sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

...quando un uómo comincia a toccare con le parole arriva lontano con le mani...


A serventia de um carteiro.
A importância de viver numa ilha.
A utilidade dos poetas.
A consequência de uma metáfora.
E se o poeta for o chileno Neruda, o poeta de “veinte poemas de amor Y una canción desesperada”, como que na Isla Negra da sua terra natal, como que com Matilde a sua terceira mulher.
E se um escritor, Antonio Skármeta, também chileno, escrever para uma rádio em Berlim “O Carteiro e o Poeta”, imaginando o poeta exilado com a sua Matilde, fácil de imaginar com o regime de Augusto Pinochet em vigor no Chile, imaginando-o numa ilha italiana, imaginando-o a gradualmente construir uma amizade com Mário, o seu carteiro de serviço, imaginando-o a, à custa de poemas, ajudar o seu carteiro e novo amigo a conquistar a bela Beatrice.
E se o realizador Michael Radford fizer um filme.
E se Luís Enríquez Bacalov compuser a banda sonona (Óscar de 1996).
E se o poeta for interpretado por Philippe Noiret.
E se o carteiro for interpretado por Massimo Strossi.
Temos um filme... e como dizer isto sem ser banal?... dos mais bonitos e comoventes que vi até hoje (lá está: fui banal!).

António Pinho Vargas vence prémio José Afonso - conheçam alguns dos seus livros

"O compositor e pianista António Pinho Vargas congratulou-se com o prémio José Afonso, com que foi distinguido na quinta-feira, sobretudo pelo significado «afectivo», tendo em conta o que representa e representou aquele cantor, escreve a agência Lusa.

«Em Portugal não há muitos prémios no campo musical, e quando há prémios gerais é raro irem parar a músicos, por isso eu fico muito contente, porque qualquer prémio é um acto de apreço, de reconhecimento e de generosidade por parte de quem o dá», afirmou António Pinho Vargas em declarações à Lusa.

«Tem um certo significado para mim do ponto de vista afectivo, face ao que ele representa ainda hoje e ao que representou no passado», disse.

Para António Pinho Vargas, José Afonso era «um homem atento ao mundo», algo que o compositor também tenta ser.

«O mundo mudou e, se calhar, se [José Afonso] não tivesse morrido tão cedo, as posições dele também teriam mudado. Mas a memória que nós guardamos dele é suficientemente bonita, da música, das letras, do papel que teve do ponto de vista simbólico na luta contra o antigo regime anti-democrático. É-me muito grato ter um prémio que se chama José Afonso», afirmou."

Conheçam alguns dos livros do compositor e músico:

Música e Poder
Para uma Sociologia da Ausência da Música Portuguesa no Contexto Europeu
Edições Almedina, 2011.


"Portugal foi excluído das concepções hegemónicas da modernidade elaboradas nos países do centro da Europa (Inglaterra, França, Alemanha). Daqui derivam todas as repetidas introduções de práticas artísticas modernas em Portugal. Só se introduz aquilo que, originalmente, está no exterior. As narrativas da generalidade das artes em Portugal são muito semelhantes às narrativas que especificamente tratam a música portuguesa na medida em que, em cada um dos momentos fundadores de modernidade em Portugal, se referem sempre a um exterior no qual a modernidade "estava", do qual a modernidade "vem" - e esse exterior é a Europa, a tal Europa hiper-real.

Para Portugal a Europa é um "Outro" (p. 94).

Esta investigação aponta para dois factores decisivos na produção de uma imagem de ausência da música portuguesa erudita, tanto histórica como actual, na vida musical europeia. O primeiro resulta da formação do cânone musical no século XIX, da sua crescente supremacia durante o século XX e dos dispositivos de poder localizados nos países centrais que regulam e, por isso, excluem, em grande escala, os diversos produtos culturais provenientes das periferias europeias de acordo com os seus interesses e com as suas visões do mundo. Estas exclusões podem assumir as formas discursivas de considerações estéticas ou juízos de valor, proferidas a partir dos locais de enunciação onde se localizam os centros dos cânones, histórico ou contemporâneo, mas resultam principalmente de um grande desinteresse e desconhecimento e por isso, a maior parte das vezes, estas exclusões traduzem-se pelo silêncio.

