sábado, 7 de fevereiro de 2015

INJUSTIÇAS

E para escrever como gosto basta-me um pedaço de raiva, um pedaço sem idade e de tamanho qualquer. Tem vezes que não o agarro, não não te quero a ti, não te dou esse prazer, vou procurar outra pessoa. E foge-me, corre para longe, malandro, nunca mais o alcanço. Sem raiva sou menos que um bicho preso, preso dentro das palavras que não se soltam. Outras vezes é tanta tanta a raiva não a consigo descrever também não preciso pego na caneta neste caso no teclado perdão desculpem-me no papel só o lápis nunca caneta pego-lhes e começo a escrever escrevo tanto a mão os dedos dormentes velocidade insuficiente não me acompanham a raiva sinto tudo em mim tudo à minha a volta a querer ser escrito tal como agora as coisas falam-me tudo ganha vida não consigo explicar bem nem bem nem mal o amanhã torna-se hoje o ontem foi futuro e agora um gafanhoto gigante é incrível a mão a falhar-me sentimentos confundem-se por vezes engano-me pudera tal não é a velocidade letras a maiss outras vezes a mens não consigo controlar que estranho que esquisito não consigo parar não há vírgulas deixa de haver vírgulas não quero vírgulas quero que leiam isto tudo seguido e a minha professora de Português a queixar-se sempre não há dia que não se queixe Gonçalo exageras nas vírgulas outras vezes Gonçalo o que é isso não pões vírgulas assim não vais longe não a entendo nunca contente ninguém contente comigo e agora a raiva quase no pico surgiu-me assim apareceu-me vendada olhos de estátua eu doente fico sem orelhas não vou rever este texto vai ficar tal como o escrevi não há nada para emendar tudo se vai não me querem assim só eu me quero assim nas calças o isqueiro a queimar-me acendeu-se sozinho mentira mãe calma não tenho isqueiro nunca tive olho-me para dentro os olhos viram-se vejo as entranhas o sangue rápido demais tudo em ebulição fico preocupado é melhor parar não consigo de vez tem que ser aos poucos, uma vírgula já me veio é bom sinal, olha outra parece que estou recuperado, e mais uma, agora, de volta ao normal, infeliz como sempre.

Gonçalo Naves


Foto tirada daqui: http://devagarsevaimaislonge.blogspot.pt/2011/12/caminhos-da-vida.html

Bai'má Benda: Os amigos som prás existenciais...

Os amigos som prás existenciais...

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Foto frase do dia: Lev Tolstoi

Estantes de sonho: onde arrumar os miúdos

Na 4.ª prateleira é capaz de não ser assim tão alto...
 
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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Foto frase do dia: Robin Williams

a-ver-livros: ver ou não ver

Vejo o que a cegueira 
mostra
no perfume do teu toque
aroma pele
amálgama 
amor tentacular
visão perfeita do que pode ser
mãos boca peito
ao pé do sonho
colo vertigem

Vejo na sombra
lucidez clarividência
que o olhar 
não teve

Ana Almeida

* para saber mais sobre Rick Beerhorst
siga o link www.studiobeerhorst.com

Nous sommes comme des livres...

Desconheço autoria
 
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Poesia em matéria fria: Ariano Suassuna

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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Gonçalo Viana de Sousa - O Flâneur das Sensações




Meu querido José,

Como prometido, segue, agora sim, a primeira parte deste meu testamentário texto.
Não lhe sei explicar o porquê de lhe chamar assim, mas também não almejo outro adjectivo que não este. Coisas do demo, jovem romântico das regiões longínquas!
O título do que mais à frente segue vem de uma música do senhor Sinatra. "Change Partners", eis o nome de tal música.
(...) Diga à Clara que já li, melhor, o Efraim leu-me o mail que me enviou faz um tempo, pelo que pude saber.
Efraim atacou-me como um persa em terras de Babilónia. Tens de rresponderrrr, Viana de Sousa. Serrr ludita porrrr teimosia é azedo!
Pois que quer que eu faça, caro jovem frenético? Não me dou com as virtualidades, bem o sabe.
Enfim. Que a nossa amiga Clara saiba que a estimo como as noites de luar e estrelas, pois tão fiel leitora só merece o mel das coisas belas, inocentes e puras. (Diga-lhe isto quando falar com ela, não vá pensar que me tornei aristocrata fin de siècle!
Segue, pois, a narrativa musical e ingavetável (desta feita, deixe-se de engavetamentos, jovem romântico das alturas abissais!).
Abrraço terrrno do Efraim.
Abraço apertado deste

