sábado, 15 de outubro de 2011

Palavras de Mia Couto

O escritor Mia Couto falou assim nas Conferências do Estoril 2011. Vale a pena ouvir esta reflexão.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Porque o Povo Diz Verdades

António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."



"Porque o povo diz verdades,
Tremem de medo os tiranos,
Pressentindo a derrocada
Da grande prisão sem grades
Onde há já milhares de anos
A razão vive enjaulada.

Vem perto o fim do capricho
Dessa nobreza postiça,
Irmã gémea da preguiça,
Mais asquerosa que o lixo.

Já o escravo se convence
A lutar por sua prol
Já sabe que lhe pertence
No mundo um lugar ao sol.

Do céu não se quer lembrar,
Já não se deixa roubar,
Por medo ao tal satanás,
Já não adora bonecos
Que, se os fazem em canecos,
Nem dão estrume capaz.

Mostra-lhe o saber moderno
Que levou a vida inteira
Preso àquela ratoeira
Que há entre o céu e o inferno."

Há algum sonho de criança que te custe muito ter abandonado?

Hoje fiz esta pergunta. Não vou dizer a quem. Apenas digo que foi a uma "anónima" como eu. Apenas mais uma escritora sem livro... Que trago do anonimato para o meu mundo das palavras. E para aqueles que, realmente, abrem esta página e partilham esta emoção comigo.


- "Há algum sonho de criança que te custe muito ter abandonado?"

- resposta:

"No fundo, não concretizei nenhum, e vou tendo pedacinhos deles todos... Quis ser escritora, quis ser astrofísica, quis viver nos telhados de Paris, sonhei, sonhava, fui sonhando... Fui sendo, fui aprendendo que a arte da vida é manter o sentimento onírico e não um sonho concreto. Quis ser pianista e aprendi a tocar piano sozinha, e a dada altura percebi que queria ser muita coisa e fui tentando ser um bocadinho de tudo, um pedacinho de sonho aqui, um pedacinho de sonho ali. E vivo no mundo desses sonhos, na soma dos bocadinhos concretos que fui realizando. Sonho ainda em escrever um livro, um único. Mas a verdade é que fui sempre atrás do sonho que me batia à porta e cedo, mesmo cedo, percebi que a perfeição, o ideal, o idílico não tem expressão. Daí ter abraçado o gerúndio. Não sou nada em concreto do que queria ser, vou sendo um bocadinho de tudo e do todo que ainda tenha para sonhar... porque o sonho não esgota..."

O Nosso Desejo de Liberdade não é Sincero

Um pensamento de Agostinho da Silva.

"Se estamos todos muito bem preparados para reclamar liberdade para nós próprios, menos dispostos parecemos para reclamar sobretudo liberdade para os outros ou para lhes conceder a liberdade que está em nosso próprio poder; se conhecêssemos melhor a máquina do mundo, talvez descobríssemos que muita tirania se estabelece fora de nós como se fosse a projecção ou como sendo realmente a projecção das linhas autocráticas que temos dentro de nós; primeiro oprimimos, depois nos oprimem; no fundo, quase sempre nos queixamos dos ditadores que nós mesmos somos para os outros; e até para nós próprios, reprimindo todas as tendências que nos parecem pouco sociais ou pouco lucrativas, desejando muito que os outros nos vejam como simples, bem ajustados, facilmente etiquetáveis."

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Poemas que dão música - Vinicius de Moraes

Do álbum Miúcha e Antônio Carlos Jobim, que dão voz à letra de Vinicius.



"Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai, que bom que isso é, meu Deus
Que frio que me dá
O encontro desse olhar

Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus
Só pra me provocar
Meu amor, juro por Deus
Me sinto incendiar

Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus
Já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus
Sem mais larirurá

Pela luz dos olhos teus
Eu acho, meu amor
E só se pode achar
Que a luz dos olhos meus
Precisa se casar"

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Ninguém Se Conhece a Si Mesmo


Um pensamento de Luigi Pirandello.

"Julga que se conhece, se não se construir de algum modo? E julga que eu posso conhecê-lo, se não o construir à minha maneira? E julga que me pode conhecer, se não me construir à sua maneira? Só podemos conhecer aquilo a que conseguimos dar forma. Mas que conhecimento pode ser esse? Não será essa forma a própria coisa? Sim, tanto para mim como para si; mas não da mesma maneira para mim e para si: isso é tão verdade que eu não me reconheço na forma que você me dá, nem você se reconhece na forma que eu lhe dou; e a mesma coisa não é igual para todos e mesmo para cada um de nós pode mudar constantemente. E, contudo, não há outra realidade fora desta, a não ser na forma momentânea que conseguimos dar a nós mesmos, aos outros e às coisas. A realidade que eu tenho para si está na forma que você me dá; mas é realidade para si, não é para mim. E, para mim mesmo, eu não tenho outra realidade senão na forma que consigo dar a mim próprio. Como? Construindo-me, precisamente."

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Livros que deram filme: Expiação, Ian McEwan



"No dia mais quente do Verão de 1935, Briony Tallis, de 13 anos, vê a irmã Cecilia despir-se e mergulhar na fonte que existe no jardim da sua casa.
É também observada por Robbie Turner, um amigo de infância que, à semelhança de Cecilia, voltou há pouco tempo de Cambridge. Depois desse dia, a vida das três personagens terá mudado para sempre. Robbie e Cecilia terão ultrapassado uma fronteira que, à partida, nem sequer imaginavam e tornar-se-ão vítimas da imaginação da irmã mais nova. Briony terá presenciado mistérios e cometido um crime que procurará expiar ao longo de toda a sua vida.


