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sábado, 18 de janeiro de 2014
Mais Bénédicte
atirei-me de uma montanha
ó meu deus, e só parti um pé
engessaram-me a cabeça
deixaram-me as orelhas de fora
agora levo uma injecção compulsiva
cada quinze dias e
ando a pé coxinho
que é para ver se aprendes
a saltar melhor
ó meu deus, e só parti um pé
engessaram-me a cabeça
deixaram-me as orelhas de fora
agora levo uma injecção compulsiva
cada quinze dias e
ando a pé coxinho
que é para ver se aprendes
a saltar melhor
in Vida:Variações II
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
Eu poético: «Sina»
Sina
Bem me quer
mal
me quer
bem
Será mal
querer bem?
Ou bem mal
querer?
Tu mal me queres
e eu bem queria
crer que nenhum mal
existe
Não vejo mal
bem querer-te
Porque vês mal
em querer-me bem?
Estou farto
de ler a sina
numa flor
Sopro as pétalas ao vento
e sigo caminho
Rodrigo Ferrão
Bem me quer
mal
me quer
bem
Será mal
querer bem?
Ou bem mal
querer?
Tu mal me queres
e eu bem queria
crer que nenhum mal
existe
Não vejo mal
bem querer-te
Porque vês mal
em querer-me bem?
Estou farto
de ler a sina
numa flor
Sopro as pétalas ao vento
e sigo caminho
Rodrigo Ferrão
ALA ... que é poesia VII
Os céus têm estado em fúria - como uma mulher traída. Chega para justificar a minha escolha de hoje dentre os poemas de Lobo Antunes?
Aqui fica o poema "Tango do marido infiel numa pensão do Beato", musicalmente traduzido pelo Vitorino no disco "Eu Que Me Comovo Por Tudo e Por Nada". Para aplacar a tormenta.
Ana Almeida
Aqui fica o poema "Tango do marido infiel numa pensão do Beato", musicalmente traduzido pelo Vitorino no disco "Eu Que Me Comovo Por Tudo e Por Nada". Para aplacar a tormenta.
Ana Almeida
Tango do marido infiel numa pensão do Beato
Sem tempo para ter tempo
De ter tempo de te dar
O tempo que tu mereces
Prazeres em que tu morresses
Manhãs que não amanheces
E arrepios que estremeces
Na boca de te beijar
Fico sentado no quarto
Desta cama de pensão
Ausente, despido farto
Cansado dessas mulheres
Que ouvem sem me escutar
Que me olham sem me ver
Que me amam sem saber
Que me roçam sem tocar
Que me abraçam sem paixão
Que ignoram que eu anoiteço
Que me ensombro que escureço
Que me enrugo e envelheço
Me pregueio e apodreço
E a quem pago o que me dão
Uma espécie de ternura
Uma imitação do amor
Lençóis que são sepultura
De carícias sem doçura
E dos meus lábios sem cor
Ai dedos no meu cabelo
Quero a minha raiva toda
Quero domá-la e vencê-la
Quero vivê-la ao meu modo
Até encontrar por fim
Aquela voz de menino
Há tantos anos perdida
Há tanto tempo esquecida
Em soluços dissolvida
A gritar dentro de mim
De ter tempo de te dar
O tempo que tu mereces
Prazeres em que tu morresses
Manhãs que não amanheces
E arrepios que estremeces
Na boca de te beijar
Fico sentado no quarto
Desta cama de pensão
Ausente, despido farto
Cansado dessas mulheres
Que ouvem sem me escutar
Que me olham sem me ver
Que me amam sem saber
Que me roçam sem tocar
Que me abraçam sem paixão
Que ignoram que eu anoiteço
Que me ensombro que escureço
Que me enrugo e envelheço
Me pregueio e apodreço
E a quem pago o que me dão
Uma espécie de ternura
Uma imitação do amor
Lençóis que são sepultura
De carícias sem doçura
E dos meus lábios sem cor
Ai dedos no meu cabelo
Quero a minha raiva toda
Quero domá-la e vencê-la
Quero vivê-la ao meu modo
Até encontrar por fim
Aquela voz de menino
Há tantos anos perdida
Há tanto tempo esquecida
Em soluços dissolvida
A gritar dentro de mim
António Lobo Antunes
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Memória para um império do futuro... a futurologia de Asimov
Em 1964, durante a Feira Mundial de Nova York, o New York Times convidou o escritor de ficção científica e professor de bioquímica Isaac Asimov a fazer previsões de como seria o mundo 50 anos depois, ou seja, este ano. Asimov escreveu mais de 500 trabalhos, entre romances, contos, teses e artigos e sempre se caracterizou por fazer projeções assertivas sobre o futuro. As previsões do escritor, que morreu em 1991, são surpreendentes.
