Este pensamento veio directamente do mural da Língua Morta.
sábado, 4 de outubro de 2014
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
Em tudo isto era feliz
Em tudo isto era feliz
Eu abria um pouco os olhos e via a janela cheia de luar
E depois fechava os olhos outra vez,
e em tudo isto era feliz.
Fernando Pessoa
Excerto da "Ode Marítima"
Colette Saint Yves
Poesia em matéria fria: Ana Cristina Cesar
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quinta-feira, 2 de outubro de 2014
a-ver-livros: Calendário
Se não soubesse melhor
era Julho
e havia pela frente o que ficou
para trás
Se não soubesse melhor
era sede e ânsia
e havia fogo
que há muito apagou
Se não soubesse melhor
eram laços
e nós
afinal desatados, caídos
neste Outubro
que pisamos
Ana Almeida
era Julho
e havia pela frente o que ficou
para trás
Se não soubesse melhor
era sede e ânsia
e havia fogo
que há muito apagou
Se não soubesse melhor
eram laços
e nós
afinal desatados, caídos
neste Outubro
que pisamos
Ana Almeida
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* para saber mais sobre o pintor Nicolas Odinet siga o link www.nicolas-odinet.com |
Como conheci Gonçalo - parte III
Meu Querido José
Muito folgo em ler as suas
páginas, últimas, contando o episódio no qual se deu, na alameda ou avenida das
tílias, em 2010, o nosso inusitado encontro. Tirando uma parte ou outra, em que
se perde pelos enlevos românticos (ainda!) de descrições quase panteístas,
sinto uma grande alegria e frescura ao ler as suas páginas, ainda que as
descreva como paraliterárias. Chamemos-lhes, antes, pararreais, pois a forma
como falou e introduziu Richard Wagner nestas folhas de odor diáfano fazem-me
ser um mito ou uma espécie de figura quase mágica. Olhe que não mereço tais
comparações, mas fiquei enternecido com a forma como fez esse compasso entre o
ritmo do texto e dessa maravilhosa composição amorosa de Wagner, que traduzida
para a nossa lusa língua, língua de sistemas!, significa Sonho. Não me coloque
num patamar pararreal! Sou de carne e de tempo, nada mais…
Continue, meu querido, continue,
amigo. Não pare agora que começa a entrar naquilo que verdadeiramente
interessa: a capacidade de tornar a realidade num pedaço, ainda que esquecido,
de ficção. Mantenha esse seu amor, esse seu gosto, essa sua sensibilidade. Não
a desperdice comigo. Ofereçe-a aos leitores! Escreva! Escreva! Escreva!
Sinto-me frenético e pastoril, hoje, por causa do seu texto. Efraim também leu
as suas folhas e gostou bastante. Um shake-hands
deste inolvidável judeu. Cumprimentos aos leitores e, por amor dos deuses e das
coisas belas, coloque a breve composição, poema sinfónico, diria, de Wagner, a
acompanhar o seu texto. Pergunto-lhe: porque é que só tem, como me disse,
publicado duas a três páginas por semana? Publique mais. Olhe que, com certeza,
há quem, avidamente e qual peregrino, leia essas suas páginas como um oráculo
de Delphoi.
Quanto a mim, regressei há três dias de Malta, tendo indo cumprir
uma velha promessa de visitar um abade amigo da família, centenário e cheio de
vigor! Devem ser aqueles ares marítimos e romanticamente orientais de um
Oriente a Oriente do Oriente que conhecemos. Leia Baudelaire, leia
Chateaubriand. Leia, ame, beba, viaje.
Muito seu.
Gonçalo
V. de Sousa.
O
tempo parecia não existir.
A
língua é capaz de traduzir mundos e sistemas, filosofias e toda uma Escola ou
Movimento. O francês, meu jovem, dizia-me o senhor Viana de Sousa, é a língua
mais complexa e completa por ter em si toda uma galáxia de tempos verbais e
terminações tremendas, filhas de um latim tardio de igrejas e mosteiros
queimados. No francês, encontramos toda a beleza de sistemas económicos,
políticos e sociais. Através do francês, desvendamos novos mundos literários de
floresta e rios caudalosos, tal como o português. A diferença é que o português
é uma tradução, em calão, disse o Eça, do francês. Melhor dizendo, era, visto
que hoje em dia tudo é traduzido do inglês e tudo é feito pensando na língua
que sua majestade jamais falaria se não fosse um plebeu de origens míticas
chamado William Shakespeare.
