sábado, 13 de novembro de 2010

Abrindo o livro de Laxness

Abro o livro deste mês. Apetece-me devorá-lo e contar a história já amanhã. Seria quebrar as regras (muito vagas) deste clube de leitores.

Cada coisa a seu tempo. O meu papel é divulgá-lo, convencer mais pessoas a participar nesta experiência conjunta.

Hoje destaco o perfil de Laxness, no texto que a 'Cavalo de Ferro' organizou. Ainda pouco sei da história, ainda pouco sei do escritor, do seu país... e já estou encantado. Temos matéria para fazer correr muita tinta...


'Halldór Laxness nasce em 1902 e torna-se lenda no seu próprio tempo. Em 1955 é galardoado com o Prémio Nobel da Literatura.

Logo em 1927, um crítico escreve sobre ele: «Finalmente! Finalmente! A Islândia tem um novo grande escritor.»

A partir daí seguem-se várias obras-primas: Salka Valka, «Gente independente», «A luz do mundo», «O sino da Islândia», «Os peixes também sabem cantar», apenas para citar alguns dos livros mais famosos. Além dos romances, Laxness escreveu também contos, ensaios, teatro e poesia.

A sua obra está traduzida em mais de 45 línguas e publicada em mais de 500 edições, com enorme sucesso em todo o mundo.

Halldór Laxness é um verdadeiro mágico com as palavras. Ele detém uma inesgotável gama de estilos e temas. nenhum dos seus romances se assemelha. Laxness consegue sempre surpreender o leitor, é detentor de uma imaginação inesgotável e de recursos técnicos surpreendentes. É muito feliz na expressividade e na caracterização brilhante das personagens.

No seu percurso, Halldór Laxness nunca se cingiu apenas a um ideal ou crença. Inicia a sua carreira enquanto católico, depois torna-se socialista, e mais tarde perde o interesse por todas as doutrinas - excepto, talvez pelo Taoismo.

Laxness falece aos 96 anos, consagrado como um dos maiores escritores de sempre.'

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O livro da Avó, Luís Silva


Publicado pela Afrontamento, este é um livro que considero importante na biblioteca de uma criança. Não sem o apoio devido, a leitura por alguém mais velho é obrigatória.

Mais do que o texto, Luís Silva consegue reunir um pedaço de bons desenhos que pintam a importância desta figura na família. Ele é autor e ilustrador deste livro.

Como diz uma breve descrição, 'O Livro da Avó resgata memórias de ternura: das festas com coca-cola, das brincadeiras com os primos, dos passeios e da varanda com o mar como horizonte. Grande, velhinha e enrugada como a maioria das avós. E quando já somos grandes e nos lembramos percebemos a falta que nos fazem.'

Recentemente o livro encolheu. A nova edição é mais acessível ao pequeno leitor. Mesmo que ele ainda não saiba ler... Quem disse que os livros são só para quem sabe?

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Quantas vezes, Amor, me tens ferido?

'Quantas vezes, Amor, me tens ferido?
Quantas vezes, Razão, me tens curado?
Quão fácil de um estado a outro estado
O mortal sem querer é conduzido!

Tal, que em grau venerando, alto e luzido,
Como que até regia a mão do fado,
Onde o Sol, bem de todos, lhe é vedado,
Depois com ferros vis se vê cingido:

Para que o nosso orgulho as asas corte,
Que variedade inclui esta medida,
Este intervalo da existência à morte!

Travam-se gosto, e dor; sossego e lida;
É lei da natureza, é lei da sorte,
Que seja o mal e o bem matiz da vida.'


Bocage

Ubik e Halldór Laxness - a dupla de Novembro

Laxness ganhou o prémio Nobel em 1955. Teve um percurso muito curioso, pois aos 21 anos converteu-se à Igreja Católica. No entanto, anos mais tarde, abandonou a religião e abraçou o comunismo.

É o primeiro escritor islandês que leio. Tento apelar à memória, mas não vislumbro mais autores desta pequena ilha, desconhecida para a maioria de todos nós.