O artigo do Times e o pormenor das previsões foram temas de vários textos publicados posteriormente e de várias discussões. Vamos lá passar os olhos pelas temáticas.
Cozinha
Asimov prevê que os equipamentos de culinária pouparão a humanidade de fazer trabalhos tediosos. “As cozinhas estão equipadas para fazer “auto-refeições”. “Almoços e jantares serão feitos com comidas semi-preparadas, que poderão ser conservadas no frio. Em 2014, as cozinhas terão equipamentos capazes de preparar uma refeição individual em alguns poucos segundos”. Só lhe faltou mesmo usar a palavra “microondas” ou a mais recente "Bimby".
Computadores
O escritor previu um mundo repleto de computadores capazes de fazer as mais complexas tarefas. “Em 2014, haverá mini computadores instalados em robôs”, escreve ele, no que parece ser uma alusão aos chips. E garantiu que será possível fazer traduções com uma dessas máquinas, como se previsse a existência do Google Translator (hahaha).
Comunicação
As ligações telefônicas terão imagem e voz, garantiu Asimov em seu texto. “Os ecrãs serão usados não apenas para ver pessoas, mas também para estudar documentos e fotos e ler livros”. E prevê que satélites em órbita tornarão possível fazer conexões telefônicas para qualquer lugar da Terra e até mesmo “saber o clima na Antártica”. Mas em Terra haverá outras soluções. “A conexão terá que ser feita em tubos de plástico, para evitar a interferência atmosférica”, escreve ele, como se já conhecesse a fibra ótica. Lá se ia o Gato Fedorento e o seu MEO, que o Asimov tinha muito mais pinta para publicidade.
Cinema
Asimov previu que em 2014 o cinema seria apresentando em 3D, mas garantiu que algumas coisas nunca mudariam: “Continuarão a existir filas de três horas para ver o filme”. Ah... mal ele sonhava com o terror das pipocas e dos nachos!
Energia
Ele previu que já existiriam algumas usinas experimentais a produzir energia com a fusão nuclear. Errou. Mas acertou quando vaticinou a existência de baterias recarregáveis para alimentar muitos aparelhos elétricos da nossa vida cotidiana. Mais ainda: “Uma vez usadas, as baterias só poderão ser recolhidas por agentes autorizados pelos fabricantes” — o que deveria acontecer, mas nem sempre acontece. Asimov e Al Gore na linha da frente das alterações climáticas.
Veículos
Asimov aqui erra em grande nas suas previsões relacionadas com transportes. Ele acreditava que carros e camiões pudessem circular sem se encostarem no chão ou na água, deslizando a uma altura de “um ou dois metros”. E que não haveria necessidade de construir pontes, “já que os carros seriam capazes de circular sobre as águas, mas serão desencorajados a fazer isso pelas autoridades”. E pela Lusoponte, Brisa, EMEL, etc e tal...
Marte
Para o escritor, em 2014 o homem já terá chegado a Marte com naves não tripuladas, embora “já estivesse em plano uma expedição com pessoas e até a formação de uma colónia marciana”. O que nos faz lembrar da proposta pública de uma viagem a Marte só de ida, feita recentemente, para formar a primeira colónia no planeta. Até porque o carrinho de expedição já se deve estar a sentir sozinho. Não viram o Wall-E?
Televisão
Asimov cita a provável existência de “televisões de parede”, como se pudesse prever os plasmas, mas acredita que os aparelhos serão substituídos por cubos capazes de fazer transmissões em 3D, visíveis de qualquer ângulo. Quase, quase lá nos ecrãs de micro cristais.
População
O escritor previu que a população mundial seria de 6,5 bilhões em 2014 (já passou dos 7 bilhões) e que áreas desérticas e geladas seriam ocupadas por cidades — o que não é exatamente errado. Mas preconizou, também, a má divisão da riqueza: “Uma grande parte da humanidade não terá acesso à tecnologia existente e, embora melhor do que hoje, estará muito desfasada em relação às populações mais privilegiados do mundo. Nesse sentido, andaremos para trás”, escreve ele. Bang! Na mouche!
Comida
“Em 2014 será comum a "carne falsa", feita com vegetais, e que não será necessariamente má, mas haverá muita resistência a essa inovação”, escreve Asimov, referindo-se provavelmente aos hambúrgueres de soja.
Expectativa de vida
O escritor preconizou problemas devido à super população do planeta, atribuindo-a aos avanços da medicina: “O uso de aparelhos capazes de substituir o coração e outros órgãos vai elevar a expectativa de vida, em algumas partes do planeta, a 85 anos de idade”. A média mundial subiu de 52 anos em 1964 para 70 anos em 2012. Em alguns países, como Japão, Suíça e Austrália, já está em 82 anos.
Escola
“As escolas do futuro”, escreve Asimov, “apresentarão aulas em circuitos fechados de TV e todos os alunos aprenderão os fundamentos da tecnologia dos computadores”. Porreiro pá! Magalhães para a criançada toda.
