quinta-feira, 3 de maio de 2012

Sublinhado no livro do mês de Abril, «O Falcão Peregrino». Sobre as (in)consequências do amor(es)

Glenway Wescott escreve assim, na página 46:


"(...) se avalias mal a situação acabas por te apaixonar por alguém que jamais te poderá amar. Se os amores passados te magoaram de algum modo, não serás capaz de o segurar quando ele te aparecer de novo, não serás capaz de o agarrar com firmeza. A compaixão, ou a autocompaixão, terão embotado as tuas garras, que não deixarão marca nenhuma. Aí, esvoaças novamente para o teu poleiro, frustrado e coberto de vergonha. A vida é quase sempre poleiro. Não há ninho; e não tens ninguém a teu lado, ninguém que pouse exactamente na mesma rocha ou no mesmo ramo. As circunstâncias da paixão são sempre demasiado mesquinhas para que a harmonia se dê. Por isso, deixas-te ficar pousado no poleiro, tentando permanecer imóvel, e dormitas ou sonhas para te poupares a trabalhos. E tais são as coisas que deves ocultar, em prol dos outros, das boas maneiras: o formigueiro na mãos, o mau sabor na boca, o olhar enevoado e o corpo oco e inchado; com o teu grito de desejo - ai, ai - a zumbir-te nos ouvidos. Ninguém o ouve; e tu sentes-te tão cansado de ti mesmo que mal podes esperar pela velhice..."

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