sábado, 6 de abril de 2013

Encontrar livros no "Chão da Feira"


Apresentam-se assim estes editores:

"As Edições Chão da Feira propõem disseminar textos nos quais o desejo de ver, ouvir, ler, escrever é também reafirmação de esperança política: o improvável existe, o futuro lhe pertence e é inegociável. Somos um coletivo que desacredita de qualquer fatalidade e participa na afirmação de linhas de fuga do consenso através do que a ele resiste – os vaga-lumes, a restante vida, a vida menor.

Acreditamos que a alegria é a prova dos nove."

Contam também com as publicações "Cadernos de Leitura" e a "Gratuita", ambas disponíveis para download em pdf no site.

Caderno de Leituras é um espaço aberto para publicação de textos críticos breves. Conta neste momento com 12 volumes já publicados. Não há unidade temática ou formal – o que os reúne é talvez o desejo de estar atento ao que inquieta, ao incerto, ao dissonante e arriscar a escrita como espaço de pensamento.

As propostas de publicação serão bem-vindas, afirmam, e podem ser enviadas para: chão@chaodafeira.com



Literatura twittante?

Nem mais um. Apenas 140 caracteres ou menos. Enviados virtualmente para o mundo. Twitter.
Se vive nos tempos modernos sabe do que falo.
Será que dá para fazer literatura em não mais do que 140 míseros caracteres?

Bem, por cá estão na moda os micro-contos... Há desafios variados por aí à espera dos amantes da escrita curta.


Lá fora, o jornal britânico "The Guardian", por exemplo, acredita que sim. E para prová-lo tem vindo a convidar regularmente alguns autores de best-sellers a contar uma história em versão Twitter. Se têm uma boa relação com a língua inglesa, sigam o link que vos deixo no final deste post e divirtam-se.

Depois digam-me o que acharam, sim.

http://www.guardian.co.uk/books/series/twitter-fiction



Borda d'Água 2013

Borda d'Água é um almanaque português publicado anualmente desde 1929 pela Editorial Minerva. Tendo comemorado 80 anos de publicação em 2009, continua a ser impresso numa tipografia tradicional e a manter a mesma linha editorial desde a sua fundação. Sendo uma das mais antigas publicações periódicas em Portugal, continua a ser um enormíssimo sucesso de vendas. Apresentando-se como "reportório útil a toda a gente", o almanaque apresenta prognósticos para o ano, conselhos práticos baseados na sabedoria popular (provérbios, mezinhas, etc.), na ciência e na astrologia; previsões meteorológicas, previsões para a agricultura, épocas de sementeiras e outros trabalhos agrícolas, fases da lua, informação sobre o mar e as marés, calendário, efemérides, etc.

(clique na imagem para ler)

Making books is fun! - um pequeno programa organizado pela Encyclopædia Britannica

Para ver... e aprender!

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Poema à noitinha... Daniel Faria

Tenho Saudades do Calor ó Mãe

Tenho saudades do calor ó mãe que me penteias
Ó mãe que me cortas o cabelo — o meu cabelo
Adorna-te muito mais do que os anéis

Dá-me um pouco do teu corpo como herança
Uma porção do teu corpo glorioso — não o que já tenho —
O que em ti já contempla o que os santos vêem nos céus
Dá-me o pão do céu porque morro
Faminto, morro à míngua do alto

Tenho saudades dos caminhos quando me deixas
Em casa. Padeço tanto
Penso tanto
Canto tão alto quando calculo os corpos celestes

Ó infinita ó infinita mãe

*Daniel Faria


Uma outra forma de ler Bukowski: "The Laughing Heart"

Da série «uma outra forma de ler Bukowski», chega esta animação de The Laughing Heart. Vale a pena assistir. 


The Laughing Heart

your life is your life
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is a light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you.

1º Parágrafo: A Senhora do Galvão


Começaram a rosnar dos amores deste advogado com a viúva do brigadeiro, quando eles não tinham ainda passado dos primeiros obséquios. Assim vai o mundo. Assim se fazem algumas reputações más, e, o que parece absurdo, algumas boas. Com efeito, há vidas que só têm prólogo; mas toda a gente fala do grande livro que se lhe segue, e o autor morre com as folhas em branco. No presente caso, as folhas escreveram-se, formando todas um grosso volume de trezentas páginas compactas, sem contar as notas. Estas foram postas no fim, não para esclarecer, mas para recordar os capítulos passados; tal é o método nesses livros de colaboração. Mas a verdade é que eles apenas combinavam no plano, quando a mulher do advogado recebeu este bilhete anônimo:


a-ver-livros: vendaval e Tanguy Kan

No colo do vendaval
viajam as sobras dos dias maus
restos azedos de palavras duras
espinhas que arrancámos
da garganta à força de beijos
as cascas das frutas que não chegaram
a ser doces

roubadas no pomar antes de maduras

No colo do vendaval
viajam e não voltam
asas que as levem

* para conhecer mais sobre a pintura de Tanguy Kan
basta seguir o link www.tanguykan.com

