E para escrever como gosto basta-me um pedaço de raiva, um pedaço sem idade e de tamanho qualquer. Tem vezes que não o agarro, não não te quero a ti, não te dou esse prazer, vou procurar outra pessoa. E foge-me, corre para longe, malandro, nunca mais o alcanço. Sem raiva sou menos que um bicho preso, preso dentro das palavras que não se soltam. Outras vezes é tanta tanta a raiva não a consigo descrever também não preciso pego na caneta neste caso no teclado perdão desculpem-me no papel só o lápis nunca caneta pego-lhes e começo a escrever escrevo tanto a mão os dedos dormentes velocidade insuficiente não me acompanham a raiva sinto tudo em mim tudo à minha a volta a querer ser escrito tal como agora as coisas falam-me tudo ganha vida não consigo explicar bem nem bem nem mal o amanhã torna-se hoje o ontem foi futuro e agora um gafanhoto gigante é incrível a mão a falhar-me sentimentos confundem-se por vezes engano-me pudera tal não é a velocidade letras a maiss outras vezes a mens não consigo controlar que estranho que esquisito não consigo parar não há vírgulas deixa de haver vírgulas não quero vírgulas quero que leiam isto tudo seguido e a minha professora de Português a queixar-se sempre não há dia que não se queixe Gonçalo exageras nas vírgulas outras vezes Gonçalo o que é isso não pões vírgulas assim não vais longe não a entendo nunca contente ninguém contente comigo e agora a raiva quase no pico surgiu-me assim apareceu-me vendada olhos de estátua eu doente fico sem orelhas não vou rever este texto vai ficar tal como o escrevi não há nada para emendar tudo se vai não me querem assim só eu me quero assim nas calças o isqueiro a queimar-me acendeu-se sozinho mentira mãe calma não tenho isqueiro nunca tive olho-me para dentro os olhos viram-se vejo as entranhas o sangue rápido demais tudo em ebulição fico preocupado é melhor parar não consigo de vez tem que ser aos poucos, uma vírgula já me veio é bom sinal, olha outra parece que estou recuperado, e mais uma, agora, de volta ao normal, infeliz como sempre.
sábado, 7 de fevereiro de 2015
Bai'má Benda: Os amigos som prás existenciais...
Os amigos som prás existenciais...
Não perca esta página, por nada: https://www.facebook.com/baimabenda
Estantes de sonho: onde arrumar os miúdos
Na 4.ª prateleira é capaz de não ser assim tão alto...
Encontrado na página Bookshelf Porn. A não perder por nada!
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
a-ver-livros: ver ou não ver
Vejo o que a cegueira
mostra
no perfume do teu toque
aroma pele
amálgama
amor tentacular
visão perfeita do que pode ser
mãos boca peito
ao pé do sonho
colo vertigem
Vejo na sombra
lucidez clarividência
que o olhar
não teve
Ana Almeida
mostra
no perfume do teu toque
aroma pele
amálgama
amor tentacular
visão perfeita do que pode ser
mãos boca peito
ao pé do sonho
colo vertigem
Vejo na sombra
lucidez clarividência
que o olhar
não teve
Ana Almeida
![]() |
* para saber mais sobre Rick Beerhorst siga o link www.studiobeerhorst.com |
Nous sommes comme des livres...
Desconheço autoria
Encontrado na página Improbables Bibliothèques,
Improbables Librairies. A não perder por nada!
Poesia em matéria fria: Ariano Suassuna
Siga a página no facebook: https://www.facebook.com/poesiaemmateriafria
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
Gonçalo Viana de Sousa - O Flâneur das Sensações
Meu querido José,
Como prometido, segue, agora sim, a primeira parte deste meu testamentário texto.
Não lhe sei explicar o porquê de lhe chamar assim, mas também não almejo outro adjectivo que não este. Coisas do demo, jovem romântico das regiões longínquas!
O título do que mais à frente segue vem de uma música do senhor Sinatra. "Change Partners", eis o nome de tal música.
(...) Diga à Clara que já li, melhor, o Efraim leu-me o mail que me enviou faz um tempo, pelo que pude saber.
Efraim atacou-me como um persa em terras de Babilónia. Tens de rresponderrrr, Viana de Sousa. Serrr ludita porrrr teimosia é azedo!
Pois que quer que eu faça, caro jovem frenético? Não me dou com as virtualidades, bem o sabe.
