quinta-feira, 2 de outubro de 2014

a-ver-livros: Calendário

Se não soubesse melhor
era Julho
e havia pela frente o que ficou
para trás
Se não soubesse melhor
era sede e ânsia
e havia fogo
que há muito apagou
Se não soubesse melhor
eram laços
e nós
afinal desatados, caídos
neste Outubro
que pisamos

Ana Almeida

* para saber mais sobre o pintor Nicolas Odinet
siga o link www.nicolas-odinet.com

Como conheci Gonçalo - parte III

Meu Querido José

Muito folgo em ler as suas páginas, últimas, contando o episódio no qual se deu, na alameda ou avenida das tílias, em 2010, o nosso inusitado encontro. Tirando uma parte ou outra, em que se perde pelos enlevos românticos (ainda!) de descrições quase panteístas, sinto uma grande alegria e frescura ao ler as suas páginas, ainda que as descreva como paraliterárias. Chamemos-lhes, antes, pararreais, pois a forma como falou e introduziu Richard Wagner nestas folhas de odor diáfano fazem-me ser um mito ou uma espécie de figura quase mágica. Olhe que não mereço tais comparações, mas fiquei enternecido com a forma como fez esse compasso entre o ritmo do texto e dessa maravilhosa composição amorosa de Wagner, que traduzida para a nossa lusa língua, língua de sistemas!, significa Sonho. Não me coloque num patamar pararreal! Sou de carne e de tempo, nada mais…
Continue, meu querido, continue, amigo. Não pare agora que começa a entrar naquilo que verdadeiramente interessa: a capacidade de tornar a realidade num pedaço, ainda que esquecido, de ficção. Mantenha esse seu amor, esse seu gosto, essa sua sensibilidade. Não a desperdice comigo. Ofereçe-a aos leitores! Escreva! Escreva! Escreva! Sinto-me frenético e pastoril, hoje, por causa do seu texto. Efraim também leu as suas folhas e gostou bastante. Um shake-hands deste inolvidável judeu. Cumprimentos aos leitores e, por amor dos deuses e das coisas belas, coloque a breve composição, poema sinfónico, diria, de Wagner, a acompanhar o seu texto. Pergunto-lhe: porque é que só tem, como me disse, publicado duas a três páginas por semana? Publique mais. Olhe que, com certeza, há quem, avidamente e qual peregrino, leia essas suas páginas como um oráculo de Delphoi.
  Quanto a mim, regressei há três dias de Malta, tendo indo cumprir uma velha promessa de visitar um abade amigo da família, centenário e cheio de vigor! Devem ser aqueles ares marítimos e romanticamente orientais de um Oriente a Oriente do Oriente que conhecemos. Leia Baudelaire, leia Chateaubriand. Leia, ame, beba, viaje.
Muito seu.

Gonçalo V. de Sousa.

 Segue o link da composição sinfónica de Wagner - https://www.youtube.com/watch?v=NAirnyx-XPA