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Poema à noitinha... Joaquim Pessoa


Houve uma Ilha em Ti

Houve uma ilha em ti que eu conquistei. 
Uma ilha num mar de solidão. 
Tinha um nome a ilha onde morei. 
Chamava-se essa ilha Coração. 

Que saudades do tempo que passei. 
Nenhum desses momentos foi em vão. 
Do teu corpo, de ti, já nada sei. 
Também não sei da ilha, não sei, não. 

Só sei de mim, coberto de raízes. 
Enterrei os momentos mais felizes. 
Vivo agora na sombra a recordar. 

A ilha que eu amei já não existe. 
Agora amo o céu quando estou triste 
por não saber do coração do mar. 

*Joaquim Pessoa, in Ano Comum - Edições Litexa


Ernest Hemingway em Abril

O livro que escolhi para leitura conjunta do blog dispensa apresentações. O Velho e o Mar é uma história que cabe nas melhores recordações do nosso imaginário. E há tanto para falar sobre ele!

Oportunidade para o lerem pela primeira vez ou simplesmente recordar... Fiquem connosco, por este mar de aventura.


O Velho e o Mar é, porventura, a obra-prima de maturidade de E. Hemingway. Santiago, um velho pescador cubano, minado por um cancro de pele que o devora cruelmente, está há quase três meses sem conseguir pescar um único peixe. Vai então bater-se, durante quatro dias, com um enorme espadarte, que conseguirá de facto capturar, para logo o ver ser devorado por um grupo de tubarões. Esta aventura poética, onde Hemingway retrata, uma vez mais, a capacidade do homem para fazer face e superar com sucesso os dramas e as dificuldades da vida real, é seguramente uma das suas obras mais comoventes e aquela que mais entusiasmo tem suscitado, ao longo de mais de meio século, entre os seus fiéis leitores.*

*sinopse da edição portuguesa, editada pela Livros do Brasil.


(...) este pequeno romance passa por ser uma obra-prima da literatura contemporânea e talvez que o tempo o ponha entre as obras-primas da literatura universal. Pode dizer-se que, em toda a parte, e independentemente de felizes ou infelizes traduções, público e crítica receberam com entusiasmo este livro. Não é, no entanto, uma obra extensa, de acção complexa, de variado e movimentado ambiente. É, antes, um breve poema em prosa, uma epopeia de simples trama, singelamente narrada. Mas é, por outro lado, muito mais do que isso: um breviário nobilíssimo da dignidade humana, escrito com a mais requintada das artes. Poucas vezes, no nosso tempo, terá sido concebida e realizada uma obra tão pura, em que a natureza e a humanidade sejam, frente a frente, tão verdade.*

*Jorge de Sena, Prólogo da Edição de 1956

O Luar quando Bate na Relva, Alberto Caeiro

Fernando Pessoa numa perspectiva mais ou menos comparável com a actualidade...


O Luar quando Bate na Relva

O luar quando bate na relva
Não sei que cousa me lembra...
Lembra-me a voz da criada velha
Contando-me contos de fadas.
E de como Nossa Senhora vestida de mendiga
Andava à noite nas estradas
Socorrendo as crianças maltratadas ...
Se eu já não posso crer que isso é verdade,
Para que bate o luar na relva?


