sábado, 13 de junho de 2015

Foto frase do dia: Stephen King

Encontrado na página For Reading Addicts

Acho que me tenho esquecido de viver

Maria Carla não sei o que se passa comigo, parece que sou todo noite, não há manhã em mim, estou tão triste que às vezes me ponho a olhar pela janela e tudo o que vejo é um vazio preto tomando conta do que sou, tudo tão preto e afinal eu tão invisível.
Tudo o que faço é sair do prédio e caminhar até à mercearia duas ruas abaixo a fim de comprar um pacote de batatas para o almoço a teu mando, dizes que é para acompanhar o lombo mas quando chego não há lombo não há nada, não há nada que não uma mesa transbordando vazio e o resto da mobília olhando-me na tentativa de me tocar o silêncio. Contento-me com as batatas, não é esse o problema, sento-me na poltrona e debaixo dos meus pés todas as idades do mundo Maria Carla. Sabes o que é ter todas as idades do mundo debaixo dos pés, a tua a dos meus irmãos a do Francisco, lembras-te do Francisco entretanto casou-se, íamos a casa dele de quinze em quinze dias ou melhor de três em três semanas para almoçarmos mas no fim ficávamos lá a tarde toda na galhofa, bons tempos tão bons, eu e ele sentados no sofá tu e a Catarina cochichando atrás da porta pensando que a porta suficiente para vos abafar as palavras mas vocês sempre tão enganadas e nós fazendo tão grande gozo disso Maria Carla, nessa altura não havia silêncio, o mundo era nosso e eu tão eterno.
O problema é que entretanto multiplicaram-se os tempos e o mais que faço é ir à mercearia duas ruas abaixo a fim de comprar batatas para acompanhar o lombo mas afinal nunca lombo, Maria Carla o que me aconteceu, acho que me tenho esquecido de viver. Sou tão novo mas pareço tão velho, levanto-me mais cedo que o Sol e desde logo uma dor derivado ao reumático (sou tão novo não posso ter reumático) e portanto eu afundado na poltrona, faz-se a minha vida entre a poltrona e a mercearia duas ruas abaixo, vai-se o meu fim desenvolvendo na continuidade que esta tristeza traz, o que se passa comigo Maria Carla. O mais estranho é que até temos uma vida boa, temos uma casa um carro uma mesa de jantar com abas nas extremidades e aos Sábados a matiné, temos uma vez por mês os teus pais e no Natal os meus Maria Carla, temos a miudagem do meu irmão temos a Margarida e o Afonso que nos visitam de vez em quando e trazem sempre cartas para jogarmos (nunca sei onde pus as minhas cartas Maria Carla, nunca tive problemas de memória o que se passa comigo), não somos pobres, não sou pobre, só acho que me tenho esquecido de viver. E é tão grande este vazio que às vezes dou por mim pensando se realmente conheço as estações do ano, afinal o que é isto será Primavera será Verão, dou por mim tão pouco nítido Maria Carla, dou por mim olhando-me nos joelhos e vejo-os tão cansados, cansados de terem o tudo e de lhes faltar o nada. Também eu assim Maria Carla, tenho tudo, tudo que é como quem diz, não tenho o lombo mas não tem problema porque me contento com as batatas, tenho tudo Maria Carla, tenho tudo e sinto-me tão pobre, sou tão grande e sinto-me tão pequeno, o que me falta Maria Carla, acho que me tenho esquecido de viver.

Gonçalo Naves


Foto tirada daqui: http://www.lusoviagens.com/tematica/ofertas/viajes/2527/atividades_na_grande_lisboa

Não te aproximes

Encontrado na página For Reading Addicts

sexta-feira, 12 de junho de 2015

a-ver-livros: poesia do quotidiano em prosa

A velhota era um pouco mais que velhota, quase escondida atrás do saco amarfanhado de onde tirou as sabrinas cor-de-rosa. Julgando não haver quem a visse, deixou-as assim, compostas, no início do caminho - e seguiu o seu.

Ana Almeida

foto: Ana Almeida 2015

Estantes de sonho: lá do alto, Virginia

Lá do alto Virginia inveja o meu lanche...