                O tempo parecia não existir.
            A língua é capaz de traduzir mundos e sistemas, filosofias e toda uma Escola ou Movimento. O francês, meu jovem, dizia-me o senhor Viana de Sousa, é a língua mais complexa e completa por ter em si toda uma galáxia de tempos verbais e terminações tremendas, filhas de um latim tardio de igrejas e mosteiros queimados. No francês, encontramos toda a beleza de sistemas económicos, políticos e sociais. Através do francês, desvendamos novos mundos literários de floresta e rios caudalosos, tal como o português. A diferença é que o português é uma tradução, em calão, disse o Eça, do francês. Melhor dizendo, era, visto que hoje em dia tudo é traduzido do inglês e tudo é feito pensando na língua que sua majestade jamais falaria se não fosse um plebeu de origens míticas chamado William Shakespeare.
            Bem, meu caro jovem, a língua e a linguagem refletem a ideia de um povo, da sua cultura e da sua história, no sentido em que é capaz de ser um fiel espelho do pensamento humano, artístico e até divino. Repare que até o Cristianismo assenta na complexidade de umas quantas línguas com labirintos verbais. Em suma, a complexidade de uma língua é a fonte da sua riqueza e futuro.
            Enquanto dizia isto, Gonçalo olhava-me nos olhos, ao mesmo tempo que brincava com o seu Porkpie, fazendo este saltitar entre as mãos. Eu olhava para esta figura com deslumbramento. Ao mesmo tempo que apreendia o que era dito reformulava as minhas questões, confiante que também saberia responder, perguntando, na tonta esperança de sair vitorioso como um Siegfried que derruba o dragão. (Naquela altura eu não sabia quem era Siegfried, só mais tarde, após longas e saborosas conversas com Gonçalo é que vim a descobrir o maravilhoso mundo de Wagner. Sem ele, jamais seria possível elaborar esta comparação neste texto paraliterário de rudimentar engenho).
            Compreendo o que diz, senhor Viana de Sousa. Mas pense no seguinte: se houvesse uma língua capaz de descrever todos os sistemas e explicar o mundo e as suas filosofias através de uma linguagem mais simples e sintetizada, não seria isso o ideal? A meu ver, penso que o inglês consegue fazer isso, ao simplificar, por exemplo, os tempos verbais e as suas terminações. Além disso, o facto de ter um elemento neutro para qualificar o género, tal como o alemão, é genial, acredito. Gonçalo pasmou olhando para mim, sorriu, colocou a mão no meu ombro e respondeu quase de forma condescendente, e o jovem acredita que isso é capaz? Sintetizar todos os sistemas numa língua que perante um vous e um subjonctif  perder-se-ia como uma jovem nos braços de Pelléas? O inglês, por mais universal que pareça ser, jamais conseguirá absorver, como o francês, ou até mesmo o alemão, toda a grandiosidade de uma civilização. Mas voltemos a Fradique e ao meu bisavô, isto se ainda quiser saber a história de como eles ficaram grandes amigos, depois daquela quente tarde de Julho de 1871.
            Com certeza, senhor Viana de Sousa. Sabe que sempre tive a ideia que Fradique não existiu, que foi uma mera criação literária (à época também quereria dizer ontológica, mas as palavras faltavam-me, como ainda hoje, se bem que naquele tempo um pouco mais. Ah! Primaveras românticas!) de Eça de Queirós, Antero de Quental e Jaime Batalha Reis.
            Ao princípio, toda a gente pensou isso, meu jovem. Depois, quando Eça se apercebeu que a figura que ele descreveu em O mistério da estrada de Sintra com Ramalho Ortigão, em 1870, e na Revolução de Setembro, já não me recordo da data, existia de facto, e realmente habitava Paris e o mundo como um touriste, o nosso Eça não soube o que fazer. Até que Fradique convidou este, numa solarenga tarde de Novembro, para ir a sua casa, na Rua de Varennes, de forma a conhecerem-se melhor.
            A minha cabeça girava sobre todos os ângulos possíveis. Como é possível Eça de Queirós ter conhecido Carlos Fradique Mendes, se este nunca existiu verdadeiramente? Estarei eu a ser vítima de uma brincadeira de bom gosto?
            Resolvi, então, determinado, levantar esta suspeita a Gonçalo. Se Fradique existiu mesmo, como é que não há bilhete algum ou correspondência deste com Eça de Queirós ou com o seu avô? Bisavô, corrigiu Gonçalo. Sim, bisavô. Como explica isso?
            Então não acredita no que lhe estou a dizer? Sabe que, ao acreditar que Fradique não existiu para além das palavras e da escrita, está a por a em causa a minha própria existência, tendo em conta que, então, meu bisavô ou era um maluco ou, verdadeiramente, não existiu!
Depois desta afirmação quase ameaçadora, comecei a rir-me como uma criança. Então o senhor não existe, de facto! O senhor é fruto da minha imaginação. Diga-me, pois, como é possível ser verdade aquilo que me conta, sabendo que não existe qualquer troca de correspondência entre o seu bisavô e Fradique, ou entre este e Eça de Queirós. É absolutamente irreal aquilo que me está a dizer. (A certo ponto, senti-me solto e parecia nascer algo ou alguém diferente em mim, enquanto respondia a Gonçalo. Não me apercebi que magoara, talvez, os sentimentos de um homem requintado e de bom gosto, que jamais seria capaz de mentir, fosse pelo que fosse).
Gonçalo ficou ofendido, e os seus olhos pareciam rasgar os meus através daquele olhar furtivo e experiente, de quem sabe como ferir alguém profundamente, mas sem nunca ousar fazê-lo por ser educado de mais. Olhou para mim, como um bardo. O vento fazia com que as folhas dançassem ao som de uma valsa invisível. À época, se soubesse, diria que a Natureza era embalada pela Träume, de Wagner. Gonçalo continuava a olhar para mim, silencioso, parecendo esperar o final daquela maravilhosa composição wagneriana que não se ouvia, ou que pelo menos eu ainda não soubera escutar. Quando aquilo que eu agora afirmo ser o cessar dos violinos se deu, Gonçalo olhou-me como nunca ninguém me olhara e disse,