Seu

Gonçalo V. de S.


A noite foi um instante que marcou, para sempre, aquele momento que foi e é a minha vida, num tempo já distante e esquecido.
Era uma noite de Outono, fresca, estrelada e igual a tantas outras. Papa John levou-me no seu Studebaker Commander Regal, o rocket, vermelho e veloz, a uma sala de espectáculos enorme, elegante. Boy, dizia ele, esta noite jamais se apagará da tua memória. Depois de veres e ouvires o que se irá passar aqui, a tua vida será diferente. A música, esta nova vaga melodiosa, vai levar-te por caminhos inesperados. Vamos conhecer o que está para ser revelado, boy!
A sala era moderna, airosa, elegante. O som propagava-se como a brisa que se sente nos campos do Mondego em tardes de Maio. O ambiente era primaveril e fresco, belo, nume, perfumado.
Os artistas eram conhecidos do público, mas para Papa John e para mim eram completos estranhos estrangeiros. E nós turistas.
O espectáculo começara. O homem da direita, elegantíssimo, de viola em riste, propunha acordes inacreditáveis, de uma suavidade exótica e azul, que trazia nos lábios sabores de tardes de lusco-fusco apaixonadas, de panamás claros e luminosos, acompanhados de um mar ou de um morro de perder de vista. Logo depois, o homem da esquerda, igualmente elegante, ambos de laço negro e penetrante, sussurra promessas de noites silenciosas e apaixonantes, tendo como únicas testemunhas as luminosas estrelas e o suave embalar das ondas do mar. Foi assim que vi e ouvi pela primeira vez António Carlos Jobim e Frank Sinatra. Foi nessa noite que a minha vida mudou para sempre. O encontro de ambas as vozes e da orquestra que, suave e doce, acompanhava o velejar destes dois bardos, levou-me em viagens de uma dulceza e justiça inacreditáveis. Tudo poderia ser belo, ao som daquela melodia que o senhor Sinatra apresentava como Bossa Nova. O cigarro do senhor Sinatra parecia um prolongamento da sua existência. O fumo exalado e expirado era um bálsamo diáfano e inebriante. Correntes de sensações boas, belas e suaves saíam de cada sílaba, de cada palavra, de cada entoação, tão misteriosa quanto definitiva.
O tema da música foi o pretexto para o começo do resto da minha vida. O resto não interessa. Mas este episódio é tudo. Esta noite foi A Noite. E isso é insubstituível.
O senhor Sinatra muito jovem, mais jovem do que verdadeiramente era. O senhor Jobim, meu primo afastado, vim a saber mais tarde, criava melodias que deslizavam pelas horas lunares adentro. Jamais lutar contra a lua e o seu poder hipnótico.
A noite ia alta, quando a música destes dois senhores que seriam tão importantes na minha vida me invadiu como uma revelação boa, bela e justa. Perante a suavidade daquela melodia quem seria capaz de falar ou escrever ou em pensar em algo que não fosse um local escondido, repleto de sol e de bom gosto, com coisas líquidas como o amor e o carinho e o desejo amoroso?
Que noite aquela! A voz do senhor Sinatra fazendo coro com o dedilhar de meu primo Jobim.
Depois dessa noite, a minha vida começara

a-ver-livros: de passeio

Os pés de pedra
no caminho frio
e a cabeça quente - há um poema a carburar 
aurícula acima
ventrículo abaixo
mas não chega aos pés
espreita no piscar de olhos
à magnólia que demora
ao gato que foge
gelado e branco
à sombra do tronco
que o picudo corrói