O segundo factor resulta da incapacidade de instalar uma política ou uma prática de trocas culturais em condições de igualdade por parte dos agentes e responsáveis culturais portugueses que, no essencial, aceitam os mesmos valores, vistos como universais, e actuam em função dos mecanismos de poder que declaram a subalternidade, contribuindo desse modo para a própria inexistência simbólica no interior do país."

Sobre Música
Ensaios, Textos e Entrevistas
Edições Afrontamento, 2002


"António Pinho Vargas nasceu em Vila Nova de Gaia, em 1951. Licenciou-se em História e mais tarde diplomou-se em Composição no Conservatório de Roterdão. Actualmente é professor na Escola Superior de Música de Lisboa.
Ligado ao jazz durante vários anos, gravou dezenas de composições originais que tocou em muitos países da Europa e Estados Unidos. Compõe também música para teatro, dança e cinema.

António Pinho Vargas tem-se dedicado principalmente à composição, ocupando lugar de relevo no actual panorama português.
O corpo principal deste livro é constituído por sete ensaios inéditos. Inclui ainda um conjunto vasto de entrevistas, de 1983 a 2001 e cinco textos escritos pelo autor para notas de programas e discos.

Este livro é uma viagem através do universo criativo de um dos compositores de referência no panorama musical português."

De referir que "Cinco Conferências: Especulações críticas sobre a História da Música do século XX", da Culturgest (2008), se encontra esgotado.

Tamaro não esperava este livro

Uns gostam do que escreve, como escreve. Outros nem por isso. Certo é que a escritora Susanna Tamaro tem no currículo o livro italiano de maior sucesso no século XX, “Vai Onde Te Leva o Coração”. Uma obra que, só em Portugal, já vendeu mais de 154 mil exemplares.

Tem 54 anos, vive numa quinta perto de Orvieto, na sua Itália natal, pois claro. Com 19 das suas obras traduzidas para a língua de Camões e Pessoa, Susanna está em Portugal por estes dias, a promover o seu mais recente livro, “Para Sempre”.


Em entrevista a Raquel Matos Lopes, da RTP, [seguir o link que vos deixo no final do texto], Susanna Tamaro afirmou: “Este livro foi uma surpresa muito particular. É o livro que não esperava escrever.” Saibam porquê.

http://www.rtp.pt/noticias/?t=%93Para-Sempre%94-e-o-livro-que-nao-esperava-escrever.rtp&article=521845&visual=3&layout=10&tm=4

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Com o Sonho nas Mãos!

Pela Clarabóia procuramos o Deus das Pequenas Coisas e tememos o simbolismo de Némesis. Maldito Karma! Ressoou nas nossas mentes, a horas impróprias para consumo, mas deliciosas na inspiração. Descobrimos a Magia dos Números na beleza da capacidade geométrica do pensamento, na analogia das coisas simples. Intuímos os cometas e viajamos 100 anos e por resposta alguém nos disse No Meu Peito não Cabem Pássaros. Também não cabia A Boneca de Kokoschka e o seu tamanho, mesmo que grande fosse a Praça de Londres. Debaixo do Vulcão visitamos Orlando, invejamos a dualidade do tempo, esse que passa indiferente às nossas considerações. Sem bagagem nem receio fizemos uma Viagem à Índia. Para trás ficara A Casa de Papel com Bibliotecas Cheias de Fantasmas. Se Isto é um Homem, corroeu-nos as entranhas da existência na brutalidade do nada a que o próprio homem pode reduzir o seu semelhante. Ficamos a saber que Os Peixes Também Sabem Cantar, entre o frio e os enigmas, na Islândia. Aprendemos a chamar Marina ao mistério, à tragédia e à intensidade, e conversámos com Kant e com a reserva mental na exigência de um imperativo categórico pela Crítica da Razão Criminosa. A Mecânica do Coração encheu-se de imagens e fantasia e bateu-nos à porta. N´o Verão Selvagem dos Teus Olhos fomos embalados pelo Anjo Caído. As parábolas Orientais viajaram até cá no barco que trazia Uma Cana de Pesca para o Meu Avô, e não podíamos ter começado sem Um Grande Retrato.