Então eu não existo! (continua)

É hoje! Tiago Salazar na Snob, em Guimarães

A Nova Delphi tem a honra de apadrinhar a estreia em ficção de Tiago Salazar. O "peregrino da cultura", como o define Miguel Real, autor do prefácio d' O Baú Contador de Histórias, estará em Guimarães a 2 de Outubro, próxima quinta-feira, para guiar Noé, o jovem aspirante a estadista, e restantes membros da trupe pelos acidentes orográficos de um país feito sótão. Destacam-se, no cortejo, homens das “máquinas partidárias”, políticos que sofrem de reforma antecipada – quiçá pelo desgaste de tantas ejaculações à boca das urnas -, escritores leais à bênção da “velha senhora”, jovens rapazes versados em epopeias contra a inclitoriana geração, padres empenhados em trocar as escrituras por miúdos e um vidente que só não adivinhou a sua necessidade de viver longe dos homens, entre outras figuras mais ou menos púbicas. Sob a vigilância de Tiago Salazar, o autor alerta, desde já, para a existência de uma providência cautelar que impede o assédio de juventudes partidárias a um jovem de 13 anos.

Clara Amorim, professora, apresenta o livro.

*in evento de lançamento, no facebook

Foto frase do dia: Einstein


quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Passatempo «Brasil», de Neill Lochery

P.V.P.: 19,90 € 
Data de Edição: 2014
Nº de Páginas: 432
Editora: Editorial Presença

O Clube de Leitores e a Editorial Presença têm três exemplares para oferecer aos nossos seguidores do livro Brasil - de Neill Lochery. 

Para participar, basta responder ao seguinte: O que mais gosta no Brasil? Porquê?

As melhores respostas enviadas em comentário a este post (tanto aqui no blog, como na página do facebook ou ainda no grupo) vão a uma finalíssima de 3 dias a ser votada pelos membros do blog e seguidores. 

O envio das frases deve ser feito até quarta-feira, dia 8 de Outubro. Nos dias seguintes, anunciaremos as respostas que vão seguir para a finalíssima.

O concurso é válido para Portugal continental e ilhas.

Boa sorte! 

*O vencedor terá que enviar-nos a sua morada. Em caso de não o fizer, o Clube atribuirá o livro a outro(a) finalista. Fique atento!

É hoje: Daniel Gonçalves e Pepe Brix na Snob

É hoje que os autores de «Ensaio sobre o comprimento do Silêncio» apresentam este notável livro de escrita e fotografia. Todos à Snob, em Guimarães - 19:30. Quem vai?
Acompanhe a página da Livraria Snob no Facebook. Já abriu, em Guimarães. Pode lá encontrar isto e muito mais.

Poesia em matéria fria: Marina Colasanti

Siga a página no facebook: https://www.facebook.com/poesiaemmateriafria

terça-feira, 30 de setembro de 2014

A Graça está no...