Trabalho
Asimov previu uma população entediada, como sinal de uma doença que “se alastra a cada ano, aumentando de intensidade, o que terá consequência mentais, emocionais e sociais”. Depressão? “Ouso dizer”, prossegue ele, “que a psiquiatria será a especialidade médica mais importante em 2014. Aqueles poucos que puderem se envolver em trabalhos mais criativos formarão a elite da humanidade”. LOLOLOL ya olha para mim aqui entediado no desemprego a tentar ser criativo... ups! Queres ver que ele já batia punho no empreendedorismo antes do Miguelito das pipocas?
O artigo do Times e o pormenor das previsões foram temas de vários textos publicados posteriormente e de várias discussões. Vamos lá passar os olhos pelas temáticas.
Cozinha
Asimov prevê que os equipamentos de culinária pouparão a humanidade de fazer trabalhos tediosos. “As cozinhas estão equipadas para fazer “auto-refeições”. “Almoços e jantares serão feitos com comidas semi-preparadas, que poderão ser conservadas no frio. Em 2014, as cozinhas terão equipamentos capazes de preparar uma refeição individual em alguns poucos segundos”. Só lhe faltou mesmo usar a palavra “microondas” ou a mais recente "Bimby".
Computadores
O escritor previu um mundo repleto de computadores capazes de fazer as mais complexas tarefas. “Em 2014, haverá mini computadores instalados em robôs”, escreve ele, no que parece ser uma alusão aos chips. E garantiu que será possível fazer traduções com uma dessas máquinas, como se previsse a existência do Google Translator (hahaha).
Comunicação
As ligações telefônicas terão imagem e voz, garantiu Asimov em seu texto. “Os ecrãs serão usados não apenas para ver pessoas, mas também para estudar documentos e fotos e ler livros”. E prevê que satélites em órbita tornarão possível fazer conexões telefônicas para qualquer lugar da Terra e até mesmo “saber o clima na Antártica”. Mas em Terra haverá outras soluções. “A conexão terá que ser feita em tubos de plástico, para evitar a interferência atmosférica”, escreve ele, como se já conhecesse a fibra ótica. Lá se ia o Gato Fedorento e o seu MEO, que o Asimov tinha muito mais pinta para publicidade.
Cinema
Asimov previu que em 2014 o cinema seria apresentando em 3D, mas garantiu que algumas coisas nunca mudariam: “Continuarão a existir filas de três horas para ver o filme”. Ah... mal ele sonhava com o terror das pipocas e dos nachos!
Energia
Ele previu que já existiriam algumas usinas experimentais a produzir energia com a fusão nuclear. Errou. Mas acertou quando vaticinou a existência de baterias recarregáveis para alimentar muitos aparelhos elétricos da nossa vida cotidiana. Mais ainda: “Uma vez usadas, as baterias só poderão ser recolhidas por agentes autorizados pelos fabricantes” — o que deveria acontecer, mas nem sempre acontece. Asimov e Al Gore na linha da frente das alterações climáticas.
Veículos
Asimov aqui erra em grande nas suas previsões relacionadas com transportes. Ele acreditava que carros e camiões pudessem circular sem se encostarem no chão ou na água, deslizando a uma altura de “um ou dois metros”. E que não haveria necessidade de construir pontes, “já que os carros seriam capazes de circular sobre as águas, mas serão desencorajados a fazer isso pelas autoridades”. E pela Lusoponte, Brisa, EMEL, etc e tal...
Marte
Para o escritor, em 2014 o homem já terá chegado a Marte com naves não tripuladas, embora “já estivesse em plano uma expedição com pessoas e até a formação de uma colónia marciana”. O que nos faz lembrar da proposta pública de uma viagem a Marte só de ida, feita recentemente, para formar a primeira colónia no planeta. Até porque o carrinho de expedição já se deve estar a sentir sozinho. Não viram o Wall-E?
Televisão
Asimov cita a provável existência de “televisões de parede”, como se pudesse prever os plasmas, mas acredita que os aparelhos serão substituídos por cubos capazes de fazer transmissões em 3D, visíveis de qualquer ângulo. Quase, quase lá nos ecrãs de micro cristais.
População
O escritor previu que a população mundial seria de 6,5 bilhões em 2014 (já passou dos 7 bilhões) e que áreas desérticas e geladas seriam ocupadas por cidades — o que não é exatamente errado. Mas preconizou, também, a má divisão da riqueza: “Uma grande parte da humanidade não terá acesso à tecnologia existente e, embora melhor do que hoje, estará muito desfasada em relação às populações mais privilegiados do mundo. Nesse sentido, andaremos para trás”, escreve ele. Bang! Na mouche!
