sexta-feira, 8 de outubro de 2010

"Marina": A Razão da Minha Escolha



A primeira vez que tive contacto com um livro de Carlos Ruiz Zafón foi por volta de 2007 quando, num almoço em casa de um familiar, uma estrangeira lia a versão alemã de "A Sombra do Vento". Perguntei-lhe o que tratava o livro e ela disse-me que era um romance espanhol pós-guerra passado em Barcelona e que era uma obra muito boa. Gostei da capa e achei que aquele livro tinha classe.
Mas o tempo foi passando e eu fui me esquecendo dele. Na altura ainda não frequentava blogues literários nem nada do género, pelo que decidia o que ler aquando das minhas visitas muito frequentes às livrarias. E foi numa dessas visitas a uma livraria, com a difícil tarefa de escolher um livro para ler num vôo entre Lisboa e Nova Iorque que comprei o "Sombra do Vento" sem saber quase nada do livro e do seu autor. Mas quando abri as suas páginas foi como se nunca antes tivesse lido um livro. Li-o em casa, no aeroporto, no avião, em Nova Iorque, em todo o lado. Simplesmente estava maravilhado com a escrita de Zafón. Os seus livros são únicos, têm uma aura especial, uma elegância e as suas personagens são tão, mas tão ricas... São estórias magníficas que têm como pano de fundo uma cidade, Barcelona, que acaba por ser ela própria também uma personagem crucial.
É por isso que hoje, em 2010, escolho o terceiro livro de Zafón editado na nossa língua para inciar a minha colaboração aqui no Clube de Leitores. Já estou perdido dentro das páginas do "Marina" e só tenho pena que Carlos Ruiz Zafón não lance livros com mais frequência. Dá gosto ler quando se trata de escritores com E grande e tenho a certeza absoluta que Zafón é um deles.
Espero que tenham apreciado a minha escolha e que se percam na Barcelona mágica de "Marina". Boas leituras, eu vou mergulhar no mundo de Zafón ao som desta trovoada.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Mario Vargas Llosa

Não me espanta nada este prémio atribuído a Vargas Llosa. Parecia-me evidente que, mais cedo ou mais tarde, seria reconhecido o grande talento deste Sul Americano. O Nobel volta a esta região do globo que, quanto a mim, guarda grandes autores.

Não me interessa analisar as questões políticas peruanas ou o activismo político do autor. O génio literário não cabe na política. Aliás, quantos outros tiveram uma vida paralela? Por exemplo, Jorge Amado - a meu ver injustamente esquecido pela academia Sueca.


De Vargas Llosa li um espantoso romance - há muitos anos esgotado em Portugal: A guerra do fim do Mundo. História passada no sertão brasileiro, em Canudos. A ficção da vida de Antônio Conselheiro: um poderoso fundamentalista religioso que ergueu um exército extremamente poderoso que jamais se rendia e derrotava imponentes tropas do governo.

Foi dos romances melhores que li. Ao bom estilo da América Latina: mundo do misticismo mágico.

Guardo importantes livros do autor aqui em casa. A Casa Verde, Conversas na Catedral, A Festa do Chibo e Travessuras de uma menina má. Sem pressa lá chegarei.

Estou contente com este prémio. Se é politizado ou não, se houve pressões para que fosse atribuído; nada me interessa. Pareceu-me sempre evidente que Vargas Llosa era (e será) um excelente escritor. Espero deixar correr muita tinta sobre ele...

The End


Quinta-Feira, 7 de Outubro de 2010

Encerramos hoje a leitura do livro do mês de Setembro - Crítica da Razão Criminosa!

Podemos analisar um livro, segundo vários parâmetros : pela sua estrutura literária, pelo seu rigor histórico, pela sua função meramente lúdica ou por aquilo que nos proporciona como fonte de conhecimento.

Permitam-me pegar no último parâmetro e considerar que, a leitura deste livro é, per si, uma enorme fonte de descobertas.

