sábado, 11 de junho de 2011

Manuel Hermínio Monteiro

Sucedem-se as homenagens a Manuel Hermínio Monteiro. Não é para menos. O grande pensador da Assírio & Alvim deu um enorme contributo para a edição de livros em Portugal.

Partiu ainda muito novo... A sensação que fica é que faz muita falta ao mundo dos livros: pela entrega, paixão e dedicação que punha nas coisas que fazia. Passaram dez anos sem o poeta, editor e gastrónomo.


A Revista Ler deste mês faz justas homenagens ao Homem e à obra. Na página 7, recupera uma belíssima crónica que ele assinou há uns anos. Deixo o primeiro parágrafo:

'Nascemos para o que nos rodeia vezes sem conta. Em cada renascimento há um estendal de coisas novas à nossa disposição que produzem a nossa vida. E outras coisas tomam inédita postura ou fingem escondimento e sorvem da nossa vida. São os nomes que nos ligam às coisas. E toda a vida aprofundamos, ampliamos, compreendemos, explicamos essa estranha e familiar ligação, nunca concluída, com o nome que envolve cada coisa, «o espantoso nome que damos às coisas». E com o tempo percebemos que a literatura é um habilidoso e multifacetado artefacto que torna os nomes, e a partir deles, conduz ao mais íntimo coração das respectivas coisas.'


2001, ano em que partiu, em 'Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o Futuro', Assírio & Alvim, escreveu assim na introdução:

"Há muitos e muitos milhares de anos, a poesia aproximou-se do homem e tão próximos ficaram, que ela se instalou no seu coração. E começaram a ver o mundo conjuntamente estabelecendo uma inseparável relação que perdurará para sempre. Não demorou muito a que a poesia se emancipasse, autonomizando-se. Como uma rosa de cujas pétalas centrípetas emana a beleza e o mais intenso perfume, sem nunca prescindir da defesa vigilante dos seus espinhos, assim cresceu livre a poesia carregada de silencioso mistério e sedução."

SABEDORIA, José Régio

Dito por Bruno Huca.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O que pensam dos músicos / escritores?

Ainda há pouco mais de uma semana, Leornard Cohen ganhou o Prémio Príncipe das Astúrias 2011 pelo conjunto da sua obra literária. Só um leitor mais distraído podia não saber que está publicado em Portugal.

Então e Nick Cave? Alguém leu? Diz quem experimentou que é um pouco negro... Por cá, dois títulos - 'A Morte de Bunny Munro' / 'E o Burro Viu um Anjo'.



Ler Sérgio Godinho? Poeta e músico. Escritor de livros para os mais pequenos. Procurem, por exemplo, no catálogo da Assírio & Alvim! E que dizer dos poemas de Amália Rodrigues publicados pela Cotovia?

O inverso também existe: escritores que viram vedetas de palco. Em português, valter hugo mae com 'Mão Morta': 'Governo'.

Mas também há escritores que foram convidados a participar em projectos musicais (escrevendo ou produzindo). José Luís Peixoto ajudou os Moonspell, com o seu álbum 'Antídoto'.


País exportador deste modelo (músico / escritor) é o Brasil. Dois nomes saltam logo à vista: Vinícius de Moraes e Chico Buarque. Já li ambos e aconselho vivamente. Claros exemplos de como se pode ser bom nos dois lados.

Então o que pensam destes dois mundos? Na minha opinião, creio que são bem-vindos e conciliáveis. Mas gostava de saber se alguém já passou por uma experiência menos agradável...

O dia em que o blogue estourou!

(dois dias inesquecíveis...)»»» clicar na imagem para entender porquê!



A todos os que nos visitam, dedico estas palavras:

Sítio Exacto

'Sei que não acaba
o teu prazer,
nem o meu.

Alguém
ama connosco
e nos leva
ao sítio exacto
das estações.

Nem o sono
depois nos pertence,
quinhão de outros
herdado após amarem.'

António Osório

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Contos dos Subúrbios, Shaun Tan

A magia destes contos não reside apenas nos textos que Shaun Tan escreve, mas também no que ilustra. Os pormenores são muito bons, convidando os nossos olhos a acompanhar com atenção o que está à sua frente.

