sábado, 28 de dezembro de 2013

Cronicando pela Ásia... último dia no rio e chegada a Luang Prabang

Atravessando o Mekong,
06 de Maio 2009


De manhã cedo a aldeia acordou carregada de estrangeiros. Chegou a hora de partir para mais um dia nas águas do rio Mekong. Chegaremos a Luang Prabang, quando o sol se pôr. Até lá, ocupo o tempo com os livros que carrego e deixo o corpo adormecer de quando em quando. A humidade é elevada, o calor tórrido. O pouco dinheiro que tenho foi investido na compra de água. Esse meio litro teria que ser suficiente até à minha chegada. E comida... bem, segui apenas com o pequeno almoço.


Continuo espantado com o serviço de recolha de passageiros. Não há paragens. As pessoas aparecem na margem do rio e acenam. Ficam curiosas ao ver-nos, há um fascínio enorme por nós. Essas imagens viajam comigo ao longo de toda a aventura. Por vezes esqueço-me que represento sustento... é normal que não me tirem a vista de cima.


Depois de uma jornada de sono, acordo surpreendido por uma série de barcos. As crianças saltam de um lado para o outro e ajudam os pais a trocar mercadorias ali em pleno rio. Pois bem, os barcos são lojas de comércio e faz-se ali negócio.



Fascina-me também a presença de um barco casa. Por momentos imagino a vida assim. Para sempre. A minha casa é o barco e a viagem não tem destino. Da minha janela não vejo a mesma paisagem. Terei sempre um amanhecer diferente. Alegro-me com a possibilidade da vida poder ser assim. Mas não sei se teria coragem.


Do lado direito do rio surgem umas escadas que conduzem até a um templo no interior de uma gruta. Como teria gostado de parar e vê-lo. Mas aparentemente o barco seguia a todo o vapor e o bilhete não incluía mais paragens. Ficou uma foto das escadas e de alguns crentes que vieram espreitar os barcos.


O pôr do sol anuncia a chegada ao destino. Vejo-me a chegar a uma cidade milenar, as árvores carregadas de flores laranja, os barcos cuidadosamente alinhados. Espera-me a cidade dos templos mais antigos da região, património mundial da humanidade.

Encontro facilmente um sítio onde dormir, bem bonito e confortável. Pouso as tralhas, tomo banho e saio para jantar numa rua de restaurantes com ar colonial francês. Percebo que aqui as coisas são um pouco mais caras que na Tailândia. Possível sinal de isolamento, possível sinal de sofrimento.



A cidade é linda! E amanhã será dia para grandes explorações. Recolho ao quarto, feliz por mais uma jornada.

Rodrigo Ferrão 

Snobidando: Ana Paula Inácio

Ana Paula Inácio

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Quem sente o mesmo?

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Tiago na toca e os Poetas: Carminho, Tiago Bettencourt e Florbela Espanca


X

Eu queria mais altas as estrelas,
Mais largo o espaço, o Sol mais criador,
Mais refulgente a Lua, o mar maior,
Mais cavadas as ondas e mais belas;

Mais amplas, mais rasgadas as janelas
Das almas, mais rosais a abrir em flor,
Mais montanhas, mais asas de condor,
Mais sangue sobre a cruz das caravelas!

E abrir os braços e viver a vida:
- Quanto mais funda e lúgubre a descida,
Mais alta é a ladeira que não cansa!

E, acabada a tarefa... em paz, contente,
Um dia adormecer, serenamente,
Como dorme no berço uma criança!