Ana Almeida

* para saber mais sobre a ilustradora neo-zelandesa Sarah Wilkins
siga o link http://www.sarahwilkins.net/

Amanhã é possível! Em Vila Nova de Gaia



Foto frase do dia: Virginia Woolf

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Das alegorias, Franz Kafka

Das alegorias

Muitos reclamam que as palavras dos sábios são sempre meras alegorias e de nenhuma utilidade para a vida do dia-a-dia, a qual é a única vida que temos. Quando o sábio diz: «Vai para ali», não quer dizer que deveríamos passar para um lugar real, o que de qualquer maneira poderíamos fazer se valesse a pena; ele refere-se a um lugar legendário, algo que nos é desconhecido, algo que ele também não consegue designar mais precisamente, e que, como tal, de nada nos pode servir aqui. Todas estas alegorias, na realidade, destinam-se meramente a dizer que o incompreensível é incompreensível, e isso já nós o sabemos. Mas as preocupações que temos de enfrentar todos os dias, essas, são outro assunto.

A este propósito, um homem disse: «Porquê tal relutância? Se seguissem as alegorias, vocês próprios se tornariam alegorias, e com isso livrar-se-iam de todas as vossas preocupações diárias.»

Outro disse: «Aposto que isso também é uma alegoria.»

O primeiro disse: «Ganhaste.»

O segundo disse: «Mas, infelizmente, apenas alegoricamente.»

O primeiro disse: «Não, na realidade. Alegoricamente, perdeste.»


 *Das alegorias é um conto publicado por Franz Kafka. A edição portuguesa tem o título O Abutre e Outras Histórias e é da Estrofes & Versos

a-ver-livros: acaso

Não suspeitei o enredo
ao escrever a primeira página
semente lançada sorriso
olhar prenúncio de tudo

há mundos que começam assim
obra prima do acaso

Ana Almeida

* para saber mais sobre Sophie Blackall siga o link
http://www.sophieblackall.com/

SENHOR PRESIDENTE

Venha ver Senhor Presidente, venha conhecer o seu país, venha andar na rua, venha comigo, deixe o Mercedes na garagem, andamos a pé, eu não digo a ninguém. Venha conhecer o António, mais estudos que o Senhor, dorme na escada do meu prédio, oiço-o lá de cima, entra à socapa, a porta é velha, deita-se no chão, do tapete faz manta e sai de madrugada, sai tão cedo sai com tanto medo da vassoura.
Vamos à minha escola, no caminho encontramos a Dona, não tem nome só Dona, roubaram-me tudo bandidos, roubaram-lhe tudo menos a voz. É velha, tão velha, senta-se no passeio, pés descalços, mentira já nem pés tem, uma camada de dor preta na sola invisível, ela tão forte, dentes não os tem, alimenta-se de cascas de laranja, não é peneira desengane-se, a laranja nunca a teve, vasculha nos lixos das redondezas, há restaurantes perto, mergulha-se quase toda lá dentro, eu a ver e a pensar como lhe resistem os ossos não é possível não pode ser possível, mas consegue cascas, consegue sempre cascas.
Aquela ali ao fundo é a Inês, veja-lhe a magreza coitada, não tem culpa, o Senhor despediu-lhe os pais, desempregados agora comem uma vez por dia, também ela, atente-lhe na cara, quase sorridente, quase a ir para casa, quase a sopa, a sopa é sempre fria mas não faz mal, disse-me. De manhã aparece pálida, quase no desmaio, todos os dias lhe compro um bolo de arroz, ou melhor compro três, um para ela um para a mãe e outro para o pai, são boas pessoas, só podem ser, aguentam-se fortes, aguentam-se fortes como todo o meu povo, não seu desculpe, seu talvez o território no máximo o país, não as pessoas, enquanto não as ajudar enquanto não for amigo das pessoas o povo nunca será seu o povo nunca será seu!