Viajamos a mundos muito particulares, onde existe um búfalo que dá direcções a quem passa, uma bola de papel que vai crescendo pela cidade e num dia de chuva espalha palavras por todo o lado, uma espécie de baleia que aparece num quintal ou a viagem de dois irmãos em busca do fim do mundo (ou será daquele mapa?)...

Este é um livro carregado de fantasia e simbolismo. O grande segredo parece residir nas curtas mensagens que Shaun Tan passa ao leitor através da escrita e da imagem - sempre de uma forma bastante poderosa e encantadora.


Diria que é intimista, porque cria uma relação muito particular e própria connosco. É, sem dúvida, um conjunto de contos que desperta emoções. Por vezes de alegria, por vezes de melancolia. Ligados por um espanto e curiosidade fora do comum. Na verdade, mal se começa é impossível descolar os olhos desta obra.

'Contos dos Subúrbios' entra directamente para as minhas preferências no género do imaginário / fantasia. Apesar de achar que as crianças podem ler este livro, acho bem mais próprio para um adulto. Repetindo a expressão que apanhei de algum lado: são contos de criança para adultos!

Kafka um livro sempre aberto, conhecer mais das entranhas do autor e da obra


A leitura de Kafka implica sempre um processo pessoal de entendimento com a obra e com o autor. Amado e detestado, incompreendido na maior dos casos, mal analisado ou mesmo super referenciado a partir de expressões de adjectivação como X ou Y é kafkiano. Não se referindo directamente a nada da sua obra como "O Processo" ou "A Metamorfose". Ainda relativamente pouco conhecido em Portugal falta traduzir muita da sua obra.

Na apresentação do livro "Kafka um livro sempre aberto", esta quarta-feira na Feira do Livro do Porto, foi por aí que passaram as intervenções de Pedro Eiras e Gonçalo Vilas-Boas, um dos co-autores do livro. Para além dos textos da também autora Teresa Martins de Oliveira este livro conta ainda com ilustrações referentes a Kafka da ilustradora Manuela Bacelar e uma entrevista à mesma em que ela fala da sua relação com a obra e com o autor.
Publicado pela Deriva em parceria com o Instituto de Literatura Comparada da Faculdade de Letras da U.P. integra-se na colecção Cassiopeia que já antes tinha publicado "Tentações" um estudo comparista da autoria de Pedro Eiras onde se confronta "Húmus", de Raúl Brandão e "Justine", de Sade.

Existe também uma outra colecção resultante desta parceria, explicada assim pela prórpia editora:
"A Deriva e o Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa da Faculdade de Letras da Universidade do Porto iniciaram uma parceria que se consubstanciará na criação de duas colecções: a PULSAR, de livros de pequeno formato, de baixo custo e virada sobretudo para um público maioritariamente estudantil, onde serão publicados autores consagrados do teatro, da poesia e da literatura em geral.Igualmente no âmbito desta parceria inaugurar-se-á a colecção CASSIOPEIA que editará preferencialmente estudos literários."

Fica também o booktrailer da editora para estas colecções:


Vale a pena conhecer estes livros pela singularidade dos textos publicados, normalmente tidos como de dificil publicação, pela especificidade ou pela falta de público e que positivamente se tem demonstrado uma surpresa estando dois dos primeiros títulos prestes a esgotar ou já mesmo esgotados.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

chEira a hOrtelã


Cheira a hortelã
Cheira a rosmaninho
Sabe a solidão
Não te ter aqui

Vai para três luas
Que espero por ti
Desde que pediste
Para por ti esperar...

De tanto esperar
Os meus cotovelos
Criaram raízes
Na minha janela

São botões de rosas
São botões de cravos
Que eu trago no peito
Tristes a florir

Veio o 10 de Junho
Veio o Santo António
E eu sentada em casa
Meus lábios pintados...