Ao longo do corredor desta viagem encontramo-nos com Pessoa(s) e Torga(s), tivemos Régio(s) pensamentos e muitos, muitos outros encontros. Atrevemo-nos a ser escritores sem livro, partilhamos notícias, apontamentos, curiosidades literárias, textos, imagens e sonhos.
Eis-nos chegados aqui, embriagados por Baudelaire e a acreditar em Deuses Verdes. E convosco, sempre!
Levaram-nos a votos, e nós fomos, na aventura de perceber os nossos ecos. Passamos à segunda fase de votação e aos nossos leitores o devemos. Agradecemos com um brilho nos olhos gigante! E por sabermos que esta aventura vale a pena e que continuaremos sempre a alimenta-la, com a paixão que nos caracteriza, o pedido é simples: Votem em nós e voem connosco! Sem asas de ícaro e com o sonho na mãos:

Leva um minuto e não podia ser mais fácil:

2- procurar a categoria Livros / Literatura / Poesia (está por ordem alfabética)
3 – clicar em Clube de Leitores e depois em ‘Vote’.

Obrigada!!


Até sempre, Mário Domingos

Poesia é a vida e a morte. De vez em quando vemos um poeta partir mas deixar-nos de herança o seu olhar sobre a existência. Desta vez é Mário Domingos que acaba de seguir a sua estrada.

Aqui fica um poema extraído do seu único livro, publicado em Dezembro, “O Despertar dos Verbos”. Para que não esqueçamos.


“ANIVERSÁRIO XXV

Acordei um dia dentro dos teus olhos
de um sono leve e tranquilo, tumultuoso e denso.
Dizem que devo ter sonhado, mas nem ecos
de palavras, franjas de luz, neblina,
vaga escadaria, túnel infinito
me chegam aos recantos da memória.

Acordei a amar-te dentro dos teus olhos,
a hora indefinida,
em silêncio, deslumbrado.

Só depois veio o sonho”

Até sempre, poeta.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

LembrO-mE de Ti


Lembro-me de ti sentado à chuva,
índio depois da guerra,
gotas de água a correr-te pelo corpo,
cavalos a galopar no mar.

Coração quieto.
Pulmões parados.
Braços pendurados.

Tinham-te ferido,
ah, se eu soubesse quem!

Depois deitado no chão,
perdeste os olhos nas nuvens,
água para afogar as mágoas.

Como se as mágoas se deixassem afogar!

E eu, por não te conseguir levantar,
sem mais saber o que às mãos fazer,
sentei-me no chão, ao teu lado,
e comecei alinhar o teu cabelo em desalinho.
Temos sempre que começar por algum lado.


Conjugar o verbo votar

Deixem-me actualizar-vos.
Até sábado estamos a disputar na linha da frente a fase final da eleição para blog literário do ano. Podem (e devem, vá lá) votar aqui.


- http://aventar.eu/blogs-do-ano-2011/
- procurar a categoria Livros / Literatura / Poesia (está por ordem alfabética)
- clica em Clube de Leitores e depois em ‘Vote’.

Ah! e podem votar de 24 em 24 horas! Insistam - e passem palavra :-)

Entretanto, para vosso deleite, este quadro: "Sobre o Amor" (1999), do pintor russo Andrey Meschanov. Lindo, não é?

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

"Inéditos de Fernando Pessoa sobre sebastianismo e Quinto Império são publicados quinta-feira"

Nem de propósito, notícia deliciosa, furtada ao Jornal Público:

Quarenta e três textos inéditos de Fernando Pessoa sobre sebastianismo e o Quinto Império foram encontrados na sua famosa arca pelos investigadores Pedro Sepúlveda e Jorge Uribe e publicados com outros 58 já conhecidos sobre o mesmo tema.
O resultado estará a partir de quinta-feira nas livrarias portuguesas, numa edição da Ática, chancela da Babel, sob o título “Sebastianismo e Quinto Império”, mais um volume da Nova Série de Obras de Fernando Pessoa, coordenada pelo pessoano colombiano Jerónimo Pizarro.

Cá estaremos para acompanhar!