Bem,
meu caro jovem, a língua e a linguagem refletem a ideia de um povo, da sua
cultura e da sua história, no sentido em que é capaz de ser um fiel espelho do
pensamento humano, artístico e até divino. Repare que até o Cristianismo
assenta na complexidade de umas quantas línguas com labirintos verbais. Em
suma, a complexidade de uma língua é a fonte da sua riqueza e futuro.
Enquanto
dizia isto, Gonçalo olhava-me nos olhos, ao mesmo tempo que brincava com o seu Porkpie, fazendo este saltitar entre as
mãos. Eu olhava para esta figura com deslumbramento. Ao mesmo tempo que
apreendia o que era dito reformulava as minhas questões, confiante que também
saberia responder, perguntando, na tonta esperança de sair vitorioso como um Siegfried
que derruba o dragão. (Naquela altura eu não sabia quem era Siegfried, só mais
tarde, após longas e saborosas conversas com Gonçalo é que vim a descobrir o
maravilhoso mundo de Wagner. Sem ele, jamais seria possível elaborar esta
comparação neste texto paraliterário de rudimentar engenho).
Compreendo
o que diz, senhor Viana de Sousa. Mas pense no seguinte: se houvesse uma língua
capaz de descrever todos os sistemas e explicar o mundo e as suas filosofias
através de uma linguagem mais simples e sintetizada, não seria isso o ideal? A
meu ver, penso que o inglês consegue fazer isso, ao simplificar, por exemplo,
os tempos verbais e as suas terminações. Além disso, o facto de ter um elemento
neutro para qualificar o género, tal como o alemão, é genial, acredito. Gonçalo
pasmou olhando para mim, sorriu, colocou a mão no meu ombro e respondeu quase
de forma condescendente, e o jovem acredita que isso é capaz? Sintetizar todos
os sistemas numa língua que perante um vous
e um subjonctif perder-se-ia como uma jovem nos braços de Pelléas? O inglês, por mais universal
que pareça ser, jamais conseguirá absorver, como o francês, ou até mesmo o
alemão, toda a grandiosidade de uma civilização. Mas voltemos a Fradique e ao
meu bisavô, isto se ainda quiser saber a história de como eles ficaram grandes
amigos, depois daquela quente tarde de Julho de 1871.
Com
certeza, senhor Viana de Sousa. Sabe que sempre tive a ideia que Fradique não
existiu, que foi uma mera criação literária (à época também quereria dizer
ontológica, mas as palavras faltavam-me, como ainda hoje, se bem que naquele
tempo um pouco mais. Ah! Primaveras românticas!) de Eça de Queirós, Antero de
Quental e Jaime Batalha Reis.
Ao
princípio, toda a gente pensou isso, meu jovem. Depois, quando Eça se apercebeu
que a figura que ele descreveu em O
mistério da estrada de Sintra com Ramalho Ortigão, em 1870, e na Revolução de Setembro, já não me recordo
da data, existia de facto, e realmente habitava Paris e o mundo como um touriste, o nosso Eça não soube o que
fazer. Até que Fradique convidou este, numa solarenga tarde de Novembro, para
ir a sua casa, na Rua de Varennes, de forma a conhecerem-se melhor.
A
minha cabeça girava sobre todos os ângulos possíveis. Como é possível Eça de
Queirós ter conhecido Carlos Fradique Mendes, se este nunca existiu
verdadeiramente? Estarei eu a ser vítima de uma brincadeira de bom gosto?
Resolvi,
então, determinado, levantar esta suspeita a Gonçalo. Se Fradique existiu
mesmo, como é que não há bilhete algum ou correspondência deste com Eça de
Queirós ou com o seu avô? Bisavô, corrigiu Gonçalo. Sim, bisavô. Como explica
isso?
Então
não acredita no que lhe estou a dizer? Sabe que, ao acreditar que Fradique não
existiu para além das palavras e da escrita, está a por a em causa a minha
própria existência, tendo em conta que, então, meu bisavô ou era um maluco ou,
verdadeiramente, não existiu!