De vermelho vivo
Para te beijar
Te dar a provar
Da minha saudade

Nem o Santo António
Quis de mim saber
Não me deu notícias
Diz não ser carteiro

E outra lua cheia
Já passou o Verão
Há folhas caídas
No meu coração

E ontem pus na cama
Mais um cobertor
Até os meus pés
Sentem solidão

Mas quando acordei
Cheirava a café
Sentado ao meu lado
Estava o teu sorriso

A olhar para mim…
Estava o teu sorriso
De olhos nos meus…
Estava o teu sorriso



Viagens Brancas, lançamentos e apresentações

É amanhã o lançamento do novo livro da Ana Cristina Pereira, jornalista do Público e uma grande amiga. “Viagens Brancas” em dose dupla – para alongar o prazer da partilha e para facilitar a vida de quem tem de gerir uma apertadíssima agenda. (e assim dá para sair da Feira do Livro e ainda dar lá um saltinho e um beijinho)

I
JOÃO GOULÃO, Presidente do Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência e MANUEL CARVALHO, Director-adjunto do jornal Público às 18h00, no Centro de Respostas Integradas – Porto Ocidental na Rua Diogo Botelho, 1651/1653.

II

PAULO MOURA, Grande Repórter do jornal Público e RAQUEL MATOS, Professora auxiliar da Universidade Católica Portuguesa, ás 22h00, na Casa do Ló, na Travessa de Cedofeita.


Cândida Pinto, Jornalista da Sic, na contracapa do livro.
“À descoberta de um desconhecido próximo. É essa a proposta destas “Viagens Brancas”, nunca brandas. Pela mão de Ana Cristina Pereira desfilam vidas de mulheres, mães, filhas, companheiras, usadas, manipuladas, consumidas, traficantes, detidas, dependentes de cocaína.

Há suspense, há identidades camufladas, há momentos daquela pura realidade que vai para lá da ficção. Se não fossem trágicas, algumas histórias seriam cómicas. A guerra entre as famílias “Cavadoras” e “Panelas”, no bairro do Aleixo, no Porto; a aventura da vaidosa Zany, que zarpa de iate da baía do Tarrafal, em Cabo Verde, com uma mala cheia de dinheiro.

O talento de Ana Cristina Pereira faz-nos viajar com intensidade e emoção por dentro destas histórias reais: pela colheita da coca na Bolívia, pela angústia de mãe com o filho preso na Venezuela, pelos bairros de má fama, pelas janelas de venda, pelas ruínas do consumo, pelas festas onde circulam bandejas com riscos de pó. Viagens brancas, nunca brandas.”

terça-feira, 7 de junho de 2011

Será que já chegaste, Eugénio?

Eugénio vai voltar a estar entre nós. Um dos maiores poetas de sempre foi, também, esquecido muito tempo pelos editores.

Agora, a Modo de ler apresenta as primeiras capas.




(agradeço ao Bruno Malheiro, da Capítulos Soltos, a informação)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Contra capa do livro de Lídia Jorge

Comecei a ler 'Praça de Londres'. A primeira nota que tomo - serve de convite - é a contra capa do livro:


'Diz uma velha canção que no fundo de uma garrafa se encontra a vida de um homem, e por certo que assim acontece desde que se inventou a fermentação do malte.

Mas no meu caso basta-me um só copo girando no fundo da mão, duas boas pedras de gelo e a noite a cair sobre o lobby vulgar de um hotel, para começar a lembrar-me daquele dia em que uns certos amigos do meu pai entraram em nossa casa brandindo uma garrafeira completa, criaram um alvoroço em nome de alguma coisa que tinha a ver com vingança, e só depois dessa enorme desordem partiram entoando a canção do esquecimento como se estivessem perdidos de bêbados.

E no entanto, não precisavam de ter vindo gerar aquele entretenimento forçado para compreendermos a situação em que nos encontrávamos.

Por que precisaríamos?'

Mini crónica sobre a maioria...


Hoje escrevo:

A maioria é quem decide. Pode ser absoluta, de 2/3, relativa ou unânime. Rectificada por outros, exigível, forçada, etc, etc... Depende de como a vemos.

E a propósito disso, Chamfort diz:

"Podemos apostar que toda a ideia pública, toda a convenção recebida, é uma tolice, porque conveio à maioria".

Encontram este pensamento no livro de Edgar Allan Poe, 'os crimes da rua morgue e outras histórias'.

domingo, 5 de junho de 2011