Mais do que uma história de assassinatos, de tramas políticas, a Crítica da Razão Criminosa, remete-nos para questões tão profundas como: saber até que ponto matar alguém é fonte de Poder e Prazer? Até que ponto as nossas vivências subvertem a lógica da razão? Até que ponto traumas de um passado determinam as nossas escolhas no presente?

Kant, filósofo de linguagem hermética e algo inacessível, aparece como personagem determinante na descoberta da Verdade! Aqui, encontramos toda a filosofia kantiana descrita de uma forma clara e distinta, ao alcance de todos. A Razão vence os sentidos, a lógica sobrepõe-se à fragilidade das emoções!

Kant morre!

Deixa a uma cidade, a uma nação, à Humanidade, a mais nobre herança: a possibilidade de alcançarmos a VERDADE com aquilo que temos de comum: A RAZÃO!

Nada de mais fascinante!

Termino esta minha humilde incursão, agradecendo publicamente ao Rodrigo Ferrão a possibilidade que me deu para partilhar convosco, os meus gostos literários.

Bem-haja

EME

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

a Rita do CHICO

A minha Rita foi como a Rita da canção do Chico.
A minha Rita foi-se embora e levou tudo com ela, só não levou os meus vinte anos, porque eu já tenho mais do dobro, nem deixou mudo o violão, porque eu não tenho nem nunca tive um violão, e mesmo que tivesse, o instrumento nunca deixaria de ser um urso em hibernação, porque eu não sei tocar, nem cordas, nem teclas, nem sopros, e mesmo quando toco campainhas são muitas as vezes em que me engano, ou na rua, ou na porta, ou no andar, mas principalmente na rua.
Além de me perder no mundo com uma frequência indesejável, eu não sei tocar, eu não sei cantar, eu não sei dançar, eu não sei cozinhar, eu não sei coser nem bordar, eu não sei falar francês, eu não sei jogar à bola, e a minha Rita, ultimamente dizia, que eu também não sabia amar.
A minha Rita foi embora ontem, e desde ontem que eu não voltei a sorrir. Será que ela também levou o meu sorriso, ela dizia sempre que gostava do meu sorriso, e ela levou tudo o que gostava. Levou todas as roupas do armário, menos uma camisa branca e duas camisas azuis às riscas, tão finas, que a mais de três passos, deixavam de existir para se fundirem no azul, todas com os colarinhos demasiado gastos, umas calças castanhas, de algodão, cujo corte ela dizia já não se usava, uma malinha de mão de verniz, preta, que eu nunca a vi usar, uma camisola de lã, laranja, cheia de borboto, que ela só usava em casa, dois pares de meias, verde musgo, com buraquinhos, cor que eu nem conhecia, antes de conhecer a Rita, antes da Rita encher os três gavetões da cómoda com as suas coisas, e uns chinelos de quarto, quase novos, que eu lhe ofereci no Natal que passou, e dos quais ela disse que tinha gostado muito, mas não gostou, porque os chinelos ficaram ali, esquecidos, a olhar para os pés da mesinha de cabeceira, do lado esquerdo da cama.
A minha escova de dentes ficou só com os peixinhos amarelos do copo. Peixinhos amarelos iguais aos peixinhos amarelos da cortina da banheira, da mesma cor do tapete aos pés do lavatório. E ficou vazio o lado esquerdo do armário, não ficou nem um boião de creme esquecido.
