Livro de família, porventura. Ou tê-lo-ia obtido num alfarrabista?
Por vezes, no comércio de livros usados, deparava-se com preciosidades.
Quase sempre, provinham de bibliotecas desfeitas por heranças. Nem se imaginava.
Ao morrer o senhor duma casa antiga, vão-se logo buscar as cadernetas do
dinheiro. O cadastro das terras. Abrem-se também os baús antigos, que ainda
guardam o cheiro da pimenta e da cânfora. Reparte-se.
Pede-se o rol da livraria. Latim, português, outras línguas. Volumes de
várias épocas, este mais estimado que aquele. Maços de configurações
diferentes. Precintas em ourelo de linho. Algumas sedas. “Trambolhos!”
“E se vendêssemos?”, pergunta um dos herdeiros. À experiência.
“Oh, não!”, grito da tia mais velha. Olhos rasos de lágrimas.
Mas a opinião dela não conta. Chama-se alguém que faça lotes. Que leve a
leilão.
Não interessa quem irá comprar. Não importa que, mais tarde, se venha encontrar a mulher das castanhas embrulhando-as à dúzia numa folha daquelas.
Sim! As heranças são dos piores inimigos dos livros. O pior, tirando os
incêndios.
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