sábado, 30 de junho de 2012

Uma homenagem à Islândia de Halldór Laxness e mais um livro seu traduzido


São tantas as boas razões para querer ir à Islândia. Mas creio que esse meu desejo cresceu exponencialmente quando li um livro de Halldór Laxness. Na altura, disse: "O curioso ao ler 'Os peixes também sabem cantar' é a sensação de querer ler mais 10 livros assim. Por momentos pensei na analogia com os sul americanos: Laxness é um romancista do mundo mágico - só que vem do frio. 'Mundo mágico' ganha sentido nas descrições tão apuradas e intensas desse país que ninguém imagina - a Islândia. Das expressões da gente e do simbolismo presente nesta maneira de falar."

Mas sobre «Os peixes também sabem cantar» podem ler a minha opinião. Foi uma leitura conjunta aqui do blog. Talvez a melhor que fiz no ano 2010. Consultem aqui.

Hoje trago o seu mais recente trabalho traduzido em Português. Obra e mérito, uma vez mais, da Cavalo de Ferro. Chama-se «O sino da Islândia.»


Para acompanhar a vossa curiosidade, deixo a sinopse deste trabalho e um vídeo do cantor norte-americano Justin Vernon, vocalista e fundador dos Bon Iver. E porquê? Porque é passado nesse país longínquo e desconhecido... 


"No final do século XVII, o emissário e carrasco do rei da Dinamarca confisca o sino de Þingvellir, velho símbolo da independência islandesa, com ordens para o desmantelar em peças e para o levar até Copenhaga. Jón Hreggviðsson, um agricultor condenado pela justiça por ser um ladrão de cordas, é acusado do seu homicídio. A sua fuga ocupará a justiça durante mais de 30 anos, transformando-o num peão dentro de um jogo que tem por cenário a história de conflitos políticos e sociais vividos entre 1650 e 1790 entre a potência dinamarquesa e a oprimida colónia islandesa."

«Marcado por uma narrativa arrebatadora em cada página, "O Sino da Islândia" é aclamado como uma das obras maiores do prémio nobel islandês.»

EPILOGUE: the future of print - um documentário sobre livros

Um documentário feito por estudantes, em Toronto, a partir de bibliotecas e livreiros, tipógrafos e impressores manuais. Relatam experiências das suas vidas com os livros.


Este documentário é uma exploração humilde e iniciática do mundo da impressão, assim como uma passagem superficial na superfície do que pode vir a ser o seu futuro. Considerado pelos autores um trabalho em andamento. É construído por entrevistas com pessoas que estão activas na comunidade e ligadas à impressão em Toronto. Confrontadas com a questão sobre o desaparecimento do livro físico dentro das nossas vidas. Pessoas que se recusam a fechar os braços e ficar a ver as coisas acontecer. O acto de ler evoluiu, e mudou muitas vezes, especialmente nos últimos anos. Espera-se que o filme possa agitar o pensamento e provocar a discussão sobre a experiência de leitura e que a embarcação perdida das artes do livro se possa recuperar em gerações futuras. Um filme para as pessoas que ainda estão apaixonados por leitura em papel, bem como aqueles que não são... para já!

Eliot's Bookshop

a-ver-livros: o barco amarelo de Kurt Solmssen

Andas há uma vida a amar o barco amarelo. Mas ele não chega a sair da frente das escadas onde te deténs uma e outra vez, a pretextos vários. Hoje lês. Afinal, é sábado.



Numa entrevista, Kurt Solmssen explicou:
"É um barco que o meu avô comprou em 1936, em Tacoma, e que navegou até à sua casa. Temo-lo desde essa altura. Eu comecei a pintá-lo quando ia lá de visita. Tinha um amarelo de cádmio que funcionava muito bem com a paisagem dali, esta paisagem azul e verde. Não sei. É uma espécie de coisa simbólica. Faz parte da história da minha família. Torna-se parte destas semi-narrativas que pinto."

