sábado, 4 de dezembro de 2010

Leitura pobre!

Não quero parecer um ditador de moralismos nem um pregador em vão. Vou galgando o meu caminho desinteressadamente e com forte desejo de continuar a fazer aquilo que gosto. Mas, por vezes, dá vontade de desistir. Sair deste país que todos os dias abre os noticiários com mais e mais tristezas...

O mundo dos livros abriu, oficialmente, uma marcha que o põe em perigo. As pessoas, cada vez mais, não querem distinguir o objecto do mundo cibernáutico. O objecto 'livro' fica bem na estante... Sentam-se nas livrarias a tirar fotos ao livro, a sublinhá-lo ou, simplesmente, a copiar o que lhes interessa para um computador.


Neste planeta tão ameaçado não cabe a palavra 'crise'. Sim, eu sei que os livros são caros. Sei que os portugueses ganham muito pouco. Sei que somos analfabetos e muitos só lêem o jornal desportivo. Sei que as escolas não fizeram o máximo por nós, nem a maioria dos Pais.

Mas também sei que neste mundo a palavra crise não tem a mínima hipótese em relação a outra: EDUCAÇÃO.

Hoje tinha que gritar um pouco. Perdoem-me os que não se revêem.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A estrada, Cormac McCarthy

Um dia, um cliente indicou-me 'A estrada' como um dos maiores romances que leu. Dialogava muito com esse senhor, hoje vejo-o menos. Aparecia sempre com um amigo e regularmente largava uma nota em livros.

E foi a bom tempo que me fiz à estrada e pesquisei tudo o que havia sobre este livro e o autor. Já o conhecia de outros títulos, mas este acabou por ser o primeiro de muitos que comprei do escritor.

A bom tempo, diga-se. 'A estrada', recentemente adaptado ao cinema, é a história de um Pai e do seu filho vivendo o Apocalipse; na odisseia de atravessar a América. Nada se sabe acerca do fenómeno que dizimou o Mundo e que faz chover cinza.


O caminho é uma estrada que os leva até ao litoral. Têm uma pistola para se defender de bandidos. E muita, mas muita fome. A escassez de comida é enorme e encontrá-la é quase impossível.

A história ganha a sua grandeza no retrato impressionante sobre a sobrevivência, no amor entre Pai e filho, na solidariedade e sacrifício.

É um dos grandes livros que li. Fica para sempre nas minhas melhores memórias.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Sento-me a contemplar


'Sento-me a contemplar todas as dores do mundo, toda a opressão e vergonha,
Ouço os secretos soluços convulsivos dos jovens angustiados consigo mesmos, cheios de remorsos após o que fizeram,
Vejo no meio da miséria a mãe ser maltratada pelos filhos, morrer desprezada, magra e desesperada,
Vejo a mulher maltratada pelo marido, vejo o traiçoeiro sedutor das jovens,
Reparo nos ciúmes inflamados e no amor não retribuído e que se tenta esconder, vejo estes espectáculos na terra,
Vejo as agitações do combate, a pestilência, a tirania, vejo mártires e prisioneiros,
Observo a fome no mar, observo os marinheiros tirando à sorte aquele que vai ser morto para salvar as vidas dos outros,
Observo o desrespeito e os aviltamentos lançados por gente arrogante sobre os trabalhadores, os pobres, os negros e seus semelhantes;
Tudo isto - toda a mediocridade e agonia sem fim eu contemplo sentado,
Vejo, oiço e fico em silêncio.'

Folhas de Erva, tradução de Maria de Lourdes Guimarães.
Volume I, pág 469/471. Relógio D'Água

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Foi há 3 anos...

Foi há 3 anos que comecei a ser livreiro. Desde aí, muitas mais alegrias do que tristezas. Muitos momentos para comemorar, alguns para esquecer. Perder a profissão, mudar de cidade, abandonar equipas. Começar de novo, aprender novos métodos, outras sensibilidades e mentalidades.

Há 3 anos abriu uma loja no Centro Comercial Cidade do Porto. Fiz parte dessa equipa durante ano e meio. Pelo meio, andei na abertura de outra loja em Serralves. É no Bom Sucesso que está a equipa mais combativa que vi. Muitos amigos ficaram lá. E é com eles que vou celebrar o meu passado, naquilo que de bom ele teve: espírito de união, solidariedade, ultrapassar obstáculos, cultivar alegria e amizade no emprego.


A vida levou-me a Guimarães, que jamais posso esquecer. Pela simplicidade e grandeza das pessoas. Pela humildade e entrega. Estive muito pouco tempo por lá, o contrato era mesmo só para abrir espaço.

Estou com a Almedina desde Março. Pelo caminho, já duas lojas. Vou fazer o quarto Natal e sinto-me preparado. O negócio agrada-me, é algo que falo com paixão. Porque estar nesta profissão há 3 anos não implica, necessariamente, que eu não conheça o meio há mais.

E, de mão dada ao meu Pai, desde bebé que salto de livraria em livraria. Por este Portugal, por este Mundo. Espaços que são como a minha casa: carregados de livros e histórias para contar...