Depois desta afirmação quase ameaçadora,
comecei a rir-me como uma criança. Então o senhor não existe, de facto! O
senhor é fruto da minha imaginação. Diga-me, pois, como é possível ser verdade
aquilo que me conta, sabendo que não existe qualquer troca de correspondência
entre o seu bisavô e Fradique, ou entre este e Eça de Queirós. É absolutamente
irreal aquilo que me está a dizer. (A certo ponto, senti-me solto e parecia
nascer algo ou alguém diferente em mim, enquanto respondia a Gonçalo. Não me
apercebi que magoara, talvez, os sentimentos de um homem requintado e de bom
gosto, que jamais seria capaz de mentir, fosse pelo que fosse).
Gonçalo ficou ofendido, e os seus olhos
pareciam rasgar os meus através daquele olhar furtivo e experiente, de quem
sabe como ferir alguém profundamente, mas sem nunca ousar fazê-lo por ser
educado de mais. Olhou para mim, como um bardo. O vento fazia com que as folhas
dançassem ao som de uma valsa invisível. À época, se soubesse, diria que a
Natureza era embalada pela Träume, de
Wagner. Gonçalo continuava a olhar para mim, silencioso, parecendo esperar o
final daquela maravilhosa composição wagneriana que não se ouvia, ou que pelo
menos eu ainda não soubera escutar. Quando aquilo que eu agora afirmo ser o
cessar dos violinos se deu, Gonçalo olhou-me como nunca ninguém me olhara e
disse,
Então eu não existo! (continua)
É hoje! Tiago Salazar na Snob, em Guimarães
A Nova Delphi tem a honra de apadrinhar a estreia em ficção de Tiago Salazar. O "peregrino da cultura", como o define Miguel Real, autor do prefácio d' O Baú Contador de Histórias, estará em Guimarães a 2 de Outubro, próxima quinta-feira, para guiar Noé, o jovem aspirante a estadista, e restantes membros da trupe pelos acidentes orográficos de um país feito sótão. Destacam-se, no cortejo, homens das “máquinas partidárias”, políticos que sofrem de reforma antecipada – quiçá pelo desgaste de tantas ejaculações à boca das urnas -, escritores leais à bênção da “velha senhora”, jovens rapazes versados em epopeias contra a inclitoriana geração, padres empenhados em trocar as escrituras por miúdos e um vidente que só não adivinhou a sua necessidade de viver longe dos homens, entre outras figuras mais ou menos púbicas. Sob a vigilância de Tiago Salazar, o autor alerta, desde já, para a existência de uma providência cautelar que impede o assédio de juventudes partidárias a um jovem de 13 anos.
Clara Amorim, professora, apresenta o livro.
*in evento de lançamento, no facebook
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
Passatempo «Brasil», de Neill Lochery
P.V.P.: 19,90 €
Data de Edição: 2014
Nº de Páginas: 432
Editora: Editorial Presença
O Clube de Leitores e a Editorial Presença têm três exemplares para oferecer aos nossos seguidores do livro Brasil - de Neill Lochery.
Para participar, basta responder ao seguinte: O que mais gosta no Brasil? Porquê?
As melhores respostas enviadas em comentário a este post (tanto aqui no blog, como na página do facebook ou ainda no grupo) vão a uma finalíssima de 3 dias a ser votada pelos membros do blog e seguidores.
O envio das frases deve ser feito até quarta-feira, dia 8 de Outubro. Nos dias seguintes, anunciaremos as respostas que vão seguir para a finalíssima.
O concurso é válido para Portugal continental e ilhas.
Boa sorte!
*O vencedor terá que enviar-nos a sua morada. Em caso de não o fizer, o Clube atribuirá o livro a outro(a) finalista. Fique atento!
É hoje: Daniel Gonçalves e Pepe Brix na Snob
É hoje que os autores de «Ensaio sobre o comprimento do Silêncio» apresentam este notável livro de escrita e fotografia. Todos à Snob, em Guimarães - 19:30. Quem vai?
Acompanhe a página da Livraria Snob no Facebook. Já abriu, em Guimarães. Pode lá encontrar isto e muito mais.
Poesia em matéria fria: Marina Colasanti
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terça-feira, 30 de setembro de 2014
A Graça está no...
A Graça, quando menina não tinha graça
nenhuma mas cresceu e ganhou graça.
Às vezes Deus dá.
À Graça Deus deu depois dos quarenta, já
ninguém dava nada pela Graça.
Aconteceu como se de Terça para Quarta,
como se de Quarta para Quinta, todos sem certezas, os dias da semana todos tão
iguais.
