Pudesse uma personagem ter carne e osso?
Tu do outro lado
do espelho.
O espelho a
deformar o corpo ou o corpo deformado no espelho.
A insuficiência
do corpo.
A ampulheta ao
contrário, o mundo do avesso, o tempo a encolher, a escurecer, a vida em
contagem decrescente, a contra-relógio.
Deixas de usar
relógio.
Deixas de
correr.
Começas a
correr.
O tempo uma
unidade fugaz, veloz, voraz.
O tempo a comer
o tempo.
O teu corpo a
comer-te os dias.
Não sabes o que
fazer e corres.
Ferido na asa, a
vida num sopro, menos que breve, semi-breve e, corres, quando queres apenas,
sem penas ou rancor, todas as memórias boas, perfeitas, cristalizadas, a
absoluta certeza de que foste feliz mesmo nas coisas mínimas ou principalmente
nas coisas mínimas, quase invisíveis, as minudências, as tardes infindáveis da
infância, o primeiro amigo, o primeiro beijo, o primeiro amor, o primeiro
cigarro, a primeira viagem ao estrangeiro.
O teu corpo
estrangeiro.
Ou tu
estrangeiro no teu corpo.
E, em fuga corres,
e queres, não queres, não suportas, dás-te vencido, traído e, queres, deter os
pés, fechar os olhos, pousar as mãos, sossegar o corpo.
O corpo em
reparação.
O corpo
irreparável.
O corpo pendente
por um fio do coração.
Não um coração
pendente de um fio.
Um coração filigrana
de oiro fino.
Se fosse de oiro
seria fácil substituir.
A vida a acabar
ou a começar?
A vida começa
todos os dias e ninguém repara.
Reparar: compor,
consertar, corrigir, emendar.
A vida sem
conserto.
Um último
concerto.
O teu
contrabaixo.
Um último
abraço.
Os braços da mãe.
Um último olhar.
Um último
sorriso.
Mas, como saber se
o último, se nem sempre a morte é uma coisa que acontece no fim da vida.
Os livros de Bernard Cornwell, parte 1 – As Crônicas de Artur um bom livro para acrescentar em seu blog.
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