sábado, 16 de abril de 2011

Roberto Benigni dá aula sobre poesia...

Orlando e o amor à Literatura



"(...) Orlando, sentado sozinho a ler, era um homem nu."

Excerto de uma passagem que professa o amor do nosso protagonista pela Literatura e de como, ao ler, eclipsam-se os nove acres de pedra que formam sua casa, desaparecem seus cavalos, cães e criados; resta ele, Orlando, nu perante as páginas do livro.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Comparar-te a um Dia de Verão?


'Comparar-te a um dia de verão?
Há mais ternura em ti, ainda assim:
um maio em flor às mãos do furacão,
o foral do verão que chega ao fim.
Por vezes brilha ardendo o olhar do céu;
outras, desfaz-se a compleição doirada,
perde beleza a beleza; e o que perdeu
vai no acaso, na natureza, em nada.
Mas juro-te que o teu humano verão
será eterno; sempre crescerás
indiferente ao tempo na canção;
e, na canção sem morte, viverás:
Porque o mundo, que vê e que respira,
te verá respirar na minha lira.'

quinta-feira, 14 de abril de 2011

LEV é o peso da literatura em Matosinhos


A Câmara Municipal de Matosinhos vai organizar a 6ª edição do LEV - Literatura em Viagem, um festival internacional de literatura, que se irá realizar entre os dias 16 e 19 de Abril, na Biblioteca Municipal Florbela Espanca.
Este evento, que pretende contribuir para uma reflexão em torno da importância que a literatura, em interacção com outros domínios da sociedade, assume nos dias de hoje, reúne em torno da literatura de viagens, importantes escritores e personalidades, provenientes dos quatro cantos do mundo, num encontro que promove o livro, a leitura e o diálogo intercultural.
Apesar da conjuntura de crise nacional e internacional e num momento particularmente difícil da economia portuguesa e europeia, a Câmara Municipal de Matosinhos mantém forte sua aposta na programação cultural.
Neste sentido, o LeV perspectiva mais um cartaz de excelência!



Mais info no site oficial da C.M. de Matosinhos

O Abril de Orlando...

'Orlando - uma biografia' é livro de formato pequeno, facilmente transportável à mão ou na carteira de uma senhora. Companheiro ideal na espera de uma fila longa ou num transporte público.

Leio a dedicatória e os agradecimentos às pessoas que Virginia enumera exaustivamente. Arrisco dizer que seria mais fácil saldar tudo em tópicos...

Antes mesmo de dar início à aventura, espreito a contra-capa:

'Homem e em seguida mulher, mas sobretudo homem e mulher, o Orlando de Virginia Woolf inspira-se em Vita Sackville-West, que foi sua amiga e herdeira de uma das principais famílias de Inglaterra.
Como escreveu Monique Nathan, «tesoureiro ou embaixador, perseguidor de raparigas ou musa de espíritos apaixonados pela beleza, melancólico ou exaltado, trocando as calças pelas saias ou refugiando- -se na sua tebaida do campo para escrever o seu poema, a sua natureza dupla presenteia-o não com duas nem com dez, mas com cem vidas diferentes».'

Por hoje é isto que deixo. Com esperança de convidar mais alguns à leitura e discussão.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ler no Feminino e as Questões de Género

Porque o livro escolhido para este mês pede este complemento de leituras e porque a Catarina Príncipe lançou o desafio aqui fica o meu contributo, pequeno tendo em conta que tanto em Portugal já se tem editado nesta área de estudo e imensa literatura possível em edições internacionais.

Retirado do Dicionário de Crítica Feminista, organizado por Ana Gabriela Macedo e Ana Luísa Amaral e publicado pelas Edições Afrontamento:
"Ler/ Mulher - Ler enquanto mulher e ler como mulher constituem dois projectos diferentes da crítica literária feminista (Wright, 1992: 371). A partir dos finais dos anos 1960 as mulheres têm vindo a (re)ler literatura e, em particular, os textos escritos por autores/ homens, a partir de perspectiva feminista, evidenciando a misoginia inerente a grande parte da nossa herança cultural e a sua inadequada representação das mulheres. Por outro lado, o "ler mulher", ou ler como mulher tem significado o resgatar do silêncio de muita literatura omitida, ou deliberadamente esquecida, escrita por mulheres, chamando a atenção para a sua representação peculiar do universo feminino e da experiência feminina. (...)"