Preparamo-nos para ler outro prémio Nobel. Se bem se recordam, Gao Xingjian foi o primeiro. Este é já o sétimo livro de leitura conjunta, uma experiência que nos deu a conhecer muitas histórias e nos mobilizou para vários debates.

Ubik, grande amigo meu, preparou-me uma agradável surpresa. Já conheço a fama do escritor - pelos que já leram, é muito bom. A editora 'Cavalo de Ferro' consegue trazer à nossa praça autores importantes no panorama da escrita e Laxness é, para muitos, um desconhecido. Estou ansioso por começar.

Quanto à história, deixo uma breve sinopse:

'«Os peixes também sabem cantar» é, depois de «Gente independente», um dos livros mais significativos e de sucesso na carreira de Halldór Laxness. Sem dúvida, um dos que melhor explica ao seu leitor a Islândia, descrevendo, através da história de vida do seu jovem protagonista, o momento histórico da passagem da sua misteriosa e mágica sociedade ancestral à modernidade dos nossos dias. O romance, que se situa em inícios do século XX, acompanha a passagem da infância para a vida adulta do jovem Álfgrímur. Abandonado pela mãe em Brekkukot, uma propriedade rural na periferia de Reykjavík - então uma pequena cidade de poucos habitantes e sob o domínio dinamarquês -, a infância de Álfgrímur decorre de forma idílica entre os trabalhos domésticos na quinta, com a avó adoptiva que recita os rímur e as antigas sagas islandesas, a aprendizagem de latim e a audição, à noite, das histórias dos excêntricos habitantes de Brekkukot. Álfgrímur, que sonha um dia tornar-se pescador, tal como o seu avô, vê no entanto todos os seus projectos de futuro serem abalados pelo regresso a casa do Garõar Hólm. Famoso cantor lírico, orgulho da Islândia, a vida de Garõar está porém envolta num misterioso segredo, que caberá a Álfgrímur desvelar, ligando para sempre a sua vida à desta estranha personagem. Será Garõar a fazer com que Álfgrímur se apaixone pela música, incitando-o a alcançar com o canto da sua voz a «Nota Pura».'


Quero deixar o meu forte agradecimento a Ubik e congratulá-lo por esta escolha. Algo me diz que esta experiência vai ser, uma vez mais, incrível.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Sapho, Alphonse Daudet

Foi no ano de 2008 que li esta história. Na altura fui levado pelo título e por fazer parte de uma colecção escolhida por António Lobo Antunes.

No prefácio, Lobo Antunes escreve: 'Este romance, a mais bela história de amor que já li, é tecnicamente um livro dificílimo de escrever. Oxalá a tradução consiga transmitir um pouco daquilo que Daudet, tão esquecido, foi capaz.'


Creio que a tradução fez um bom papel. A história junta um rapaz na casa dos vinte e uma mulher madura, Fanny. Ela é conhecida por Sapho. Frequenta a alta sociedade Parisiense, tendo sido amante de muitos homens importantes.

Mas é este jovem aspirante a Cônsul, de uma aldeia francesa, que arrebata o seu coração. Entre dúvidas, romance e abandonos; no refúgio de um ninho de amor afastado de Paris ou em plena cidade, o jovem Jean Gaussin consegue provar que a idade pode não ser uma barreira.

O que faz um amor destes sobreviver? Leiam Sapho e descubram... Não se deixem enganar, é uma história complexa - não é literatura corriqueira. Prosa bastante humorística e que põe a nu o melhor de nós próprios.

Livro do mês

Bom... dia 10… Estou um bocado atrasado para a escolha do livro do mês. Não me vou justificar, como é óbvio.

Antes de anunciar a minha escolha quero deixar uma sugestão. Como já foi dito pelo Rodrigo, o meu pseudónimo/avatar, Ubik, é o título de um livro do Philip K. Dick, que reflecte a minha admiração pelo autor e por este livro em particular. A boa notícia é que a editora Saída de Emergência decidiu reeditar “O Homem do Castelo Alto”, um dos livros mais conhecidos do autor. Dos adjectivos geralmente atribuídos à obra de PK Dick, visionário é o que melhor define o presente livro. Bom, apenas resta dizer, leiam-no!