*Alberto Caeiro, in O Guardador de Rebanhos - Poema XIX

1º Parágrafo: A Chinela Turca


Vede o bacharel Duarte. Acaba de compor o mais teso e correto laço de gravata que apareceu naquele ano de 1850, e anunciam-lhe a visita do major Lopo Alves. Notai que é de noite, e passa de nove horas. Duarte estremeceu, e tinha duas razões para isso. A primeira era ser o major, em qualquer ocasião, um dos mais enfadonhos sujeitos do tempo. A segunda é que ele preparava-se justamente para ir ver, em um baile, os mais finos cabelos loiros e os mais pensativos olhos azuis que este nosso clima, tão avaro deles, produzira. Datava de uma semana aquele namoro. Seu coração deixando-se prender entre duas valsas, confiou aos olhos, que eram castanhos, uma declaração em regra, que eles pontualmente transmitiram à moça, dez minutos antes da ceia, recebendo favorável resposta logo depois do chocolate. Três dias depois, estava a caminho a primeira carta, e pelo jeito que levavam as coisas não era de admirar que, antes do fim do ano, estivessem ambos a caminho da igreja. Nestas circunstâncias, a chegada de Lopo Alves era uma verdadeira calamidade. Velho amigo da família, companheiro de seu finado pai no exército, tinha jus o major a todos s respeitos. Impossível despedi-lo ou tratá-lo com frieza. Havia felizmente uma circunstância atenuante; o major era aparentado com Cecília, a moça dos olhos azuis; em caso de necessidade, era um voto seguro.


a-ver-livros: rima tola e Valentin Rekunenko

Deixem-me estar
achei o meu lar, quero muito
morrer aqui, perto de ti
rimar sem pensar
ler sem parar
e, quem sabe, escrever 
se o estro bater

* para conhecer mais sobre o ucraniano Valentin Rekunenko
siga o link ggalleryslo.blogspot.pt/2012/03/rekunenko-valentin

quarta-feira, 3 de abril de 2013

a-ver-outros-livros no Metro: José Saramago

'É ele, não vês logo', dizia um miúda para o namorado, uma destas tardes na estação de metropolitano do Aeroporto, em Lisboa. Olhavam a caricatura de António na parede de mármore e reconheciam os óculos, a testa alta marcada pelas rugas, talvez até os braços cruzados do escritor. Não é em vão que se é o único escritor português a ter recebido o Nobel, corria 1998.  Três anos antes recebera também o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa.

José de Sousa Saramago (Golegã, 16 Novembro 1922 — Lanzarote, 18 Junho 2010), argumentista, ensaísta, jornalista, escritor e poeta português, polémico até à medula, quer pela política quer pela forma como encarava a religião. Não estou inclinada para polémicas hoje, antes para o amor.

"O Amor não Tem nada que Ver com a Idade

Penso saber que o amor não tem nada que ver com a idade, como acontece com qualquer outro sentimento. Quando se fala de uma época a que se chamaria de descoberta do amor, eu penso que essa é uma maneira redutora de ver as relações entre as pessoas vivas. O que acontece é que há toda uma história nem sempre feliz do amor que faz que seja entendido que o amor numa certa idade seja natural, e que noutra idade extrema poderia ser ridículo. Isso é uma ideia que ofende a disponibilidade de entrega de uma pessoa a outra, que é em que consiste o amor.

Eu não digo isto por ter a minha idade e a relação de amor que vivo. Aprendi que o sentimento do amor não é mais nem menos forte conforme as idades, o amor é uma possibilidade de uma vida inteira, e se acontece, há que recebê-lo. Normalmente, quem tem ideias que não vão neste sentido, e que tendem a menosprezar o amor como factor de realização total e pessoal, são aqueles que não tiveram o privilégio de vivê-lo, aqueles a quem não aconteceu esse mistério.
"

Saramago, in revista "Máxima", Outubro 1990

Ao que parece, terá dito também que "somos todos escritores, só que alguns escrevem e outros não". Talvez tivesse razão. Como talvez tivesse razão quando disse ao "Diário de Notícias", em 2009: ""O poeta não será mais que memória fundida nas memórias, para que um adolescente possa dizer-nos que tem em si todos os sonhos do mundo, como se ter sonhos e declará-lo fosse primeira invenção sua. Há razões para pensar que a língua é, toda ela, obra de poesia."

Abril traz-nos um novo livro de Saramago. "A Estátua e a Pedra", editado pela Fundação com o seu nome e liderada por Pilar del Rio, tem lançamento mundial na segunda quinzena de abril, na Feira do Livro de Bogotá. A obra, em edição bilingue, em português e espanhol, é uma reflexão de José Saramago sobre os seus livros e sobre a importância decisiva que o facto de viver numa ilha de pedra e vulcões como Lanzarote teve para entender o seu estilo literário e de vida.



Enquanto chega e não chega, um poema. Sim, de Saramago, que também os escrevia.

"No Coração, Talvez

No coração, talvez, ou diga antes:
Uma ferida rasgada de navalha,
Por onde vai a vida, tão mal gasta.
Na total consciência nos retalha.
O desejar, o querer, o não bastar,
Enganada procura da razão
Que o acaso de sermos justifique,
Eis o que dói, talvez no coração.
"

in "Os Poemas Possíveis"

Siga a viagem. Mind the gap.