Comida
“Em 2014 será comum a "carne falsa", feita com vegetais, e que não será necessariamente má, mas haverá muita resistência a essa inovação”, escreve Asimov, referindo-se provavelmente aos hambúrgueres de soja.
Expectativa de vida
O escritor preconizou problemas devido à super população do planeta, atribuindo-a aos avanços da medicina: “O uso de aparelhos capazes de substituir o coração e outros órgãos vai elevar a expectativa de vida, em algumas partes do planeta, a 85 anos de idade”. A média mundial subiu de 52 anos em 1964 para 70 anos em 2012. Em alguns países, como Japão, Suíça e Austrália, já está em 82 anos.
Escola
“As escolas do futuro”, escreve Asimov, “apresentarão aulas em circuitos fechados de TV e todos os alunos aprenderão os fundamentos da tecnologia dos computadores”. Porreiro pá! Magalhães para a criançada toda.
Trabalho
Asimov previu uma população entediada, como sinal de uma doença que “se alastra a cada ano, aumentando de intensidade, o que terá consequência mentais, emocionais e sociais”. Depressão? “Ouso dizer”, prossegue ele, “que a psiquiatria será a especialidade médica mais importante em 2014. Aqueles poucos que puderem se envolver em trabalhos mais criativos formarão a elite da humanidade”. LOLOLOL ya olha para mim aqui entediado no desemprego a tentar ser criativo... ups! Queres ver que ele já batia punho no empreendedorismo antes do Miguelito das pipocas?
Relembrando Al Berto
"regressa do túmulo dos mares do sul
enterra os dedos na penumbra que separa o dia
da noite das cidades recorda o restolhar das serpentes
a seiva lívida do loureiro estremecendo ao sentir
o rosto da criança que foste contra o tronco
na tua memória já não existem paisagens de ossos
nem pássaros nem punhais de luz dentro da insónia
a criança que em ti morreu crescendo
usou sapatos com atacadores e gravata
pela primeira vez foi ao cinema sozinha
com o olhar turvo de melancolia anda por aí
à procura de quem a queira"
enterra os dedos na penumbra que separa o dia
da noite das cidades recorda o restolhar das serpentes
a seiva lívida do loureiro estremecendo ao sentir
o rosto da criança que foste contra o tronco
na tua memória já não existem paisagens de ossos
nem pássaros nem punhais de luz dentro da insónia
a criança que em ti morreu crescendo
usou sapatos com atacadores e gravata
pela primeira vez foi ao cinema sozinha
com o olhar turvo de melancolia anda por aí
à procura de quem a queira"
in "O Medo"
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
«O lobo de Wall Street» - vencedores do passatempo!
Parabéns Ana Paula Oliveira, Sara Maia e Emílio Miranda. Cada um dos três vai levar para casa o livro «O lobo de Wall Street», de Jordan Belfort - uma cortesia da Editorial Presença.
O que se pedia era relativamente simples, responder à seguinte questão - Se fosse um lobo... como seria?
E estas são as frases vencedoras, com grande mérito. Parabéns!
Ana Paula Oliveira:
Seria o lobo culto, criado por Pascal Biet. De desafio em desafio, da escola para a biblioteca e da biblioteca para a livraria, trocaria a comida enfadonha pela leitura deliciosa.
Sara Maia:
Seria um LOBO BOM e viveria na cidade e não na floresta e devoraria livros. Assim o capuchinho vermelho e os 3 porquinhos não teriam de se preocupar comigo e as histórias infantis teriam de ser reinventadas.
Emílio Miranda:
Se fosse um lobo seria um animal mais instintivo, menos permeável às emoções e às reflexões, de olhar arguto e atento. Seria um caçador assertivo, determinado mas sem ardis. Naturalmente estaria mais próximo da harmonia primordial. Às vezes julgo que existe algo de lobo em mim... às vezes...
Snobidando: Umberto Saba
*Umberto Saba
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Pensamentos de Mariene Hildebrando - ZONA DE CONFORTO
ZONA
DE CONFORTO
Zona de conforto. OK...você vai
dizer que já sabe o que é isso, que você mesmo vive nela há muito tempo e acha
que tá de bom tamanho assim. Afinal, pra que mexer em time que ta ganhando. Aí
vem a pergunta... Será que ta ganhando mesmo? E se está? O que é mesmo que você
ganha? Quem sabe uma falsa ideia de conforto, de segurança, que pode ser em um
emprego que já não lhe dá prazer, um relacionamento que já não lhe diz nada,
enfim, são tantas coisas que fazem parte da nossa vida, que estão enraizadas e
que às vezes não fazem mais sentido, mas por medo e acomodação deixamos que
continue assim. O medo aqui é o vilão, mas não só ele. É fato que mudanças são necessárias para que haja
crescimento e evolução , mas que dá um arrepio na espinha só de pensar, ahhh
isso dá! E se não der certo, e se eu me arrepender, e se eu pensei que era uma
coisa e é outra, e se eu não me adaptar? São muitas as dúvidas, mas o que posso
dizer, é que a mudança vem antecedida de dor, sofrimento, ansiedade e angústia.,
ahhh se vem...experiência própria!