Gonçalo Naves

Foto retirada daqui: https://pracadobocage.wordpress.com/2012/07/29/os-massacres-do-governo-psdcds/os-pobres-alimentam-os-ricos/

Emílio Miranda - A crónica de Um suicídio (6 a 12)


A Crónica de Um suicídio

6.

O mar ficou-lhe para sempre na alma, como um caminho cheio de possibilidades. Cantou-o e escreveu acerca dele, tanto como escreveu sobre o amor e o desejo que sentiu por todas as mulheres que não teve, por todas quantas o abandonaram – sobretudo por ti –, pelas que amou em vão e pelas que viu partir por trás dos olhos brilhantes de saudade.
Amou sempre de mais!
Amou sempre mais do que devia.
Tal como o avô dizia que acontecia com aqueles que tinham nascido para serem infelizes…

7.

A infelicidade é o mais estranho paradoxo da vida. Nasce sempre de uma infinita alegria, de uma imensa satisfação que morre abruptamente.

8.

O avô sabia de infelicidades, de felicidades e de desejos, como ninguém. Tal como sabia de coisas que ninguém mais sabia. Nem o pai, nem a mãe, nem todas as pessoas adultas que conhecia.
Talvez por isso o tivesse elegido para sempre o seu herói.
O avô sabia como plantar uma horta, como abrir um carreiro de água para a rega, como concertar uma janela empenada, como pregar um prego na ripa solta de um beiral, como beijar a avó de modo a que ela se risse até às lágrimas e como ser severo como um deus prestes a acabar com o mundo.
E no entanto o mundo parecia nascer das suas mãos, como uma obra sempre renovada.

9.

Como o pão que todos os dias a mãe punha sobre a mesa. Quente, pesado e faminto da sua fome.
Nada o satisfazia tanto como o pão que a mãe cozia. Nem o da avó, que cozinhava tudo como ninguém, mas a cujas mãos o pão tendia a esmorecer, esvaído de fermento como um corpo moribundo, a pontos de afirmar que tal acontecia por ser tão quente o seu sangue.

10.

Por isso quando o avô morreu em novembro, a avó chorou durante dias, com as mãos frias e o coração cheio de saudade… E ele soube que as lágrimas que chorava eram a tristeza de quem tinha perdido o que mais amava no mundo. Ao ponto de se ter inesperadamente esfriado, dentro dela, o sangue que sempre lhe correra tão quente nas veias.
Tão certo quanto a avó não ter durado à morte do avô, mais do que um mero mês de dezembro.
Frio, ventoso e triste.

11.

O seu mundo ruiu então pela primeira vez e demorou tanto tempo a voltar a pô-lo de pé que imaginou que tê-lo conseguido significava, depois daquelas mais do que todas severas perdas, que nenhuma outra o atiraria de novo por terra.
Erro crasso, o seu!
O seu mundo tinha ainda muito para ruir, muitas ruinas em que se transformar.
Disse-o perentoriamente a morte da mãe.
O vazio que sobre a mesa ficou.
O vazio que nenhum outro pão conseguiu desde então preencher.
O pai passou a beber, como se transportasse consigo a sede e a tristeza de todos os homens.
E com a bebida esqueceu-se de quem era, do filho que tinha, das hortas que o avô lhe tinha deixado, da amassadeira da mãe, da arca onde o grão apodreceu.

12.
 
A casa caiu por terra, como uma ruina vazia de gente e de alegrias.

*Emílio Miranda

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

o pêndulo e a maçã
sofrem ambos da acção da gravidade
o vento é uma língua que nenhuma boca alcançou
somente os pássaros
na amplitude do silêncio entre as asas
conhecem o incêndio que habita o dorso da água

quantas casas se desmoronam
pela implosão da matéria no ventre das paredes
e das ruínas nem uma mecha
para acender o voo da escuridão

que as mãos recolham a loiça lascada
e assim o coração oscile caroço fora-da-lei.


