quarta-feira, 30 de julho de 2014

a-ver-livros por la noche encontrei isto

Tinha prometido um "a-ver-livros" para a noite. Mas o céu foi escurecendo e nem uma palavra palpitava cá dentro. Busquei inspiração. Encontrei a notícia sobre o lançamento de um livro, agendado para as 18h30 de amanhã, 31 de Julho, na Livraria Ler Devagar, na Lx Factory, em Lisboa.

Poesia? Prosa? Autobiografia? Nada disso. Apenas um livro cheio de imagens, captadas em 2012 e 2013: grafitti na cidade de Lisboa. A poesia também pode ser apenas isso, sabiam? Passeios de vista, lavagens de alma às cores. Uma surpresa ao virar da esquina. Um olhar que se alonga, uma boca que se entreabre de espanto, uma memória visual para a posteridade.

O livro chama-se "Street Art Lisbon", tem edição da Zest - e para saberem mais sobre ele podem seguir este link.

A poesia do olhar também é como as cerejas e, de repente, recordei-me de um outro livro muito especial também sobre grafitti. A Benoit Ollive, um artista gráfico parisiense, pediram um dia para escrever algumas páginas sobre o assunto. Uma espécie de guia para grafiteiros (será assim que se diz) de primeira viagem. "Após horas e horas a pensar no assunto cheguei à conclusão de que não havia nada para ensinar, apenas fornecer-lhes o instrumento para o praticar", explica Benoit.

E daí nasceu "Tudo o Que Precisas de Saber Sobre Grafitti Está Neste Livro". Uma edição absolutamente única, um projecto que culmina em si mesmo. Podem conhecê-lo aqui.

Boa noite. E boas leituras, pois claro!


Ana Almeida

* para saber mais sobre Benoit Ollive
siga o link www.behance.net/benoitollive

Sujeito indireto - Paulo Leminski


Foto frase do dia: Alexander Woollcottt

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terça-feira, 29 de julho de 2014

a-ver-livros: virar de página

Não sei se escreva
se leia
se largue tudo e te abrace
amplexo lavrado nas teias 
que tece a saudade

Cerco-te a ausência

no tempo que dura 
o virar da página

Ana Almeida

* para saber mais sobre o irlandês Louis le Brocquy
siga o link www.anne-madden.com/LeBPages/lebrocquy

É do borogodó: no centro do peito

naquela tarde ela disse que me amava. ela sentou na poltrona, acendeu um cigarro, lia um livro que não sei e foi por cima das páginas que eu ignorava que ela me olhou para piscar e dizer. disse assim, descomprometida das consequências: ‘eu te amo, tanto’. depois fez uma pausa, enxugou uma lágrima. tive pena de mim. aquilo doeu como uma abelha fustigando o centro do peito. fui incapaz de responder. meus olhos passeavam por ela como os olhos do menino que fita a folha de papel de seda no ar, um pássaro. depois daquilo, balançando o pé no ar com a perna cruzada, ela terminou a leitura e se fez ausente. o cigarro terminou, a luz do sol tingiu os restos da fumaça de lilás.

choveu o dia seguinte, o outro também. o papel de seda encharcou entre as nuvens do meu querer. envergaram os meus ombros. sufoquei a ilusão com um duro golpe. ela ligou, eu não respondi. ela escreveu, eu não li. ela chamou por mim e eu deixei que ela se fosse, aos poucos, sumindo, desintegrando, desfazendo aquele mal. aos poucos ela desistiria de insistir e eu teria que desistir na desistência dela. por aqueles dias corri ver meu time. convidei alguém para minha cama sofrendo não aspirar naquele novo corpo o mesmo perfume que desenhava minhas utopias. engoli a saudade a palo seco. a palo seco foi a expressão que ela usou quando disse que me diria aquilo que disse numa tarde, sentada na poltrona que resta vazia entre as brumas do meu silêncio.

Penélope Martins

ilustração de Ayssa Bastos

Foto frase do dia: Charlie Chaplin