Aconteceu sem ninguém notar, como quando
depois do Verão o Outono, a primeira chuvada e ninguém de guarda-chuva ou
gabardine, os sapatos pelos passeios como submarinos e os pés, os passos
cautelosos, a imprimir aos corpos meneios de patos.
Ou os sapatos de salto.
Ou a saia mais curta.
Ou a curvas das ancas mais evidentes.
Ou a transparência da blusa.
Ou o decote mais fundo.
Ou os lábios pintados.
Ou a medalhinha no fio de ouro com mais
brilho.
Santo António e o menino na medalha,
orações nocturnas, sonhos ou insónias e marido nenhum, as noites dantescas na
companhia do gato, Dante o gato, os dois no sofá, cada com
lugar definido no sofá, a luz do candeeiro de pé e do ecrã de televisão, e um
livro.
Quando o livro de poesia, lê em voz alta
um ou outro poema ao gato, e já percebeu quais os poetas preferidos do felino,
o O’Neill e o Pina.
Assim, a Graça em estado de desgraça, as
conversas de Segunda-feira no trabalho vazias das suas palavras, que não se vai
pôr a contar as conversas com Dante (com quem?), pelo que sem nada para
contar, tudo igual, mais uma vez igual, sem novidades.
Talvez porque a Graça, mesmo ao
fim-de-semana respeita a rotina, é organizada (é suposto ser qualidade), arruma
os afazeres nas horas como as roupas nos armários, na cómoda as camisolas de lã
e de algodão, de Inverno e de Verão, arrumadas (arquivadas!), por cores, preto
azul castanho beije, quatro cores em quatro gavetas.
Assim, mesmo no fim-de-semana acorda às
ordens do relógio despertador e cumpre horário.
Sábado é dia de ir às compras, verifica
previamente o que falta no frigorífico e na despensa, regista as faltas num
bloco de notas (faltam sempre as mesmas coisas), e sai de carrinho de compras
pela mão como um cão pela trela.
Um cão coxo, uma das rodas tortas desde
que comprou o carrinho, apesar de ter passeado o carrinho pelos corredores da
loja sob o olhar incomodado e em bico, do senhor atrás da caixa registadora e,
apesar do test drive, não percebeu os defeitos da
viatura antes de concretizar a compra (acha graça sempre que as pessoas usam a
palavra concretizar), désolé, e conclui com um sorriso, porque
intimamente sabe rir de si, que da próxima vez, antes de comprar um carrinho de
compras vai incluir nas orações a Santo António um par de rodinhas alinhadas e
desempenadas, nunca se sabe, talvez no que toca a rodinhas sua divindade seja
mais competente, e justifica a si mesma os esdrúxulos pensamentos, isto por ser
coisa de gajos.
Depois, no supermercado, de carrinho de
mão como cão pela trela, percorre os corredores sempre pela mesma ordem e resiste,
em regra resiste, a comprar bolachas com pepitas de chocolate.
A sua fraqueza, bolachas com pepitas de
chocolate, incapaz de parar depois de abrir o pacote, guloseima que gosta de
acompanhar com um copo de leite simples e frio, mesmo no Inverno, uma ousadia,
quase uma irreverência.
E compra, compra sempre, sete maçãs, duas
vermelhas e cinco amarelas.
Come pontualmente uma maçã às dez da
manhã de todos os dias porque dizem os ingleses ser suficiente para manter
médicos à distância.
Assim, passa a manhã nas compras.
Enche a manhã a passear pelo mercado, o
cheiro a peixe, quase a mar, a fruta, a flores, a pão, a café e, pelos corredores
do super-mercado, sempre na mesma ordem, o cheiro dos produtos de higiene, dos
produtos de limpeza, todo um mundo de cremes, loções, detergentes e soluções
engarrafadas a plástico.
Todos conhecem a Graça, muitos viram-na crescer,
não viram, ninguém reparava na Graça, e garantem em coro afinado, ser boa moça
e em coro desafinado que não percebem a sua solidão e, ao caso, cada um tem uma
explicação.
Depois faz o almoço, qualquer coisa ligeira,
uma sandes, uma salada, cozinhar para uma pessoa é deprimente e quase inútil,
felizmente gosta de iogurtes e de cereais.
Depois o café no café do bairro, onde encontra
sempre alguém, todos conhecem a Graça, para dois dedos de conversa.
Conversas curtas como o café, sem açúcar
e sem afecto.