1º Parágrafo: Quase Memória


O dia: 28 de novembro de 1995. A hora: aproximadamente vinte, talvez quinze para a uma da tarde. O local: recepção do Hotel Novo Mundo, aqui ao lado, no Flamengo.


Álvaro de Campos... para a tarde


Acaso

No acaso da rua o acaso da rapariga loira.
Mas não, não é aquela.

A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro.
Perco-me subitamente da visão imediata,
Estou outra vez na outra cidade, na outra rua,
E a outra rapariga passa.

Que grande vantagem o recordar intransigentemente!
Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga,
E tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta.

Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso!
Ao menos escrevem-se versos.
Escrevem-se versos, passa-se por doido, e depois por gênio, se calhar,
Se calhar, ou até sem calhar,
Maravilha das celebridades!

Ia eu dizendo que ao menos escrevem-se versos...
Mas isto era a respeito de uma rapariga,
De uma rapariga loira,
Mas qual delas?
Havia uma que vi há muito tempo numa outra cidade,
Numa outra espécie de rua;
E houve esta que vi há muito tempo numa outra cidade
Numa outra espécie de rua;
Por que todas as recordações são a mesma recordação,
Tudo que foi é a mesma morte,
Ontem, hoje, quem sabe se até amanhã?

Um transeunte olha para mim com uma estranheza ocasional.
Estaria eu a fazer versos em gestos e caretas?
Pode ser... A rapariga loira?
É a mesma afinal...
Tudo é o mesmo afinal ...

Só eu, de qualquer modo, não sou o mesmo, e isto é o mesmo também afinal.

*Álvaro de Campos, 
Heterónimo de Fernando Pessoa

terça-feira, 2 de abril de 2013

O Corvo de Allan Poe por James Earl Jones


Sob o mérito de uma assombrosa imaginação Edgar Allan Poe conseguia traduzir ao papel impressões e os sentimentos de tristeza, terror e solidão com rara habilidade.

No ensaio "Filosofia da composição", Poe – sob o pretexto de desmistificar a crença no poder da inspiração sobre os autores revelando os bastidores literários das escolhas que os escritores fazem ao trabalhar seu texto – cria uma peça autoelogiosa, um tributo à engenhosidade do seu texto mais conhecido, o poema "O Corvo". Um processo criativo do poema é descrito passo-a-passo como se fosse a solução de um problema lógico que teria como solução o “embriagador arrebatamento da alma” através do sentimento da tristeza já que “Qualquer que seja o seu parentesco, a beleza, no seu desenvolvimento supremo, induz às lágrimas, inevitavelmente, as almas sensíveis. Assim, a melancolia é o mais idoneo dos tons poéticos.”

A permanência do poema no imaginário literário até hoje comprova a eficiência da obra, que realmente vai a um crescendo de delírio do erudito enlutado até a mais profunda desesperança diante da morte da amada.

Uma impressionante leitura feita por James Earl Jones (se o Darth Vader lesse poesia seria assim).


1º Parágrafo: O playboy que não deu certo


Meu amigo de infância James Lins, na verdade José Augusto Magalhães Esteves Soares (J.A.M.E.S.), foi condenado, na semana passada a 268 anos de prisão. Sua mãe, dona Lila, já octogenária, na saída do Fórum, encharcada de lágrimas e amparada pelas sobrinhas (os filhos de James Lins não apareceram, proibidos pela mãe, a primeira esposa, Nicinha), só conseguia balbuciar um “meu filho é inocente, meu filho é inocente”. Não foi o que decidiu o júri. Dona Lila está em estado de coma no hospital Albert Einstein. E James na penitenciária do Estado, sabe-se lá em que estado.


a-ver-livros: máquinas e Jesse Lefkwitz

Queria encontrar a chave
que liga e desliga
aquele volante de alma que dói
aquele motor das sombras
que se entranham no óleo dos dias
Queria encontrar o botão
das luzes, do ar condicionado
pelo sol dos dias quando vem
acelerado e cheio de pressa
Queria desmontar peça por peça
a máquina de ser e limitar-me
a pisar as pedras do caminho

* para conhecer mais sobre o ilustrador Jesse Lefkwitz
siga o link www.jesse-lefkowitz.com

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Poema à noitinha... «Ode à Mentira», Jorge de Sena