Encontrado na página For Reading Addicts


AUTUMN

Encontrado na página For Reading Addicts

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Gonçalo Viana de Sousa - O Flâneur das Sensações



Meu caro José


Eis que lhe escrevo somente a missiva, curta e breve, pois tem consigo, há séculos, uma impressão de Nicosia que já deve ter a poeira dos séculos!
Tenho tido interessantes sonhos, uns reais, outros fingidos. Uns de carne, outros de papel. Todos eles verdadeiros!
Como deve saber, ontem celebraram-se os 150 anos da ópera de Wagner sobre uma das mais antigas histórias de amor de todos os tempos: Tristão e Isolda!
Das lendas da Cornualha e do mundo céltico-gaélico até à ópera Wagneriana e desta até aos nossos dias, Tristão Isolda continuam tão amantes como no instante a seguir àquele em que beberam do vinho perfumado que, para sempre, os enfeitiçou.
Com Isolda me despeço e com Tristão o cumprimento!
Um forte e fraterno abraço

Seu

Gonçalo V. de Sousa.




Impressão tardia


As tardes de Nicosia são suaves e doces. A aragem traz no seu regaço versos e tercetos de Petrarca. A luz é um diamante vivo. O entardecer em Nicosia é mitológico. Sinto as aragens que trouxeram os grandes navios oitocentistas para estas paragens, aportando em La Valleta em direcção ao Cairo, avistando a Turquia e as ilhas gregas e Minos imponente, rochosa, azul e labiríntica.
Os grandes paquetes fazendo a travessia até ao Suez, até esse Oriente das nascentes e da Humanidade, onde as crianças ainda brincam descalças e as palmeiras crescem porque o tempo é justo e os anciãos sabem-no. Em Nicosia conhecemos o mundo. E o que é o mundo Efraim?
Não mais este copo, formidável semita. Preciso daquela água crística, santa e pura que brota e rasga as pedras milenares e proféticas de todas estas terras orientais que viram nascer todos os deuses em que deixamos de acreditar.
A tarde desce pelas montanhas altas e um azul esmaecido e líquido se desenrola como a cortina de uma ópera do tempo de Francisco José, o das barbas austríacas.
Agora que me lembro de Francisco José, sinto uma nostalgia imensa de dançar aquelas valsas do pai e do filho, que perfumavam os salões de rosas, de malvasia e de perfumes imperiais.
Nicosia é a porta para todos estes mundos. A Ocidente e a Oriente. Do Ocidente de onde nos vem o gosto e a noite e do Oriente de onde nos vem o mel, a Mulher e a Beleza de todas as coisas.
Amar as cousas belas acima de tudo menino!, dizia meu avô.
É isso que vale a pena, Efraim: amar as coisas belas mais do que a nós mesmos. Nós passamos, o tempo e o caruncho comem-nos, mas as Coisas Belas permanecem, crescem e brilham como faróis que guiam esta humanidade peregrina e turista sempre em busca do outro lado da tempestade.


a-ver-livros: hoje apenas o olhar

Hoje só me apetece pegar nos livros 
e torná-los outra coisa

Daniel Lai, de origem chinesa - mais conhecido como Kenjio - pegou neles e criou esculturas. 
Conheçam a sua arte aqui: http://daniellai.artspan.com/

Ana Almeida










O Clube entrevista os leitores - Regina Gaspar



Rodrigo - Como descobriste o Clube de Leitores?
Regina Gaspar - Através da vossa página do Facebook que uma amiga já seguia.

- O que te chamou mais a atenção nesta comunidade?
- O facto de se tratar de literatura, de haver um carinho especial pela poesia e de aliarem outros tipos de arte à escrita.

- O facto de todos os bloggers serem também escritores é algo que te entusiasma?
- É uma mais-valia pois para além de partilharem trabalhos de outros autores dá-nos a oportunidade de conhecermos o trabalho dos bloggers também. E tem sido uma descoberta muito agradável.

- Este blog veio mudar alguma coisa na tua vida de leitora? Recordas-te de alguém que tenhas conhecido e que tenha valido a pena?
A maior mudança que este blog trouxe à minha vida de leitora foi tornar a poesia mais presente para mim. Sou uma leitora apaixonada mas, infelizmente, leio pouca poesia e aí o vosso papel tem sido crucial. As várias descobertas têm sido fascinantes,  mas o primeiro impacto foi mesmo o a-ver-livros.

- Como foi passar do mundo virtual ao mundo pessoal com algumas pessoas que conheceste através do Clube de Leitores?
Não tive ainda oportunidade de conhecer em carne e osso qualquer membro do grupo mas a troca de comentários e opiniões fazem sentir-nos próximos. Quem sabe em breve?

- Tens alguma história que te tenha marcado – quer através de um post no blog ou de alguma pessoa envolvida na sua dinamização?
Pergunta muito difícil de responder para quem tem uma memória fraquinha como eu, no entanto os primeiros poemas do Rodrigo foram um murro no estomago.

