"As raparigas,
hoje, eram mais avisadas e racionais. Preocupavam-se sobretudo com os
resultados escolares, preocupavam-se em conseguir um futuro profissional
decente. As saídas com os rapazes não eram mais do que uma actividade de lazer,
um divertimento onde intervinha, em partes mais ou menos iguais, o prazer
sexual e a satisfação narcísica. Depois, queriam fazer um casamento sensato, na
base de uma compatibilização das situações socioprofissionais e de uma certa
comunhão de gostos. Claro que, fazendo isto, afastavam todas as hipóteses de
felicidade – já que esta é indissociável de estados fusionais e regressivos
incompatíveis com o uso prático da razão – mas esperavam, ao menos, escapar aos
sofrimentos sentimentais e morais que tinham torturado as mulheres que as
precederam. Esta esperança era, de resto, rapidamente frustrada, porque a ausência
de tormentos passionais deixava, de facto, o campo livre ao tédio, à sensação
de vazio e à espera angustiada da velhice e da morte. Por isso, a segunda parte
da vida de Annabelle tinha sido mais triste e mais morna do que a primeira, e
ela, para o fim, já nem deveria ter, nenhumas recordações dela."
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