* para conhecer melhor o pintor norte-americano Kurt Solmssen é seguir o link www.kurtsolmssen.com ou este outro, com a dita entrevista.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Poema à noitinha... Vítor Oliveira Jorge

Às vezes (para a Susana)

«às vezes
estou num ponto da casa,
e sei, e sinto, que tu estás algures
noutro ponto
da mesma casa.

e sinto, e penso:
demos mais um passo
para a vida eterna.
cada um de nós deu mais
um passo
em direcção à sua morte.

e perdemos mais este momento
em que podíamos ter falado,
ou entretecido bocas
e olhares.

tomámos, em diferentes
sítios da casa,
diferentes caminhos;
iniciámos trajectos
discordantes
em direcção ao nosso
desaparecimento
na noite do espaço/tempo.

quando nos depedirmos,
o que diremos?
até onde, até quando?

será possível termos
partilhado tanto,
e partir assim sem aviso,
como se tivéssemos sido privados
de toda a história anterior?

por isso, peço:
quando estiveres para morrer
noutro ponto da casa,
por favor diz primeiro.

combina comigo,
para eu ver se tenho tempo
de ir morrer lá também.»

In "Pequeno Livro de Aforismos seguido de Algumas Alumiações,
Edições Sempre-Em-Pé
 



*na foto: Vítor Oliveira Jorge. Tal como ele, sopro as velas a 10 de Janeiro.

1º Parágrafo: Pedro Páramo

Vim a Comala porque me disseram que cá vivia meu pai, um tal Pedro Páramo. Disse-mo minha mãe, e eu prometi-lhe que viria vê-lo quando ela morresse. Apertei-lhe as mãos em sinal de que o faria, pois ela estava a morrer e eu estava disposto a prometer-lhe tudo. “Não deixes de o ir visitar – recomendou-me. – Chama-se assim e assim. Tenho a certeza de que vai gostar de te conhecer.” Então não tive outro remédio Senão dizer-lhe que o faria, e de tanto lho dizer, continuei a repeti-lo mesmo depois de ter conseguido libertar as minhas mãos das suas mãos mortas.



* Autor Juan Rulfo
* Tradução de António José Massano
* Pedro Páramo é o único romance do escritor Juan Rulfo

a-ver-livros com maresia: Yvonne van Woggelum

Cheiras-me aos dias de maresia. Cheiras-me ao creme que a minha mãe usava para nos proteger os corpos nos dias grandes dos verões ainda maiores. Cheiras-me às memórias de menina, livro na mão, chapéu na cabeça.
E toda a gente a perguntar porque não gostava eu da areia. Mete-se nas páginas dos livros, entendem?

 
* para conhecer melhor a pintora holandesa Yvonne van Woggelum é seguir o link www.yvonnevanwoggelum.nl

quinta-feira, 28 de junho de 2012

«Não Morri» - José Luís Peixoto escreveu na Visão a 18-06-2012

Este texto é cópia integral do espaço de opinião assinado por José Luís Peixoto na revista Visão.


Não morri

Se tivesse morrido nesse dia, faltava uma grande quantidade de acontecimentos enormes na minha vida

«Não tenho memória, pequena ou grande, do momento em que decidi levantar-me da toalha. Estaria talvez a prestar atenção a qualquer outro pensamento, mas levantei-me da toalha e, de certeza, caminhei até à água. A minha memória começa no momento em que estava com água pelos joelhos.

Ao longo da minha vida, tenho estado em muitas praias, poucas de beleza mais extravagante do que aquela. Natureza a encontrar-se com natureza. De um lado, a natureza-água, mar com a cor certa, a temperatura certa, horizonte lá longe, no limite; do outro lado, a natureza-terra, areia limpa, dunas, sons comparáveis ao silêncio; por cima, a natureza-céu e, já se sabe, céu é céu, justo. Eu e o Milagre éramos as únicas pessoas em toda a praia. As únicas pegadas na areia eram nossas.