A Graça, quando menina não tinha graça nenhuma mas cresceu e ganhou graça.
Às vezes Deus dá.
À Graça Deus deu depois dos quarenta, já ninguém dava nada pela Graça.
Aconteceu como se de Terça para Quarta, como se de Quarta para Quinta, todos sem certezas, os dias da semana todos tão iguais.
Aconteceu sem ninguém notar, como quando depois do Verão o Outono, a primeira chuvada e ninguém de guarda-chuva ou gabardine, os sapatos pelos passeios como submarinos e os pés, os passos cautelosos, a imprimir aos corpos meneios de patos.
Ou os sapatos de salto.
Ou a saia mais curta.
Ou a curvas das ancas mais evidentes.
Ou a transparência da blusa.
Ou o decote mais fundo.
Ou os lábios pintados.
Ou a medalhinha no fio de ouro com mais brilho.
Santo António e o menino na medalha, orações nocturnas, sonhos ou insónias e marido nenhum, as noites dantescas na companhia do gato, Dante o gato, os dois no sofá, cada com lugar definido no sofá, a luz do candeeiro de pé e do ecrã de televisão, e um livro.
Quando o livro de poesia, lê em voz alta um ou outro poema ao gato, e já percebeu quais os poetas preferidos do felino, o O’Neill e o Pina.
Assim, a Graça em estado de desgraça, as conversas de Segunda-feira no trabalho vazias das suas palavras, que não se vai pôr a contar as conversas com Dante (com quem?), pelo que sem nada para contar, tudo igual, mais uma vez igual, sem novidades.
Talvez porque a Graça, mesmo ao fim-de-semana respeita a rotina, é organizada (é suposto ser qualidade), arruma os afazeres nas horas como as roupas nos armários, na cómoda as camisolas de lã e de algodão, de Inverno e de Verão, arrumadas (arquivadas!), por cores, preto azul castanho beije, quatro cores em quatro gavetas.
Assim, mesmo no fim-de-semana acorda às ordens do relógio despertador e cumpre horário.
Sábado é dia de ir às compras, verifica previamente o que falta no frigorífico e na despensa, regista as faltas num bloco de notas (faltam sempre as mesmas coisas), e sai de carrinho de compras pela mão como um cão pela trela.
Um cão coxo, uma das rodas tortas desde que comprou o carrinho, apesar de ter passeado o carrinho pelos corredores da loja sob o olhar incomodado e em bico, do senhor atrás da caixa registadora e, apesar do test drive, não percebeu os defeitos da viatura antes de concretizar a compra (acha graça sempre que as pessoas usam a palavra concretizar), désolé, e conclui com um sorriso, porque intimamente sabe rir de si, que da próxima vez, antes de comprar um carrinho de compras vai incluir nas orações a Santo António um par de rodinhas alinhadas e desempenadas, nunca se sabe, talvez no que toca a rodinhas sua divindade seja mais competente, e justifica a si mesma os esdrúxulos pensamentos, isto por ser coisa de gajos.
Depois, no supermercado, de carrinho de mão como cão pela trela, percorre os corredores sempre pela mesma ordem e resiste, em regra resiste, a comprar bolachas com pepitas de chocolate.
A sua fraqueza, bolachas com pepitas de chocolate, incapaz de parar depois de abrir o pacote, guloseima que gosta de acompanhar com um copo de leite simples e frio, mesmo no Inverno, uma ousadia, quase uma irreverência.
E compra, compra sempre, sete maçãs, duas vermelhas e cinco amarelas.
Come pontualmente uma maçã às dez da manhã de todos os dias porque dizem os ingleses ser suficiente para manter médicos à distância.
Assim, passa a manhã nas compras.
Enche a manhã a passear pelo mercado, o cheiro a peixe, quase a mar, a fruta, a flores, a pão, a café e, pelos corredores do super-mercado, sempre na mesma ordem, o cheiro dos produtos de higiene, dos produtos de limpeza, todo um mundo de cremes, loções, detergentes e soluções engarrafadas a plástico.
Todos conhecem a Graça, muitos viram-na crescer, não viram, ninguém reparava na Graça, e garantem em coro afinado, ser boa moça e em coro desafinado que não percebem a sua solidão e, ao caso, cada um tem uma explicação.