*Florbela Espanca


MANIFESTO:

[...são os poetas que me fizeram começar a escrever. Eram no fundo os livros que tinha lá em casa e versões de fados que oiço desde que comecei a ouvir fado.Fui lendo o que tinha lá por casa. Fui roubar uns livros à biblioteca do meu pai. E depois fui marcando nos livros os vários poemas que gostava até ficarem dez. Depois mais duas ou três versões...] (Tiago Bettencourt).
NOTA: As receitas da venda do disco revertem para a associação solidária "Ajuda-me a Ajudar", por tal,se gostam,comprem o disco...
(publico o disco/livro na integra,com foto da poetisa Florbela Espanca)

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Fim-de-tarde do Marcos

O sentimento de pertença é
uma anedota. Quem pensa que tem
é motivo de chacota.
Todo o sentimento humano é
como homem de chapéu de palha;
coração ao Sol, cérebro em malha.

*Marcos Foz

Autorretrato com Chapéu de Palha
Vincent van Gogh

Eu poético: «Memória»

Memória

de ti recordo o calor do abraço
o beijo de boa noite
a mentira do pai Natal
ou da fada dos dentes.

lembro o que disseste no meu primeiro dia de aulas
e no último;
no meu primeiro amor
e no segundo. e no terceiro…
e nos outros que tive.

reparo agora que tinhas razão:
a vida foi feita para recordar
foi feita para celebrar
foi feita para chorar.

porque para sentir alegria,
carregamos tristeza.

e porque a saudade
só existe para quem tem memória.

Rodrigo Ferrão

Foto: Rodrigo Ferrão

a-ver-livros: suspensão e Marina Jijina

pára tudo
suspende os dias
o curso dos rios
trava as marés
no seu vai-vem
detém a respiração 
dos plátanos
interrompe os sonhos
sustém o passo estugado
do tempo

há um amor e uma tragédia
à espera na esquina
e quero saborear 
a expectativa

Ana Almeida

* para saber mais sobre a pintora russa Marina Jijina
siga o link www.marinajijina.com

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

"No Caminho, com Maiakóvski" por Eduardo Alves da Costa


Eis o fanzine Flanzine

Eis o fanzine Flanzine, um “hino ao Facebook”

O pudim Flanzine nasceu no Facebook e por lá continua. Para ver de três em três meses
Texto de Amanda Ribeiro • 09/10/2013 - 15:03

A Flanzine, diz quem a fez, tinha “tudo para correr mal”. Contra ventos e marés, contra “as leis de Murphy e Keynes”, a revista nasceu, da Internet para o papel, para não se “perder num enorme universo de lixo virtual”. Um “percurso inverso” que, lá no fundo, significa uma coisa: “Um hino ao Facebook.”

A começar pela parentalidade, como nos conta João Pedro Azul (na foto), um dos encarregados de educação, a partilhar a custódia com Luís Olival, autêntico “rei do Facebook”, natural de Mangualde. Os dois conheceram-se via Zuckerberg há uns anos — e assim se têm mantido. É que a Flanzine materializou-se sem os ideólogos alguma vez se terem conhecido pessoalmente. A mesma receita para muitos dos colaboradores — o primeiro número conta com nomes como Álvaro Silveira, Cláudia Lucas Chéu, Rogério Nuno Costa, Vicente Alves do Ó, Vítor Rua, Susana Moreira Marques e Raquel Ribeiro (jornalistas/colaboradoras do PÚBLICO).

Com formação em teatro, João passa hoje grande parte da semana atrás de uma banca que vende queijos e outras iguarias no Mercado do Bom Sucesso, no Porto. Assume-se como um “facebookiano” convicto. Vê a rede social como uma “ferramenta criativa”, uma “montra” para as suas ideias. E tem encontrado outros como ele. Foi ao observar esta rede de contactos que decidiu lançar um desafio a Luís Olival: “E se entre os nossos amigos do Facebook criássemos um fanzine?”

