Seis e meia. Durmo pouco, não mais do que seis horas por noite e, mal
acordo, consagro cinco, dez minutos a essa estranha ocupação que tem o nome de
pensamento. Em que penso? Dito assim, poderá até parecer ridículo: penso no fim
do mundo. Não sei quando nem de que maneira teve início este hábito; talvez não
há muito tempo, a seguir à leitura de um livro que por acaso descobri em cima
da mesa de trabalho do meu pai, que ensina Física na universidade – um livro,
como muitos outros, acerca da guerra nuclear. Ou talvez tenha havido outro
motivo vindo não se sabe de onde e depois desaparecido da minha memória, como
desaparece a semente, uma vez que a planta cresceu. Por outro lado, é inexacto
dizer que penso na guerra nuclear. Talvez pense apenas na impossibilidade de a
pensar. Mas não há dúvida que nesses cinco, dez minutos após o despertar não é
noutra coisa que penso.
* Tradução de
Miguel Serras Pereira
Cada um sabe da sua vida. Para mim seria uma forma muito negativa de encarar o dia. Prefiro não pensar em nada...
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