- Com que frequência visitas este espaço?
Diariamente, a menos que esteja sem internet.

- Como vês este projecto dentro de alguns anos? Sentes que ainda existe muito para se discutir?
Enquanto houver literatura e duas pessoas haverá sempre tema para discussão e certamente que os membros do blog, os que estão presentemente e aqueles que hão de vir, terão sempre a capacidade de promover essa discussão e trazer à baila novos autores, novos textos e novas abordagens. Estamos aqui para ficar.

- Numa frase: O Clube é…
Parte da minha família

*Rodrigo Ferrão entrevista os leitores do blog, nos 5 anos deste projecto. 
Regina Gaspar é uma leitora atenta do nosso espaço, de Pombal

Fernando Távora: o pensamento e a porta


... Há anos pensei um pensamento para gravar numa porta
que ofereci, simbolicamente, para a casa de uns amigos.
Esse pensamento pensava simplesmente: faz de cada momento uma vida.
Ofereci a porta mas não gravei o pensamento.
Gravei-o na memória e procuro praticá-lo no quotidiano....
E é essa paixão pela paixão da vida que eu quero apaixonadamente transmitir. Porque não vive quem não mergulha
permanente e apaixonadamente a paixão da vida.
...

Texto e desenho de Fernando Távora
*partilhado por Maria José Ferrão

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Bai'má Benda: Inspeçom da biatura...

 
 
Inspeçom da biatura...

Não perca esta página, por nada: https://www.facebook.com/baimabenda

É do borogodó: Albininha despintada

albina

albininha despintada chegou para morar no bairro.
seus olhos são pedras d’água. já viu a cor dos seus cabelos?
gosta de vestir camisa branca, saia branca rodada também.
onde já se viu, essa menina cor de lua
toda vestida de bruma, pensando montes de névoas
desfilando entre nós, os coloridos pobres mortais.
 
– texto de Penélope Martins
ilustra Bárbara de Carvalho –

terça-feira, 9 de junho de 2015

tacto


lembro as horas
do teu sopro nocturno
de encontro ao meu peito

perdia-lhes a conta
e adormecia alado na amplitude
que compreendia
o voo intemporal do tempo

e amanhecia pássaro
no baloiço
que da luz se desprendia

que asas comportam
agora
os ponteiros
que não o tacto da memória.


Helder Magalhães


Laura Makabresku: photography & fairy tales.

O Clube entrevista os leitores - Ana Paula Oliveira



Rodrigo - Como descobriste o Clube de Leitores?
Ana Paula Oliveira - Não sei se o descobri ou se ele me entrou portas adentro, mas penso que foi na altura da primeira votação para blogue do ano. Vantagens do Facebook que nos mostra o que não procuramos. Depois, é só fazer a seleção do que se quer adotar para a vida. Foi o que fiz, adotei-o.

Mas, já lá vai tanto tempo, que perdi a noção do princípio. Fui à procura de uma data certa, aquelas que a memória deixa escapar, e os arquivos apontam para início de 2012.

- O que te chamou mais a atenção nesta comunidade?
- Depois que me entrou em casa, o Clube foi abraçado de imediato pois são muitos os livros e temas aqui apresentados. São tantos os leitores com gostos e conhecimentos tão variados que me senti uma ignorante no mundo da literatura, logo eu que me considerava uma entendida! Tinha de ficar para conhecer mais, para ir à procura dos livros e dos escritores que desconheço.

O facto de haver (inicialmente) um livro do mês sugerido para leitura comum, também me atou ao Clube com um nó muito forte. Penso que este aspeto é fundamental, haver trocas de opiniões, discussão de ideias.

Outro aspeto muito forte são as áreas temáticas: o espaço para os escritores se darem a conhecer, a poesia, o a-ver-livros, as citações de autores, os primeiros parágrafos de livros de referência…

E os passatempos com um livro como pre(texto). Adoro um bom desafio!

E tudo isto com rigor, imparcialidade, bom senso e muito, muito altruísmo e sabedoria por parte dos seus gestores/animadores.