Saramago à parte - música para ler



É o palco do tempo 
Sem tempo a mais 
São voltas ás voltas 
Por querer sempre mais 
É um verso atrás 
Um degrau que não viu 
São curvas as rectas 
Num final não vazio 
É o palco do tempo 
Sobre o tempo a mais 
São voltas à espera 
Que não vivendo mais 

Depois de cinco anos a criar e apresentar canções cantadas em inglês, David Santos, o homem por detrás do projecto Noiserv, faz agora a sua estreia em português.
"Palco do Tempo" é um dos temas que o músico escreveu para o filme "José e Pilar", cuja banda-sonora conta ainda com a participação de Adriana Calcanhotto, Camané e Pedro Gonçalves (Dead Combo), entre outros.

As pessoas de Pessoa, o Barão de Teive.




A Educação do Estóico. Linhas e linhas preencheram o deleite dos estudiosos de Fernando Pessoa na abordagem a este livro incompleto assinado por Barão de Teive. Um semi-heterónimo analisado na comparação a Bernardo Soares, pelas semelhanças com Fernando, pela confusão das notas biográficas do próprio e talvez o desejo de as ver para lá do perceptível. A Verdade é que tanto  Álvaro de Campos como Ricardo Reis e Alberto Caeiro têm percurso, biografia datada, características próprias e por isso, à luz de uma comparação doutrinal, é como se tivessem personalidade jurídica. Tanto Bernardo Soares como este misterioso Barão de Teive confundem-se com Fernando Pessoa na mais elementar das características – o medo. Mesmo em algumas notas biográficas que se inferem da descrição, das atitudes e questões atribuídas a ambos, ressalta a vontade, de quem analisa, de perceber um pouco mais do Fernando escondido atrás de Pessoa e não do Fernando criador de outras entidades. Sem esquecer que o primeiro heterónimo surge aos seis anos de idade, Chevalier de Pas, a tentação de uma análise diacrónica comportamental é muita. Como se cedo este génio se tivesse começado a desfragmentar dos seus “eus”, diferentes entre si, ficando na gaveta do mistério as dúvidas de identidade de outros fragmentos da sua alma. Pessoa conseguiu dar vida completa e distinta aos seus heterónimos, e deambulou na liberdade de ir sendo naqueles dois ditos semi-heterónimos. Fernando ortónimo seria, assim, o visível, o fenómeno, Fernando heterónimos a desfragmentação da criação pura, Fernando semi-heterónimos o Númeno da sua essência.



A Educação do Estóico é um livro soberbo, uma espécie de diário, diria. “ Manuscrito encontrado numa gaveta.” “ O único manuscrito do Barão de Teive – a impossibilidade de fazer arte superior”, considerado uma obra-por-ser. Não se sabe se este era o titulo definitivo, não há mais nenhuma publicação atribuída ao Barão, muito embora se encontre uma ou outra referência, textos soltos, e cartas. Numa carta escrita  a João Gaspar Simões em Julho de 1932 intui-se que o Barão poderia vir a ser um heterónimo. Curioso também é o facto de algumas passagens dos manuscritos encontrados serem consideradas mais coerentes se ditas por Bernardo Soares. Este pequeno livro é uma soma de pensamentos, colocados pela ordem e pela coerência analisada pelos autores da edição, com base em vários estudos. Talvez mais uma peça para que um dia se possa, mais do que entender, sorrir a Fernando.



Estas páginas não são a minha confissão senão a minha definição. Sinto, ao começar a escrevê-la, que a poderei escrever com algum modo de verdade” in a Educação do Estóico.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Pequeno Léxico de Palavras Mal Entendidas: A Luz e a Obscuridade