Assim foi. Em Setembro, graças ao reembolso de IRS de João Pedro, o fanzine Flanzine (não se nota que o passatempo preferido dele é “brincar com as palavras”, pois não?) ganhou corpo. “Raramente utilizámos o e-mail. Houve até quem nos entregasse os trabalhos pelo Facebook.” Os textos e as ilustrações versam sobre um tema: Mala. Uma resposta ao “incentivo à emigração por parte do primeiro-ministro e da corja”. Em Dezembro, sai a segunda com um “tema natalício”: o Medo. Não é preciso dizer que o humor negro é ma marca de água. Entram novos colaboradores (como Valério Romão e Filipe Homem Fonseca), mantêm-se outros (Vítor Rua vai ser publicado em fascículos porque João não indicou, a princípio, uma limitação de caracteres), promete-se mais diversidade, por exemplo, com a publicação de fotografias. Toda a gente pode tentar participar — a selecção está a cargo da gerência.

Entretanto, o pudim vai correndo o país. Foi apresentada no Circular em Vila do Conde, terra-natal de João Pedro, onde alguns dos colaboradores se conheceram. Idem, idem, aspas, aspas para Lisboa, onde a revista foi apresentada na passada sexta-feira na livraria XYZ. Para já, não se registou qualquer “aparição” de Luís Olival, qual D. Sebastião de Mangualde. Noutro dia, a Flanzine foi parar às mãos de Vasca Graça Moura. João Pedro avistou-o ao longe e correu no seu encalço. “Ele agradeceu e apresentou-me a pessoa que estava ao lado: o professor Nuno Júdice.” Feedback? Não houve. “Se calhar, não tem Facebook...”

*Jornal Público: http://p3.publico.pt/cultura/livros/9508/eis-o-fanzine-flanzine-um-hino-ao-facebook


O fanzine doce

Mas ao contrário dos fanzines em papel, onde as diferentes ideias chocavam e deflagravam nas suas capas, na web as ideias ficam muitas vezes sós e esquecidas, ou então vão sendo lentamente empurradas para o fundo da página, do ecrã, e da consciência
Texto de Jorge Palinhos • 23/12/2013 - 10:36Share on facebooShare on emMore Sharing 

Diz que é o número dois de Dezembro de 2013, a capa do exemplar do "Flan Zine" que tenho nas mãos, e que o seu tema é o medo. É uma publicação pequena, em formato A5, de uma impressão cuidada num papel de qualidade, com um design sóbrio, quase todo a preto e branco, exceto nas páginas centrais, cujas fotos e ilustrações rebentam em cor. Na ficha técnica diz que é uma "Receita de João Pedro Azul e Luís Olival", com edição de João Pedro Azul, e a sua lista de colaboradores e temas é eclética, com nomes conhecidos e desconhecidos da ficção, da poesia, do teatro, do ensaio, da ilustração e da fotografia.

Talvez não seja totalmente diferente das páginas literárias e de arte que povoam hoje a web, mas a impressão, o formato, a ironia, levaram-me para a memórias dos fanzines dos anos 70 e 80, que emergiram no fluxo das novas tecnologias de impressão, mais baratas e acessíveis, que faziam crer que qualquer um podia espalhar as suas ideias ao mundo.

E durante algum tempo tentou-se. Para todas as áreas — na música alternativa, na BD, no esoterismo, na poesia, na filosofia, na política, na ficção de género — havia gente a escrever e a publicar notícias, ideias, boatos e delírios, em fanzines que se empilhavam em bares e lojas para comprar e levar.

Eram publicações mal impressas, mal paginadas, com gralhas e ilustrações borratadas, fixadas em papel mau, mas que fervilhavam de entusiasmo e de urgência. E os seus autores viviam para as fazer, para colaborar nelas ou para as trocar. Eram espaços de liberdade e partilha. Depois veio a internet e surgiram os blogues, os sítios e as webzines que as substituíram. Eram mais fáceis, mais baratos e supostamente mais universais. Mas, num meio virtual, tornou-se mais difícil acreditar na real existência e compromisso que implica um fanzine em papel como o "Flan Zine".