- O facto de todos os bloggers serem também escritores é algo que te entusiasma?
Prefiro o neologismo “blogueiro”. Soa mais português, é mais popular. Sim, quem escreve é escritor e um blogger escreve, obrigatoriamente. De facto, considero-me uma blogueira. Também alimento um blogue pessoal (além do blogue da biblioteca escolar onde trabalho); ali publico alguns dos meus textos, alguns comentários sobre o que leio, algumas crónicas sobre o que observo, no fundo, alguma da minha vida enquanto autora e leitora. Afinal, escrever para ninguém é desanimador e os blogues podem dar o empurrãozinho, podem levar o leitor a ler o que se escreve quando não é possível fazê-lo de outra forma. Além de que os blogues têm uma importantíssima função: difusão da informação. Mais um dos aspetos que me agrada, e muito, no blogue Clube de Leitores.

- Este blog veio mudar alguma coisa na tua vida de leitora? Recordas-te de alguém que tenhas conhecido e que tenha valido a pena?
- Sim. Fez-me enfrentar a minha ignorância sobre vários assuntos e libertou-me (um pouco mais) da minha timidez e falta de confiança no que respeita a partilha dos conhecimentos e a tomada de posição sobre alguns assuntos. Ainda não está totalmente superada mas houve um avanço. Na blogosfera há uma exposição pública muito grande e isso retrai. Mas fez-me procurar livros desconhecidos e lê-los, lá isso fez.

Valeu mesmo a pena ter conhecido pessoas “ao vivo e a cores”, pessoas de carne e osso que só eram conhecidas virtualmente. O Rodrigo Ferrão, o primeiro que conheci pessoalmente e que teve a gentileza de apresentar publicamente o meu segundo livro, sem me conhecer de lado nenhum. A Ana Almeida, que também conheci numa atividade divulgada e animada pelo Clube, O Bairro dos Livros, com quem passei uma tarde fantástica. A Raquel Serejo Martins, também a conheci nesta atividade e fiquei a conhecê-la como escritora. O Bau Pires que conhecia virtualmente como colega de escrita no projeto microcontos em 77 palavras (da escritora Margarida Fonseca Santos). E engraçado foi conhecer pessoalmente o escritor Pedro Guilherme-Moreira. Um dos seus livros foi o eleito para discussão no Clube de Leitura presencial de que faço parte. Eu enviei-lhe uma mensagem a dar-lhe conhecimento do facto e ele ficou tão entusiasmado que fez questão de se deslocar a S. João da Madeira para fazer uma surpresa aos membros do clube. Tomamos café, conversamos e, quando chegamos à Biblioteca, quase havia desmaios porque foi, realmente, uma visita inesperada. E ele esteve quase para viajar de bicicleta pois o carro avariou nessa semana. A sorte foi ter quem lhe emprestasse um. É que ele viria de qualquer maneira! E se chovia nessa noite!

E também foi engraçado encontrar no Clube pessoas conhecidas na vida real que já não via há imenso tempo e de quem tinha perdido o rasto, como por exemplo a Clara Amorim.

- Como foi passar do mundo virtual ao mundo pessoal com algumas pessoas que conheceste através do Clube de Leitores?
- É mágico. A blogosfera aproxima-nos e torna o mundo muito pequenino. E eu sou mesmo provinciana, gosto de aldeias. Conhecer pessoalmente algumas pessoas da blogosfera só fez aumentar a minha lista de amigos, ter mais alguém no meu círculo com os mesmos interesses, neste caso a leitura e a escrita, e com eles trocar ideias, mesmo à distância. Encontro-me mais vezes com essas pessoas do que com os amigos reias de longa data.

Além disso, sinto-me familiarizada com muitas pessoas que participam regularmente no Clube sem que me tenha cruzado com elas na rua. E dou por mim a pensar, quando saio da minha cidade: “Será que vou dar de caras e reconhecer as pessoas com quem me cruzo no Clube?”. E miro as pessoas que por mim passam e tento lembrar as fotografias de perfil dos leitores do Clube e faço uns filmes na minha cabeça…

- Tens alguma história que te tenha marcado – quer através de um post no blog ou de alguma pessoa envolvida na sua dinamização?
- Tocou-me particularmente (desculpem-me a imodéstia!) o post do Rodrigo Ferrão “Um dia estive com «O Santo Guloso», as autoras e muitos amigos na Fnac de Gaia” e ainda o da Ana Almeida “A arte de dar e o amor às letras” sobre a minha participação no primeiro passatempo do Clube que, posteriormente, veio a transformar-se num microconto.

Confesso que fiquei com ciúmes (dos bons!!!) do Emílio Miranda (que conheci no Clube de Leitores como escritor e conheço, apenas, virtualmente), quando ele ganhou um concurso literário promovido pela editora Alfarroba, ao qual eu também concorri e não ganhei. Ganhei este ano e fiquei a torcer para tê-lo como coautor no livro que será publicado em breve, mas desconheço se ele participou na edição deste ano.