Agora o livro do mês...

Já foi há algum tempo que a Cavalo de Ferro editou “Gente Independente“ de Halldór Laxness, livro que foi um cataclismo no meu interior, que me deu a perceber a fonte onde foram beber todos os autores do boom latino-americano, que tornou a Islândia o país dos meus sonhos mais idílicos, e que me devolveu a fé, a fé de ver vertidas para português mais obras do autor.

Afinal, as minhas preces foram ouvidas e aqui está o Livro, “Os Peixes Também Sabem Cantar”:


Este é o livro do mês.

Qual crise?

Hoje tive uma conversa com duas escritoras deste blogue: A Constança e a Raquel.

Achei curioso onde isto nos levou...


Qual crise?

Raquel Serejo Martins: de afectos...

Rodrigo Ferrão: a crise é para os queixosos... será?

Raquel Serejo Martins: Não sou assim tão simplista... mas para esses não há paciência mesmo sem crise.

Rodrigo Ferrão: então e a crise é... faltar sempre alguma coisa?

Raquel Serejo Martins: não isso é a eterna insatisfação (ridícula)!

Rodrigo Ferrão: eterna? para sempre?

Raquel Serejo Martins: sim... ainda há coisas que são para sempre.

Rodrigo Ferrão: dá-me um exemplo...

Raquel Serejo Martins: assim de repente... a amizade

Rodrigo Ferrão: o amor é eterno? ou está em vias de extinção?

Raquel Serejo Martins: não, o amor, por definição, não é eterno...

Rodrigo Ferrão: quer dizer que posso desistir de o procurar?

Raquel Serejo Martins: não!, por não ser eterno é que tens que procurar constantemente :)

Rodrigo Ferrão: E onde se encontra tal coisa?

Raquel Serejo Martins: de forma contraditória... encontrarás quando procurares com menos afinco... ou nem procurares de todo :)

Rodrigo Ferrão: Ou seja, cai do céu como a chuva?

Raquel Serejo Martins: como a chuva sobre os audazes!

Constança Barras Romana: Não está à venda Rodrigo, em catálogo algum. E sim, é eterno, enquanto dura. E dura enquanto se julga eterno ;)

Rodrigo Ferrão: Eu pensei que fosse fácil de arranjar... Bastava um anúncio! Que coisa tão difícil o amor... Alguém já apanhou uma molha? Então... Se ele cai do céu!! Molha tudo, não?

Raquel Serejo Martins: Mas queres um amor fácil?

Constança Barras Romana: Não cai do céu, não se "arranja". Sente-se. E a mais das vezes, paixão sim, amor nem por isso.

Rodrigo Ferrão: Não sei... Um que molhe tolos ou uma tempestade? Pode ser geada, orvalho... Diz-me tu!

Constança Barras Romana: Não queres amor, queres adrenalina! ;)

Rodrigo Ferrão: Paixão e amor? Isso não é uma crise de conceitos? Um vive sem o outro?

Raquel Serejo Martins: Para ti uma tempestade de entardecer de Verão... que saudades do cheiro a terra molhada!

Rodrigo Ferrão: Eu quero adrenalina? Isso toma-se ao pequeno almoço? Faz parte das informações nutricionais do meu Nestum?

Rodrigo Ferrão: Se tens saudades de cheiro a terra molhada, porque não pegas numa mangueira e a molhas? Não seria a mesma coisa?

Raquel Serejo Martins: sabes bem que não! ou hoje estamos amargos e cépticos?

Rodrigo Ferrão: Eu hoje estou curioso. Quero responder a perguntas estranhas! E saber o que a gente pensa sobre isso...