É normal que assim seja, aquele que consegue
mudar sem passar por isso tudo é um felizardo. Nós pobres mortais, sofremos, e
não tem como ser diferente, além de enfrentarmos nossos próprios fantasmas e
medos, ainda temos que ouvir palpite de amigos, parentes e pessoas que nos
querem bem, e são até bem intencionadas, mas que acabam por nos confundir mais.
Minha sugestão para eles é a seguinte: Só dê sua opinião se for perguntado.
Quando conseguimos sair da zona de conforto, enfrentar os nossos medos,
libertar a nossa consciência e nos abrirmos para receber o novo e tudo de bom
que a vida tem a nos oferecer, paramos de sofrer. Sentimos um alívio tão
grande, uma alegria inexplicável, retirar os véus e enxergar além daquilo que
nos foi ensinado, além daquilo que esperam de nós, é nos libertarmos daquilo
que parecia ser uma verdade absoluta, e descobrir que nosso caminho é feito por
nós e por nossas crenças.
O processo de mudança faz parte
do nosso amadurecimento, é nossa história, e ela só pode ser escrita por nós.
Temos que entender que tudo que nos limita somos nós mesmos. Esse é o primeiro
passo para a liberdade e para as mudanças que queremos ver acontecer em nossas
vidas. Depois disso é tocar em frente, observar quais as portas ou janelas irão
se abrir. Um mundo novo vai se descortinar a nossa frente. Se teremos certeza
que é o melhor que estamos fazendo, só o tempo dirá, 100% de certeza nós nunca
teremos, mas podemos acreditar que é o melhor que podemos fazer naquele
momento. Não deixe que te digam que é loucura largar o certo pelo incerto,
loucura meu amigo(a) é não tentar, não ousar, ficar na estagnação, naquela
vidinha sem graça que já não nos emociona mais, na qual não nos arriscamos, e olha
que desculpas a gente encontra muitas. Por exemplo? A idade, não tenho mais
idade para isso, os amigos , o que meus amigos vão pensar? E por aí vai...
Viver não é tarefa das mais
simples, mas nós complicamos mais do que devíamos. Não basta estar vivo, temos
que viver a vida, e isso é um processo contínuo, que requer coragem e
determinação, vamos sair do previsível e
encarar os desafios que nos farão crescer, sonhar é bom, realizar nosso sonhos
melhor ainda, alguns deles só conseguiremos realizar quando nos permitirmos
sair da zona de conforto, vamos sentir o friozinho na barriga de novo, nos
arriscar. Bem-vinda mudança! Xô medo!
Mariene
Hildebrando de Freitas
Professora de
Direito e especialista em Direitos Humanos
Porto
Alegre-RS Brasil
Email: marihfreitas@hotmail.com
ALA ... que é poesia VII
Cheira a terra molhada aqui da minha janela. E isso leva-me a escolher um dos meus poemas preferidos de António Lobo Antunes para continuar hoje esta recolha.
Chama-se "Fado do Bichinho da Terra" e surge no disco "Se o Meu Coração Não Erra", do projecto portuense Frei Fado d'el Rei. Lindo, lindo. Mas não acreditem só na minha palavra. Leiam o poema. Ouçam a canção. Está o link para o vídeo lá no fundo.
Ana Almeida
Chama-se "Fado do Bichinho da Terra" e surge no disco "Se o Meu Coração Não Erra", do projecto portuense Frei Fado d'el Rei. Lindo, lindo. Mas não acreditem só na minha palavra. Leiam o poema. Ouçam a canção. Está o link para o vídeo lá no fundo.
Ana Almeida
Fado do Bichinho da Terra
És gesto mas não de gente
és boca mas não de beijo
quando te olho de frente
e encontro o que não vejo.
Estes lábios esta voz
esta celeste frescura
esta fome que há em nós
e dentro de nós procura
como os bichinhos da terra
as raízes da figueira
como a noite que se cerra
em torno da terra inteira.
Como a luz de lado a lado
como a espada até ao fundo
como se eu fosse culpado
da miséria que há no mundo.
és boca mas não de beijo
quando te olho de frente
e encontro o que não vejo.
Estes lábios esta voz
esta celeste frescura
esta fome que há em nós
e dentro de nós procura
como os bichinhos da terra
as raízes da figueira
como a noite que se cerra
em torno da terra inteira.
Como a luz de lado a lado
como a espada até ao fundo
como se eu fosse culpado
da miséria que há no mundo.
