quarta-feira, 2 de maio de 2012

1º de Maio, o direito à cultura e o direito à indignação... é cultura oh parvo!

Foto tirada num wc na Feira do Livro de Lisboa
Pedro Ferreira 2012

O 1º de Maio deste ano fica marcado pela acção publicitária do Pingo Doce. Não concordando de todo com este tipo de acções, por muito que sejam apelativas para as carteiras apertadas das pessoas. Mas não vou perder-me a comentar esta situação, ela serve só como âncora para mais uma vez falar dos problemas que afectam o sector livreiro.

Para além das sucessivas machadadas que são dadas nos pequenos e independentes editores, seja pelo cumprimento parcial das regras do sector, seja pela tomada de poder dos orgãos de protecção do sector pelos grande grupos económicos, minando a relação de negociação entre parceiros sociais, há nos últimos tempos uma sucessão de acontecimentos que passam impunes.

Nas Feiras do Livro, tem existido uma coisa que se chama Hora H. Semelhante ao que fez hoje o Pingo Doce: durante uma hora os editores podem colocar títulos com 50% de desconto. Mais do que ter aqui uma série de respostas para lidar com esta situação, gostava que este post pudesse abrir um debate sobre o assunto entre os nossos leitores, aqui no blogue e no grupo do Facebook. 


Esta iniciativa é injusta logo à partida e logo pela organização que a promove. A APEL representa livreiros e editores. Os editores negoceiam com os livreiros com uma determinada margem e, estando na mesma associação, uns passam a ter privilégios de concorrência que são à partida injustos e desleais.

Tenho me batido em várias discussões sobre o assunto e vou reproduzir aqui alguns dos tópicos dessas discussões e até de comentários anteriores.
Há um completo desestruturar da relação entre editores e livreiros e uma irresponsabilidade. não pode valer tudo no consumo, mesmo que isso possa parecer apetecível para os consumidores. Para que os produtos culturais se mantenham dignos têm de ser valorizados e não tratados como quilinhos de feijão em promoção. Não quero com isto dizer que a cultura tenha que ser cara para ser boa, mas que um livro não pode ser tratado pelo mercado como uma batata.



O que está por detrás da hora H não é incentivar à cultura. E esse embaratecer de preços em stocks de que eles se querem livrar só por questões economicistas, faz com que depois se vinguem em preços de outros livros. A injustiça para com as livrarias é brutal, são eles que vendem os livros todo o ano e têm despesas com rendas, contas e funcionários. Criam postos de trabalho e supostamente atendimento e ajuda ao cliente. Neste momento as margens de negociação são completamente loucas. Já para não falar da concorrência desleal, dumping e uma série de outras irregularidades das leis de mercado. Este tipo de iniciativas só prejudica os pequenos editores e beneficia os grupos editoriais que de livros têm cada vez menos.

A APEL tem o dever de proteger os interesses de todos: livreiros, editores e também dos leitores e já se devia ter apercebido que a promoção desta iniciativa em nada ajuda quem mais dificuldades tem. Cria guetos na própria feira, espaços isolados e desiguais com regras próprias e com o tempo afastará não só as pessoas como as próprias editoras com menos capacidade de implantação financeira.

Querem fazer promoções, assumam e mantenham-nas durante todo o dia ou durante toda a feira, seleccionando títulos. Façam cumprir verdadeiramente a lei do preço fixo. Retirem o IVA do preço dos livros. Promovam o livro enquanto objecto e enquanto mais valia cultural.
Não andem é a atirar areia para os olhos das pessoas e a engana-las com estratégias de marketing for dummies!
 
As Utopias concretizo-as todos os dias porque o direito a sonhar, esse ninguém me tira!

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