Quando me levantei da toalha, devo ter-lhe perguntado se queria vir. Se o fiz, ele deve ter respondido que não. Especulo porque, como disse, a minha memória começa já com água pelos joelhos. Depois, sem dar um passo, ainda a ambientar-me, já tinha a água pela cintura. Depois, sem me mexer, chegava-me à barriga, ao peito, aos ombros e, de repente, não tinha pé e estava a nadar o mais depressa que podia contra a corrente que continuava a levar-me para longe da areia.

Na minha família, faço parte da primeira geração que aprendeu a nadar. Nunca fui grande nadador. Aprendi tardiamente num tanque de rega que me chegava à barriga quando estava cheio e que acabava após duas braçadas. Nunca fui capaz de deitar-me de costas e boiar, ainda não sou. Invariavelmente, as pernas começam a afundar-se e, com elas, o corpo inteiro. Por isso, naquele dia, enquanto nadava contra a corrente, desconfiava das minhas capacidades. Sem estilo, quando me esforçava ao máximo, conseguia não me afastar durante um instante; mas eu não era capaz de aguentar o máximo do meu esforço por muito tempo. O mar tinha decidido que me queria.

Quando deixei de saber o que fazer, comecei a gritar. À distância, o Milagre continuava na sua pausa, impávido, deitado na toalha. A corrente anulava-me o esforço e as ondas anulavam-me os gritos ao lançarem-se sobre a areia. Então, chegou o momento em que aceitei o que me estava a acontecer. Pensei: que inglório. Eu estava a nadar com toda a força, mas esse foi um momento de grande serenidade, em que pensei: que inglório, tanta coisa para isto, tantas preocupações, tantos sacrifícios, tantas ilusões para isto. E senti o quanto era ridículo e vão aquele que eu julgava ser. Afinal, não era tudo o que imaginava. Afinal, era apenas um sopro. E senti uma pena profunda por desaparecer o amor que sentia por aqueles que nunca mais voltaria ver, a minha família, de quem não me tinha despedido e a quem daria um desgosto enorme. Que triste e inglório. Aquela ida à praia, simples e inconsciente, iria definir-me para sempre. Aquele momento podia ter sido evitado de tantas formas mas, ali, já não podia ser evitado, era real. Eu ia morrer.

Eu ia morrer? Perante essa certeza, como nos filmes, já sem pensar, nadei o mais que pude, para lá da exaustão, a ignorar a exaustão e o corpo. Não sei como, mas houve uma trégua na corrente, talvez o mar se tenha comovido com o meu esforço, e consegui avançar. Cheguei à areia, como um náufrago, a cambalear e fiquei deitado de costas durante muito tempo, até conseguir recuperar o fôlego.

Foi há doze anos. Muitas vezes, parece-me que este tempo desde então é um bónus. Se tivesse morrido nesse dia, faltava uma grande quantidade de acontecimentos enormes na minha vida. Não vou enumerá-los. Agora, aqui, seriam como montanhas e basta-me a sua sombra para me embargar a voz.

Conheço pessoas que morreram. Ao contrário de mim, morreram mesmo. Todos os dias passa tempo que não é testemunhado por elas. Os seus olhares ficaram parados numa data que se afasta cada vez mais. Nós, que conhecemos essa pessoas, que partilhámos um tempo que continha a sua presença, estamos aqui e podemos avaliar o tamanho da sua falta. Assim, da mesma maneira, devíamos ser capazes de perceber toda a dimensão disto: o nosso nome ainda nos pertence, temos planos banais para amanhã.

Quando cheguei à toalha, ressuscitado ou renascido, expliquei ao Milagre o que acontecera. Ele continuou a olhar para mim com a mesma expressão e, depois de algumas frases, mudou de assunto.»


