sábado, 16 de abril de 2011
Orlando e o amor à Literatura

"(...) Orlando, sentado sozinho a ler, era um homem nu."
Excerto de uma passagem que professa o amor do nosso protagonista pela Literatura e de como, ao ler, eclipsam-se os nove acres de pedra que formam sua casa, desaparecem seus cavalos, cães e criados; resta ele, Orlando, nu perante as páginas do livro.
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Comparar-te a um Dia de Verão?

'Comparar-te a um dia de verão?
Há mais ternura em ti, ainda assim:
um maio em flor às mãos do furacão,
o foral do verão que chega ao fim.
Por vezes brilha ardendo o olhar do céu;
outras, desfaz-se a compleição doirada,
perde beleza a beleza; e o que perdeu
vai no acaso, na natureza, em nada.
Mas juro-te que o teu humano verão
será eterno; sempre crescerás
indiferente ao tempo na canção;
e, na canção sem morte, viverás:
Porque o mundo, que vê e que respira,
te verá respirar na minha lira.'
quinta-feira, 14 de abril de 2011
LEV é o peso da literatura em Matosinhos
A Câmara Municipal de Matosinhos vai organizar a 6ª edição do LEV - Literatura em Viagem, um festival internacional de literatura, que se irá realizar entre os dias 16 e 19 de Abril, na Biblioteca Municipal Florbela Espanca.
Este evento, que pretende contribuir para uma reflexão em torno da importância que a literatura, em interacção com outros domínios da sociedade, assume nos dias de hoje, reúne em torno da literatura de viagens, importantes escritores e personalidades, provenientes dos quatro cantos do mundo, num encontro que promove o livro, a leitura e o diálogo intercultural.
Apesar da conjuntura de crise nacional e internacional e num momento particularmente difícil da economia portuguesa e europeia, a Câmara Municipal de Matosinhos mantém forte sua aposta na programação cultural.
Neste sentido, o LeV perspectiva mais um cartaz de excelência!
Mais info no site oficial da C.M. de Matosinhos
O Abril de Orlando...
Leio a dedicatória e os agradecimentos às pessoas que Virginia enumera exaustivamente. Arrisco dizer que seria mais fácil saldar tudo em tópicos...
Antes mesmo de dar início à aventura, espreito a contra-capa:
'Homem e em seguida mulher, mas sobretudo homem e mulher, o Orlando de Virginia Woolf inspira-se em Vita Sackville-West, que foi sua amiga e herdeira de uma das principais famílias de Inglaterra.
Como escreveu Monique Nathan, «tesoureiro ou embaixador, perseguidor de raparigas ou musa de espíritos apaixonados pela beleza, melancólico ou exaltado, trocando as calças pelas saias ou refugiando- -se na sua tebaida do campo para escrever o seu poema, a sua natureza dupla presenteia-o não com duas nem com dez, mas com cem vidas diferentes».'
Por hoje é isto que deixo. Com esperança de convidar mais alguns à leitura e discussão.
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Ler no Feminino e as Questões de Género
Retirado do Dicionário de Crítica Feminista, organizado por Ana Gabriela Macedo e Ana Luísa Amaral e publicado pelas Edições Afrontamento:
"Ler/ Mulher - Ler enquanto mulher e ler como mulher constituem dois projectos diferentes da crítica literária feminista (Wright, 1992: 371). A partir dos finais dos anos 1960 as mulheres têm vindo a (re)ler literatura e, em particular, os textos escritos por autores/ homens, a partir de perspectiva feminista, evidenciando a misoginia inerente a grande parte da nossa herança cultural e a sua inadequada representação das mulheres. Por outro lado, o "ler mulher", ou ler como mulher tem significado o resgatar do silêncio de muita literatura omitida, ou deliberadamente esquecida, escrita por mulheres, chamando a atenção para a sua representação peculiar do universo feminino e da experiência feminina. (...)"

