sábado, 17 de dezembro de 2011

Saudades de Cesária Évora - poemas que dão música. Vidas que são poemas...

Partiu Cesária Évora.



Em Portugal, apenas um livro escrito sobre a vida da voz mais internacional de Cabo Verde, por José Manuel Simões e publicado pela Europa-América.

Partida

"Nha cretcheu ja`m s`ta ta parti
Oi partida sô bô podia separano
Nha cretcheu lavantá pam bem braçob
Lavantá pam bem beijob
Pam cariciob esse bô face.

Sel ta sirvi pa leval
Ma l`ta sirvi pa transportal
Caminho longe, separação
Ê sofrimento d`nhamor pa bô
Oi partida bô leval bô ta torná trazel.

Oi madrugada imagem di nh`alma
Ma nha cretcheu intrega`m sês lagrimas
Pam ca sofrê nem tchorá
Esse sofrimento ca ê sô pa mim
Oi partida bô ê um dor profundo.
Nha cretcheu ja`m s`ta ta parti
Oi partida sô bô podia separano
Nha cretcheu lavantá pam bem braçob
Lavantá pam bem beijob
Pam cariciob esse bô face.

Sel ta sirvi pa leval
Ma l`ta sirvi pa transportal
Caminho longe, separação
Ê sofrimento d`nhamor pa bô
Oi partida bô leval bô ta torná trazel.

Oi madrugada imagem di nh`alma
Ma nha cretcheu intrega`m sês lagrimas
Pam ca sofrê nem tchorá
Esse sofrimento ca ê sô pa mim
Oi partida bô ê um dor profundo."

Prémio Pessoa 2011 é de Eduardo Lourenço

Ficam as palavras.



"Num momento crítico da História e da sociedade portuguesa, torna-se imperioso e urgente prestar reconhecimento ao exemplo de uma personalidade intelectual, cultural, ética e cívica que marcou o século XX português" - diz o comunicado do júri do prémio.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O Poder dos Livros - imagens que falam por si

A minha amiga Joana Caldeira fez-me chegar este conjunto de imagens sobre o Poder dos Livros.

Take a look! (basta um click para aumentar a foto)

Poemas que dão música - Geraldo Vandré

Música proibida muitos anos pela ditadura militar brasileira. Geraldo Vandré escreveu-a em 1968 e alcançou o segundo lugar do Festival Internacional da Canção, atrás de 'Sabiá' de Tom Jobim e Chico Buarque, interpretada por Cynara e Cybele.

"A vida não se resume a festivais" - disse, um dia, Geraldo Vandré.

Poema de palavras fortes. E com uma enorme simbologia.



Pra não dizer que não falei das flores

"Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição
De morrer pela pátria e viver sem razão

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer."

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

a-ver-livros: Uma primeira frase

Há imagens que nos entram pelos olhos dentro, tal como as primeiras frases de alguns livros. Tal como as que saem dos lápis, canetas e pincéis de Jean Jullien, as imagens. Muitas delas que incluem livros.

Primeiro somos atraídos pelas cores, depois pela simplicidade da ilustração. O designer gráfico francês de Nantes que um dia se mudou para a britânica Londres, decidido a estudar no Royal College of Art, tem um estilo muito próprio. Reconhecível, divertido. E super eclético – que além da ilustração se dedica também à fotografia, ao video, às instalações, à roupa. Sim, e trabalha muito de perto com o músico Niwouinwouin, seu irmão. Não tentei sequer pronunciar este nome difícil. Tão difícil como entender por que raio os rapazes (andarão na casa dos vintes) não gostam de revelar as suas datas de nascimento ou mostrar os rostos.

Onde vai Jean Jullien buscar a inspiração? Ele diz numa entrevista que tem como referências a net, que surfa com avidez, e nomes como Théo Mercier, Ron Mueck e, acima de todos, Saul Bass. “Bem, imensas coisas me inspiram. Na verdade, quase tudo, aleatoriamente, me inspira. Brinquedos, livros de banda desenhada, programas de televisão da treta, imagens estranhas que apanho na net, a música do meu irmão, livros infantis, quadros”, afirmou.