António Lobo Antunes
![]() |
PARA VER O VIDEO SIGA O LINK http://www.youtube.com/watch?v=k8KLmYmgDpo |
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
Poema à noitinha... Vergílio Ferreira
Só nos Pertence o Gesto que Fizemos
Só nos pertence o gesto que fizemos
não o fazê-lo como, iludida,
a divindade que em nós já trouxemos
supõe errada (e não) por convencida.
Porque o traçado nosso em breve cessa,
para que outro o recomece e não progrida;
que um gesto em ser gesto real se meça,
não está em nós fazê-lo, mas na Vida.
Assim o nada a sagra quando finda
porque o que é, só é o não ainda.
*Vergílio Ferreira, in Conta-Corrente 1
não o fazê-lo como, iludida,
a divindade que em nós já trouxemos
supõe errada (e não) por convencida.
Porque o traçado nosso em breve cessa,
para que outro o recomece e não progrida;
que um gesto em ser gesto real se meça,
não está em nós fazê-lo, mas na Vida.
Assim o nada a sagra quando finda
porque o que é, só é o não ainda.
*Vergílio Ferreira, in Conta-Corrente 1
É do borogodó: o tigre
o tigre, então, disse à lua que ela seria sua,
somente sua, nua e crua, macia e pálida no meio da noite escura. mas a
lua tinha seus pudores e quis deter do tigre os humores… quando não, já
lhe tinha ido a metade. e minguava, enquanto ele a mastigava com torpor.
Penélope Martins
ALA ... que é poesia VI
Preciso de cor. Há dias assim, mesmo para mim, que me comovo por pouco.
E neste percurso de recolha dos poemas espalhados de António Lobo Antunes, escolho "Branco", a junção de todas as cores do espectro. Aqui, mais uma vez, cantado por Vitorino no disco "Eu Que Me Comovo Por Tudo e Por Nada", de 1992.
Ouçam-no comigo.
Ana Almeida
Branco
Branco como o sol
Branco como o mar
Branco como a ruga
De um remo a boiar
Branco como a sombra
Que à noite projecto
Branco com a linha
Dos fios do tecto
Branco como a língua
O leite a loucura
Os olhos da tarde
Como a arquitetura
Das estátuas gregas
Da areia do tempo
Das nuvens imóveis
E do movimento
Meu eu sem tu
Meu tu sem ninguém
Meu ninguém de sombra
Meu perfil de nada
Meu sem sem sem
Minha madrugada
Perdida esquecida
Achada encontrada
Branca como o sol
Branca como o mar
Branca como um tiro
E nada a sobrar
António Lobo Antunes
E neste percurso de recolha dos poemas espalhados de António Lobo Antunes, escolho "Branco", a junção de todas as cores do espectro. Aqui, mais uma vez, cantado por Vitorino no disco "Eu Que Me Comovo Por Tudo e Por Nada", de 1992.
Ouçam-no comigo.
Ana Almeida
Branco
Branco como o sol
Branco como o mar
Branco como a ruga
De um remo a boiar
Branco como a sombra
Que à noite projecto
Branco com a linha
Dos fios do tecto
Branco como a língua
O leite a loucura
Os olhos da tarde
Como a arquitetura
Das estátuas gregas
Da areia do tempo
Das nuvens imóveis
E do movimento
Meu eu sem tu
Meu tu sem ninguém
Meu ninguém de sombra
Meu perfil de nada
Meu sem sem sem
Minha madrugada
Perdida esquecida
Achada encontrada
Branca como o sol
Branca como o mar
Branca como um tiro
E nada a sobrar
António Lobo Antunes
![]() |
PARA VER O VIDEO SIGA O LINK http://www.youtube.com/watch?v=3fspFSjIAao |
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
beijoS urbanoS
Quando os viu
beijarem-se sentiu que tudo o que tinha, tinha pouco, a casa que foi dos pais,
já não tinha pais, um acidente de carro transformou-o no proprietário de um T3
no centro da cidade, um quarto
andar sem elevador, mobilado sem gosto, porque um excesso de móveis, um excesso
de arestas e esquinas com propensão em excesso para agredir corpos humanos, e
um carro com mais de cinco anos a precisar, em estado de urgência, de mudar o
óleo, as pastilhas dos travões e os quatro pneus.
Para lá dos bens
sujeitos a registo pouco mais havia a declarar, que não se vai pôr a contar
pares de sapatos e pares de meias, que se fosse preciso contar precisaria de
poucos dedos.
Mais do que os das
mãos.
Menos do que os
das mãos e os dos pés juntos.
Quando os viu
beijarem-se.
Da primeira vez e
de todas as outras.
Sempre o beijo.
Um beijo que o
incomodava, macerava, moía.
Uma dor miúda.
A dor a crescer,
difusa, sem lugar para apontar com o dedo indicador.
E quando o beijo,
da primeira vez e de todas as outras, estava no escritório.
Onde mais podia
estar?
No T3 no centro da
cidade?