1º Parágrafo: Livro do Desassossego

Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido - sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais.


* Autor Bernardo Soares
* Bernardo Soares é considerado, pelo próprio Fernando Pessoa, um semi-heterónimo, porque, como explicou, "não sendo a personalidade minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afectividade."

a-ver-livros: Adelaide Giannini

O calor apagou as palavras.
Quero-me ao pé do mar e pronto.
Ponto.



* para conhecer melhor a pintora italiana Adelaide Giannini, embora não exista muito sobre ela, é seguir este link da Presidência da República Italiana  www.quirinale.it/

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Ora adivinhem lá o que nos vai trazer o Bairro em Julho





Num Monumento à Aspirina


Claramente: o mais prático dos sóis,

o sol de um comprimido de aspirina:
de emprego fácil, portátil e barato,
compacto de sol na lápide sucinta.
Principalmente porque, sol artificial,
que nada limita a funcionar de dia,
que a noite não expulsa, cada noite,
sol imune às leis de meteorologia,
a toda hora em que se necessita dele
levanta e vem (sempre num claro dia):
acende, para secar a aniagem da alma,
quará-la, em linhos de um meio-dia.

Convergem: a aparência e os efeitos
da lente do comprimido de aspirina:
o acabamento esmerado desse cristal,
polido a esmeril e repolido a lima,
prefigura o clima onde ele faz viver
e o cartesiano de tudo nesse clima.
De outro lado, porque lente interna,
de uso interno, por detrás da retina,
não serve exclusivamente para o olho
a lente, ou o comprimido de aspirina:
ela reenfoca, para o corpo inteiro,
o borroso de ao redor, e o reafina.

João Cabral de Melo Neto

1º Parágrafo: D. Quixote

Num lugar da Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia, não há muito, um fidalgo, dos de lança em cabido, adarga antiga, rocim fraco, e galgo corredor.


* Autor Miguel de Cervantes
* Tradução de Francisco Lopes de Azevedo Velho da Fonseca Barbosa Pinheiro Pereira e Sá Coelho
* O título e ortografia originais do livro eram: "El ingenioso Hidalgo Don Qvixote de La Mancha"
* Primeira edição publicada em Madrid no ano de 1605

a-ver-livros: da Sibéria para o Brasil - Fabio Lyra


O cabeçalho aqui do blog foi outra cantiga. Nem meros cinco minutos, nem nada me saltou à vista e tudo me saltou à vista. Um porque adoro, o outro porque adoro. E mais aquele quadro porque adoro. Creio que gastei o stock mundial da palavra ‘adoro’ neste período. 

O que estava em causa, no entanto, era encontrar algo que permitisse uma adaptação. Encontrei-o numa ilustração livresca com sabor a Brasil, assinada por Fabio Lyra, 36 anos, carioca, ilustrador e quadrinhista, como se assume. “Faço ilustrações e quadrinhos bem legais (já até ganhei alguns prêmios por isso. YEAH!)”, escreve no site, com o seu bom humor. O que significa que tem no currículo dois prémios HQMIX, um deles o de artista revelação de 2007. 

O original do Fabio Lyra
É também o pai de “Menina Infinito”, personagem de banda desenhada, uma miúda chamada Mónica que  não tem super poderes, não faz magia nem veio de outro planeta. Apenas uma garota normal – e que, protagonista da novela gráfica lançada pela Mosh!, se transformou num êxito pelo selo Desiderata, da edi­to­ra Agir.
No geral, Fabio tra­ba­lha como ilus­tra­dor para várias publi­ca­ções, faz capas de livros, flyer de festas e encartes de CD. E anda pelo Facebook, onde nos encontrámos para uma pequena conversa que aqui transcrevo. 