E isto do sem açúcar é novidade, novidade
médica após análise das últimas análises, novidade que a põe a fazer contas ao
açúcar por 100 grs. das bolachas com pepitas de chocolate.
Depois a tarde.
As tarefas más: aspirar e limpar o pó,
tarefas dantescas derivado do pêlo do gato.
As tarefas boas: ler um livro, ver um
filme no sofá.
Às vezes, quando o filme é mau, adormece
no sofá, porém, mesmo para sua surpresa, acorda sempre no quarto, na companhia
do gato e do despertador.
Depois o Domingo.
O Domingo não é dia de ir à Missa, Santo
António seja benevolente, mas já não tem paciência para sermões.
Foi menina de coro mais de vinte anos ou
até deixar de ser menina.
Como é que sabemos que já não somos
meninas? – Pergunta-se a si própria. – Como? – Insiste na questão.
Apesar dos cabelos brancos pintados a
castanho profundo ou a preto absoluto (em função da disponibilidade do produto
nas prateleiras do supermercado ou de promoções), dos óculos de ver ao perto (a
Graça pela primeira vez de óculos e não lhe ficam nada mal), do pâncreas a
reduzir a produção de insulina (deve pensar que é um país produtor de petróleo
– pensa a Graça).
O Domingo é dia de fazer a cama de
lavado, esta semana os lençóis amarelos bordados a flores pequeninas.
Tem dois conjuntos de lençóis a uso, o
outro, branco liso, estão como novos e têm quase vinte anos, só conheceram o
seu corpo.
Tem o dobro de lençóis e fronhas de
almofadas guardados em naftalina no armário.
Domingo é dia de regar as hortênsias na
varanda, a varanda azul por causa das hortênsias, e os vasos com cactos que tem
na sala, o seu pequeno deserto.
Domingo é dia de ir buscar o pai ao lar,
como se uma encomenda aos Correios, para o almoço de Domingo.
E como todos os Domingos fez sopa de
abóbora e pudim, seis ovos, seis colheres de sopa de açúcar, cinco decilitros
de leite, um pau de canela, uma casquinha de limão, banho-maria e paciência.
O pai diz que gosta de sopa de abóbora e
de pudim.
O pai quase não toca na comida, debica
como se um pássaro, e desistiu de fazer perguntas, quando é que me apresentas o
namorado, não me digas que não tens namorado, o meu futuro genro, os compadres,
um neto com o meu nome, pelo que o almoço passa quase em silêncio.
Faz sempre sopa de abóbora e pudim, para
fazer o gosto ao pai.
- Paizinho, o que quer para o próximo Domingo?
- Sopa de abóbora e pudim.
- Paizinho, o que quer para o próximo Domingo?
- Sopa de abóbora e pudim.
Sopa de abóbora que lhe faz companhia
todas as noites da semana, trabalha até tarde e cozinhar para uma pessoa é
deprimente e quase inútil.
Confessa que já não gosta de sopa de
abóbora.
Pudim que coloca num tupperware e que o pai leva para o lar, para dividir ao lanche com a namorada.
O pai tem oitenta anos, uma dentadura
postiça, um aparelho auditivo, nada de diabetes, uma bengala e uma namorada. Uma
namorada quase igual, pelo que se pode dizer que foram feitos um para o outro.
E foi o pai, num Domingo de sol, os dois
a fazer a digestão a passo de tartaruga em passeio pelo jardim, o primeiro a perceber.
- Estás diferente?
- Diferente em quê? Se tudo igual.
- Estás diferente?
- Diferente em quê? Se tudo igual.
E não igual, mais gasto e velho.
Será dos óculos? A Graça pela primeira
vez de óculos e não lhe ficam nada mal.
O pai de olhos na Graça, olhos de raposa
velha, matreira, a tudo perceber e a explicar, que sim, que que tudo igual,
mais gasto e velho que ninguém vai para novo, todavia o sorriso igual! Infantil,
súbito, instantâneo, subtil, quase invisível, porém sólido e resistente, nada
de amargo.
E os sorrisos, mesmos se leves e fátuos,
pode levar tempo, anos como os sobreiros, porém acabam sempre por pesar, por
engordar, por se notarem nas bocas, nos lábios, mas sobretudo nos olhos.