Um dia, no meio da febre dos fanzines, um amigo contou-me que tinha sonhado que todas as pessoas do mundo estavam na rua a trocar papéis — fanzines — entre si. Esse sonho tornou-se hoje realidade no Twitter, no Facebook e noutras redes sociais, onde cada pessoa é um distribuidor ou redistribuidor de informações e ideias. Mas ao contrário dos fanzines em papel, onde as diferentes ideias chocavam e deflagravam nas suas capas, na web as ideias ficam muitas vezes sós e esquecidas, ou então vão sendo lentamente empurradas para o fundo da página, do ecrã, e da consciência.

*Acompanhe a página da Flanzine no Facebook. 

Poema de Natal de Emílio Miranda

Prece

Aproxima-se o dia
Em que sentados à mesa lembraremos a nossa fartura
Tanta fome dos outros devia calar-nos tanto apetite

Apenas uma ceia de palavras... mesmo que ditas para dentro...

(sobretudo ditas para dentro)

Deveria ser suficiente para (nos) saciar todas as fomes.

Emílio Miranda 

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

O Natal de David

Ladainha dos Póstumos Natais


Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito


David Mourão-Ferreira

Poema de Natal por Vinicius de Moraes

"Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente."




Manifesto Lewis Carroll

But so, said Alice, if the world doesn't completely have meaning, who can keep us from inventing one?

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Snobidando: Daniel Faria

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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Festas Felizes

É do borogodó: heras, o poema desta Consoada

heras

no canto da boca escorrem
línguas macias se mordem
em noites longas
esfregam-se
voluptuosas palavras
de carne morna

:

cócegas no céu 
fulguras de precipício
mantos suaves
encanto de víboras 
gotas de paixão
e as pontas dos dedos
tamborilar
infindo na cabeceira
o aroma de alfazema
e uma nota alta
moreno, cravo,
ao pecado do açúcar


- contaminam-se pescoços eriçados
corpos compostos
raminhos de ervas estendidas 
na justa trama de substantivos 
abraços apertados
por toda parte
vagueiam almas, adjetivos se devoram,
olhos reviram, imploram todos os verbos
transbordam,
transbordam…


na saboneteira 
uma poça azulzinha
alimenta
sílaba por sílaba
trova ofegante
vacila que vacila
a língua
na língua
multiplicando cordões de heras


*Acompanhe tudo em: http://azeiteealecrim.wordpress.com/ 

Os jovens querem publicar "cada vez mais cedo" e isso nem sempre é bom

As novas ferramentas de publicação podem ajudar os jovens a publicar, mas essa relativa facilidade pode reflectir-se em livros que não passaram por qualquer crivo. Maria do Rosário Pedreira fala numa geração "formada pela televisão"

Texto de Ana Maria Henriques • 23/12/2013 - 09:47

“As pessoas estão a querer publicar cada vez mais cedo.” Quem o diz é Maria do Rosário Pedreira, editora da Leya para novos autores portugueses que, em média, anualmente, recebe 150 manuscritos para avaliação. “Muitas vezes percebe-se que nem sequer leram nada”, diz. Há até quem envie livros por e-mail, assumindo que nem gosta de ler. “Acham que a escrita é independente da leitura, o que é de facto mau.”

O processo de escrita e publicação de livros está a mudar: as novas tecnologias permitem que se publiquem manuscritos na Internet, em pouco tempo. E isso nem sempre é bom. “Vê-se muita coisa má do ponto de vista da escrita e da ortografia e muita gente a bater palmas”, considera Maria do Rosário. Mas também há o outro lado da moeda, “os que o fazem por não terem dinheiro para edições de autor de livros físicos” e que olham para este sistema como uma forma de democratização do processo.

Na grande parte das vezes, a editora não sabe a idade de quem escreve os textos que lê. Mas há características que apontam para jovens. “Vê-se muito que há uma geração já formada com a televisão, porque muitos livros que me chegam são escritos no presente indicativo, em diálogo e sem discurso indirecto.” Suspeita que sejam de “gente mais nova”, que apenas faz “conversas entre personagens”, tudo dito em tempo real e quase como um guião. “Há alguns que nascem com talento e outros não, como para tudo.”