Dele não consigo saber muito mais. E é demasiado jovem, tem mais potencial do que história. Mas sei que tem o mesmo nome de um dramaturgo francês que viveu de 1854 a 1919. Ah, e que os amigos o acham parecido com Serge Gainsbourg. Não sei se isso é necessariamente bom. Mas talvez estes detalhes sirvam para escrever um livro especial um dia. Com uma primeira frase de arromba.

www.jeanjullien.com/

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

The complete Maus, Art Spiegelman

Art Spiegelman é o único cartoonista a ganhar o Prémio Pulitzer, corria o ano de 1992. Venceu com Maus, uma espantosa biografia da vida dos seus Pais (e da sua, por inerência). Num contexto histórico muito especial e de má memória: o Holocausto.

Em 1986 foi lançado o primeiro volume, Maus: A Survivor’s Tale, que relata o trajecto dos seus Pais antes de irem parar a Auschwitz. Posteriormente, em 1991 sai Maus: And Here My Troubles Began, que conta a verdadeira tortura a que muitos Judeus foram sujeitos e como os Pais de Spiegelman (sobretudo o relato do pai, Vladek, um Judeu Polaco) conseguiram sobreviver.

A publicação deste segundo volume valeu-lhe um Pulitzer especial - o júri não sabia se Maus era uma obra de ficção ou uma biografia.


A mim parece um relato bem presente dos horrores deste período histórico. Art Spiegelman é também personagem da banda desenhada que cria. O mais extraordinário é que todos os intervenientes nesta história do Holocausto estão divididos por diferentes tipos de animais. Assim, os Judeus (toda a família do cartoonista) são Ratos. Os Nazis são Gatos. Os Polacos são Porcos e os Americanos Cães. Mas também se podem ver - entre outros - Peixes (Britânicos) e Sapos (Franceses).

Este livro é sobretudo uma descrição detalhada dos horrores que os Judeus sofreram na pele, do que realmente se passou nos campos de concentração e da história negra de Auschwitz - onde se crê terem morrido um milhão de pessoas.

Mas Art Spiegelman acrescenta um toque de classe, pois, para além de criar este mundo fantástico de animais (e toda a simbologia inerente); faz-se incluir também na história, aparecendo frequentemente desenhado a relatar conversas que manteve com o seu Pai no processo de criação deste livro.

Vladek Spiegelman foi um homem que ganhou medos e manias muito profundas. E que visivelmente não conseguiu sarar as feridas da perda de quase toda a sua família (incluindo um primeiro filho) e do suicídio da sua mulher em 1968 (Anja, mãe de Art - ou Artie, como é conhecido na narrativa).

Maus é a história do presente e do passado de Vladek. Daquilo que podia ter sido uma vida fácil e promissora. E de como todos os sonhos se transformaram em pesadelos em pouco tempo. Mas é também um relato de sobrevivência, das tácticas que utilizou para escapar às câmaras de gás, o que teve de ceder e negociar. E como, no pós guerra, consegue encontrar a sua mulher e fugir para os Estados Unidos.


Posso dizer que esta b.d. é muito mais que um relato. É uma experiência sensorial, potenciada pela força dos desenhos. Não é por acaso que a crítica usa estas palvras:

"Maus memorializes Spiegelman's father's experience of the Holocaust - it follows his story, frame by frame, from youth and marriage in pre-war Poland to imprisonment in Auschwitz. The 'susvivor's tale' that results is stark and unembellished. One of the cliches about the Holocaust is that you can't imagine it - like nuclear war, its horror outfaces the artistic imagination. Spiegelman disproves that theory." - Independent