Ana Barradas em publicação da Antígona traz para a bibliografia portuguesa, este livro que constitui uma primeira incursão num domínio, a bem dizer, ocultado: o das mulheres que ao longo da História fizeram história, ao insurgirem-se simultaneamente contra o poder político e contra as inaceitáveis e específicas limitações que a lei e os costumes sempre impuseram às mulheres para impedir a sua autonomia como seres pensantes. São 704 esboços biográficos de mulheres de vários tempos e nacionalidades que lutaram em prol da igualdade de direitos na esfera pública e privada.
terça-feira, 12 de abril de 2011
Mocidade, Joseph Conrad
'Isto só podia acontecer na Inglaterra, onde mar e homens se misturam, digamos - onde o mar entra pela vida da maior parte dos homens e os homens sabem qualquer coisa ou tudo sobre o mar através do seu lazer, das viagens ou do pão de cada dia.'
Assim começa esta maravilhosa narrativa.
Aníbal Fernandes, tradutor e autor da introdução deste livro ('Gato Maltês' da Assírio), conclui o seguinte:
"Compramos um livro de Conrad e o que retemos não é aquela onda gigantesca que partiu tabiques e arrastou marinheiros; não é aquele pôr-do-sol ou aquele incêndio em pleno mar; é antes a grandeza que o homem revela a enfrentar a onda, em ser corajoso, bom, fiel, num universo indiferente e perigoso." "Ter coragem", "ser bom", "ser fiel", expressões simplificadoras e moralizantes de uma virtude mais oculta e fugidia; pois se há "coragem" nas acções criadas por Conrad, se há "ser bom" e "ser fiel", nunca se lhes pega o triunfo exemplar na batalha contra as forças adversas, antes a redutora evidência de um esforço inútil, quando não da morte, que será sempre destituída de heroísmos, quando muito lamento de outros tempos, os da mocidade — únicos poupados pelo Mal do mundo."

É uma história de ironias. Um jovem leva a Oriente uma carga de carvão, numa embarcação velha. Está determinado a conquistar o mundo pelos mares (ou pela imaginação?), mas o navio arde em plena viagem.
Os seus sonhos do Oriente e as expectativas que criou parecem desvanecer-se perante a catástrofe... No entanto, acaba por chegar a terra, como naufrago. Exausto, adormece na praia, perante a contemplação do novo continente.
EU já FUI à bolA
[1] “Um tricolor em Roma” para O Pasquim a 26-06-1969, na íntegra: http://www.chicobuarque.com.br/texto/artigos/artigo_um_tricolor.htm
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Conquista
'Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!'
domingo, 10 de abril de 2011
Orlando - uma biografia
Orlando tem as pernas mais bonitas do mundo. E não interessa se são de homem ou de mulher. Porque, na verdade, são de ambos.
Orlando nasce homem e, a meio da sua vida, acorda no corpo de uma mulher. E é delicioso emocionarmo-nos com as paixões virtuosas de Orlando (M) ou com as problemáticas de tornozelos de Orlando (F). Vive cerca de 300 anos e acompanhamos, em jeito de biografia, esta personagem complexa e envolvente que Woolf usa para questionar uma série de construções estabelecidas. Irónico e denso, Orlando é uma brincadeira sobre as construções de género, sobre muitas épocas da história inglesa, sobre o papel das biografias, sobre a escrita, sobre o amor.
Acessível em formato “bolso” e “económico”, está publicado pela Relógio d’ Água na Biblioteca Editores Independentes.
E, em jeito de provocação inspiradora (espero!), escolhi o livro também porque é preciso ler e discutir autoras. Porque, como dizia Virginia (também em tom de provocação), “the history of men's opposition to women's emancipation is more interesting perhaps than the story of that emancipation itself.”
Até já.

Quem é Catarina Príncipe?
Cheguei a ela através do Pedro Ferreira, outro colaborador activo aqui do blogue. Disse-me que seria 'porreiro' falar com a Catarina, que ela gosta de ler e falar de livros...
E assim foi.
Mais uma vez, lá surgiu o convite tímido. A ver se cola, palavras escolhidas com algum cuidado. E sim, convite aceite!
Nas mensagens que fomos trocando, percebemos que tínhamos alguns amigos em comum. Falamos deles, falamos do blogue, falei-lhe do que fazia... E por aí fora!

Então, mas afinal, quem é Catarina Príncipe?
Cidadã activista e 'artivista' em várias frentes. Estudou teatro no Porto. Partiu para Lisboa, onde agora estuda Artes e Culturas Comparadas. Entre as muitas coisas que faz, lê! Ou por simples prazer, ou porque tem que estudar. Assume-se muito faladora e privilegia longas discussões... Não tem nenhum percurso de vida trilhado. Estudos de género é a sua área de interesse, mas vê-se a fazer muitas coisas. Sobretudo coisas artísticas mas também o seu estudo. Despede-se com uma longa gargalhada, dizendo: 'Gosto de vinho tinto, de praia e de piercings no nariz!!'
A Catarina vai escolher o livro de leitura conjunta do mês de Abril! Fiquem atentos aos próximos dias...