terça-feira, 22 de maio de 2012

Coimbra Revisited III

Parte Terceira:


Os dias prolongam-se imensos por aqui. Entre o calor arrebatador e a chuva repentina, entre a cidade dos estudantes que esteve em festa e o quase colapso nervoso de uma Briosa vitória. Não prolongo mais a descrição, o certo é que há história que fica na história e poesia no meio do branco e preto em que a cidade se encontra vestida. Adiante.

Penedo da Saudade e outras miragens. Aqui as pedras falam. Umas vezes sussurram. Hoje gritam. Daqui, mais uma vez, contempla-se parte da cidade, escondem-se segredos, imperam as rimas escritas nas várias pedras, recordações dos amores de estudante que duram bem mais que uma hora. Muitos deixaram o devaneio eternizado esculpindo versos, somando páginas sólidas à sua memória afectiva. E aqui a água corre em pequeninas fontes. Sabe tão bem, de Verão ou de Inverno. E as Serenatas? As Serenatas no Penedo dão-lhe o auge da Saudade, não é preciso mais nada para conhecer o aperto e deixar a voz ecoar ou os sentidos permitirem o arrepio da pele. O Penedo é a outra face da imagem das pedras da calçada, aquelas que testemunham os passos, a caminhada, o trajecto de uma vida feita de símbolos. Não é uma inspiração, é uma ode à eternidade. Capa negra de Saudade, no momento da partida, Segredos desta cidade levo comigo para a vida.* É um canto mais que próprio, por si, porque quem passa, por quem se quer inspirar, abrir os pulmões (salvo seja) e sentir Coimbra. Não há folha de papel que não se converta em folha perene. Canto e recanto? Sem dúvida este!



Coimbra está cheia, inchada, crescente. Acontece-lhe a enormidade em cada equinócio, parece que o ar muda. Do Penedo caminhamos em direcção ao jardim Botânico, magno. Entramos pelo portão do lado do busto de Avelar Brotero. Este jardim, cheio de exemplares exóticos, alguns únicos no Universo (estes exageros sabem bem) tem uma fonte e a expressão da vontade de um Marquês do Pombal a marcar o ritmo das caminhadas. Segue-se, segue-se e desbravam-se as correntes verdes. A fonte anuncia labirintos. Os esquilos anunciam chuva de nozes na certa. Gosto da ideia de me sentar no chão. De ver o fim do dia passar pelos Arcos, os  ditos que desenham o aqueduto de São Sebastião. Mas há um cantinho que oferece cadeiras e  chá quente, como quem entra pelo Departamento de Antropologia e descobre, à esquerda, uma varanda para o Mondego com o jardim Botânico como prolongamento da casa. Lembro-me de estar aqui em fins de dia vários a fotografar as gradações do pôr-do-sol. De conversas excelentes, de gargalhadas fortes. Mais um sitio a chamar nosso, para ler, escrever, pensar, imergir.

Faço o caminho em direcção à rotunda do Papa, sigo pela Guarda Inglesa, e torno a encontrar o Jardim da Sereia, subo em direcção à esplanada do café Atenas e sim, sento-me um pouco.  A intenção é percorrer a rua Pedro Monteiro e entrar na casa da Cultura. A Feira do livro de Coimbra está quase  aí. Inaugura sexta-feira, no Parque Verde da cidade, espera-se que o calor brinde os visitantes. Se o fizer brilhante será o conjunto de “ sentados na relva”.  O rio Mondego ali a chamar à margem, livro na mão, o corpo na relva, a oportunidade da livraria ao ar livre. Vou lá passar no Sábado e depois conto-vos.

Para já antecipa-se a audição  dos hinos que me acompanham na Leitura. O Festival Internacional de Jazz de Coimbra também abre apetite no dia 25. Duas molduras brilhantes, livros e música, livros e Jazz.

Até à próxima caminhada, pela feira do Livro. Da cidade,  redescobri-lhe a essência. Não esgota.


*Verso da Balada de Despedida do 5º ano Jurídico - 1989
Foto: Pedra no Penedo Da Saudade.

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