"An intensely personal account of a family's survival, of hair-breadth escapes and incarceration, (that) deals artfully with experiences and emotions that many might fervently wish to forget. Of how, when life is stripped to subsistence level, trust and betrayal take on unprecedented dimensions. In the tradition of Aesop and Orwell, it serves to shock and impart powerful resonance to what after all, is a well-documented subject. And the artwork is so accomplished, forceful and moving, without resorting to sentimentality, that it works" - Time Out

"A brutally moving work of art" - Boston Globe

"The most affecting and sucessful narrative ever done about the Holocaust" - Wall Street Journal

[The complete Maus teve traduções separadas em português: o primeiro saiu do mercado há muito tempo e o 2.º volume é da extinta Difel (difícil de encontrar). A edição que trato neste texto reúne os dois volumes. Publica a editora Penguin.]

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

É segredo?


Segredo - por Maria Teresa Horta

"Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça

nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa

Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço

Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar

nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar"

in “Poesia Completa”

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Winston Churchill foi prémio Nobel da Literatura?

Winston Churchill (1874-1965) ganhou o prémio Nobel da Literatura em 1953 e o júri justificou-se desta forma: "pela sua mestria na descrição histórica e biográfica, bem como pela brilhante oratória em defesa dos valores humanos."

"Para além de um grande estadista, foi também escritor, pintor e memorialista e a sua obra, nomeadamente as Memórias de Guerra (1948-1954) valeu-lhe o Prémio Nobel da Literatura em 1953."

Pois bem, é precisamente o livro Memórias da II Guerra Mundial, recentemente publicado pela Texto Editores, que me fez divulgar esta curiosidade que, para muitos, deve ser totalmente desconhecida.

Quanto ao livro, já o podem ver à venda. Deixo a sinopse e um alerta: são 1072 páginas. Só para verdadeiros amantes de História... e de leitura!


"Enquanto primeiro ministro da Grã-Bretanha entre 1940 e 1945, Winston Churchill não só foi o maior líder da II Guerra Mundial mas também a voz desafiadora mais eloquente do mundo livre contra a tirania nazi. Os relatos épicos de Churchill desses tempos, extraordinários pela acutilância, são aqui reunidos num único volume. Esta obra vital e reveladora retém o drama, os detalhes observados em primeira mão e a prosa magistral dos seus clássicos 6 volumes de história, oferecendo uma valiosa perspectiva de eventos fulcrais do século XX.

A história de Churchill da II Guerra Mundial é, e será, a obra definitiva. Lúcido, dramático, extraordinário, quer pelo seu fôlego e profundidade, quer pelo seu sentido de envolvimento pessoal, este livro é universalmente reconhecido como uma magistral reconstrução histórica e uma duradoura obra de literatura."

Poemas que dão música - Melody Gardot

Dedicado a Ana Almeida. Por toda a alegria que traz a este blogue.



"If the stars were mine
I'd give them all to you
I'd pluck them down right from the sky
And leave it only blue

I would never let the sun forget
To shine upon your face
So when others would have rain clouds
You'd have only sunny days

If the stars were mine
I'd tell you what I'd do
I'd put the stars right in a jar
And give 'em all to you

If the birds were mine
I'd tell them when to sing
I'd make them sing a sonnet
When your telephone would ring

I would put them there inside the square
Whenever you went out
So there'd always be sweet music
Whenever you walk about

If the birds were mine
I'd tell you what I'd do
I'd teach the birds such lovely words
And make 'em sing for you
I'd teach the birds such lovely words
And make 'em sing for you

If the world was mine
I'd paint it gold and green
I'd make the oceans orange
For a brilliant color scheme

I would color all the mountains
Make the sky forever blue
So the world would be a painting
And I'd live inside with you

If the world was mine
I'd tell you what I'd do
I'd wrap the world in ribbons
And then give it all to you

I'd teach the birds such lovely words
And make 'em sing for you
I'd put those stars right in a jar and
Give them all to you"