A Rita levou todos os livros que comprámos juntos. Levou todos, menos o Saramago. Por mim ela bem podia ter levado o Saramago, foi ela que quis comprar. Eu nunca gostei do Saramago e pelos vistos, ela também não. Mas não tem perdão por me ter levado o Borges, porque sabe muito bem como eu preciso dos poemas do Borges para adormecer. E com os livros a Rita levou todas as tardes de sol de sábado, porque nós só comprávamos livros nas tardes de sol de sábado. Bastava uma chuva miudinha, e a gente só saia da cama para o sofá e do sofá para a cama, sempre aconchegados um no outro, a ler os livros que comprámos nas tardes de sol de sábado, a ouvir o saxofone de Coltrane sobre o piano do Monk, a dançar boleros no meio da sala. E púnhamos a mesa para o lanche, espremíamos laranjas para sumo, fazíamos chá verde e torradas, e deliciávamo-nos com doce de abóbora, que a mãe da Rita fazia tão bem, e requeijão. A Rita também levou o doce de abóbora.
Hoje foi sábado. Hoje ainda é sábado.
A tarde foi de sol e eu nem saí de casa. A noite cai misturada com uma chuva miudinha. Passei a tarde sentado no sofá, em frente à televisão. A televisão desligada. A sala é iluminada pelo candeeiro da rua. A sala está cheia de sombras, barulhinhos da chuva nas vidraças da varanda e memórias da Rita. Oiço a Rita no quarto, com um brilhozinho nos olhos a trautear Godinho, enquanto arruma a roupa nos gavetões do quarto. Oiço a Rita na cozinha a abrir a porta do frigorífico e a encher um copo de leite, que deixa sempre, vazio, em cima da banca. A Rita nunca arrumava a loiça na máquina. Era a única coisa que eu não gostava na Rita. Oiço a Rita dançar no corredor. A Rita, quando ninguém a via, dançava pelas divisões da casa, e era mesmo bonito de ver.
A Rita levou também as nossas conversas, todas as conversas que nunca teremos, e que eu já considerava nossas, porque a Rita não era deste mundo, mas de um mundo onde a chuva nuns dias cheirava a canela, e noutros a manga, os céus chegavam a ser cor de mirtilos, e os mares cor de alcachofra, e havia índios que procuravam as penas pelos jardins da cidade, astronautas que não queriam abandonar a lua, peixinhos a nadarem nas nuvens, crocodilos que passeavam pelas ruas, leões que pintavam as unhas, ursos e pinguins a discursar nos jornais e nas televisões, e bruxas de lambreta, e fadas madrinhas com quem conversava no metro. E eu conseguia ver tudo aquilo, conseguia ver e viver num mundo, em que não viveria se não fosse pela mão da Rita.
Hoje ainda é sábado e eu já sei que a Rita não mais volta. Eu por mim dormia tudo até acabar a mágoa. Podia dormir pelo menos o resto do fim-de-semana. Mas a Rita que já saiu de casa, ainda não saiu de casa e muito menos de dentro de mim. Também não me apetece telefonar a ninguém. Como é que eu explico que a Rita levou o doce de abóbora. Sabem, acho que vou sair, procurar num shopping uma livraria aberta, e comprar os mesmos livros do Borges, talvez consiga passar a noite a poemas e vinho maduro tinto. Depois no domingo vejo o futebol. Com a Rita eu nunca via o futebol. Com a Rita a gente passava o domingo em casa da irmã e do cunhado, eu nunca gostei dos domingos. A Rita levou também os domingos.
 
Raquel Serejo Martins


terça-feira, 5 de outubro de 2010

Pergunta ao Pó, John Fante

John Fante foi-me trazido ainda este ano. Lido de fio a pavio e com bastante agrado. Com prefácio de Charles Bukowski, que abre as hostilidades desta maneira: 'Fante era o meu Deus'.

Este é mais um belíssimo trabalho da editora Ahab. Confesso que ainda não li um mau livro desta editora - lançada no ano passado e que conta com excelentes traduções. Esta é fantástica, traduzida por Rui Pires Cabral.

Um óptimo prefácio, com frase curiosa umas páginas antes - do também grande - Herman Melville (no caso, em Moby Dick): "There are some enterprises in which a careful disorderliness is the true method."