Simone Beauvoir apresenta-nos um texto essencial para o feminismo contemporâneo. Um dos mais importantes ensaios feministas de sempre, O Segundo Sexo parte do princípio fundamental de que existe na sociedade um desequilíbrio estrutural e de poder entre os sexos. O masculino é tratado como referencial, neutro; o feminino é o "outro", definido sempre em relação ao primeiro. A partir desta premissa, Simone de Beauvoir desenvolve os seus argumentos recorrendo à biologia, à filosofia, à literatura e à cultura. Destaca-se a limpidez do seu discurso, que se pretende que seja acessível a todos os leitores e a actualidade do tema. Editado em Portugal pela Quetzal em dois volumes, que neste momento se encontram esgotados mas já em plano de reedição.


Ana Barradas em publicação da Antígona traz para a bibliografia portuguesa, este livro que constitui uma primeira incursão num domínio, a bem dizer, ocultado: o das mulheres que ao longo da História fizeram história, ao insurgirem-se simultaneamente contra o poder político e contra as inaceitáveis e específicas limitações que a lei e os costumes sempre impuseram às mulheres para impedir a sua autonomia como seres pensantes. São 704 esboços biográficos de mulheres de vários tempos e nacionalidades que lutaram em prol da igualdade de direitos na esfera pública e privada.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Mocidade, Joseph Conrad

Li 'Mocidade' ainda antes da grande obra de Conrad, 'O coração das Trevas'.

'Isto só podia acontecer na Inglaterra, onde mar e homens se misturam, digamos - onde o mar entra pela vida da maior parte dos homens e os homens sabem qualquer coisa ou tudo sobre o mar através do seu lazer, das viagens ou do pão de cada dia.'

Assim começa esta maravilhosa narrativa.

Aníbal Fernandes, tradutor e autor da introdução deste livro ('Gato Maltês' da Assírio), conclui o seguinte:

"Compramos um livro de Conrad e o que retemos não é aquela onda gigantesca que partiu tabiques e arrastou marinheiros; não é aquele pôr-do-sol ou aquele incêndio em pleno mar; é antes a grandeza que o homem revela a enfrentar a onda, em ser corajoso, bom, fiel, num universo indiferente e perigoso." "Ter coragem", "ser bom", "ser fiel", expressões simplificadoras e moralizantes de uma virtude mais oculta e fugidia; pois se há "coragem" nas acções criadas por Conrad, se há "ser bom" e "ser fiel", nunca se lhes pega o triunfo exemplar na batalha contra as forças adversas, antes a redutora evidência de um esforço inútil, quando não da morte, que será sempre destituída de heroísmos, quando muito lamento de outros tempos, os da mocidade — únicos poupados pelo Mal do mundo."


É uma história de ironias. Um jovem leva a Oriente uma carga de carvão, numa embarcação velha. Está determinado a conquistar o mundo pelos mares (ou pela imaginação?), mas o navio arde em plena viagem.

Os seus sonhos do Oriente e as expectativas que criou parecem desvanecer-se perante a catástrofe... No entanto, acaba por chegar a terra, como naufrago. Exausto, adormece na praia, perante a contemplação do novo continente.

EU já FUI à bolA


Eu já fui à bola... e fui... exactamente: três vezes!
Uma vez em Coimbra, no tempo em que os animais falavam e eu trabalhava na RUC... 107.9FM, sempre no ar!
Assim que fui, diz que a trabalho, numa tarde de sol de Sábado ou seria de Domingo?, um Académica qualquer coisa... com a Académica a subir nesse dia à primeira divisão, com adeptos a invadir felizes o relvado, com jogadores estáticos de tão incrédulos... sendo que, anos depois, enquanto ouvia, do meu bom amigo Fernando, a descrição da sua alegria nesse dia, eu pensava apenas e sem certezas, tudo me parece demasiado familiar, acho que também lá estava...