Helder Magalhães


hands
Monia Merlo Pohtographer

É do borogodó: punhado de pó, de T.S. Eliot



Que raízes são essas que se arraigam, que ramos se esgalham
Nessa imundície pedregosa? Filho do homem,
Não podes dizer, ou sequer estimas, porque apenas conheces
Um feixe de imagens fraturadas, batidas pelo sol,
E as árvores mortas já não mais te abrigam, nem te consola o canto dos grilos,
E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. Apenas
Uma sombra medra sob esta rocha escarlate.
(Chega-te à sombra desta rocha escarlate),
E vou mostrar-te algo distinto
De tua sombra a caminhar atrás de ti quando amanhece
Ou de tua sombra vespertina ao teu encontro se elevando;
Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó.

– T.S. Eliot –

* leia o poema de T.S. Eliot, integralmente disposto no Boletim Tutores da USP, sob título o enterro dos mortos. Tradução de Ivan Junqueira.

** a fotografia é de Jacob Sutton.

Penélope Martins

Da série bibliotecas de sonho

Bibliothèque Georges Peabody (Baltimore, Maryland, USA)
 
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Foto frase do dia: Alejandro Jodorowsky

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Tsundoku

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O Pêndulo de Foucáult

Esqueçam – será mesmo que uma critica pode começar com esta palavra – esta crónica não serve para explicar o livro, outros fizeram a descrição deste tão bem e a sua critica de uma maneira tão competente que este resumo critico apenas vos serve para ficarem com a mente em chamas – expressão usada no próprio livro – acerca deste romance histórico de aventura e com muito mistério que um professor de filosofia, semiótica e linguística usa para nos explicar um eventual plano de vingança de uma sociedade denominada de TRES, que visa dominar o mundo, após os seus antepassados Templários terem sido aprisionados em massa por um rei francês no dia 13 de Outubro de 1307, numa sexta-feira, desencadeando a sua extinção primeiro em França e depois e aparentemente em toda a cristandade.

Umberto Eco é neste romance o mestre que ensina a uns pupilos relapsos denominados de Dan Brown a uma escala mais universal – e à escala lusófona de José Rodrigues dos Santos – como escrever um romance histórico que tenha para além de mistério alguma aventura. O problema é que Umberto Eco apenas escreve um romance com esta forma, até porque a um mestre basta apenas uma obra prima, não precisa de se repetir nem muito menos matar-nos, com muitos bocejos pelo meio, de tédio com as repetições sucessivas de romances atrás de romances com o mesmo estilo e com a mesma base narrativa. Eu sei que já esteve mais na moda do que agora está, mas gostava de explicar a alguns pretensos "escritores" (sim está mesmo sobre aspas) deste estilo e que fazem best-sellers de que quando se escreve uma obra prima ou se passa para outra noutro estilo e com outra base de enredo ou então as sucessivas repetições demonstram o quanto diminuta é a imaginação do escritor que as escreve.

O Pêndulo de Foucáult é deste modo e sem nenhuma dúvida o ponto de partida de Dan Brown, para a sua conspiração liderada pela organização aparentemente secreta Priorado de Sião, aliás Umberto Eco quase que adivinhava o que é que o seu livro – publicado em 1988, ou seja, 15 anos antes da obra do norte-americano – poderia originar e a sua sociedade poderosa denominada de TRES lança um anátema sobre os profanadores do segredo, sobre os sicofantas do Oculto e sobre quem fez espetáculo dos Ritos e dos Mistérios. Para reforçar este anátema este escreve que uma das organizações que condena são – suprema ironia da história literária – todos os Colégios e Priorados de Sião ou das Gálias!. O mestre já adivinhando pupilos relapsos e copiadores de estilo condena-os literariamente de forma irónica e sem qualquer contemplação, quem serei eu para não o apoiar neste desiderato.