João Tordo tem uma opinião semelhante: “A escrita não pode ser a vocação de toda a gente”. “Para cada mil candidatos, há um que se revela um autêntico escritor. O que não significa que os outros não possam escrever: não custa dinheiro e é das actividades mais enriquecedoras que existe. Mas não temos todos de publicar livros”, considera, em entrevista ao P3 via e-mail.

A falta de um crivo pode ser “um risco”

De tempos a tempos, aparecem coisas de moda, explica a também editora de Tordo — “independentemente dos estilos”. “Quando foi a moda da fantasia, aparecia aqui um sem número de mundos mágicos — e com os vampiros a mesma coisa. Agora já começaram a aparecer manuscritos de temática erótico-pornográfica, inspirados pelas ‘Cinquenta Sombras de Grey’. Pensam que se fizerem alguma coisa da moda são facilmente publicáveis”.

Nos últimos quatro anos, a Bubok editou mais de sete mil livros em Portugal. Alexandre Lemos, “country manager” da plataforma de auto-publicação, não consegue tipificar, com precisão, quem os procura. “Se falarmos de investimento na carreira, de assumir a publicação de um livro como uma actividade profissional, aí sim, encontramos cada vez mais gente a fazer percursos ambiciosos e muito sólidos, cada vez mais cedo e sem esperarem por ninguém", refere.

Esta é, aliás, outra das preocupações de Maria do Rosário Pedreira. “Há uma coisa que me assusta, que é a edição e divulgação do texto sem passar por um crivo. Quando uma pessoa manda um livro para uma editora, tem pelo menos a marca da aceitação dessa editora, que o considerou digno de publicação”, reflecte. E nos casos em que esse “crivo” não existe é mais provável encontrar erros. “É um risco.”

“A auto-publicação é agora um chão que todos parecem estar dispostos a pisar: conhecidos, desconhecidos, novos, velhos, homens e mulheres”, resume Alexandre.

Oficinas de escrita não oferecem “fórmulas”

Raquel Caldevilla e Filipa Fonseca Silva nunca participaram em “workshops” ou oficinas de escrita criativa ou de romances, mas reconhecem, tal como Maria do Rosário Pedreira, que este tipo de actividades pode ser uma ajuda na hora de estruturar um livro. “Pode aprender-se a escrever melhor, a organizar ideias e várias maneiras de estruturar uma narrativa”, crê a editora, sempre com a reserva de que “não se ensina ninguém a escrever”. “Podem ser perniciosos”, julga.

Além de escritor, João Tordo é também formador em oficinas deste tipo. “Um curso de escrita criativa não visa formar escritores nem oferecer fórmulas e, muito menos, angariar novos talentos. Eu não sou professor e os meus formandos não são alunos”, defende. “Somos pessoas interessadas numa actividade específica — a escrita — e o que tento fazer é passar alguma da minha experiência ou tentar corrigir alguns preconceitos.”

*este artigo é uma cópia integral da notícia do Jornal Público - http://p3.publico.pt/node/10241/

foto: Ana Marques Maia

Snobidando: William Butler Yeats

Running to Paradise

(...)
Poor men have grown to be rich men,
And rich men grown to be poor again,
And I am running to paradise;
And many a darling wit's grown dull
That tossed a bare heel when at school,
Now it has filled a old sock full:
And there the king is but as the beggar.

(...)
William Butler Yeats



segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Outro poema pela noite dentro - Marcos Foz

As letras vivem sentadas, acomodadas
enquanto na rua procissões de cães vadios
com marés baixas em dois olhos desfilam
e papagaios emigrantes retornam à gaiola.
Trovoa na gente que tenho dentro
a parte de mim que sonha muda de língua;
a língua com que se fala nas cavernas do céu.
Há tambores mudos no azul, que não rufam
porque não se quer.
Sento-me e as letras levantam-se
num encontro perfeito.