Depois entrei no Estádio Municipal de Braga, agora mais conhecido como “A Pedreira”, ou não tivesse tido uma pedreira de verdade como antecessora.Estive no jogo inaugural, um Sporting de Braga com uma qualquer equipa espanhola.
Deste jogo guardo uma agradável caminhada a pé até ao estádio, apenas porque agradável a conversa, um barulho de trovões em sincronia, obtido através de uns insufláveis cilíndricos de plástico que, em substituição das palmas das mãos eram, em termos sonoros, mais eficazes que os caixotes de lixo dos STOMP, e eu a entrar no estádio e a sentir-me como se entrasse num navio negreiro pronto a zarpar das Áfricas para as Américas.
Até que o jogo começou e quinze minutos depois... já nem a arquitectura do nosso segundo prémio Pritzker conseguia desembaraçar-me do tédio.

O último jogo da trilogia foi o Portugal-Grécia, a final do Europeu de 2004, no Estádio da Luz. Neste caso lembro-me até resultado... bem, em bom rigor não me lembro do resultado, lembro-me apenas que perdemos, lembro-me do Rui Costa triste no meio do campo, estavam todos tristes e, sem saber explicar porquê, a minha atenção fixou-se apenas na tristeza do Rui Costa. Mas antes disso lembro-me de um casal de velhinhos a subir as escadas, desorientados entre corredores e cadeiras, à procura dos números que constavam nos seus bilhetes, andavam quase de braço dado, também devia ser amor mas, inquestionável, era a necessidade de se susterem um ao outro. A senhora com um cachecol de Portugal, o senhor com uma bandeira de Portugal pintada em plena e enrugada testa, pelo que imediatamente imaginei um neto pintor, afectuoso e divertido a colorir a verde, amarelo e vermelho os mais de quatro dedos de testa daquele avô.

E quando penso em futebol penso sempre em paixões assolapadas, insubordinadas, como a do Lobo Antunes pelo seu Benfica, a do Buarque pelo tricolor a que simplesmente chama pelo diminutivo carinhoso de Flu, a do Joaquín Sabina pelo seu Atlético de Madrid, ou apenas Aleti, arredondando o nome como ele arredonda.

O Lobo Antunes dizia que quando, na guerra em Angola, jogava o Benfica, a guerra simplesmente parava, sem mais!, direccionavam os altifalantes para o mato e impunha-se o sossego, coisa que obviamente o perturbava, dada a falta de lógica do conflito, talvez intimamente pensando, como era possível fazer a guerra com outros adeptos do seu Benfica.

Enquanto Chico escrevia, do seu exílio em Roma, ai a saudade!, no ano de 1969: “…é muito fácil ser rubro-negro. Fácil de mais. É como ser a favor do sol no meio do deserto, ou comemorar o Dia da Árvore no coração da Amazônia. Aliás, nunca existiu um flamenguista. Flamengar é verbo imperfeito que só se conjuga no plural. Por exemplo: E advogo, tu bates o ponto, ele mata mosquito; nós flamengamos, vós flamengais, eles flamengam. Mas torcer pelo Fluminense, modéstia à parte, requer outros talentos. Precisa saber dançar sem batucada. O tricolor chora e ri sem ninguém por perto. Ele merece um campeonato, ele merece.”[1]

Depois, para o Atlético de Madrid, Sabina escreveu em hino “Aquí me pongo a contar, motivos de un sentimiento, que no se puede explicar... Para entender lo que pasa, hay que haber llorado dentro del Calderón, que és mi casa...” acrescentando ao cantar: “Guerra al merengue arrogante, a mí me gustam las rayas, de los colchones de antes...”