Enfim. Que a nossa amiga Clara saiba que a estimo como as noites de luar e estrelas, pois tão fiel leitora só merece o mel das coisas belas, inocentes e puras. (Diga-lhe isto quando falar com ela, não vá pensar que me tornei aristocrata fin de siècle!
Segue, pois, a narrativa musical e ingavetável (desta feita, deixe-se de engavetamentos, jovem romântico das alturas abissais!).
Abrraço terrrno do Efraim.
Abraço apertado deste
Seu
Gonçalo V. de S.
A noite foi um instante que marcou, para
sempre, aquele momento que foi e é a minha vida, num tempo já distante e
esquecido.
Era uma noite de Outono, fresca,
estrelada e igual a tantas outras. Papa
John levou-me no seu Studebaker Commander Regal, o rocket, vermelho e veloz, a uma sala de espectáculos enorme,
elegante. Boy, dizia ele, esta noite
jamais se apagará da tua memória. Depois de veres e ouvires o que se irá passar
aqui, a tua vida será diferente. A música, esta nova vaga melodiosa, vai
levar-te por caminhos inesperados. Vamos conhecer o que está para ser revelado,
boy!
A sala era moderna, airosa, elegante. O
som propagava-se como a brisa que se sente nos campos do Mondego em tardes de
Maio. O ambiente era primaveril e fresco, belo, nume, perfumado.
Os artistas eram conhecidos do público,
mas para Papa John e para mim eram
completos estranhos estrangeiros. E nós turistas.
O espectáculo começara. O homem da
direita, elegantíssimo, de viola em riste, propunha acordes inacreditáveis, de
uma suavidade exótica e azul, que trazia nos lábios sabores de tardes de
lusco-fusco apaixonadas, de panamás claros e luminosos, acompanhados de um mar
ou de um morro de perder de vista. Logo depois, o homem da esquerda, igualmente
elegante, ambos de laço negro e penetrante, sussurra promessas de noites
silenciosas e apaixonantes, tendo como únicas testemunhas as luminosas estrelas
e o suave embalar das ondas do mar. Foi assim que vi e ouvi pela primeira vez
António Carlos Jobim e Frank Sinatra. Foi nessa noite que a minha vida mudou
para sempre. O encontro de ambas as vozes e da orquestra que, suave e doce,
acompanhava o velejar destes dois bardos, levou-me em viagens de uma dulceza e
justiça inacreditáveis. Tudo poderia ser belo, ao som daquela melodia que o
senhor Sinatra apresentava como Bossa
Nova. O cigarro do senhor Sinatra parecia um prolongamento da sua
existência. O fumo exalado e expirado era um bálsamo diáfano e inebriante.
Correntes de sensações boas, belas e suaves saíam de cada sílaba, de cada
palavra, de cada entoação, tão misteriosa quanto definitiva.
O tema da música foi o pretexto para o
começo do resto da minha vida. O resto não interessa. Mas este episódio é tudo.
Esta noite foi A Noite. E isso é insubstituível.
O senhor Sinatra muito jovem, mais jovem
do que verdadeiramente era. O senhor Jobim, meu primo afastado, vim a saber
mais tarde, criava melodias que deslizavam pelas horas lunares adentro. Jamais
lutar contra a lua e o seu poder hipnótico.
A noite ia alta, quando a música destes
dois senhores que seriam tão importantes na minha vida me invadiu como uma
revelação boa, bela e justa. Perante a suavidade daquela melodia quem seria
capaz de falar ou escrever ou em pensar em algo que não fosse um local
escondido, repleto de sol e de bom gosto, com coisas líquidas como o amor e o
carinho e o desejo amoroso?
Que noite aquela! A voz do senhor
Sinatra fazendo coro com o dedilhar de meu primo Jobim.