Depois faz o almoço, qualquer coisa ligeira, uma sandes, uma salada, cozinhar para uma pessoa é deprimente e quase inútil, felizmente gosta de iogurtes e de cereais.
Depois o café no café do bairro, onde encontra sempre alguém, todos conhecem a Graça, para dois dedos de conversa.
Conversas curtas como o café, sem açúcar e sem afecto.
E isto do sem açúcar é novidade, novidade médica após análise das últimas análises, novidade que a põe a fazer contas ao açúcar por 100 grs. das bolachas com pepitas de chocolate.
Depois a tarde.
As tarefas más: aspirar e limpar o pó, tarefas dantescas derivado do pêlo do gato.
As tarefas boas: ler um livro, ver um filme no sofá.
Às vezes, quando o filme é mau, adormece no sofá, porém, mesmo para sua surpresa, acorda sempre no quarto, na companhia do gato e do despertador.
Depois o Domingo.
O Domingo não é dia de ir à Missa, Santo António seja benevolente, mas já não tem paciência para sermões.
Foi menina de coro mais de vinte anos ou até deixar de ser menina.
Como é que sabemos que já não somos meninas? – Pergunta-se a si própria. – Como? – Insiste na questão.
Apesar dos cabelos brancos pintados a castanho profundo ou a preto absoluto (em função da disponibilidade do produto nas prateleiras do supermercado ou de promoções), dos óculos de ver ao perto (a Graça pela primeira vez de óculos e não lhe ficam nada mal), do pâncreas a reduzir a produção de insulina (deve pensar que é um país produtor de petróleo – pensa a Graça).
O Domingo é dia de fazer a cama de lavado, esta semana os lençóis amarelos bordados a flores pequeninas.
Tem dois conjuntos de lençóis a uso, o outro, branco liso, estão como novos e têm quase vinte anos, só conheceram o seu corpo.
Tem o dobro de lençóis e fronhas de almofadas guardados em naftalina no armário.
Domingo é dia de regar as hortênsias na varanda, a varanda azul por causa das hortênsias, e os vasos com cactos que tem na sala, o seu pequeno deserto.
Domingo é dia de ir buscar o pai ao lar, como se uma encomenda aos Correios, para o almoço de Domingo.
E como todos os Domingos fez sopa de abóbora e pudim, seis ovos, seis colheres de sopa de açúcar, cinco decilitros de leite, um pau de canela, uma casquinha de limão, banho-maria e paciência.
O pai diz que gosta de sopa de abóbora e de pudim.
O pai quase não toca na comida, debica como se um pássaro, e desistiu de fazer perguntas, quando é que me apresentas o namorado, não me digas que não tens namorado, o meu futuro genro, os compadres, um neto com o meu nome, pelo que o almoço passa quase em silêncio.
Faz sempre sopa de abóbora e pudim, para fazer o gosto ao pai.
    - Paizinho, o que quer para o próximo Domingo?
     - Sopa de abóbora e pudim.
Sopa de abóbora que lhe faz companhia todas as noites da semana, trabalha até tarde e cozinhar para uma pessoa é deprimente e quase inútil.
Confessa que já não gosta de sopa de abóbora.
Pudim que coloca num tupperware e que o pai leva para o lar, para dividir ao lanche com a namorada.
O pai tem oitenta anos, uma dentadura postiça, um aparelho auditivo, nada de diabetes, uma bengala e uma namorada. Uma namorada quase igual, pelo que se pode dizer que foram feitos um para o outro.
E foi o pai, num Domingo de sol, os dois a fazer a digestão a passo de tartaruga em passeio pelo jardim, o primeiro a perceber.
    - Estás diferente?
    - Diferente em quê? Se tudo igual.
E não igual, mais gasto e velho.
Será dos óculos? A Graça pela primeira vez de óculos e não lhe ficam nada mal.
O pai de olhos na Graça, olhos de raposa velha, matreira, a tudo perceber e a explicar, que sim, que que tudo igual, mais gasto e velho que ninguém vai para novo, todavia o sorriso igual! Infantil, súbito, instantâneo, subtil, quase invisível, porém sólido e resistente, nada de amargo.
E os sorrisos, mesmos se leves e fátuos, pode levar tempo, anos como os sobreiros, porém acabam sempre por pesar, por engordar, por se notarem nas bocas, nos lábios, mas sobretudo nos olhos.

