quarta-feira, 23 de maio de 2012

In As Partículas Elementares

Um livro de Michel Houellebecq.

"As raparigas, hoje, eram mais avisadas e racionais. Preocupavam-se sobretudo com os resultados escolares, preocupavam-se em conseguir um futuro profissional decente. As saídas com os rapazes não eram mais do que uma actividade de lazer, um divertimento onde intervinha, em partes mais ou menos iguais, o prazer sexual e a satisfação narcísica. Depois, queriam fazer um casamento sensato, na base de uma compatibilização das situações socioprofissionais e de uma certa comunhão de gostos. Claro que, fazendo isto, afastavam todas as hipóteses de felicidade – já que esta é indissociável de estados fusionais e regressivos incompatíveis com o uso prático da razão – mas esperavam, ao menos, escapar aos sofrimentos sentimentais e morais que tinham torturado as mulheres que as precederam. Esta esperança era, de resto, rapidamente frustrada, porque a ausência de tormentos passionais deixava, de facto, o campo livre ao tédio, à sensação de vazio e à espera angustiada da velhice e da morte. Por isso, a segunda parte da vida de Annabelle tinha sido mais triste e mais morna do que a primeira, e ela, para o fim, já nem deveria ter, nenhumas recordações dela."

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