Depois dessa noite, a minha vida começara
a-ver-livros: de passeio
Os pés de pedra
no caminho frio
e a cabeça quente - há um poema a carburar
aurícula acima
ventrículo abaixo
mas não chega aos pés
espreita no piscar de olhos
à magnólia que demora
ao gato que foge
gelado e branco
à sombra do tronco
que o picudo corrói
Ana Almeida
no caminho frio
e a cabeça quente - há um poema a carburar
aurícula acima
ventrículo abaixo
mas não chega aos pés
espreita no piscar de olhos
à magnólia que demora
ao gato que foge
gelado e branco
à sombra do tronco
que o picudo corrói
Ana Almeida
![]() |
* para saber mais sobre a ilustradora neo-zelandesa Sarah Wilkins siga o link http://www.sarahwilkins.net/ |
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
Das alegorias, Franz Kafka
Das alegorias
Muitos reclamam que as palavras dos sábios são sempre meras alegorias e de nenhuma utilidade para a vida do dia-a-dia, a qual é a única vida que temos. Quando o sábio diz: «Vai para ali», não quer dizer que deveríamos passar para um lugar real, o que de qualquer maneira poderíamos fazer se valesse a pena; ele refere-se a um lugar legendário, algo que nos é desconhecido, algo que ele também não consegue designar mais precisamente, e que, como tal, de nada nos pode servir aqui. Todas estas alegorias, na realidade, destinam-se meramente a dizer que o incompreensível é incompreensível, e isso já nós o sabemos. Mas as preocupações que temos de enfrentar todos os dias, essas, são outro assunto.
A este propósito, um homem disse: «Porquê tal relutância? Se seguissem as alegorias, vocês próprios se tornariam alegorias, e com isso livrar-se-iam de todas as vossas preocupações diárias.»
Outro disse: «Aposto que isso também é uma alegoria.»
O primeiro disse: «Ganhaste.»
O segundo disse: «Mas, infelizmente, apenas alegoricamente.»
O primeiro disse: «Não, na realidade. Alegoricamente, perdeste.»
*Das alegorias é um conto publicado por Franz Kafka. A edição portuguesa tem o título O Abutre e Outras Histórias e é da Estrofes & Versos
Muitos reclamam que as palavras dos sábios são sempre meras alegorias e de nenhuma utilidade para a vida do dia-a-dia, a qual é a única vida que temos. Quando o sábio diz: «Vai para ali», não quer dizer que deveríamos passar para um lugar real, o que de qualquer maneira poderíamos fazer se valesse a pena; ele refere-se a um lugar legendário, algo que nos é desconhecido, algo que ele também não consegue designar mais precisamente, e que, como tal, de nada nos pode servir aqui. Todas estas alegorias, na realidade, destinam-se meramente a dizer que o incompreensível é incompreensível, e isso já nós o sabemos. Mas as preocupações que temos de enfrentar todos os dias, essas, são outro assunto.
A este propósito, um homem disse: «Porquê tal relutância? Se seguissem as alegorias, vocês próprios se tornariam alegorias, e com isso livrar-se-iam de todas as vossas preocupações diárias.»
Outro disse: «Aposto que isso também é uma alegoria.»
O primeiro disse: «Ganhaste.»
O segundo disse: «Mas, infelizmente, apenas alegoricamente.»
O primeiro disse: «Não, na realidade. Alegoricamente, perdeste.»
*Das alegorias é um conto publicado por Franz Kafka. A edição portuguesa tem o título O Abutre e Outras Histórias e é da Estrofes & Versos
a-ver-livros: acaso
Não suspeitei o enredo
ao escrever a primeira página
semente lançada sorriso
olhar prenúncio de tudo
há mundos que começam assim
obra prima do acaso
Ana Almeida
ao escrever a primeira página
semente lançada sorriso
olhar prenúncio de tudo
há mundos que começam assim
obra prima do acaso
Ana Almeida
![]() |
* para saber mais sobre Sophie Blackall siga o link http://www.sophieblackall.com/ |
SENHOR PRESIDENTE
Venha ver Senhor Presidente, venha conhecer o seu país, venha andar na rua, venha comigo, deixe o Mercedes na garagem, andamos a pé, eu não digo a ninguém. Venha conhecer o António, mais estudos que o Senhor, dorme na escada do meu prédio, oiço-o lá de cima, entra à socapa, a porta é velha, deita-se no chão, do tapete faz manta e sai de madrugada, sai tão cedo sai com tanto medo da vassoura.
Vamos à minha escola, no caminho encontramos a Dona, não tem nome só Dona, roubaram-me tudo bandidos, roubaram-lhe tudo menos a voz. É velha, tão velha, senta-se no passeio, pés descalços, mentira já nem pés tem, uma camada de dor preta na sola invisível, ela tão forte, dentes não os tem, alimenta-se de cascas de laranja, não é peneira desengane-se, a laranja nunca a teve, vasculha nos lixos das redondezas, há restaurantes perto, mergulha-se quase toda lá dentro, eu a ver e a pensar como lhe resistem os ossos não é possível não pode ser possível, mas consegue cascas, consegue sempre cascas.