Mas, o que mais me deixou ao rubro foi o convite do Rodrigo Ferrão para prefaciar o seu primeiro livro. Uma honra inesperada.

- Com que frequência visitas este espaço?
- Quase diariamente. Nem sempre me mostro pois o tempo não permite fazer os comentários a todos os posts mas passo aqui muito regularmente, pelo menos para ver o que alguém publicou, saber das novidades, inspirar-me e respirar cultura.

- Como vês este projecto dentro de alguns anos? Sentes que ainda existe muito para se discutir?
- A Literatura é uma fonte inesgotável. Enquanto houver escritores e leitores, enquanto houver almas criativas que mantenham o espaço (mesmo que por vezes o desânimo ataque), o Clube manter-se-á vivo, ativo e cheio de energia porque haverá sempre muito a dar e a receber. E tenho vislumbrado, por aqui, jovens a darem a cara e as palavras, novos escritores vêm aí… O jovem Gonçalo Naves tem-me chamado a atenção!

- Numa frase: O Clube é…
- … uma enorme biblioteca viva, ponto de encontro com a cultura.

*Rodrigo Ferrão entrevista os leitores do blog, nos 5 anos deste projecto. 
Ana Paula Oliveira é professora e autora. Entre os seus livros, destaque para «O Santo Guloso»

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Conheço-me e estou contigo, olho-me e não te tenho.


Aqui há dias no meu quarto dei por mim submerso num lago infinito de saudades invisíveis, saudades tuas e tu que afinal nunca minha. E depois reparei que o meu quarto sem o tamanho bastante para te amparar, tu tão grande, tu que não existes em sítio nenhum que não na solidão triste dos meus pensamentos e por isso tu tão infinita. Contei à minha mãe esta tristeza na esperança de compreensão e riu-se ela gozando-me, oh rapazinho isso não é nada vai lá estudar que tens ponto amanhã, virei as costas e fui embora, triste, cabisbaixo, os passos cada vez mais envergonhados e o chão cada vez mais longe.
E assim andei durante semanas e meses e anos que se arrastaram num tormento tão infeliz, eu tão bom, tão bonito tão simpático tão boa pessoa e afinal de contas tão desgraçado, eu o melhor de todos mas sem passar de um vazio patético derivado às saudades que tenho tuas, tu que nem existes, tu que nem podes existir. Multipliquei-me em pensamentos e apenas tu a preenchê-los, nós um só para sempre apesar de tu nunca presente, eu quase defunto no sofrimento dessa ausência tão sentida.
Nestes anos que me fugiram todos os dias eu a imaginar-te a figura e a ação, onde estará ela alguém me diga por favor, talvez deslizando na calçada a fim de espalhar o tal encanto por todo o sítio, quem sabe entrando num restaurante e desde logo todos os empregados na devida vénia e a acorrerem no objetivo de aconchegarem a cadeira à madame, deitada a ler um livro e os personagens tão contentes e tão vivos por estarem a ser lidos por ti, tu tão bonita, tu nunca minha.
Mas com o tempo eu a aprender e então a transformar-te em figura presente, pelo braço dado contigo rua fora, sentados na cama partilhando histórias que pouco interessam mas se bem virmos são essas as melhores isto porque com o desinteresse das palavras mais tempo sobra para o cruzamento de olhares. Eu contado-te os meus tormentos já ultrapassados e tu a escutares com atenção e no seguimento a dares-te como culpada desses sofrimentos, nós os dois agora finalmente juntos, eu homem como sempre e apenas físico, tu perfeita e só imaginação, nós a tendermos para a eternidade e por isso o mundo tão minúsculo.

Gonçalo Naves


Imagem tirada daqui: http://super.abril.com.br/blogs/cultura/tag/ilustracao/

a-ver-livros: o sorriso

Pedi-te emprestado o sorriso
com que me roubaste
o sossego

quis desmontá-lo
peça 
por 
peça
revirar-lhe as entranhas
entender-lhe os segredos 
a mecânica
verificar-lhe a velocidade
com que passa do esgar 
ao momento iluminado 
em que me rendo

Ana Almeida


domingo, 7 de junho de 2015

itsliza pinta Patti Smith

 
 
Ela esteve no Porto, sexta passada.
 
"From very early on in my childhood - four, five years old - I felt alien to the human race. I felt very comfortable with thinking I was from another planet, because I felt disconnected - I was very tall and skinny, and I didn't look like anybody else, I didn't even look like any member of my family."

