quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Poema à Noitinha 2... António Ramos Rosa

Enquanto não chega a meia-noite há tempo para mais um poema. Afinal é ainda o aniversário de António Ramos Rosa, nascido em Faro a 17 de Outubro de 1924. E o poeta merece que o escutemos assim, em respeitoso silêncio, num poema que é um hino a quem o lê.

"A Leitora

A leitora abre o espaço num sopro subtil.
Lê na violência e no espanto da brancura.
Principia apaixonada, de surpresa em surpresa.
Ilumina e inunda e dissemina de arco em arco.
Ela fala com as pedras do livro, com as sílabas da sombra.

Ela adere à matéria porosa, à madeira do vento.
Desce pelos bosques como uma menina descalça.
Aproxima-se das praias onde o corpo se eleva
em chama de água. Na imaculada superfície
ou na espessura latejante, despe-se das formas,

branca no ar. É um torvelinho harmonioso,
um pássaro suspenso. A terra ergue-se inteira
na sede obscura de palavras verticais.
A água move-se até ao seu princípio puro.
O poema é um arbusto que não cessa de tremer."

António Ramos Rosa, in "Volante Verde"

Sem comentários:

Enviar um comentário