Aquela ali ao fundo é a Inês, veja-lhe a magreza coitada, não tem culpa, o Senhor despediu-lhe os pais, desempregados agora comem uma vez por dia, também ela, atente-lhe na cara, quase sorridente, quase a ir para casa, quase a sopa, a sopa é sempre fria mas não faz mal, disse-me. De manhã aparece pálida, quase no desmaio, todos os dias lhe compro um bolo de arroz, ou melhor compro três, um para ela um para a mãe e outro para o pai, são boas pessoas, só podem ser, aguentam-se fortes, aguentam-se fortes como todo o meu povo, não seu desculpe, seu talvez o território no máximo o país, não as pessoas, enquanto não as ajudar enquanto não for amigo das pessoas o povo nunca será seu o povo nunca será seu!
Gonçalo Naves
Foto retirada daqui: https://pracadobocage.wordpress.com/2012/07/29/os-massacres-do-governo-psdcds/os-pobres-alimentam-os-ricos/
Emílio Miranda - A crónica de Um suicídio (6 a 12)
A Crónica de Um suicídio
6.
O mar
ficou-lhe para sempre na alma, como um caminho cheio de possibilidades.
Cantou-o e escreveu acerca dele, tanto como escreveu sobre o amor e o desejo
que sentiu por todas as mulheres que não teve, por todas quantas o abandonaram
– sobretudo por ti –, pelas que amou
em vão e pelas que viu partir por trás dos olhos brilhantes de saudade.
Amou
sempre de mais!Amou sempre mais do que devia.
Tal como o avô dizia que acontecia com aqueles que tinham nascido para serem infelizes…
7.
A
infelicidade é o mais estranho paradoxo da vida. Nasce sempre de uma infinita
alegria, de uma imensa satisfação que morre abruptamente.
8.
O avô
sabia de infelicidades, de felicidades e de desejos, como ninguém. Tal como
sabia de coisas que ninguém mais sabia. Nem o pai, nem a mãe, nem todas as
pessoas adultas que conhecia.
Talvez
por isso o tivesse elegido para sempre o seu herói.O avô sabia como plantar uma horta, como abrir um carreiro de água para a rega, como concertar uma janela empenada, como pregar um prego na ripa solta de um beiral, como beijar a avó de modo a que ela se risse até às lágrimas e como ser severo como um deus prestes a acabar com o mundo.
E no entanto o mundo parecia nascer das suas mãos, como uma obra sempre renovada.
9.
Como
o pão que todos os dias a mãe punha sobre a mesa. Quente, pesado e faminto da
sua fome.
Nada
o satisfazia tanto como o pão que a mãe cozia. Nem o da avó, que cozinhava tudo
como ninguém, mas a cujas mãos o pão tendia a esmorecer, esvaído de fermento como
um corpo moribundo, a pontos de afirmar que tal acontecia por ser tão quente o
seu sangue.
10.
Por
isso quando o avô morreu em novembro, a avó chorou durante dias, com as mãos
frias e o coração cheio de saudade… E ele soube que as lágrimas que chorava
eram a tristeza de quem tinha perdido o que mais amava no mundo. Ao ponto de se
ter inesperadamente esfriado, dentro dela, o sangue que sempre lhe correra tão
quente nas veias.
Tão
certo quanto a avó não ter durado à morte do avô, mais do que um mero mês de
dezembro.Frio, ventoso e triste.
11.
O seu
mundo ruiu então pela primeira vez e demorou tanto tempo a voltar a pô-lo de pé
que imaginou que tê-lo conseguido significava, depois daquelas mais do que
todas severas perdas, que nenhuma outra o atiraria de novo por terra.
Erro
crasso, o seu!O seu mundo tinha ainda muito para ruir, muitas ruinas em que se transformar.
Disse-o perentoriamente a morte da mãe.
O vazio que sobre a mesa ficou.
O vazio que nenhum outro pão conseguiu desde então preencher.
O pai passou a beber, como se transportasse consigo a sede e a tristeza de todos os homens.
E com a bebida esqueceu-se de quem era, do filho que tinha, das hortas que o avô lhe tinha deixado, da amassadeira da mãe, da arca onde o grão apodreceu.
12.
A
casa caiu por terra, como uma ruina vazia de gente e de alegrias.