Este livro tem que ser entendido mais do que um romance como um conjunto de camadas e camadas de histórias, Umberto Eco joga assim com quem ousa interpretar o seu livro como apenas um romance de mistério com alguma aventura e fundo histórico. Aliás quem percebe o que é a Cabala – literalmente do hebraico "receber/tradição" – judaica e de que maneira este organiza esta sua obra prima é que pode se dar ao luxo de entender que por detrás dos 120 capítulos organizados em torno das 10 Sefirot – literalmente do hebraico "partes/frutos" – este brinca com a velha tradição da numerologia judaica de entender a Torah e desvendar deste modo a presença de D´us e de um eventual seu plano sagrado nesta Terra.

Para um professor de semiótica este desafio mental que nos lança chega a ser viciante, deste modo vou vos desvendar três amplos – dos 999 que até agora eu apurei – pormenores/significados deliciosos – que escondem por sua vez mais uns tantos sob outras camadas – que demonstram o aspeto cabalístico e/ou numeral desta obra prima literária:
Primeiro nos dois primeiros capítulos está o resumo do livro, não querem ler todo até ao fim, ótimo!!! Então leiam o capitulo 1 – número que para os Pitagóricos simbolizava o homem – e o capitulo 2 – que para a mesma ordem iniciática grega simbolizava a mulher – e terão na primeira das Sefirot isto se lá chegarem ou pensam que a coisa está de mão beijada – o resumo do livro sob a égide de três velhas leis hermenêuticas de que O Todo é Mente; o Universo é mental, O que está em cima é como o que está em baixo. E o que está em baixo é como o que está em cima e por fim que O Género está em tudo: tudo tem seus princípios Masculino e Feminino, o género manifesta-se em todos os planos da criação;
Segundo o facto de o “Tio Carlo”. que tinha a comenda de cavaleiro da coroa de Itália, que era familiar de uma das personagens principais, Belbo, ter um azar num capitulo, cuja a soma dos dois números que o compõem é 13, pior fá-lo com o à vontade de brincar com que esse azar é uma quase morte do tal seu familiar, ou seja, o capítulo serve nesta camada para comparar este personagem à quase morte dos Templários e no mesmo capitulo a coincidência encontrada no diálogo entre as personagens chega a ser deliciosa, pois entre este “Tio Carlo” e “Tersi”, o líder dos partisan que o manda prender, os dois descobrem que serviram em diferentes brigadas, mas na mesma batalha, intitulada de Solstício;
Terceiro um pormenor que nos diz respeito, enquanto portugueses, que está escrito no livro numa página com um determinado número, que em muitas ordens iniciáticas quer dizer alguma coisa e que nas várias edições do livro em todas as línguas latinas que possuo é onde é-nos desvendado que o nosso Templo de Cristo em Tomar como o local da primeira reunião do tal plano dos Templários, a que já me referi resumidamente atrás. Não é só interessante o número usado como e particularmente na página seguinte ser usado no texto um número que corresponde nominalmente ao número da página que estamos a ler.
Coincidências, essas existem poucas quando falamos num mestre que cose o livro a seu belo prazer deixando a quem o lê sem a profundidade desejada à espera de pensar que se trata de mais um conto conspirativo, quando na realidade é a visão do autor sobre uma cabala ocidental e cristã que com a sua teoria do tudo pretende explicar alguma da história, primeiro ocidental e posteriormente quando a Europa se torna a referência e a dominadora cultural universal, global. 