Raquel Serejo Martins
É do borogodó: Se Tu Viesses Ver-me…
Gustave Brisgand (1867-1944)
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços…
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços…
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca… o eco dos teus passos…
O teu riso de fonte… os teus abraços…
Os teus beijos… a tua mão na minha…
A tua boca… o eco dos teus passos…
O teu riso de fonte… os teus abraços…
Os teus beijos… a tua mão na minha…
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca…
Quando os olhos se me cerram de desejo…
E os meus braços se estendem para ti…
Quando os olhos se me cerram de desejo…
E os meus braços se estendem para ti…
- Florbela Espanca -
*É do borogodó, todas as terças aqui no Clube. Por Penélope Martins
a-ver-livros: pretéritos
Remexo no baú
há estórias entranhadas
nos pregos pretéritos
nas tábuas vetustas
fiapos perdidos de quem fui
já não sou
ou serei mais do que alguma vez
fui quem fui
excedida a medida
de mim
na falta de ti
no vento que passa
no buraco do peito
que o tempo
não fecha
Ana Almeida
há estórias entranhadas
nos pregos pretéritos
nas tábuas vetustas
fiapos perdidos de quem fui
já não sou
ou serei mais do que alguma vez
fui quem fui
excedida a medida
de mim
na falta de ti
no vento que passa
no buraco do peito
que o tempo
não fecha
Ana Almeida
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* para saber mais sobre a pintora Leslie Sandbulte siga o link www.lesliesandbulte.com |
As Curandeiras Chinesas - novo livro de Joaquim Fernandes
Sinopse
Lisboa, Novembro de 1911. Duas chinesas chegam à capital e recuperam a visão dos cegos mais pobres que as consultam. Publicitado o «milagre», cresce a histeria colectiva e as autoridades ordenam a expulsão das duas curandeiras. A decisão acende um rastilho de protestos, no Parlamento e nos ministérios, congregando multidões em inflamados comícios. Há mortos, feridos e detidos nos motins da Baixa lisboeta. Cúmulo das ironias, Machado Santos, o vencedor da Rotunda, o fundador da República, torna-se de súbito no inimigo público dos que, um ano antes, o haviam levado em ombros... Um romance histórico de grande qualidade literária, baseado em factos verídicos.
Joaquim Fernandes
Cofundador do Centro Transdisciplinar de Estudos da Consciência, (CTEC) na Universidade Fernando Pessoa, Porto, é licenciado em História e mestre em História Moderna. Doutorou-se na área da História das Ciências com uma tese sobre o tema o Imaginário Extraterrestre na Cultura Portuguesa – do fim da Modernidade até meados do século XIX, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Participa regularmente em programas de TV e Rádio sobre «fronteiras da Ciência» e escreveu várias obras de investigação histórica e religiosa, algumas delas traduzidas para o inglês, francês e castelhano. É coordenador internacional do MARIAN Project, que estuda as dimensões culturais e científicas dos fenómenos religiosos e aparicionais, como Fátima.

*in wook
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Ex Libris - o espumante dos amantes de livros
"Ex libris (do latim ex libris meis) é a expressão que significa, literalmente, "dos livros de" ou "faz parte de meus livros", empregada para associar o livro a uma pessoa ou a uma biblioteca. Portanto, ex libris é um complemento circunstancial de origem (ex + caso ablativo) que indica que tal livro é "propriedade de" ou obra "da biblioteca de".
A inscrição pode estar inscrita numa vinheta colada em geral na contra capa ou página de rosto de um livro para indicar quem é seu proprietário. A vinheta em geral contém um logotipo, brasão ou desenho e a expressão "Ex libris" seguida do nome do proprietário. É possível que contenha um lema, ou citação."
Espumante produzido pelo método clássico, a partir de um vinho base de grande qualidade, em que estão presentes as castas Arinto, Bical e Chardonnay, vinificado na Quinta do Ferrão, recorrendo à mais avançada tecnologia. Apresenta cor palha aberta, aroma complexo com frutos secos e um toque limonado. Na boca boa acidez com bolha fina e persistente, terminando fresco e muito persistente.
A inscrição pode estar inscrita numa vinheta colada em geral na contra capa ou página de rosto de um livro para indicar quem é seu proprietário. A vinheta em geral contém um logotipo, brasão ou desenho e a expressão "Ex libris" seguida do nome do proprietário. É possível que contenha um lema, ou citação."
*in wikipédia
Os amantes de livros não podem deixar de provar e comprar o Espumante Ex Libris!