Até o meu pai que não gostava de futebol e ao qual nunca vi prestar especial atenção a um jogo, não era indiferente ao fenómeno, respondendo, ainda hoje não sei se a brincar ou se a sério, agora que nunca mais vou saber mesmo, que era do Belenenses.

E eu, com todos estes mais que bons exemplos, pois que, de cada um tenho um pedaço dentro, não consigo ser feliz com o futebol e olhem que eu já tentei!

Talvez por inveja... confesso...

É que as pessoas parecem felizes, genuinamente felizes, a festa de um golo, os imprevisíveis saltos das cadeiras, os abraços, os sorrisos...

Coisa feia a inveja... mas tentei...

E... não me é natural nem me é fácil aprender ou compreender... é que nem mesmo à ópera precisei de ir três vezes para me encantar...

Pelo que concluo que o futebol é uma felicidade que me está vedada... ou que, em jeito de consolo... é-me uma infelicidade impossível!

E a culpa desta crónica é da tristeza, porque Benfiquista, do meu irmão e da alegria do audaz rapaz que fundou este clube de leitores... portanto, para ti também, meu insubordinado Rodrigo.
 
Raquel Serejo Martins




[1] “Um tricolor em Roma” para O Pasquim a 26-06-1969, na íntegra: http://www.chicobuarque.com.br/texto/artigos/artigo_um_tricolor.htm

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Conquista

Dedicado a alguém que eu cá sei...

'Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.


Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!'

domingo, 10 de abril de 2011

Orlando - uma biografia

Orlando tem as pernas mais bonitas do mundo. E não interessa se são de homem ou de mulher. Porque, na verdade, são de ambos.

Orlando nasce homem e, a meio da sua vida, acorda no corpo de uma mulher. E é delicioso emocionarmo-nos com as paixões virtuosas de Orlando (M) ou com as problemáticas de tornozelos de Orlando (F). Vive cerca de 300 anos e acompanhamos, em jeito de biografia, esta personagem complexa e envolvente que Woolf usa para questionar uma série de construções estabelecidas. Irónico e denso, Orlando é uma brincadeira sobre as construções de género, sobre muitas épocas da história inglesa, sobre o papel das biografias, sobre a escrita, sobre o amor.

Acessível em formato “bolso” e “económico”, está publicado pela Relógio d’ Água na Biblioteca Editores Independentes.

E, em jeito de provocação inspiradora (espero!), escolhi o livro também porque é preciso ler e discutir autoras. Porque, como dizia Virginia (também em tom de provocação), “the history of men's opposition to women's emancipation is more interesting perhaps than the story of that emancipation itself.”

Até já.

Quem é Catarina Príncipe?

Foi complicado arrancar alguma informação à Catarina. Diz não ter muito jeito a 'analisar-se!'

Cheguei a ela através do Pedro Ferreira, outro colaborador activo aqui do blogue. Disse-me que seria 'porreiro' falar com a Catarina, que ela gosta de ler e falar de livros...

E assim foi.

Mais uma vez, lá surgiu o convite tímido. A ver se cola, palavras escolhidas com algum cuidado. E sim, convite aceite!

Nas mensagens que fomos trocando, percebemos que tínhamos alguns amigos em comum. Falamos deles, falamos do blogue, falei-lhe do que fazia... E por aí fora!


Então, mas afinal, quem é Catarina Príncipe?

Cidadã activista e 'artivista' em várias frentes. Estudou teatro no Porto. Partiu para Lisboa, onde agora estuda Artes e Culturas Comparadas. Entre as muitas coisas que faz, lê! Ou por simples prazer, ou porque tem que estudar. Assume-se muito faladora e privilegia longas discussões... Não tem nenhum percurso de vida trilhado. Estudos de género é a sua área de interesse, mas vê-se a fazer muitas coisas. Sobretudo coisas artísticas mas também o seu estudo. Despede-se com uma longa gargalhada, dizendo: 'Gosto de vinho tinto, de praia e de piercings no nariz!!'

A Catarina vai escolher o livro de leitura conjunta do mês de Abril! Fiquem atentos aos próximos dias...