Raquel Serejo Martins
 

É do borogodó: Se Tu Viesses Ver-me…

Gustave Brisgand (1867-1944)

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços…
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca… o eco dos teus passos…
O teu riso de fonte… os teus abraços…
Os teus beijos… a tua mão na minha…
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca…
Quando os olhos se me cerram de desejo…
E os meus braços se estendem para ti…
- Florbela Espanca -
*É do borogodó, todas as terças aqui no Clube. Por Penélope Martins

a-ver-livros: pretéritos

Remexo no baú
há estórias entranhadas
nos pregos pretéritos
nas tábuas vetustas
fiapos perdidos de quem fui
já não sou
ou serei mais do que alguma vez
fui quem fui
excedida a medida 
de mim
na falta de ti
no vento que passa
no buraco do peito
que o tempo
não fecha

Ana Almeida

* para saber mais sobre a pintora Leslie Sandbulte
siga o link www.lesliesandbulte.com

As Curandeiras Chinesas - novo livro de Joaquim Fernandes


Sinopse
Lisboa, Novembro de 1911. Duas chinesas chegam à capital e recuperam a visão dos cegos mais pobres que as consultam. Publicitado o «milagre», cresce a histeria colectiva e as autoridades ordenam a expulsão das duas curandeiras. A decisão acende um rastilho de protestos, no Parlamento e nos ministérios, congregando multidões em inflamados comícios. Há mortos, feridos e detidos nos motins da Baixa lisboeta. Cúmulo das ironias, Machado Santos, o vencedor da Rotunda, o fundador da República, torna-se de súbito no inimigo público dos que, um ano antes, o haviam levado em ombros... Um romance histórico de grande qualidade literária, baseado em factos verídicos.
Joaquim Fernandes
Cofundador do Centro Transdisciplinar de Estudos da Consciência, (CTEC) na Universidade Fernando Pessoa, Porto, é licenciado em História e mestre em História Moderna. Doutorou-se na área da História das Ciências com uma tese sobre o tema o Imaginário Extraterrestre na Cultura Portuguesa – do fim da Modernidade até meados do século XIX, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Participa regularmente em programas de TV e Rádio sobre «fronteiras da Ciência» e escreveu várias obras de investigação histórica e religiosa, algumas delas traduzidas para o inglês, francês e castelhano. É coordenador internacional do MARIAN Project, que estuda as dimensões culturais e científicas dos fenómenos religiosos e aparicionais, como Fátima. 
Em 2008 publicou o seu primeiro romance histórico, O Cavaleiro da Ilha do Corvo, a que se seguiu o ensaio O Grande Livro dos Portugueses Esquecidos, ambos com a chancela Temas & Debates/Círculo de Leitores. Na mesma editora publicou, em 2010 a obra, Mundos, Mitos e Medos. O Céu na Poesia Portuguesa e o ensaio Halley – O Cometa da República. Sobre este tema e com o mesmo título do ensaio escreveu o guião de um documentário para a RTP 2 e o argumento da mini-série de ficção A Noite do Fim do Mundo, para a RTP 1. Igualmente para a RTP2 coordenou e apresentou em 2008 a série Encontros Imediatos, baseada em experiências de observação de fenómenos OVNI. Com a chancela da QuidNovi lançou em 2012 o primeiro volume da História Prodigiosa de Portugal. Mitos & Maravilhas e tem no prelo a obra Moradas Celestes. O Imaginário Extraterrestre na Cultura Portuguesa, que complementa esta presente obra. Está biografado no Dicionário das Personalidades Portuenses do século XX (Porto Editora, 2001).
*in wook

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Ex Libris - o espumante dos amantes de livros

"Ex libris (do latim ex libris meis) é a expressão que significa, literalmente, "dos livros de" ou "faz parte de meus livros", empregada para associar o livro a uma pessoa ou a uma biblioteca. Portanto, ex libris é um complemento circunstancial de origem (ex + caso ablativo) que indica que tal livro é "propriedade de" ou obra "da biblioteca de".