*Emílio Miranda
terça-feira, 3 de fevereiro de 2015
o pêndulo e a maçã
sofrem ambos da acção da gravidade
o vento é uma língua que nenhuma boca alcançou
somente os pássaros
na amplitude do silêncio entre as asas
conhecem o incêndio que habita o dorso da água
quantas casas se desmoronam
pela implosão da matéria no ventre das paredes
e das ruínas nem uma mecha
para acender o voo da escuridão
que as mãos recolham a loiça lascada
e assim o coração oscile caroço fora-da-lei.
Helder Magalhães
sofrem ambos da acção da gravidade
o vento é uma língua que nenhuma boca alcançou
somente os pássaros
na amplitude do silêncio entre as asas
conhecem o incêndio que habita o dorso da água
quantas casas se desmoronam
pela implosão da matéria no ventre das paredes
e das ruínas nem uma mecha
para acender o voo da escuridão
que as mãos recolham a loiça lascada
e assim o coração oscile caroço fora-da-lei.
Helder Magalhães
![]() |
hands Monia Merlo Pohtographer |
É do borogodó: punhado de pó, de T.S. Eliot
Que raízes são essas que se arraigam, que ramos se esgalham
Nessa imundície pedregosa? Filho do homem,
Não podes dizer, ou sequer estimas, porque apenas conheces
Um feixe de imagens fraturadas, batidas pelo sol,
E as árvores mortas já não mais te abrigam, nem te consola o canto dos grilos,
E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. Apenas
Uma sombra medra sob esta rocha escarlate.
(Chega-te à sombra desta rocha escarlate),
E vou mostrar-te algo distinto
De tua sombra a caminhar atrás de ti quando amanhece
Ou de tua sombra vespertina ao teu encontro se elevando;
Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó.
– T.S. Eliot –
* leia o poema de T.S. Eliot, integralmente disposto no Boletim Tutores da USP, sob título o enterro dos mortos. Tradução de Ivan Junqueira.
** a fotografia é de Jacob Sutton.
Penélope Martins
Da série bibliotecas de sonho
Bibliothèque Georges Peabody (Baltimore, Maryland, USA)
Encontrado na página Improbables Bibliothèques,
Improbables Librairies. A não perder por nada!
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015
O Pêndulo de Foucáult
Esqueçam
– será mesmo que uma critica pode começar com esta palavra –
esta crónica não serve para explicar o livro, outros fizeram a
descrição deste tão bem e a sua critica de uma maneira tão
competente que este resumo critico apenas vos serve para ficarem com a mente em chamas – expressão usada no próprio livro –
acerca deste romance histórico de aventura e com muito mistério que
um professor de filosofia, semiótica e linguística usa para nos
explicar um eventual plano de vingança de uma sociedade denominada
de TRES, que visa dominar o mundo, após os seus antepassados
Templários terem sido aprisionados em massa por um rei francês no
dia 13 de Outubro de 1307, numa sexta-feira, desencadeando a sua
extinção primeiro em França e depois e aparentemente em toda a
cristandade.
Umberto
Eco é neste romance o mestre que ensina a uns pupilos relapsos
denominados de Dan Brown a uma escala mais universal – e à escala
lusófona de José Rodrigues dos Santos – como escrever um romance
histórico que tenha para além de mistério alguma aventura. O
problema é que Umberto Eco apenas escreve um romance com esta forma,
até porque a um mestre basta apenas uma obra prima, não precisa de se
repetir nem muito menos matar-nos, com muitos bocejos pelo
meio, de tédio com as repetições sucessivas de romances atrás de
romances com o mesmo estilo e com a mesma base narrativa. Eu sei que já
esteve mais na moda do que agora está, mas gostava de explicar a
alguns pretensos "escritores" (sim está mesmo sobre aspas) deste estilo e que fazem
best-sellers de que quando se escreve uma obra prima ou se passa para
outra noutro estilo e com outra base de enredo ou então as
sucessivas repetições demonstram o quanto diminuta é a imaginação
do escritor que as escreve.
O
Pêndulo de Foucáult é deste modo e sem nenhuma dúvida o ponto de
partida de Dan Brown, para a sua conspiração liderada pela organização aparentemente secreta
Priorado de Sião, aliás Umberto Eco quase que adivinhava o que é
que o seu livro – publicado em 1988, ou seja, 15 anos antes da obra do norte-americano – poderia originar e a sua sociedade
poderosa denominada de TRES lança um anátema sobre os
profanadores do segredo, sobre os sicofantas do Oculto e sobre quem fez espetáculo dos Ritos e dos Mistérios. Para reforçar este anátema este escreve que uma das organizações que condena são – suprema
ironia da história literária – todos os Colégios e Priorados
de Sião ou das Gálias!. O mestre já adivinhando pupilos
relapsos e copiadores de estilo condena-os literariamente de forma
irónica e sem qualquer contemplação, quem serei eu para não o apoiar neste desiderato.
