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sexta-feira, 10 de julho de 2015
A minha vida tem sido não chegar a parte nenhuma
Em nenhum dos meus dias consigo fazer outra coisa que não a desgraça de não chegar a parte nenhuma. Bem que tento não sou rapaz de desistências todos isso sabem, encho-me de força avanço de punhos cerrados o olhar focado e no pensamento
-É desta vai ser desta é só acreditar
E desde logo sofro todo um conjunto de vergonhas e tristes acasos que podem ir desde bater com a cabeça na ombreira da porta (sempre fui muito alto dizem que veio o gene de um bisavô) e imediatamente um grande galo e como consequência eu uma semana de cama ou até levar um encontrão de um senhor com maior corpulência que rapidamente me faz dar três ou quatro voltas sobre mim próprio e só parar quando estendido sobre a calçada ou então pode ainda dar-se a tristeza de em sítio inoportuno começar a sentir necessidades do corpo e pronto, nesse caso é uma carga de trabalhos de resolução bastante árdua
Mas atenção, se verdade é que não vou a parte nenhuma em nenhum aspeto da minha vida mais verdade é que o faço com grande elegância, dos falhados sou sem dúvida o mais fantástico e prodigioso, falho de forma fenomenal e incomparavelmente melhor que qualquer outro falhado, aliás volta e meia um amigo
-Tu realmente és sublime a não ir a parte nenhuma
E eu a querer agradecer o elogio mas mal abro a boca para falar escorrega-me a placa com a dentição percorrendo-me todo o corpo no sentido descendente só parando quando já mais caminho não pode percorrer e imobilizando-se quietinha e bastante simétrica em relação ao padrão presente no chão (calçada mosaicos carpetes não importa, a minha placa sempre perfeita e sempre no mais harmonioso contraste com o mundo). Lá me baixo a fim de alcançar a placa que entretanto ganhou vida e insiste em fugir-me mas quando menos espero um estalido nas costas e rapidamente eu apenas feito de
- Ai ai ai alguém que me acuda alguém que me acuda
E como resultado fico três semanas de cama trancado no meu quarto o que até se me afigura bastante positivo porque não tenho que falar com ninguém nem tenho que passar por baixo de portas e muito menos corro o risco de levar um encontrão e de me ver estendido no chão
De maneiras que me vou dando por contente por ser um sujeito com tanta graciosidade e ligeireza no ato das desgraças, há por aí uns outros colegas que bem tentam alcançar o meu nível (grandes treinos fazem, trabalham imenso, têm massagistas treinadores e fisioterapeutas a tempo inteiro) mas nem perto chegam, como digo isto de ser péssimo é um dom devendo-se cada um contentar com os atributos que por sorte ou acaso ostenta
Gonçalo Naves
Foto retirada do seguinte vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=mLqbPvvMsuI
Aqui vai nascer um projecto diferente de gin: Magellan, por Rodrigo Ferrão
Magellan
entro no bar
e observo as vidas que se arrastam pela tristeza.
nas mesas
jazem copos - objectos nada preocupados com as perspectivas das coisas (nessa
equação tão simples, redutora e singular... do meio cheio, do meio vazio).
aproximo-me
de uma mulher que fuma um longo e fino cigarro.
peço-lhe
isqueiro e aceno ao rapaz
- dá-me um
gin, rosno.
ele olha
para mim,
ele olha
para a moça,
ele olha
para as garrafas,
ele escolhe
o que quer.
começa o
ritual de dança à volta do copo cheio de gelo.
fala-me de
viagens e grandes navegadores,
nas rotas de
especiarias,
de enormes
barcos carregados de cravinho,
mares sem
fim
e diferentes
cores nos céus distantes.
dou o
primeiro travo e sinto o gelo. a garganta seca (como o deserto) parece ter o
descanso merecido. sinto no estômago o conforto do frio e percorre-me um
calafrio na espinha.
de repente,
sinto que não estou naquele espaço, convoco as memórias do mar da minha
infância, deixo cair uma lágrima na palma da mão e limpo o nariz nas mangas da
camisa.
tiro um
valium do bolso e atiro para o copo.
despeço-me
do meu engate falhado,
despeço-me
de mim próprio com um abraço apertado
e bebo num
trago o que me resta.
que a noite
seja o amparo merecido
da filha da
puta de vida que levo.
Gonçalo Viana de Sousa - O Flâneur das Sensações
Meu querido José
Escrevo-lhe já em
terras deste nosso país, no recanto de céu e silêncio e whisky ou gin,
dependendo das circunstâncias, que se impõem.
A solenidade não
satisfaz a todos, mas estas noites de Verão sempre me lembram Nicosia, o Rio e
Ela, bela, nume e ubíqua a qualquer vontade ou desejo. A minha Isolda dos
cabelos dourados.
Não, jovem das
imaginações líquidas, não lhe falo de pessoas de carne nem de papel, falo-lhe
de algo anterior a tudo isso. Falo-lhe dessa vontade de escrever que se crava
no desejo supremo de uma visão, de um suspiro, de um olhar.
Enfim, segue a missiva
que pude fazer, já enviada a horas tão propícias a tudo e tão adaptáveis ao
nada.
Somos feitos de nada e
de silêncios.
Leia em silêncio, num
silêncio solene, crístico, estético e humano.