“Menina Infinito foi o meu último lançamento solo. De lá para cá colaborei com um monte de outras publicações. O próximo da Menina Infinito já está pronto. Só falta a editora botar ele nas livrarias. Dessa vez vai sair pela editora Barba Negra, que é um selo da editora Leya (acredito que deva conhecer essa editora)”, explicou-me. “Vai ser uma colectânea do material que publiquei numa revista chamada Mosh! e mais umas 50 páginas de material inédito. Vai ser um livro bem gordinho. Espero que ainda saia esse ano.”

Enquanto sai e não sai, quis saber se tinha gostado da forma como tratei o seu original, sempre tentando não desvirtuá-lo. “Ah, ficou lindo. bem legal mesmo. Engraçado é que fiz essa ilustra para um outro clube de literatura aqui do Rio de Janeiro e agora ele ilustra um outro clube do outro lado do Atlântico...” Não há coincidência, Fabio, sabia? 


“Você lê muito – ou nem pega em livros que não sejam de banda desenhada?”, quis eu saber. “Leio. Dei uma diminuida no ritmo mas continuo lendo. Gosto de ler livros. A ideia é ficar inspirado com eles. Para quem faz quadrinho é importante ter referências de outras artes e mídias.”

“E autores portugueses, conheces?” Fabio Lyra confessa-se. “Ah, isso é uma das falhas do meu caráter. Não conheço nenhum. Literatura portuguesa ainda é um território a ser desbravado. Aceito recomendações. Por aqui, de Portugal só se fala em Saramago. Tem gente fazendo nova literatura por aí?”

Sugeri-lhe que acompanhe o blog – vai encontrar por aqui tanto mais do que Saramago. Mas gostava de lhe sugerir dois ou três volumes em concreto, para o iniciar na literatura portuguesa contemporânea. Querem ajudar-me e sugerir algo? Afinal, essa é também a função desta nossa partilha. 



terça-feira, 26 de junho de 2012

Reading is Fundamental, parte 2. Descoberto por Ana Almeida, partilhado por mim...

Recordam-se do projecto Reading is Fundamental? Pois bem, aqui está uma excelente animação protagonizada por algumas das mais importantes personagens literárias infantis. A Ana outro dia partilhou este vídeo no grupo "livros no facebook". Mas, como nem todos são adeptos das redes sociais, aqui fica para todos! 

Apreciem...

Concurso Fotográfico de Poesia Urbana - os resultados estão quase aí


CHEGOU O GRANDE MOMENTO!

O Concurso Fotográfico de Poesia Urbana revelou olhares únicos sobre o Porto, cidade poema, cidade vício, cidade emoção.

Os autores destas fotografias captaram momentos raros, de uma autenticidade admirável, souberam encontrar beleza e poesia no quotidiano urbano e humano de uma cidade surpreendente.

Este outro olhar sobre o Porto será celebrado através da exposição das fotos vencedoras do Concurso e de um recital de poesia, canto e música de grande qualidade, que a Poetria se orgulha de apresentar, com enorme prazer e alegria, a todos os seus clientes, amigos e público em geral.

Leituras: Ana Paiva, Joana Carvalho, Pedro J. Ribeiro
Música: TEIA (voz e guitarra)

Será também um momento especialmente importante da vida da Poetria, na sua luta pela permanência.

Venham todos, muitos, e passem a palavra. Vai ser uma coisa linda de se ver e ouvir.

É no próximo dia 28 de Junho, às 22h, no Espaço Gesto - Rua José Falcão, 107 - Porto, e haverá café, porto e biscoitos Poetria. Entrada 3,50€

1º Parágrafo: Anna Karénina

Todas as famílias felizes se parecem umas com as outras, cada família infeliz é infeliz à sua maneira.


