quinta-feira, 29 de novembro de 2012

1º Parágrafo: O Homem que Olha


Seis e meia. Durmo pouco, não mais do que seis horas por noite e, mal acordo, consagro cinco, dez minutos a essa estranha ocupação que tem o nome de pensamento. Em que penso? Dito assim, poderá até parecer ridículo: penso no fim do mundo. Não sei quando nem de que maneira teve início este hábito; talvez não há muito tempo, a seguir à leitura de um livro que por acaso descobri em cima da mesa de trabalho do meu pai, que ensina Física na universidade – um livro, como muitos outros, acerca da guerra nuclear. Ou talvez tenha havido outro motivo vindo não se sabe de onde e depois desaparecido da minha memória, como desaparece a semente, uma vez que a planta cresceu. Por outro lado, é inexacto dizer que penso na guerra nuclear. Talvez pense apenas na impossibilidade de a pensar. Mas não há dúvida que nesses cinco, dez minutos após o despertar não é noutra coisa que penso.


* Tradução de Miguel Serras Pereira

1 comentário:

  1. Cada um sabe da sua vida. Para mim seria uma forma muito negativa de encarar o dia. Prefiro não pensar em nada...

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