Este
livro tem que ser entendido mais do que um romance como um conjunto
de camadas e camadas de histórias, Umberto Eco joga assim com quem
ousa interpretar o seu livro como apenas um romance de mistério com
alguma aventura e fundo histórico. Aliás quem percebe o que é a
Cabala – literalmente do hebraico "receber/tradição" –
judaica e de que maneira este organiza esta sua obra prima é que
pode se dar ao luxo de entender que por detrás dos 120 capítulos
organizados em torno das 10 Sefirot – literalmente do hebraico "partes/frutos" – este brinca com a velha tradição da
numerologia judaica de entender a Torah e desvendar deste modo a
presença de D´us e de um eventual seu plano sagrado nesta Terra.
Para
um professor de semiótica este desafio mental que nos lança chega a
ser viciante, deste modo vou vos desvendar três amplos – dos 999
que até agora eu apurei – pormenores/significados deliciosos – que escondem
por sua vez mais uns tantos sob outras camadas – que demonstram o
aspeto cabalístico e/ou numeral desta obra prima literária:
Primeiro
nos dois primeiros capítulos está o resumo do livro, não querem
ler todo até ao fim, ótimo!!! Então leiam o capitulo 1 – número
que para os Pitagóricos simbolizava o homem – e o capitulo 2 –
que para a mesma ordem iniciática grega simbolizava a mulher – e
terão na primeira das Sefirot – isto
se lá chegarem ou pensam que a coisa está de mão beijada – o resumo do livro sob a égide de
três velhas leis hermenêuticas de que O Todo é Mente; o
Universo é mental, O que está em cima é como o que está em baixo. E o
que está em baixo é como o que está em cima
e por fim que O Género está em tudo: tudo tem seus
princípios Masculino e Feminino, o género manifesta-se em todos os
planos da criação;
Segundo
o facto de o “Tio Carlo”. que tinha a comenda de cavaleiro da coroa de Itália, que era familiar de uma das
personagens principais, Belbo, ter um azar num capitulo, cuja a soma
dos dois números que o compõem é 13, pior fá-lo com o à vontade
de brincar com que esse azar é uma quase morte do tal seu
familiar, ou seja, o capítulo serve nesta camada para comparar este
personagem à quase morte dos Templários e no mesmo capitulo a
coincidência encontrada no diálogo entre as personagens chega a ser deliciosa, pois entre este “Tio Carlo” e “Tersi”,
o líder dos partisan que o manda prender, os dois descobrem
que serviram em diferentes brigadas, mas na mesma batalha, intitulada
de Solstício;
Terceiro
um pormenor que nos diz respeito, enquanto portugueses, que está escrito no livro numa
página com um determinado número, que em muitas ordens iniciáticas
quer dizer alguma coisa e que nas várias edições do livro em todas as línguas
latinas que possuo é onde é-nos desvendado que o nosso Templo de Cristo em
Tomar como o local da primeira reunião do tal plano dos Templários,
a que já me referi resumidamente atrás. Não é só interessante o
número usado como e particularmente na página seguinte ser usado no texto um
número que corresponde nominalmente ao número da página que
estamos a ler.
Coincidências, essas existem poucas quando falamos
num mestre que cose o livro a seu belo prazer deixando a quem o lê
sem a profundidade desejada à espera de pensar que se trata de mais
um conto conspirativo, quando na realidade é a visão do autor sobre
uma cabala ocidental e cristã que com a sua teoria do tudo
pretende explicar alguma da história, primeiro ocidental e
posteriormente quando a Europa se torna a referência e a dominadora
cultural universal, global.