Constança Barras Romana: Vive, Nós é que não temos a clareza e a honestidade de dizer que sim. A paixão vive sem amor, ela sim é cega, é bruta é avassaladora. O amor é outra história. O amor é lume brando, a paixão é a chama que tanto cresce que se apaga.. o amor é respeito, é reconhecimento, é carinho, é paciência é lucidez ;) Amor e paixão juntos é Vida.

Raquel Serejo Martins: a pergunta não era estranha ou insólita era parva ;)

Rodrigo Ferrão: Somos todos um bocado parvos, ou não?

Rodrigo Ferrão: Ou seja, se eu vivo logo amo e apaixono...

Constança Barras Romana: seguramente :P

Raquel Serejo Martins: eu sou... se não estou em erro, parvo é uma palavra latina, que na sua origem significa pequena... e é um facto... não sou GRANDE!

Constança Barras Romana: Acho que o único não parvo aqui és tu Rodrigo..!

Rodrigo Ferrão: Oh... Mas eu queria ser parvo como vocês! Como faço?

Raquel Serejo Martins: pela convivência... a parvoíce passa por osmose!

Constança Barras Romana: Ahahaha!!

Raquel Serejo Martins: e vou sair desta coisa... boa noite...

Rodrigo Ferrão: Até amanhã Raquel

Constança Barras Romana: Como vês Rodrigo, qual crise? Durma bem ;)

Raquel Serejo Martins: Até amanhã... e deixa o Nestum... não te está a fazer nada bem... fui :)
Até amanhã Constança.

Rodrigo Ferrão: Vamos ver se alguém mais sabe o que é a crise... Eu não sei! Qual crise? Isso é para outros parvos que não nós!

Constança Barras Romana: Até amanhã Raquel ;)

Rodrigo Ferrão: Raquel, não admito insultos ao meu Nestum! Fiel amigo, desde 1980 e poucos!

domingo, 7 de novembro de 2010

Marina


O livro que escolhi para me estrear no Clube de Leitores foi o "Marina" de Carlos Ruíz Zafón. Já vos expliquei as razões que me levaram a escolhê-lo, agora é altura de falar do livro propriamente dito.

Já se passaram algumas semanas desde que o terminei, por isso tenho o distanciamento devido para poder falar da obra sem deslumbramentos. A verdade é que apesar de não ser um livro tão bom como "A Sombra do Vento" ou "O Jogo do Anjo" (a fasquia que o escritor impôs com estes dois livros é muito alta!) é ao mesmo tempo um livro magistral e que me deu um enorme prazer de ler.

A escrita intemporal de Zafón que nos encantou continua a mesma, assim como a maravilhosa cidade de Barcelona que serve de pano de fundo a toda a trama. "Marina" tem uma história delicada, mágica e bastante emocional, onde a morte está retratada de uma forma bastante especial. Posso garantir-vos que foi sem dúvida uma das melhores leituras do ano e fico bastante satisfeito por saber que a mesma editora que publicou o "Marina" vai publicar a restante obra de Zafón que ainda não está traduzida para a nossa língua.

Espero que tal como eu se tenham perdido nas ruas de Barcelona com o "Marina" e quem ainda não leu só posso recomendar-vos e dizer que não se vão arrepender, de maneira nenhuma!

De haver relento, Andreia C. Faria

Um dos gatos era qual o velho da rua pardo
velho sacudindo
a barba à chuva e amolando
tesouras no dealbar das mãos na espera
de haver relento
sorria no ápice de quem
tropeça
num corpo mais feliz
Era como o gato o velho um dia
inteiro presente
era possível iniciá-lo
atravessar-lhe a funda carícia das horas sem ideia
de o deixar dormir

Andreia é uma amiga e escreve uns poemas. Um dia encheu-se de coragem e publicou Fadas e assassinos. Em 2008 saiu este De haver relento. Textos que falam de relento, normalmente sob o olhar atento de um gato.

A sua caneta escreveu a seguinte dedicatória: "Para o Rodas, por ser um gajo com todas as letras. E um amigo."

Destaco também a capa. Agarrem este livro.