Em 6 parágrafos – ou será 10 – deixei-vos nesta critica pistas para entenderem esta obra prima e já agora refiro em jeito de nota que não me responsabilizo pelo facto de toda esta estar cheia de significados de semiótica e de linguística que escaparam ao olhar de algum leitor mais incauto. Como a próxima segunda-feira é a segunda do mês de Fevereiro e eu nesta analiso/critico livros sobre maçonaria, esoterismo, teologia e/ou religião, resolvi matar a charada – segundo a expressão dos nossos irmãos de língua que falam português açucarado – e vou direto à questão no livro que escolhi, que foi Introdução à Maçonaria de António Arnault um livro que resume no meu entender todas as questões que um profano – já agora não ofendo ninguém com esta designação maçónica que apenas refere aqueles que ainda não foram admitidos dentro dum templo maçónico e/ou chão sagrado – pode e bem se colocar diante do que é e/ou pode ser a Maçonaria, denominada por alguns como – e veremos se será uma designação pomposa ou não – de Arte Real.

Saudações a todos os leitores e boas leituras,

.'.Sandro Figueiredo Pires.'.

Louis Vuitton - a mala de livros

Publicité pour la malle-bibliothèque de Louis VUITTON en 1927.C'est tres pratique pour voyager.

 
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Poesia em matéria fria: as mãos de Sophia

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domingo, 1 de fevereiro de 2015

NÓS TU EU

Se algum dia chegares a velha velha engelhada e vires um velho ir embora casaco gasto a tapar os ombros sapatos pretos a brilharem não vou ser eu vai ser outro velho ele a ir embora e eu a recordar a recordar as nuvens que passámos as marés que mudaram e aquele baile a que não fomos a música tão má e tu a dizeres anda vem dançar vamos dançar e eu a segurar-te as ancas cheirava-te o anel só tu eu e o teu cheiro o cheiro do teu anel tu tão bonita nesse dia nessa noite.
A estrada a estender-se para lhe estendermos a vida e nós a conseguirmos não havia outra maneira e naquele dia tu a dizeres para eu não gastar esse dinheiro é tempo perigoso não o gastes é melhor guardar e eu chato teimoso sempre chato ou sempre teimoso gastei gastei-o em nós mandei construir a casa muitos vidros vidros por todo o lado uma casa só de vidros nunca se tinha visto nada desse jeito mas era assim que tu querias era assim que tinha que ser.
E o dia do puto a nascer e nós os dois a nascermos com ele nascemos os três no mesmo dia no mesmo quarto o carrinho já pronto ali ao lado aliás pronto três meses antes três meses antes que estupidez mas teve que ser tu mandavas tu é que sabias tu a saberes e a tua mãe a ensinar-te passou a ser velha no dia em que foi avó.
O mundo a ver-nos a acompanhar-nos a passada cada vez mais lenta e fraca mas ainda assim uma passada perfeita perfeitamente sincronizada o meu passo grande eu grande sempre grande o teu pequeno e em esforço tu pequena mas grande grande em mim a maior coisa que tive.
E eu a morrer por perto a morrer-te nós os dois a morrermos no mesmo sítio no mesmo sítio em que te vi pela primeira vez perna cruzada calça apertada o colar da tua avó no peito lá estavas tu sentada esperavas-me no mesmo dia e no mesmo sítio em que nos conhecemos e por isso morremos.

Gonçalo Naves


Foto tirada daqui: http://www.magazine-hd.com/apps/wp/a-tale-as-old-as-time-recontado-live-action-de-a-bela-e-o-monstro-a-caminho/

Bai'má Benda: A desertificaçom... do Quim!!!

A desertificaçom... do Quim!!!

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Sem saber, tinha chegado

A Procura da Sabedoria

Era uma vez uma pessoa que procurava a sabedoria. Tinham-lhe dito que para a atingir tinha sempre de aceitar e recusar ao mesmo tempo tudo o que lhe fosse oferecido, dito ou mostrado. Quando perguntava por onde era o melhor caminho e lhe diziam «é por ali» ela devia seguir imediatamente nesse sentido e depois no sentido contrário. Tendo assim percorrido todas as direcções indicadas e as não indicadas, sem mais caminhos a percorrer, sentou-se no chão e começou a chorar. Sem saber, tinha chegado. 


Ana Hatherly, in 'Tisanas' 

Ackvile Magicdust

Apanhei-te a ler... dia 38

Paul Newman
 
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