Em
6 parágrafos – ou será 10 – deixei-vos nesta critica pistas para
entenderem esta obra prima e já agora refiro em jeito de nota que
não me responsabilizo pelo facto de toda esta estar cheia de
significados de semiótica e de linguística que escaparam ao olhar de algum leitor
mais incauto. Como a próxima segunda-feira é a segunda do
mês de Fevereiro e eu nesta analiso/critico livros sobre maçonaria,
esoterismo, teologia e/ou religião, resolvi matar a charada –
segundo a expressão dos nossos irmãos de língua que falam
português açucarado – e vou direto à questão no livro que
escolhi, que foi Introdução à Maçonaria de António Arnault um livro que resume no meu entender todas as questões
que um profano – já agora não ofendo ninguém com esta designação
maçónica que apenas refere aqueles que ainda não foram admitidos
dentro dum templo maçónico e/ou chão sagrado – pode e bem
se colocar diante do que é e/ou pode ser a Maçonaria,
denominada por alguns como – e veremos se será uma designação
pomposa ou não – de Arte Real.
Saudações a todos os leitores e boas leituras,
.'.Sandro Figueiredo Pires.'.
Etiquetas:
Cabala,
Dan Brown,
José Rodrigues dos Santos,
numerologia,
O Código de Da Vinci,
Pêndulo de Foulcáult,
Sandro Figueiredo Pires,
semiótica,
Umberto Eco
Louis Vuitton - a mala de livros
Publicité pour la malle-bibliothèque de Louis VUITTON en 1927.C'est tres pratique pour voyager.
Encontrado na página Improbables Bibliothèques,
Improbables Librairies. A não perder por nada!
Poesia em matéria fria: as mãos de Sophia
Siga a página no facebook: https://www.facebook.com/poesiaemmateriafria
domingo, 1 de fevereiro de 2015
NÓS TU EU
Se algum dia chegares a velha velha engelhada e vires um velho ir embora casaco gasto a tapar os ombros sapatos pretos a brilharem não vou ser eu vai ser outro velho ele a ir embora e eu a recordar a recordar as nuvens que passámos as marés que mudaram e aquele baile a que não fomos a música tão má e tu a dizeres anda vem dançar vamos dançar e eu a segurar-te as ancas cheirava-te o anel só tu eu e o teu cheiro o cheiro do teu anel tu tão bonita nesse dia nessa noite.
A estrada a estender-se para lhe estendermos a vida e nós a conseguirmos não havia outra maneira e naquele dia tu a dizeres para eu não gastar esse dinheiro é tempo perigoso não o gastes é melhor guardar e eu chato teimoso sempre chato ou sempre teimoso gastei gastei-o em nós mandei construir a casa muitos vidros vidros por todo o lado uma casa só de vidros nunca se tinha visto nada desse jeito mas era assim que tu querias era assim que tinha que ser.
E o dia do puto a nascer e nós os dois a nascermos com ele nascemos os três no mesmo dia no mesmo quarto o carrinho já pronto ali ao lado aliás pronto três meses antes três meses antes que estupidez mas teve que ser tu mandavas tu é que sabias tu a saberes e a tua mãe a ensinar-te passou a ser velha no dia em que foi avó.
O mundo a ver-nos a acompanhar-nos a passada cada vez mais lenta e fraca mas ainda assim uma passada perfeita perfeitamente sincronizada o meu passo grande eu grande sempre grande o teu pequeno e em esforço tu pequena mas grande grande em mim a maior coisa que tive.
E eu a morrer por perto a morrer-te nós os dois a morrermos no mesmo sítio no mesmo sítio em que te vi pela primeira vez perna cruzada calça apertada o colar da tua avó no peito lá estavas tu sentada esperavas-me no mesmo dia e no mesmo sítio em que nos conhecemos e por isso morremos.
Gonçalo Naves
Foto tirada daqui: http://www.magazine-hd.com/apps/wp/a-tale-as-old-as-time-recontado-live-action-de-a-bela-e-o-monstro-a-caminho/
Bai'má Benda: A desertificaçom... do Quim!!!
A desertificaçom... do Quim!!!
Não perca esta página, por nada: https://www.facebook.com/baimabenda
Sem saber, tinha chegado
A Procura da Sabedoria
Era uma vez uma pessoa que procurava a sabedoria. Tinham-lhe dito que para a atingir tinha sempre de aceitar e recusar ao mesmo tempo tudo o que lhe fosse oferecido, dito ou mostrado. Quando perguntava por onde era o melhor caminho e lhe diziam «é por ali» ela devia seguir imediatamente nesse sentido e depois no sentido contrário. Tendo assim percorrido todas as direcções indicadas e as não indicadas, sem mais caminhos a percorrer, sentou-se no chão e começou a chorar. Sem saber, tinha chegado.
Subscrever:
Mensagens (Atom)