A inscrição pode estar inscrita numa vinheta colada em geral na contra capa ou página de rosto de um livro para indicar quem é seu proprietário. A vinheta em geral contém um logotipo, brasão ou desenho e a expressão "Ex libris" seguida do nome do proprietário. É possível que contenha um lema, ou citação."

*in wikipédia


Os amantes de livros não podem deixar de provar e comprar o Espumante Ex Libris! 

BAIRRADA DOC 2008
MÉTODO CLÁSSICO*PREPARADO POR VITENO, LDA.*ÁGUEDA-PORTUGAL*PRODUCT OF PORTUGAL

Espumante produzido pelo método clássico, a partir de um vinho base de grande qualidade, em que estão presentes as castas Arinto, Bical e Chardonnay, vinificado na Quinta do Ferrão, recorrendo à mais avançada tecnologia. Apresenta cor palha aberta, aroma complexo com frutos secos e um toque limonado. Na boca boa acidez com bolha fina e persistente, terminando fresco e muito persistente.

Ex Libris é um produto Parceria Vinhos.

Encomendas em: 
Parceria Vinhos - fernandobarbedo@berrys.pt / tel: +351918560681

*Visite a página no facebook: https://www.facebook.com/espumanteexlibris

Poesia em matéria fria: Eugénio de Andrade

Siga a página no facebook: https://www.facebook.com/poesiaemmateriafria

a-ver-livros: Da busca

Procuro a frase 
certa
página após página
garra após raiva

Procuro a rima
a troça
retalhos de prosa
memória

Procuro a chave
o código
palavra senha 
magia pura

Debalde
... e não sei de que cor 
é a saudade

but I sure feel blue

Ana Almeida

* para saber mais sobre a ilustradora sul-coreana Sungwon
siga o link www.facebook.com/sungwon.illust



Sabem quem é?

You can see my last wallpainting on Miguel Bombarda street, Porto, Portugal. 

Mi último mural se puede ver en la calle Miguel Bombarda, en Oporto, Portugal.


David Pintor em:
Bloghttp://www.davidpintor.blogspot.pt/
Facebookhttps://www.facebook.com/pages/David-Pintor-ilustraciones/197902626909227

domingo, 28 de setembro de 2014

Livros que deram filme: The Physician, de Noah Gordon

The Physician é uma edição esgotada em Portugal - erradamente traduzida por «O físico». Um romance de Noah Gordon e que dá origem ao filme que estreou recentemente em Portugal. O livro faz parte de uma trilogia (The Cole Trilogy). Será que vamos ter mais do que um filme?
 
Dirigido por Philipp Stölzl, o filme conta com Tom Payne (II), Ben Kingsley e Stellan Skarsgård nos principais papéis.



Read by millions in thirty-two countries, soon to be a major motion picture, and voted “one of the ten most-beloved books of all time,” here is the English-language edition of Noah Gordon’s masterwork

In eleventh-century London, a child holds the hand of his dying mother and is terrified, aware something is taking her. Orphaned and given to an itinerant barber-surgeon, Rob Cole becomes a fast-talking swindler, peddling a worthless medicine. But as he matures, his strange gift—an acute sensitivity to impending death—never leaves him, and he yearns to become a healer.
Arab madrassas are the only authentic medical schools, and he makes his perilous way to Persia. Christians are barred from Muslim schools, but claiming he is a Jew, he studies under the world’s most renowned physician, Avicenna. How the woman who is his great love struggles against her only rival—medicine—makes a riveting modern classic.
The Physician is the first book in Noah Gordon’s Dr. Robert Cole trilogy, which continues with Shaman and concludes with Matters of Choice.

Agostinho da Silva e Fernando Pessoa

"Provavelmente toda a nossa vida é poesia, todo o objectivo da nossa vida deve ser quando acabássemos as pessoas dizerem: morreu um poema."
Agostinho da Silva



Conversas vadias: Alice Cruz entrevista Agostinho da Silva (excerto)
Entrevista completa disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=q63Ycb8ZRec

Foto frase do dia: Clarice!

Apanhei-te a ler.. dia 21

Johnny Depp

Encontrado no Pinterest.