é sempre duro para qualquer livreiro. Tanto Ubik como eu estamos loucos para que o Natal chegue, por fim. Para poder descansar um pouco e apontar baterias para mais um ano... (ambos estamos desculpados pelo atraso deste debate).

Não é exagerada a nota no fim do livro: 'Laxness falece aos 96 anos, consagrado como um dos maiores escritores de sempre.' Entra, efectivamente, para o meu passeio da fama.
O curioso ao ler 'Os peixes também sabem cantar' é a sensação de querer ler mais 10 livros assim. Por momentos pensei na analogia com os sul americanos: Laxness é um romancista do mundo mágico - só que vem do frio.
'Mundo mágico' ganha sentido nas descrições tão apuradas e intensas desse país que ninguém imagina - a Islândia. Das expressões da gente e do simbolismo presente nesta maneira de falar.
A Raquel Serejo Martins já tinha sublinhado o pedaço que aqui vou deixar, para concretizar tudo isto:
'... e se uma pessoa estivesse mais morta que viva, dizia-se “Oh, está um bocado em baixo”. Se alguém estivesse a morrer devido à idade avançada, empregava-se a seguinte frase: “Sim, tem comido menos nestes últimos dias.” Acerca de alguém que estivesse no leito da morte, dizia-se: “Sim, está a fazer as malas, o desgraçado.” De um jovem mortalmente doente, dizia-se que não parecia que viesse a ter alguma vez cabelos grisalhos para pentear. Quando um casal se separava, usava-se a seguinte frase: “Sim, acho que se passa algo de errado por ali”.'
É esta a linguagem de Álfgrímur - um miúdo que vai crescendo com a simplicidade de um desejo: ser pescador de peixes-lapa, como o avô. Mas o seu sonho vai sendo desviado pelo misterioso e famoso cantor - 'o orgulho da Islândia' - Garõar Hólm. É o desvendar dos segredos deste personagem que vai empurrar Álfgrímur para o mundo do canto, em busca da 'nota pura'. Mas será que ele vai estudar mesmo música?
Brekkukot é a terra de onde é natural: definitivamente marcado no meu mapa! Foi abandonado pela mãe e adoptado por duas pessoas a quem ele chama de avós. Gente de valores muito simples, das pescas e do campo.
A descrição das paisagens e das gentes da Islândia deixou-me completamente apaixonado. Com vontade de ir para lá e conhecer Brekkukot, de ir à apanha dos peixes, de assistir aos serviços fúnebres da 'gente pobre' - assegurados pelo canto de Álfgrímur.
Este livro é uma enorme lição de simplicidade. Tem vários valores camuflados entre as metáforas nas conversas dos personagens. Valores também vincados na beleza daqueles lugares - tão inóspitos... Mas tão ricos e espirituais!
É dos maiores livros que li. Este faz com que mantenha a paixão pela leitura... Venha mais disto! Obrigado, amigo Ubik - a escolha foi maravilhosa.