- Patti Smith

Acompanhe o trabalho de Lisa Bellicini em: https://instagram.com/itsliza90/
Pode também encomendar os seus trabalhos: https://www.facebook.com/lisaunderscore ou por email: lisaunderscore@hotmail.it

Foto frase do dia: Murakami


O Clube entrevista os leitores - Clara Amorim



Rodrigo - Como descobriste o Clube de Leitores?
Clara Amorim - Acho que foi o Clube de Leitores que me descobriu a mim… Recebi um convite teu para aderir ao grupo “Livros no facebook”, há cerca de 3 anos, e foi nessa altura que conheci o blog.

- O que te chamou mais a atenção nesta comunidade?
- Em primeiro lugar o nome, pois se fala em leitores alimenta-se de livros, que são uma das minhas grandes paixões. Depois, mal comecei a explorar página a página, constatei que, além dos livros/literatura, também abordava a cultura em geral (através da divulgação de eventos, prémios, etc.), não esquecendo também umas boas “pinceladas” de humor pelo meio.
Destaco também o layout do blog, que me agradou bastante ao primeiro olhar, desde o aspecto prático ao mais estético.

- O facto de todos os bloggers serem também escritores é algo que te entusiasma?
- Claro que é uma grande mais-valia os bloggers serem também escritores. Este facto confere-lhe bastante credibilidade e permite-nos também ter acesso directo a textos e poemas inéditos de grande qualidade.

- Este blog veio mudar alguma coisa na tua vida de leitora? Recordas-te de alguém que tenhas conhecido e que tenha valido a pena?
- Sim, mudou alguma coisa na minha vida de leitora porque me apresentou vários escritores que não conhecia antes. Neste caso, para além da obra dos próprios bloggers, com particular destaque para a obra dos meus preferidos – Ana Almeida, Helder Magalhães, Raquel Serejo Martins e Rodrigo Ferrão – tenho de destacar o Pedro Guilherme-Moreira, que se tornou num dos meus escritores e poetas preferidos da actualidade, e que tive o privilégio de conhecer pessoalmente e de quem posso já considerar-me amiga. Também foi através de algumas publicações/sugestões no Clube que comprei alguns livros nos últimos anos.

- Tens alguma história que te tenha marcado – quer através de um post no blog ou de alguma pessoa envolvida na sua dinamização?
- Aproveito aqui para confessar que este blog veio mudar, acima de tudo, a minha vida pessoal, de uma forma bastante marcante e absolutamente surpreendente. Além de ter sido uma companhia imprescindível nos dias mais difíceis da minha vida, foi por causa deste blog que comecei a interagir mais assiduamente contigo, Rodrigo, o que permitiu que a grande amizade que nos une agora tenha crescido e criado raízes mais profundas.
Tenho bem presente a primeira mensagem (de milhares que se seguiram) que trocámos aqui no facebook, e desde aí que a minha admiração por ti, pela tua forma de ser, estar e pensar, pelo teu trabalho, pelo teu dinamismo, pela tua sensibilidade, pela tua generosidade, …, não tem parado de crescer. E não estou aqui a cometer nenhuma inconfidência, pois isto é algo que é bem visível até nos comentários que muitas vezes escrevo e nas partilhas que faço. É também um privilégio muito grande sentir que a nossa amizade, que começou por ser virtual, tenha ultrapassado essa barreira, e até o próprio mundo dos livros, e se tenha tornado tão próxima e tão cúmplice. E sem querer alongar-me mais (terei oportunidade de o fazer brevemente), deixo-te aqui um grande obrigada por tudo o que me/nos tens dado!

- Com que frequência visitas este espaço?
- Sou visita diária do Clube de Leitores desde que entrei nele pela primeira vez. É uma das minhas prioridades aqui na net, mesmo andando por terras estrangeiras. A maior parte dos dias, várias vezes por dia, dependendo do meu trabalho.

- Como vês este projecto dentro de alguns anos? Sentes que ainda existe muito para se discutir?
- Vejo-o cada vez mais saudável, obviamente, e acredito que terá ainda muito para nos dar nos próximos anos! A literatura, felizmente, é uma fonte inesgotável de conhecimento e de prazer.

- Numa frase: O Clube é…
- O Clube é… a minha segunda casa!

*Rodrigo Ferrão entrevista os leitores do blog, nos 5 anos deste projecto. 
Clara Amorim é, muito provavelmente, a maior seguidora do blog!