* Autor Lev Tolstoi
* Tradução de António Pescada
* Prefácio de Vladimir Nabokov

a-ver-livros: no fundo com Vlad Gerasimov


A vida inteira tenho tido uma relação muito visual com os livros. Tanto quanto um primeiro parágrafo me pode ou não entusiasmar, mexe comigo a capa, a paginação, o tipo e o tamanho da letra, o espaçamento, as margens. Não me surpreendi, por isso, quando dei por mim a coleccionar arte relacionada com livros – quadros, ilustrações de vários géneros, fotografias de esculturas... Não me surpreendi quando dei por mim a fazer o “a-ver-livros”. 

Mas quando o Rodrigo Ferrão me desafiou a fazer uma mudança de visual no blog arregalei os olhos de espanto – e questionei-me: como posso escolher entre tantas imagens que me fascinam?


Foi mais fácil do que temi. O fundo saltou-me à vista em minutos: um wallpaper com assinatura Vladstudio, em que os livros são como folhas e flores, crescendo em nosso torno como o pé de feijão. Vladstudio é a empresa de Vlad Gerasimov, 32 anos, artista digital da cidade russa de Irkutsk, no Sul da Sibéria, algures perto do Lago Baikal. Sim, com 636km de comprimento e 80km de largura, é o maior lago de água doce da Ásia, o maior em volume de água do mundo, o mais antigo (25 milhões de anos) e o mais profundo da Terra, com 1.680 metros de profundidade. 

Não diz nada a respeito de Vlad, é um facto. Mas é um facto interessante, a tornar mais colorido o facto de ele ter formação em economia e nunca ter passado um minuto como economista na vida, como revelou numa entrevista. Ah, e toca piano e guitarra – e sonhou durante muito tempo ser uma estrela rock. 


Sobre o seu processo criativo, revela que começa com um desenho a lápis, depois passa-o pelo scanner, abre em Photoshop e segue por aí fora. “Gosto de desenhar coisas que saltem o cérebro e vão directas ao coração”, afirma, de forma quase literária. Nem por acaso, diz ainda que, quando se sentir mais confiante, quer trabalhar em ilustrações para livros infantis, nomeadamente numa edição especial do “Principezinho”. Cá a esperamos! 

Para já, vamo-nos deleitando com o seu wallpaper e, para o conhecermos um pouco melhor, visitemos o link www.vladstudio.com

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Dois anos de Clube de Leitores celebrados com muitas novidades


Têm sido dois anos formidáveis. Não podia pedir mais. As expectativas iniciais nunca imaginaram as proporções que este projecto alcançou. Todos os dias "abastecemos" o nosso público de leituras, livros e letras... De todas as formas: seja um quadro que representa alguém a ler, uma animação cujo tema é o mundo dos livros, uma música que cante um poema... Trazemos textos de autor: temos colaboradores que escrevem o seu próprio livro por cá. Divulgamos eventos, fomos à rádio, lançamos novidades, fazemos leituras conjuntas. Fizemos a cobertura diária da Feira do livro de Lisboa e depois da do Porto. Trabalhamos muito!

São dois anos a lutar por uma paixão. Iniciada por mim e auxiliada de várias formas por pessoas que aqui colaboram. Uns em maior grau, outros em menor. Mas sempre em nome de uma causa. Uma equipa com entradas e saídas, mas que nunca deixou de espalhar entusiasmo. Por isso mesmo estamos a chegar longe. A paixão tem trazido cada vez mais gente. E não param de chegar pessoas interessadas em trabalhar connosco.

Justificava-se (passado este tempo) uma mudança de visual. Não só porque celebramos, mas também porque atingimos um grau de responsabilidade maior. Como alguns já devem ter reparado, agora temos este logo e o fundo do blog é diferente. Ambos convidam-nos a aprofundar este gosto pela leitura e evocam a paixão pelos livros. A Ana Almeida fez o trabalho de pesquisa e as respectivas adaptações. Mas sobre todos estes pormenores, ela fará uma apresentação mais detalhada e concreta.

