sábado, 14 de setembro de 2013

Uma porta para o conhecimento

Vamos lá lançar a pergunta: Os livros são ou não são a maior porta para o conhecimento?


Encontrado na página Improbables Bibliothèques, 
Improbables Librairies. A não perder. 

Todos os anos o mesmo... Então e desta quem leva o Nobel?

Segundo a Ladbrokes, Murakami ganha o próximo Nobel da literatura. O problema? Já é favorito há alguns anos!

Aqui vão os 3 primeiros da lista. Vamos a apostas?

Haruki Murakami: 3/1
Joyce Carol Oates: 6/1
Thomas Pynchon: 20/1

Cronicando pela Ásia... o regresso a Banguecoque‎

Pukhet Town »» Banguecoque 
01 de Maio 2009

Acordado e vestido, saí em direcção à estação de camionetas. Existem duas classes: a vip e a normal. Mas a normal parece-me extremamente bem.


Doze horas. Contaria assim o tempo entre Pukhet Banguecoque‎. Partindo às seis da tarde e chegando ao nascer do sol daqueles céus poluídos da grande metrópole.

Fiz horas até ao embarque. Teclei um pouco e sonhei com a viagem. Disse olá à mãe por telefone, não mais do que trinta segundos...

Passo pelo supermercado e avisto uma menina de cinco anos à frente. Sozinha e carregada de compras, paga o que deve e sai como se nada fosse. Nada de estranho por estas paragens, há muitas crianças a tomar conta de si próprias ou a fazer recados aos pais.

Vejo uma mota a dar entrada numa camioneta como se fosse a bagagem do passageiro. Também não estranho, estamos na Tailândia... Tudo é possível por cá.


A noite chega e a viagem é conduzida por muitos pensamentos. Brinco com uns putos aos aviões de papel, mostro fotografias e vídeos que registei. Ficam encantados com a minha fraca habilidade para fazer aviões, mas felizes por os levarem para casa...

No meio da viagem, uma desejada pausa. Pouco tempo para pôr algo no estômago, mas o suficiente para tirar mais fotos. As áreas de serviço são também mercados. E há de tudo. É impossível descrever, só recorrendo a uma fotografia.


A carrinha vai gelada, os asiáticos são loucos por ar condicionado. Ponho uma manta por cima do corpo, estou rijo de frio. Mas a hora chega... durmo finalmente um pouco.

Rodrigo Ferrão

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Sá Carneiro V: "Fim"


Fim
 
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
 
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
 
Mário de Sá Carneiro
 
Fernando Pessoa encontra D. Sebastião num
caixão sobre um burro ajaezado à andaluza, Júlio Pomar-1985
 

12.000

O grupo «Livros no facebook» tem hoje 12.000 pessoas. É uma das maiores comunidades sobre livros, literatura e poesia de expressão portuguesa (nesta rede social).

Obrigado!

No Bairro dos Livros... Ler é um Botequim


Ler é um Botequim (14 de Setembro)

Homenagem à escritora Natália Correia

“Sem dia nem hora marcados — às vezes uma vez por semana, outras mais: quase sempre depois do jantar —reúnem-se ali cinco, 10, 20 amigos. É uma honra fazer parte do grupo. Declama-se poesia, discute-se política, conspira-se contra Salazar. Sempre de forma exaltada, porque a Natália era exaltada e exaltava tudo à volta dela”

Descrição do Botequim por Maria Teresa Horta

20h00 

Botequim à Mesa

Jantar no Restaurante Flor dos Congregados, Travessa dos Congregados
Menu de Petiscos variados + Bebida + Café
12€ (Reservas limitadas: cultureprint@gmail.com ou 917205431)

22h00 

Anoiteceu no Bairro (entrada livre)

Performance por Filomena Gigante (Natália Correia)

Poesia, Teatro, Música, Documentário: António Victorino d’Almeida, Paulo Mesquita, Marta Cunha, entre outros convidados

23H00 

Tertúlia: “Do dever de deslumbrar dos novos criadores"

Teatro: Luís Mestre (dramaturgo, encenador, professor de teatro)

Poesia: Ana Luísa Amaral (poeta, investigadora)

Música: Paulo Mesquita (compositor, pianista);

Maestro António Victorino d' Almeida (por confirmar)

Dança: Joana Providência (Coreógrafa)

Cinema: Alberto Lóio (realizador, argumentista)

a-ver-livros: estacionamento e Caterina Betti

Estaciono a alma
no céu de farrapos
deixo o motor a correr
não vás gritar por mim

Estaciono os olhos
nas estrelas ausentes
e sei que gasto 
combustível em 
vão

* para conhecer mais sobre a ilustradora italiana Caterina Betti
siga o link http://catebi.blogspot.pt/

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Sá Carneiro IV: "Caranguejola"


- Ah, que me metam entre cobertores,

E não me façam mais nada...

Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,

Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores!



Lã vermelha, leito fofo. Tudo bem calafetado...

Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira -

Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado

Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira.



Não, não estou para mais - não quero mesmo brinquedos.

Pra quê? Até se mos dessem não saberia brincar...

Que querem fazer de mim com este enleios e medos?

Não fui feito pra festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar...



Noite sempre plo meu quarto. As cortinas corridas,

E eu aninhado a dormir, bem quentinho - que amor...

Sim: ficar sempre na cama, nunca mexer, criar bolor -

Plo menos era o sossego completo... História! Era a melhor das vidas...



Se me doem os pés e não sei andar direito,

Pra que hei-de teimar em ir para as salas, de Lord?

- Vamos, que a minha vida por uma vez se acorde

Com o meu corpo, e se resigne a não ter jeito...



De que me vale sair, se me constipo logo?

E quem posso eu esperar, com a minha delicadeza?

Deixa-te de ilusões, Mário! Bom edrédon, bom fogo -

E não penses no resto. É já bastante, com franqueza...



Desistamos. A nenhuma parte a minha ânsia me levará.

Pra que hei-de então andar aos tombos, numa inútil correria?

Tenham dó de mim. Co'a breca! Levem-me prà enfermaria! -

Isto é, pra um quarto particular que o meu Pai pagará.



Justo. Um quarto de hospital, higiénico, todo branco, moderno e tranquilo;

Em Paris, é preferível - por causa da legenda...

Daqui a vinte anos a minha literatura talvez se entenda -

E depois estar maluquinho em Paris fica bem, tem certo estilo...



Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas-feiras,

Se quiseres ser gentil, perguntar como eu estou.

Agora, no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores maneiras:
Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo o mais acabou.

Mário de Sá Carneiro

É do borogodó: o caso do bolinho e Belinky

"Naquele dia o avô tinha pedido para a avó fazer um bolinho gostoso para os dois comerem. A vó misturou farinha com creme de leite, formou um bolinho bem redondinho e pôs no forno para assar.
O bolinho – hummmmmm – ficou gostoso e cheiroso, mas quente não poderia se comer, por isso a avó colocou na janela para esfriar.

Com aquela brisa da tarde, a maravilha de mundo pela frente, tantas coisas para descobrir e viver, o bolinho decidiu usar a esperteza e rolou fora da bandeja…

Rolou e rolou, mas logo encontrou a lebre que o farejou pelo bom gosto:
- Bolinho, bolinho eu vou comer você…
E o bolinho disse que antes que ela o comesse, ele cantaria sua canção:
- Eu sou um bolinho redondo e fofinho de creme recheado na manteiga assado. A vó não me pegou, o vô não me pegou e você não vai me pegar.
Zapt! O Bolinho de novo rolando para longe da lebre.

Rolou, rolou, mas logo encontrou o lobo que o farejou pelo bom gosto:
- Bolinho, bolinho eu vou comer você…
E o bolinho disse que antes que ele o comesse, ele cantaria sua canção:
- Eu sou um bolinho redondo e fofinho de creme recheado na manteiga assado. A vó não me pegou, o vô não me pegou e você não vai me pegar.
Zapt! O Bolinho de novo rolando para longe da lebre.do lobo.

Logo depois, o bolinho encontrou a raposa e também começou a cantar. A raposa imediatamente disse:
- Que linda voz, que suave canção.
O bolinho ficou impressionado com o elogio. A raposa continuou:
- Pena que sou quase surda, mal posso ouvir… Por que você não pula aqui no meu focinho para cantar, senhor bolinho?

O bolinho muito esperto, mas muito mais vaidoso, pulou, e a raposa, astuta como só ela, nem esperou a canção começar para nhact. A raposa comeu o bolinho e acabou com a fome que roncava na sua barriguinha."