Ode à Mentira

Crueldades, prisões, perseguições, injustiças,
como sereis cruéis, como sereis injustas?
Quem torturais, quem perseguis,
quem esmagais vilmente em ferros que inventais,
apenas sendo vosso gemeria as dores
que ansiosamente ao vosso medo lembram
e ao vosso coração cardíaco constrangem.
Quem de vós morre, quem de por vós a vida
lhe vai sendo sugada a cada canto
dos gestos e palavras, nas esquinas
das ruas e dos montes e dos mares
da terra que marcais, matriculais, comprais,
vendeis, hipotecais, regais a sangue,
esses e os outros, que, de olhar à escuta
e de sorriso amargurado à beira de saber-vos,
vos contemplam como coisas óbvias,
fatais a vós que não a quem matais,
esses e os outros todos... - como sereis cruéis,
como sereis injustas, como sereis tão falsas?
Ferocidade, falsidade, injúria
são tudo quanto tendes, porque ainda é nosso
o coração que apavorado em vós soluça
a raiva ansiosa de esmagar as pedras
dessa encosta abrupta que desceis.
Ao fundo, a vida vos espera. Descereis ao fundo.
Hoje, amanhã, há séculos, daqui a séculos?
Descereis, descereis sempre, descereis.

*in Pedra Filosofal

1º Parágrafo: Curva do Rio Sujo


A avó, grávida de gémeas. O avô distante, tocando gado há dias. “Ele volta a tempo, volta sim, minhas queridas.” A hemorragia preta sob a mesa da cozinha. A avó puxa o retrato do criado-mudo. “Vêem? Ele já está aqui.”


O fim do Clube de Leitores

Foram quase 3 anos de grandes aventuras. Muitas amizades feitas, muitos seguidores e entusiasmo. Mas, como tudo, os projectos alimentam-se de pessoas que acompanham o trabalho, a paixão e a entrega de quem está deste lado... E a verdade é que já não temos o feedback que desejamos. O Clube de Leitores fica por aqui. Cada um de nós seguirá a vida de um cidadão comum. 

Até sempre!*


*Hoje é dia das mentiras!

a-ver-livros: a figueira e Lori Preusch

A figueira voltou a vestir-se
ou pelo menos a vejo
com outro ver

E o mundo recomeça

* para conhecer mais sobre a pintura da norte-americana Lori Preusch
basta seguir o link www.borsini-burr.com/cm/Artists/LoriPreusch

domingo, 31 de março de 2013

Poema à noitinha: Ana Paula Inácio

"Duas chávenas

Tinhamos duas chávenas 
em forma de meia lua
e uma triangular.
Quando alguém ia lá a casa
bebíamos os dois pelas meias luas
e o convidado pela triangular.
Era uma regra da casa
nem escrita
nem pronunciada
apenas pressentida.
Até que alguém apareceu
e trocou o sítio das chávenas
a mim coube-me a triangular.
As regras eram mesmo assim
para quebrar
como as tartes
como as chávenas.
Será que ainda as podemos colar?"

Ana Paula Inácio

King em cartoon

Domingo de Páscoa. Dia cinzento e molhado. E, entre algum tédio de fim de tarde, cruzo-me com um cartoon literário, brincando com Stephen King, o mestre do terror. Sim, aquele autor que um dia disse: "Eu adorava a biblioteca quando era miúdo. Em que outro sítio poderia um miúdo relativamente pobre, como eu, ter acesso a todos os livros que podia desejar?"




Stephen King prepara-se para lançar um novo livro a 24 de Setembro próximo. "Doctor Sleep" é, na prática, uma sequela de "The Shinning" (escrito há 35 anos), com um Danny Torrance agora mais velho e a trabalhar num lar de idosos onde proporciona conforto aos utentes em fim de vida. Ele... e o seu gato branco.



Enquanto chega e não chega, está já disponível a capa e também dez minutos de video em que King lê excertos do novo livro. Basta seguir o link assinalado.



Entretanto, a produtora CBS está a preparar uma série de treze episódios baseada no livro "Under The Dome" ( "Sob a Redoma"), que estreará já em Junho. Uma pequena vila de New England fica isolada do mundo ao acordar sob uma gigantesca redoma transparente. E tudo acontece. Segundo a produção, Stephen King deu-lhes autorização para usarem o livro como ponto de partida para a série. "Não tenham receio de ir mais longe", ter-lhes-á dito.

Amyr Klink e... "um homem precisa viajar"