Expiação é, porventura, a melhor obra de Ian McEwan. Descrevendo de forma brilhante e cativante a infância, o amor e a guerra, a Inglaterra e a situação de classes, contém no seu âmago uma exploração profunda - e muito comovente - da vergonha, do perdão, da expiação e da dificuldade da absolvição.

Nomeado para o Booker Prize e para o Whitbread Award 2001."

Não li o livro de Ian McEwan. Mas vi o filme. Destaco o excelente trabalho de Dario Marianelli, na banda sonora - que valeu o Óscar da Academia nesta categoria em 2008.

Para escutar com atenção...

Perdi a noção do tempo: há quantos anos li Anne Frank?

Não sei há quantos anos li 'O Diário de Anne Frank', mas qualquer dia volto a pegar nele. Hoje veio ter comigo o seguinte pensamento:

“Tremo de medo que todos aqueles que me conhecem tal como sempre me mostro, venham a descobrir que tenho outro lado, o mais belo e o melhor. Tenho medo que zombem de mim, que me achem ridícula e sentimental, não me levem a sério, mas é a ‘Ana Superficial’ que a isso está habituada e consegue suportá-lo; a outra, aquela que é ‘séria e terna’, não poderia resistir…Quando estou séria e calma, dou a todos a impressão de estar a representar uma comédia e recorro logo à brincadeira para fugir da situação! (…)”

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Morreu o escritor Félix Romeo

Obviamente que qualquer morte prematura abala a nossa natureza humana. Mas, no caso de Félix Romeo, um talentoso escritor com tanto ainda para dar à literatura, a sensação é de profunda perda.


Informa o jornal Público: "Félix Romeo, natural de Saragoça, cidade onde ainda hoje vivia, é autor de três romances: "Dibujos Animados", "Discothèque" e "Amarillo". Em Portugal, apenas "Discothèque" está traduzido, editado pela Minotauro."


(na imagem: Félix Romeo numa sessão de apresentação do seu livro, na Livraria Almedina - Atrium Saldanha. Acompanhado de Pedro Vieira, também escritor e apresentador do programa televisivo 'Ah, a Literatura')

"Sobre o livro e o seu autor, Rui Lagartinho, crítico de literatura do PÚBLICO, escreveu em Agosto de 2010, no Ípsilon, que "Félix Romeo transforma lixo em poesia". "Eleva-se da vulgaridade do realismo quando escolhe concentrar a acção numa mítica Noite de Reis, quando as perseguições de automóvel acabam com fumos de Shakespeare, de Hamlet, num cara-a-cara, olhos nos olhos filial em que a morte só chega porque o guião assim o exige e porque corvos, lagartos, ratos, hienas, abutres e chacais já se assomam. Podia ser cinema."

domingo, 9 de outubro de 2011

Como foi ler o livro de Setembro, A Magia dos números...

Yoko Ogawa empresta uma magia Oriental ao livro que escreve. Um toque que quem já leu alguns romances Asiáticos, conhece e sente. A delicadeza dos pensamentos, a suavidade das palavras, a serenidade das personagens. Sempre com pequenas lições para ensinar. Frases plenas de sentido, que nos transmitem sensações e trazem o melhor que há no ser Humano.


É portanto uma história carregada de pequenos simbolismos. Uma narrativa fácil de ler e corrida. Mas que prende o leitor logo desde início. A fórmula é óptima: um professor que precisa de cuidados porque teve um acidente e tem a memória afectada e programada apenas para 80 minutos. Uma empregada e seu filho que entram na sua vida de rompante e se tornam na sua grande companhia. Apesar de incapacitado, este homem é um génio da matemática. E é através dela que se expressa, transformando esta ciência exacta numa divertida forma de dar significado às coisas humanas. Apesar de ter a memória afectada, este senhor vai mudar por completo a vida desta mulher e do filho. Desde que se conhecem, nada será a mesma coisa.


A escritora Yoko Ogawa escreveu uma excelente história, de grandes afectos. Difícil, por certo, de documentar. Isto porque fala de matemática e de basebol Japonês. Um trabalho, certamente, de grande pesquisa. Mas que a autora transforma numa leitura agradável e numa história simples: plena de sentido e que traz à pele o melhor dos nossos sentimentos. Senti, portanto, um prazer especial em ler este livro. Pelas reflexões que me trouxe.

A Magia dos números foi mais um livro de leitura conjunta do nosso blogue. Resta-me agradecer a escolha da Elsa Martins Esteves para o mês de Setembro. E deixar o meu testemunho. Espero que gostem!

Poemas que dão música - Pedro Abrunhosa



"Eu não sei, que mais posso ser
um dia rei, outro dia sem comer
por vezes forte, coragem de leão
às vezes fraco assim é o coração
eu não sei, que mais te posso dar
um dia jóias noutro dia o luar
gritos de dor, gritos de prazer
que um homem também chora
quando assim tem de ser

Foram tantas as noites sem dormir
tantos quartos de hotel, amar e partir
promessas perdidas escritas no ar
e logo ali eu sei...

(Que) Tudo o que eu te dou
tu me dás a mim
tudo o que eu sonhei
tu serás assim
tudo o que eu te dou
tu me dás a mim
e tudo o que eu te dou

Sentado na poltrona, beijas-me a pele morena
fazes aqueles truques que aprendeste no cinema
mais peço-te eu, já me sinto a viajar
pára, recomeça, faz-me acreditar
"Não", dizes tu, e o teu olhar mentiu
enrolados pelo chão no abraço que se viu
é madrugada ou é alucinação
estrelas de mil cores, ecstasy ou paixão
hum, esse odor, traz tanta saudade
mata-me de amor, dá-me liberdade
deixa-me voar, cantar, adormecer"