BAIRRADA DOC 2008
MÉTODO CLÁSSICO*PREPARADO POR VITENO, LDA.*ÁGUEDA-PORTUGAL*PRODUCT OF PORTUGAL
Ex Libris é um produto Parceria Vinhos.
Encomendas em:
Parceria Vinhos - fernandobarbedo@berrys.pt / tel: +351918560681
Parceria Vinhos - fernandobarbedo@berrys.pt / tel: +351918560681
*Visite a página no facebook: https://www.facebook.com/espumanteexlibris
Poesia em matéria fria: Eugénio de Andrade
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a-ver-livros: Da busca
Procuro a frase
certa
página após página
garra após raiva
Procuro a rima
a troça
retalhos de prosa
memória
Procuro a chave
o código
palavra senha
magia pura
Debalde
... e não sei de que cor
é a saudade
but I sure feel blue
Ana Almeida
certa
página após página
garra após raiva
Procuro a rima
a troça
retalhos de prosa
memória
Procuro a chave
o código
palavra senha
magia pura
Debalde
... e não sei de que cor
é a saudade
but I sure feel blue
Ana Almeida
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* para saber mais sobre a ilustradora sul-coreana Sungwon siga o link www.facebook.com/sungwon.illust |
Sabem quem é?
You can see my last wallpainting on Miguel Bombarda street, Porto, Portugal.
Mi último mural se puede ver en la calle Miguel Bombarda, en Oporto, Portugal.
Mi último mural se puede ver en la calle Miguel Bombarda, en Oporto, Portugal.
David Pintor em:
Blog: http://www.davidpintor.blogspot.pt/
Facebook: https://www.facebook.com/pages/David-Pintor-ilustraciones/197902626909227
domingo, 28 de setembro de 2014
Livros que deram filme: The Physician, de Noah Gordon
The Physician é uma edição esgotada em Portugal - erradamente traduzida por «O físico». Um romance de Noah Gordon e que dá origem ao filme que estreou recentemente em Portugal. O livro faz parte de uma trilogia (The Cole Trilogy). Será que vamos ter mais do que um filme?
Dirigido por Philipp Stölzl, o filme conta com Tom Payne (II), Ben Kingsley e Stellan Skarsgård nos principais papéis.
Read by millions in thirty-two countries, soon to be a major motion picture, and voted “one of the ten most-beloved books of all time,” here is the English-language edition of Noah Gordon’s masterwork
In eleventh-century London, a child holds the hand of his dying mother and is terrified, aware something is taking her. Orphaned and given to an itinerant barber-surgeon, Rob Cole becomes a fast-talking swindler, peddling a worthless medicine. But as he matures, his strange gift—an acute sensitivity to impending death—never leaves him, and he yearns to become a healer.
Arab madrassas are the only authentic medical schools, and he makes his perilous way to Persia. Christians are barred from Muslim schools, but claiming he is a Jew, he studies under the world’s most renowned physician, Avicenna. How the woman who is his great love struggles against her only rival—medicine—makes a riveting modern classic.
The Physician is the first book in Noah Gordon’s Dr. Robert Cole trilogy, which continues with Shaman and concludes with Matters of Choice.
Read by millions in thirty-two countries, soon to be a major motion picture, and voted “one of the ten most-beloved books of all time,” here is the English-language edition of Noah Gordon’s masterwork
In eleventh-century London, a child holds the hand of his dying mother and is terrified, aware something is taking her. Orphaned and given to an itinerant barber-surgeon, Rob Cole becomes a fast-talking swindler, peddling a worthless medicine. But as he matures, his strange gift—an acute sensitivity to impending death—never leaves him, and he yearns to become a healer.
Arab madrassas are the only authentic medical schools, and he makes his perilous way to Persia. Christians are barred from Muslim schools, but claiming he is a Jew, he studies under the world’s most renowned physician, Avicenna. How the woman who is his great love struggles against her only rival—medicine—makes a riveting modern classic.
The Physician is the first book in Noah Gordon’s Dr. Robert Cole trilogy, which continues with Shaman and concludes with Matters of Choice.

Agostinho da Silva e Fernando Pessoa
"Provavelmente toda a nossa vida é poesia, todo o objectivo da nossa vida deve ser quando acabássemos as pessoas dizerem: morreu um poema."
Agostinho da Silva
Conversas vadias: Alice Cruz entrevista Agostinho da Silva (excerto)
Entrevista completa disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=q63Ycb8ZRec
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