* Tatiana Belinky  nasceu em Petrogrado (São Petersburgo, na Rússia) em 1919, mas viveu quase toda sua vida no Brasil, até junho deste ano de 2013. Autora de mais de 250 livros, crítica literária, tradutora e roteirista de televisão, Tatiana dizia em entrevistas que sempre foi uma bruxinha, mas que depois descobriu que sua verdadeira vocação era para ser boneca de pano tal qual Emília, personagem de Monteiro Lobato. Tatiana Belinky foi responsável pela primeira adaptação da obra de Monteiro Lobato para televisão, nos anos 60, com o “Sítio do Pica-Pau Amarelo”.
Dos contos de Tatiana, “O caso do bolinho” é um dos mais conhecidos pelas crianças. "Os dez sacizinhos" é outra história também muito gostosa de contar aos pequenos.

Penélope Martins

a-ver-livros: costura e Asako Yukiko

Uma linha
duas linhas
três linhas
um nó

assim se costura
a fímbria
do universo


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Sá Carneiro III: "Feminina"



Feminina

Eu queria ser mulher pra me poder estender

Ao lado dos meus amigos, nas banquettes dos cafés.

Eu queria ser mulher para poder estender

Pó de arroz pelo meu rosto, diante de todos, nos cafés.



Eu queria ser mulher pra não ter que pensar na vida

E conhecer muitos velhos a quem pedisse dinheiro -

Eu queria ser mulher para passar o dia inteiro

A falar de modas e a fazer «potins» - muito entretida.



Eu queria ser mulher para mexer nos meus seios

E aguçá-los ao espelho, antes de me deitar -

Eu queria ser mulher pra que me fossem bem estes enleios,

Que num homem, francamente, não se podem desculpar.



Eu queria ser mulher para ter muitos amantes

E enganá-los a todos - mesmo ao predilecto -

Como eu gostava de enganar o meu amante loiro, o mais esbelto,

Com um rapaz gordo e feio, de modos extravagantes...



Eu queria ser mulher para excitar quem me olhasse,
Eu queria ser mulher pra me poder recusar...

Mário de Sá Carneiro

Nota in "Obra Poética de Mário de Sá Carneiro", Europa-América
"Cartas, II vol, ob. cit., carta de 16-2-1916. Antecendendo o poema, Sá Carneiro escrevia: "Agora porém o que estou é muito interessado na confecção de um poema irritantíssimo, Feminina - que comecei ontem à noite, quando me roubaram o chapéu de chuva".



O elenco de editoras que vão estar na Feira do Livro Independente nos Banhos Velhos

A vertigem das listas:

Abysmo
Ahab
Antígona 
Artefacto
Averno
Bruáa
Chili com Carne
Cavalo de Ferro
Chão da Feira
Coisas de Ler
Companhia das Ilhas
Contexto (fundos)
Cotovia
Dois Dias Edições
Devir
Dífel (fundos)
Edições Mortas
Documenta / Sistema Solar / Pedra Angular
Edições Mortas
Eucleia / Liríope
Gótica (fundos)
Húmus
Língua Morta
Livros do Brasil (fundos)
Mariposa Azual
O Homem do Saco / Pianola
Orfeu Negro / Orfeu Mini
Opera Omnia
Presença
Quasi
Quarto de Jade
Revista Coelacanto
Revista Golpe d'Asa
Rwvista Intervalo
Tea for One
Volta de Mar

Uma selecção da nova edição independente espanhola:

Impedimenta
Libros del Asteroide
Nórdica
Periférica
Sexto Piso



Venha à feira! Um belo passeio para o fim-de-semana.

13 de Setembro - 15 de Setembro.
Banhos Velhos: Caldas das Taipas, Guimarães.

a-ver-livros: o grito e Robin Cheers

Arranque-se o grito
da chaga aberta
nesse peito
e insulte-se
o mundo com ele

Arranque-se a carne
pútrida e fétida

e construam-se paredes altas
e represas
para as lágrimas
que teimam
em inundar-te
os dias
* para saber mais sobre a pintora americana Robin Cheers
siga o link www.robincheers.com

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Sá Carneiro II: "Sugestão"



Sugestão

As companheiras que não tive,
Sinto-as chorar por mim, veladas,
Ao pôr do sol, pelos jardins...
Na sua mágoa azul revive
A minha dôr de mãos finadas
Sobre setins...


Mário de Sá-Carneiro


quadro de Edwin Austin Abbey