Entretanto, temos uma nova página no Facebook (Clube de Leitores). Passem por lá e fiquem mais próximos de nós. Para quem prefere o Twitter, também lançamos um canal: @ClubedLeitores. O objectivo passa por fazer chegar a nossa mensagem mais longe! Por isso, temos novas rubricas, novas colaborações e vamos procurar ter, de futuro, uma atitude mais intensa em relação à leitura conjunta do livro do mês.


Já fizemos um passatempo, mas o objectivo passa por termos mais. Preparem-se, porque surpresas não vão faltar!


Por fim, anunciamos que estamos a cozinhar parcerias. Queremos levar o Clube de encontro às pessoas. Sair da internet e irmos conhecer os nossos seguidores. Procuramos apoios de movimentos ligados aos livros, de editores, de escritores que procurem divulgação. Estamos abertos (como nunca) a propostas! Venham elas, desafiem-nos! 


Obrigado por nos seguirem. Continuam a ser o motor desta crescente aventura. 

a-ver-livros: a cor de Françoise Collandre

Há quem tome vitaminas. Há quem pinte de cores os dias.
Há quem se sente no chão e divida a alma entre um livro e uma vodka.
Há quem seja cão e prefira ler-nos nos olhos o que não vai numa bola amarela.
Há segundas-feiras. Hoje é uma delas. E então?


* para conhecer melhor a pintora francesa Françoise Collandre é só seguir o link www.collandre.com/fr

domingo, 24 de junho de 2012

Julguei.....

(ao domingo) Letras Focadas

“Na ponta da pena, soltam-se letras conjugadas, bem focadas, para serem percebidas”


Julguei que a vida era bola de sabão
 Soprada
Foto By José Oliveira
 Colorida...
Julguei que na palma da mão
Ficava permanente...
Crescendo...
Com multicores a brilhar

Julguei ver formas...
Movimento...
Hipnotizante...

Julguei que bola de sabão era sonho
Que na minha mão crescia
Leve como uma pena.


Julguei...
Julguei..


E de repente...
Evaporou-se...
Esvaneceu-se no vento que passava.

Foto By José Oliveira


E a vida que era bola de sabão
Soprada...
Colorida...
Molhou a minha mão
De lágrimas
Do sonho desfeito dentro de uma bola de sabão!



Elsa Martins Esteves

Da importância do Primeiro Parágrafo

Dos livros.
Da importância do título.
Da importância da capa.
Da importância da contra-capa.
Da importância do primeiro parágrafo.

Parágrafo s. m. Um ou mais períodos que tratam do mesmo assunto; pequena divisão de um discurso (sinal gráfico dessa divisão: §); capítulo; artigo; alínea; abrir ~ deixar a linha em que se escrevia e começar na seguinte, um pouco dentro (Do gr. parágraphos, “escrito ao lado”, pelo lat. paragraphu-, “id.”)
In Dicionário da Língua Portuguesa
Porto Editora – 8ª Edição

Talvez porque, sempre, ou quase sempre, quando pegamos num livro, de forma automática, abrimos o objecto na primeira página e, instintivamente, será instinto?, lemos o primeiro parágrafo, sem saber o que procuramos, mas à procura.
E, todos diferentes, ou não tão diferentes assim, procuramos esse indefinível clique de interruptor que nos agarra e enfia dentro das palavras, da forma, da história.

Um parágrafo, o primeiro, o tudo ou nada, a prova dos nove, os cem metros barreiras, a mensagem que se autodestruirá em segundos, o sexo fácil, a tatuagem, a simbiose, a fotossíntese, a partícula elementar, a pedra-toque, o toca e foge, a inexplicável vontade, o prazer, a necessidade, de continuar a ler. 


a-ver-livros: C. Michael Dudash

Entre o sol e a ventania, recolho-me para ler.
É domingo, posso fazer o que eu quiser.
E não há nada melhor do que um livro e os pés descalços.


* para conhecer melhor o pintor norte-americano C. Michael Dudash é só seguir o link www.cmdudash.com