Quase anedota!
Estava no
escritório.
É uma pessoa assaz
fácil de localizar, mesmo fora das horas de expediente, a probabilidade maior,
resultado matemático, é encontrarem-no no escritório.
Até o correio
pessoal já desviou para o escritório.
Poucos lhe
escrevem, a companhia da água, do luz, do gás, não mais.
Quando o beijo,
estava no escritório.
Estava, em
pequenos sorvos, a enfiar no corpo o quinto café do dia.
O escritório longe
do chão, o prédio de oito andares.
Ele no oitavo
andar de olhos no chão.
No chão as pessoas
lembram formigas.
Formigas no
passeio, formigas dentro dos carros, formigas a andar de mota, formigas atrás
de janelas e de portas, dentro de casas, de fábricas, de cinemas, formigas
urbanas, formigas ufanas, formigas sem norte, desnorteadas.
Formigas.
Formigas e
mosquitos.
Estava à janela
quando à porta do prédio em frente encontrou um ponto de cor, vermelho, imóvel.
Demorou a perceber
que um ramo de rosas.
Tentou contá-las,
àquela a distância era impossível contá-las, disse para si duas dúzias, não as
contou, pensou que contou, adivinhou, acertou.
Será que com as
flores esconde uma caixa de bombons de chocolate daqueles com uma avelã dentro,
a que chama douradinhos e que invocam os estofos em pele de bancos traseiros de
limousines, pensou, não conseguindo evitar o pensamento e o
desdém.
Não gosta de
chocolate.
Não conhece
ninguém que não goste de chocolate.
No dia em que
conhecer vai perguntar-lhe se depois do trabalho um passeio à beira rio, se ela
aceitar, já decidiu que nesse dia sai a horas do escritório.
Acabou o café e
decidiu esperar.
Passaram cinco
minutos.
O ponto vermelho.
O ramo de rosas.
Imóvel.
Indeciso sobre o
que sentir, se impaciência se vontade de desistir, decidiu esperar mais três
minutos.
Olhou para o
relógio para cronometrar o tempo, como se não tivesse tempo a perder, e quando
voltou a descer os olhos ao passeio o sujeito do ramo de rosas já não estava
sozinho.
Seriam rosas?
Podiam ser cravos!
Nunca viu cravos à
venda nas floristas, excepto em Abril.
Adivinhou e
acertou, eram rosas.
De braços
estendidos, o ramo de rosas como se um bolo de aniversário, dezenas de velas
para apagar num sopro.
Imaginou-a bonita,
os olhos castanhos, os lábios vermelhos, talvez sardas.
Era loira e o
vestido era vermelho como as rosas do ramo.
Excesso de
vermelho, pensou, como nos filmes do Tarantino.
E se as flores
escondessem uma pistola.
E se a pistola uma
bala.
E se não amor, a
bala no corpo e no vestido mancha nenhuma, um buraquinho apenas, talvez de uma
traça, insuficiência de naftalina no Inverno que passou, resolve-se com um
pontinho, dois pontinhos, agulha e linha da mesma cor e desgraça nenhuma
Tarantino de dedal a salvaguardar o dedo, porque agulhas nas suas
mãos, perigo maior que pistolas.
Ela, com a
vivacidade de um peixe fora de água, indiferente ao ramo de rosas, em estado de
urgência, a procurar-lhe o abraço, o beijo.
O ramo de flores
soterrado entre os corpos, melhor emprego teria num funeral, concluiu.
Quando o beijo,
assim da primeira vez e assim todos os dias depois ou quase assim, porque sem
ramo de flores para desgosto das floristas.
Que o negócio vai
mal.
Que nos dias que
correm, as vendas mais para quartos de hospitais e para funerais, ou seja, para
alegria da dor e para perfumar a
saudade, pensou.
Que foi feito do
amor? – Perguntavam sem mais intenções do que as comerciais. E respondiam à
própria pergunta com um resignado enfim.
Ou seja,
lamentações sem muro contra a carestia da vida, concluiu.
E o beijo assim,
todos os dias, em modo repetição, essa coisa a que se convencionou chamar
rotina, ele à porta do prédio em frente, pontualmente à espera no passeio, as
mãos nos bolsos das calças, um não sei quê de cão de guarda, de porteiro, de
candeeiro de rua.
O seu cinismo a
desejar que aparecesse um cão que lhe humedecesse a base.
Assim, todos os
dias, sem ramo de rosas mais difícil de distinguir, até que ela desce, o beijo,
o mesmo beijo acontece até desaparecem de mãos dadas no fim da rua.
Assim, enquanto em
pequenos sorvos cada vez mais amargos, enfia no corpo o quinto café do dia.
Ou quase assim,
que desde o oitavo andar, certezas nenhumas porque as pessoas lembram formigas.
