sábado, 28 de agosto de 2010

De volta a Dorian Gray

O Artista e a Arte

"O artista é o criador de coisas belas.
Revelar a arte e ocultar o artista é o objectivo da arte.
O crítico é aquele que sabe traduzir de outra maneira ou com material diferente a sua impressão das coisas belas.
A mais alta, assim como a mais baixa, forma de crítica é uma autobiografia.

Aqueles que encontram feias significações nas coisas belas são corruptos sem serem encantadores. É um defeito.

Aqueles que encontram belas significações nas coisas belas são cultos. Para esses há esperança. São os eleitos aqueles para quem as coisas belas apenas significam Beleza.

Não há livros morais nem imorais. Os livros são bem ou mal escritos. Nada mais.
(...)

A vida moral do homem faz parte do assunto do artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito dum meio imperfeito. Nenhum artista deseja provar o que quer que seja. Até as coisas verdadeiras se podem provar.


Nenhum artista tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista é um imperdoável maneirismo de estilo.
O artista nunca é mórbido. O artista pode exprimir tudo.
O pensamento e a linguagem são para o artista instrumentos de arte.
O vício e a virtude são para o artista materiais de arte.

Sob o ponto de vista da forma, o tipo de todas as artes é a arte do músico. Sob o ponto de vista do sentimento, o tipo é a profissão de actor.

Toda a arte é ao mesmo tempo superfície e símbolo.
Aqueles que descem além da superfície fazem-no com risco seu.
O mesmo sucede àqueles que lêem o símbolo.
É o espectador, e não a vida, que a arte realmente reflecte.

A diversidade de opiniões sobre uma obra de arte mostra que a obra é nova, complexa e vital.
Quando os críticos divergem, o artista está de acordo consigo mesmo.

Pode-se perdoar a um homem o fazer uma coisa útil, enquanto ele a não admira. A única desculpa que merece quem faz uma coisa inútil é admirá-la intensamente.

Toda a arte é absolutamente inútil."

Oscar Wilde
in prefácio de 'O retrato de Dorian Gray'

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Tanto, Tanto!, Trish Cooke


Todos querem brincar com o bebé. Um extraordinário livro para crianças até aos 5, para fazer leitura em grupo. Assisti, há mais de um ano, a uma óptima interpretação, numa formação que tive para 'contador' de histórias. Tenho pena de não treinar mais, acho que estou a perder o jeito...

De qualquer forma, fica aqui uma excelente sugestão para contar aos filhos antes de ir deitar.

O moleskine...

Com diferentes tipos de letra, riscos e rabiscos, números e contas, desenhos, relatos, contactos. Frases que anoto e publico. Viagens que faço e represento em letras. Organização de tópicos de trabalho, pequenos segredos. Autocolantes atarrachados, números de clientes... Alguns panfletos guardados, alguns cartões profissionais, um extracto de banco antigo. Retalhos deste meu mundo... Num moleskine estilo 'Hemingway'.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A sonata de Kreutzer, Lev Tolstoi

A colecção BI - Biblioteca de editores independentes - presta um verdadeiro serviço público na arte de fazer chegar ao leitor grandes obras por preços bastante convidativos. Por que razão temos que pagar um balúrdio por um livro quando o formato de bolso serve perfeitamente o mesmo propósito?


Normalmente não escrevo sobre livros que li recentemente, mas este absorveu-me por completo. Fiquei convencido que Lev Tolstói é dos maiores escritores de sempre. Tenho vários livros dele, mas só li este e A morte de Ivan Ilitch. Há muito ainda para descobrir.

Nesta história acompanhamos o diálogo entre dois homens, travada numa viagem de comboio. O narrador relata a sua vida trágica. Triste ao ponto de ter morto a mulher por ciume.

Apetecia-me contar tudo, explicar-vos porque dá Tolstói  este título - uma sonata de Beethoven, escrita a pensar em Kreutzer - violinista francês que o maestro conheceu em Viena...

Mas não conto!


Deixo-vos apenas algumas citações que sublinhei. Geniais, por certo. Julgo que trariam horas e horas de discussão...

"Na vida, a preferência por uma pessoa única dura alguns anos, mas raramente, a maioria das vezes persiste apenas uns meses, ou semanas, ou dias, ou horas (...)"

"Todo o luxo da vida é exigido e fomentado pelas mulheres. Milhões de pessoas, gerações inteiras de escravos perecem nos trabalhos forçados das fábricas apenas em prol dos caprichos femininos. As mulheres, como rainhas, mantêm na escravidão do trabalho duríssimo noventa por cento da humanidade. E tudo porque foram humilhadas, privadas de direitos iguais aos homens. Então, vingam-se influenciando a nossa sensualidade, apanhando-nos nas suas redes. Sim, é tudo por causa disto. As mulheres fizeram de si próprias um instrumento tão forte de influenciar a sensualidade que o homem não pode comunicar tranquilamente com a mulher. Basta-lhe aproximar-se de uma mulher para ficar enfeitiçado e perder a cabeça."

"Pressupõe-se teoricamente que o amor é qualquer coisa ideal, elevada, mas na prática o amor é qualquer coisa repugnante, suína, até dá nojo e vergonha falar dele, lembrá-lo. Como é nojento e vergonhoso, deveríamos entendê-lo como tal. Mas não, faz-se de conta que o nojento e o vergonhoso é o belo e o elevado."

"Uma galinha não tem medo do que pode acontecer ao seu pintainho, não conhece as doenças que podem atingi-lo, não conhece os remédios que, imaginam as pessoas, podem salvar o pintainho das doenças e da morte. Então, para a galinha, os filhos não são uma tortura. Faz pelos seus pintainhos o que lhe é inerente e que é a alegria dela; os filhos, para ela, são a felicidade. E, quando um pintainho adoece, os cuidados dela são determinados: aquece-o, alimenta-o. E, ao fazê-lo, sabe que está a fazer tudo o que é necessário. Se o pintainho morre, a galinha não pergunta porque morreu nem para onde foi, cacareja um pouco, depois deixa o assunto de lado e continua a viver como antes. Tal não acontece com as nossas desgraçadas mulheres (...)"