*Marcos Foz


Snobidando: Paulo Leminski

Por um lindésimo de segundo

tudo em mim 
anda a mil
tudo assim 
tudo por um fio
tudo feito
tudo estivesse no cio
tudo pisando macio
tudo psiu

tudo em minha volta
anda às tontas
como se as coisas
fossem todas
afinal de contas

Paulo Leminski
(1944-1989)


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Quase, quase a chegar aos cinemas: A Rapariga que roubava Livros


Estreia no dia 23 de Janeiro em Portugal «A rapariga que roubava livros", uma adaptação ao cinema do conhecido livro de Markuz Zusak.

Quem o leu? Expectativas em relação ao filme? O Clube de Leitores vai dar destaque a este livro e tem muitas surpresas para os seus seguidores... Aguardem!    


*Consulte o livro no site da editorial Presença: A Rapariga que Roubava Livros

domingo, 22 de dezembro de 2013

Tiago na toca e os Poetas: Joaquim Pimentel e Tiago Bettencourt


Só nós dois é que sabemos

Só nós dois é que sabemos
O quanto nos queremos bem
Só nós dois é que sabemos
Só nós dois e mais ninguém
Só nós dois compreendemos
Este amor triste e profundo
Quando o amor acontece
Não pede licença ao mundo

Anda, abraça-me, beija-me
Encosta o teu peito ao meu
Esquece o que vai na rua
Vem ser minha eu serei teu
Que falem não nos interessa
O mundo não nos importa
O nosso mundo começa
Dentro da nossa porta

Só nós dois é compreendemos
O calor dos nossos beijos
Só nós dois é que sofremos
As torturas e os desejos
Vamos viver o presente
Tal qual a vida nos dá
O que reserva o futuro
Só deus sabe o que será

Anda, abraça-me... beija-me
Encosta o teu peito ao meu
Esquece o que vai na rua
Vem ser minha eu serei teu
Que falem não nos interessa
O mundo não nos importa
O nosso mundo começa
Dentro da nossa porta

*Joaquim Pimentel


MANIFESTO:

[...são os poetas que me fizeram começar a escrever. Eram no fundo os livros que tinha lá em casa e versões de fados que oiço desde que comecei a ouvir fado.Fui lendo o que tinha lá por casa. Fui roubar uns livros à biblioteca do meu pai. E depois fui marcando nos livros os vários poemas que gostava até ficarem dez. Depois mais duas ou três versões...] (Tiago Bettencourt).
NOTA: As receitas da venda do disco revertem para a associação solidária "Ajuda-me a Ajudar", por tal,se gostam,comprem o disco...
(publico o disco/livro na integra,com foto do poeta Joaquim Pimentel)

a-ver-Natal: à procura do espírito da coisa IV

Quem busca sempre alcança:

Reflicta sobre as suas bençãos presentes, as quais todo homem tem bastante; e não sobre os infortúnios passados, os quais todos homens têm alguns.

Charles Dickens


Snobidando: Emily Dickinson


Emily Dickinson

Emílio Miranda, dia 9

Dir-te-ão que nasceste:
É mentira,
Hoje iniciaste a morte que sem saberes, inconscientemente,
Muitos chamarão vida, caminho, senda…

A verdade é que o teu olhar
Acende apenas uma ténue luz
Que somente o conhecimento poderá dourar
Sendo que o muito brilho ofuscará
A sabedoria que buscares…

Não te iludas com aplausos
E trilha os teus caminhos livre de falsos brilhos;
Muitos dos que te elogiam
Procuram a frescura da tua sombra

E o reflexo dos teus dias.

Emílio Miranda 

Foto: Cláudia Miranda