Eu e os pássaros
Escrevi uma panóplia de
versos
sobre ver pássaros a
voar;
ensinaram-me somente
que não há asa que
aguente,
sem o seu par.
Marcos Foz
a-ver-livros: bichano e Evert Thielen
Não te deixes apanhar,
bichano,
querem fazer de ti
um gato sério
com residência certa
chave de porta
e serventia da casa
querem cortar-te as garras
prender-te a cauda
querem-te manso
na manta
sempre à mão de afagar
Não te deixes apanhar,
bichano
há telhados à espera
enquanto duram
as nove vidas
Ana Almeida
bichano,
querem fazer de ti
um gato sério
com residência certa
chave de porta
e serventia da casa
querem cortar-te as garras
prender-te a cauda
querem-te manso
na manta
sempre à mão de afagar
Não te deixes apanhar,
bichano
há telhados à espera
enquanto duram
as nove vidas
Ana Almeida
![]() |
* para saber mais sobre o pintor holandês Evert Thielen sigam o link www.evertthielen.com |
Qual destas frases escolhem para ser a vencedora do passatempo «O lobo de Wall Street»?
Estas são as seis melhores frases a concurso. E vão agora a uma grande final que decorre até dia 15. As mais votadas ajudam o júri a decidir os vencedores e serão contadas em comentário a este post (aqui no blog, na página do facebook ou também no grupo).
Boa sorte!
~~__~~
Gina Matos:
Se fosse um lobo, queria ser livre e andar pelos montes. Uivar à Lua, dormir ao relento nas noites quentes, e nas grutas as noites frias. Beber a agua pura das nascentes, comungar com a natureza, seria meu melhor presente.
Sara Maia:
Sara Maia:
Seria um LOBO BOM e viveria na cidade e não na floresta e devoraria livros. Assim o capuchinho vermelho e os 3 porquinhos não teriam de se preocupar comigo e as histórias infantis teriam de ser reinventadas.
Rui Martins:
Rui Martins:
Se eu fosse um lobo…
Rasgaria a pele de cordeiro
E uivaria ao luar de janeiro,
No sangue traria o fogo,
As minhas garras seriam aço
E os meus dentes como espadas
Rasgando a pele num abraço
Frio como as noites mais geladas.
Emílio Miranda:
Rasgaria a pele de cordeiro
E uivaria ao luar de janeiro,
No sangue traria o fogo,
As minhas garras seriam aço
E os meus dentes como espadas
Rasgando a pele num abraço
Frio como as noites mais geladas.
Emílio Miranda:
Se fosse um lobo seria um animal mais instintivo, menos permeável às emoções e às reflexões, de olhar arguto e atento. Seria um caçador assertivo, determinado mas sem ardis. Naturalmente estaria mais próximo da harmonia primordial. Às vezes julgo que existe algo de lobo em mim... às vezes...
Isabel:
Se fosse um lobo não seria míope, nem medrosa e certamente não daria lugar a hesitações, nem a boicotes de sonhos e ideias.
Simplesmente agiria…como um lobo.
Sol e vento nas corridas diárias, chuva também.
Inúmeras responsabilidades e aventuras na alcateia e meia dúzia de crias felpudas e teimosas para cuidar.
Zero de preguiça…
Se fosse um lobo continuaria a ser perfeccionista, bem-humorada e flexível.
Ana Paula Oliveira:
Seria o lobo culto, criado por Pascal Biet. De desafio em desafio, da escola para a biblioteca e da biblioteca para a livraria, trocaria a comida enfadonha pela leitura deliciosa.
*Consulte o livro no site da Editorial Presença: O lobo de Wall Street
domingo, 12 de janeiro de 2014
Snobidando: Manoel de Barros
O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que as dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor os meus silêncios.
*Manoel de Barros
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que as dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor os meus silêncios.
*Manoel de Barros
Acompanhe a página da Livraria Snob no Facebook. Abre brevemente, em Guimarães. Pode lá encontrar este e muitos outros textos.
Mário de Carvalho e Gastão Cruz premiados
Venho por este meio vos informar ou relembrar, que o escritor Mário de Carvalho foi distinguido com o Prémio Literário Fundação Inês de Castro 2013 com o livro "Liberdade de Pátio" e o poeta Gastão Cruz recebeu o prémio de carreira.
Os prémios serão atribuídos dia 15 de Março na Quinta das lágrimas em Coimbra.
E aqui fica um poema de Gastão Cruz para vocês:
Dia
Os prémios serão atribuídos dia 15 de Março na Quinta das lágrimas em Coimbra.
E aqui fica um poema de Gastão Cruz para vocês:
Dia
Que fizeste do dia que ao nascer
era névoa? Uma palavra
igual à noite Nada e
tudo ficara
desse corpo volátil Onde estavam
as formas do amor o futuro
passado?
Interpretaste
a ausência uma face destinada
ao desastre
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