"Para Sabina, viver significa ver. A visão encontra-se limitada por duas fronteiras: uma luz de tal modo intensa que nos cega e uma obscuridade total. Talvez seja daí que lhe vem a repugnância por todos os extremismos. Os extremos marcam a fronteira para lá da qual não há vida e, tanto em arte como em política, a paixão dos extremismos é um desejo de morte disfarçado.
Para Franz, a palavra luz não evoca a imagem de uma paisagem suavemente iluminada pelo sol, mas a fonte de luz enquanto tal: uma lâmpada, um projector. Vêm-lhe à cabeça as metáforas habituais: o sol da verdade, o brilho da razão, etc.
É atraído pela luz como também o é pela obscuridade. Nos dias que correm, quem apaga a luz para fazer amor arrisca-se a cair no ridículo; como ele tem consciência disso, deixa sempre uma luzinha acesa por cima da cama. No entanto, no momento em que penetra em Sabina, fecha os olhos. A volúpia que o invade exige a obscuridade. Uma obscuridade pura, absoluta, sem imagens nem visões, uma obscuridade sem fim, sem fronteiras, uma obscuridade que é o infinito que cada um de nós tem em si (sim, porque quem busca o infinito só tem de fechar os olhos!).
No momento em que sente a volúpia espalhar-se-lhe pelo corpo, Franz dissolve-se no infinito da sua obscuridade, ele próprio se transforma em infinito. Mas quanto mais um homem cresce na sua obscuridade interior, mais diminuído fica na sua aparência física. Um homem de olhos fechados não é senão um rebotalho de si próprio. Como não quer assistir a isso, Sabina também fecha os olhos. Para ela, a obscuridade não é o infinito. Fecha os olhos porque quer separar-se do que está a ver, porque quer negá-lo. Recusa-se a ver."

in A insustentável leveza do ser, Milan Kundera

porque há livros que são de releitura obrigatória.

a-ver-livros: Olhar com olhos de ver

A parte de que mais gosto neste quadro, digo-o já assim de chofre, é a parte que não se vê. A parte que apenas se descobre quando se faz perguntas, quando se quer saber. Quando se questiona quem pintou. Quem está na tela. Onde é. Que faz ali.

Provavelmente é a minha formação de jornalista e a minha sede de saltar para dentro de um bom enredo que assim me empurram a ver/ler. Se for uma espécie de defeito que tenha ao menos a virtude de me proporcionar histórias como a que hoje partilho aqui.

J. Theodore Johnson, o pintor que assina este “Interior in Chicago”, ficou conhecido pelos murais de representação histórica que pintou nos correios de Oak Park, precisamente em Chicago, lá pelos finais dos anos 30. Foi aluno de Artes, foi professor de Artes. Nasceu em 1902, morreu em 1963. Mal aparece nos canhenhos das artes internacionais, menos ainda na internet. E pronto.

Ela? Ela está sentada num quarto de um hotel, já sabemos que em Chicago, livro nas mãos. Quase se sente o calor que emana do aquecedor junto à janela, em laranjas, amarelos e castanhos reconfortantes, contrastando com o frio que se adivinha do outro lado da janela sobre a cidade dos mafiosos. O casaco de peles, atirado ali perto, também parece quentinho.

Aprofunda-se a pesquisa. A mulher é Barbara Salmon Johnson, mulher do pintor. Escava-se mais um pouco. Tinham acabado de casar-se em Nova Iorque, corria Dezembro de 1931, e o casal chegara a Chicago para a inauguração de uma exposição dele.

E agora este quadro conta uma história. Encontra-se sensualidade no vermelho dos lábios, o mesmo da capa do livro que lê. E tudo fala de amor quando se percebe que é ainda uma lua-de-mel que está ali retratada. Ele, abençoado, foi mais um daqueles homens fascinantes que sabem amar mulheres que amam ler.



"Escreve, se puderes, coisas que sejam tão improváveis como um sonho, tão absurdas como a lua-de-mel de um gafanhoto e tão verdadeiras como o simples coração de uma criança"
Ernest Hemingway

domingo, 22 de janeiro de 2012

Miau: porque hoje é domingo

De Manuel António Pina se diz que "ama gatos como ama as letras".
De Manuel António Pina é o poema que se segue.
Porque esta ilustração da Nicoletta Costa mo fez recordar.


"Teoria da Composição:
a pequena gata (1)
A pequena gata fitava cada um dos meus gestos
com os olhos muito atentos tentando entender,
absolutamente parada, a cabeça tensa,
as orelhas espetadas como se pudesse ouvir
cada palavra que eu escrevia
no papel; que coisa veria
ela, que sentido a prenderia?
Os gatos mais velhos e os homens mais novos
não se interessam por coisas tão fúteis."
(in "Os Livros") in "Poemário Assírio & Alvim 2012"

Clube de Leitores passou nas duas categorias à fase seguinte

Ficam as votações finais da primeira fase do concurso levado a cabo pelo blogue Aventar (os melhores do ano):


(para visualizar, carregar na foto)

Amanhã começa a grande final! Contamos com todos...