Arturo Bandini é um herói anónimo. Quer ser escritor, dê por onde der. Chegado a Los Angeles - cidade muito bem enquadrada ao longo da narrativa - ocupa uma pensão velha e cheia de estranhas pessoas. Sobrevive com pouca comida - que partilha com o vizinho - e de leite roubado. Miseravelmente!

O talento tarda a ser reconhecido e as asneiras de Arturo não permitem que o intelecto funcione na sua melhor forma. Até que aparece uma musa inspiradora, de seu nome Camilla.

Camilla é tudo aquilo que Arturo não é: bela, com carro próprio e empregada de bar. Mexicana, morena e exótica. Como diz - e bem - o breve resumo da história no final do livro, "a paixão que a um tempo o arrebata transforma-se, pouco a pouco, numa destrutiva relação de amor-ódio que vai conduzir a um trágico desenlace."

Apesar do fim inevitavelmente fatal, esta foi das histórias mais cómicas que li. Dei por mim a rir-me das trapalhadas deste personagem extraordinário. É ele que enche o livro de tamanha emoção.

Querem descontrair? Este vale mesmo a pena!

Diogo Martins

Já perceberam que o livro de Outubro é 'Marina' de Carlos Ruiz Zafón. Mais uma excelente escolha, num grupo que vai dando o melhor que sabe e pode para fazer chegar ao público propostas interessantes, debates longos e conversas ao redor de livros.

O Diogo apareceu aconselhado pelo Fábio Ventura. Na altura perguntei-lhe se ele conhecia alguém com vontade de escrever. E assim foi!

É o membro mais novo, está entusiasmado com o projecto e tem livre trânsito para começar.

'Marina' será lançado mal terminemos a leitura do 'Crítica da Razão Criminosa'. A Elsa está a trabalhar um texto para o debate final. Vai ser excelente discuti-lo. O livro é um achado!


Voltando ao Diogo... Vive em Lisboa, devora livros e sonha escrever e publicar. Anda à procura de um emprego numa livraria; espaço familiar, acolhedor e amigo. Desejo-te a maior sorte nos teus projectos.

Que este seja um espaço de magia, de imaginação, de crescimento. Aproveita e partilha. Obrigado pela tua escolha. Por ser um livro recentemente traduzido, não tenho dúvidas que vai haver muita gente atenta. E Zafón... é sempre Zafón!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O poder, Rhonda Byrne


Confesso que fico apreensivo, vem aí o segundo livro de Rhonda Byrne. O segredo ainda é o livro que mais vendi desde que trabalho no ramo. Foram centenas atrás de centenas. Foi dado como prenda, foi comprado à dúzia, desapareceu.

Um livro que vende mais de 600 mil exemplares impõe respeito. E estamos a falar deste canto à beira mar plantado. Nem quero ir ao mundo, tão vasto e com números bem mais esmagadores!

Há testemunhos que afirmam que este livro mudou as suas vidas. Oprah Winfrey fez publicidade e convidou gente para partilhar a mensagem. Foram dadas palestras. Nós por cá, no pavilhão atlântico.

Não li o segredo. O que pergunto às pessoas é: o que vos levou a comprar este livro? Mudou alguma coisa nas vossas vidas? Vão comprar o próximo?

Os homens alegres, R. L. Stevenson

Olhamos para o mar e contemplamos a baía, ..."e é aqui que aquelas grandes vagas dançam juntas - a dança da morte. pode assim chamar-se - que nestas partes tem o nome de Os Homens Alegres."

Conta-se uma história de amor. Entre esse sentimento, um Homem louco - tio da mulher desejada.

Louco que vai ver o mar... Adivinha os perigos das ondas, os barcos que perdem vida nas correntes... Bêbado, possuído e 'assombrado pelas superstições mais obscuras'. Acredita num tesouro escondido nas suas profundezas. Um barco afundou-se com ele. Christ-Anna - seu nome.

Até onde pode ir a loucura de um homem? No final andamos atrás deste ser alterado. A correr pela praia. Até à exaustão.

Desistimos?

Procurem a resposta...