Efraim manda-lhe este
pequeno exemplar, primeira edição!, da Ilustre
Casa de Ramires, com um abraço do tamanha de Israel e da Judeia.
Seu
Gonçalo Viana de Sousa
O que nos leva a escrever senão este
ante-estar entre o ser e o sonhar? Escrever só pode ser uma forma de adiar, e
ao mesmo tempo, de confirmar a nossa solidão de tardes entre os laranjais da
nossa infância. O silêncio será o nosso único consolo, dizia meu pai. Havemos de encontrar o silêncio
cintilante, lá longe, onde as estrelas brilham, lá longe, onde, como disse
Byron, os pássaros não ousam fazer os seus ninhos. Se me considero um
flâneur é porque me sei de realidade e de sangue, mas o céu é tão longínquo e
de uma cor tão azul e ao mesmo tempo de um esmaecido desmaiado. Uma cor que
inclui todas as cores do mundo e exclui todas as outras pessoas, ruidosas,
superficiais.
Todas as
noites são uma impressão externa à minha sensação, musical, indescritível,
inenarrável, de todo este mistério, grande, glorioso, incomensurável. Não é
amor ou carícia. É espanto. Um espanto olímpico, ao mesmo tempo infernal,
eléctrico, imparável, capaz de comungar com as fúrias filhas do Olimpo toda a
raiva de um mito esquecido e guardado em bibliotecas poeirentas.
Se ao menos
Bernardo Soares fosse vivo…
quinta-feira, 9 de julho de 2015
O apelo de Rui Bernardino: ajuda para encontrar escritores
Olá! Sou o Rui Bernardino e o ano passado lancei um livro - É possível
As boas experiências proporcionadas levam-me a dizer "quero mais". E então pensei numa parceria com um(a) jornalista. Admito que eu sozinho não conseguirei...
Tenho uma doença que me limita bastante mas felizmente, cognitivamente, estou bem e cheio de ideias para o 2º, 3º livro... :) Mas procuro escritores que aceitem o desafio de uma parceria comigo.
Que dizem?
Rui
As boas experiências proporcionadas levam-me a dizer "quero mais". E então pensei numa parceria com um(a) jornalista. Admito que eu sozinho não conseguirei...
Tenho uma doença que me limita bastante mas felizmente, cognitivamente, estou bem e cheio de ideias para o 2º, 3º livro... :) Mas procuro escritores que aceitem o desafio de uma parceria comigo.
Que dizem?
Rui
a-ver-outras-coisas: felicidade é...
quarta-feira, 8 de julho de 2015
a-ver-livros: do cansaço
Há no cansaço uma poesia
estranha
um sentir vagaroso
um tempo sem tempo que se arrasta
pela pele
pelo peito
Sobra fadiga no gesto que a mão
não completa
na palavra que os lábios
apenas suspeitam
no beijo que ficou por dar
à sombra da figueira
Escorre lassidão pela nuca
e nem o medo da morte
desperta
Ana Almeida
estranha
um sentir vagaroso
um tempo sem tempo que se arrasta
pela pele
pelo peito
Sobra fadiga no gesto que a mão
não completa
na palavra que os lábios
apenas suspeitam
no beijo que ficou por dar
à sombra da figueira
Escorre lassidão pela nuca
e nem o medo da morte
desperta
Ana Almeida
terça-feira, 7 de julho de 2015
Bai'má Benda: Mediebal open season... num se cunstipem!
Mediebal open season... num se cunstipem!
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estrada
segunda-feira, 6 de julho de 2015
Conheçam Tinho (a.k.a. Walter Nomura)
This amazing mural was created in Frankfurt by a Brazilian artist Tinho
Encontrado na página For Reading Addicts
Visite o artista Tinho (a.k.a. Walter Nomura) https://www.facebook.com/tinho23sp/timeline
domingo, 5 de julho de 2015
Old English
Chamam-me velho,
como se
a velhice fosse defeito.
Sou
velho de facto,
preciso
de óculos
para ler
jornais
mas não
para ler poesia,
e já não
dispenso chapéu,
borsalino de feltro nos dias de frio,
complementi Don Giuseppe!,
panamá de palha nas tardes de hipódromo.
Quando
de fato,
botões de punho de um tio-avô, obviamente aviador,
camisa
branca e a surpresa de um gerânio encarnado na lapela.
Pois é,
sou velho e antiquado como uma garrafa de champanhe,
assim
que a cada sorvo exijo cerimónia,
fato de
gala, fraque, vestido de lantejoulas,
música
de orquestra,
que comme
il faut sei valsar a vienense, a inglesa e o foxtrot,
vontade
de dançar até o alvorecer
e absoluta
sede de viver.
Raquel Serejo Martins
a-ver-outras-coisas: a poesia dos números 6, Francisco José Craveiro de Carvalho
"Com a ironia fina habitual agradeceu
os parabéns e lembrou-me ser a última vez
que os seus anos eram perfeitos."
Francisco José Craveiro de Carvalho
Um homem da Matemática Aplicada e da Geometria, professor catedrático aposentado, tradutor, entregou-se aos tercetos. Da magia dos números à poesia dos números.Do seu livro "As Sapatilhas de Usain Bolt & Outros Tercetos".
* escolhido por Ana Almeida
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