Parte Terceira:
*Verso da Balada de Despedida do 5º ano Jurídico - 1989
Foto: Pedra no Penedo Da Saudade.
Os dias prolongam-se imensos por
aqui. Entre o calor arrebatador e a chuva repentina, entre a cidade dos
estudantes que esteve em festa e o quase colapso nervoso de uma Briosa vitória.
Não prolongo mais a descrição, o certo é que há história que fica na história e
poesia no meio do branco e preto em que a cidade se encontra vestida. Adiante.
Penedo da Saudade e outras
miragens. Aqui as pedras falam. Umas vezes sussurram. Hoje gritam. Daqui, mais
uma vez, contempla-se parte da cidade, escondem-se segredos, imperam as rimas
escritas nas várias pedras, recordações dos amores de estudante que duram bem
mais que uma hora. Muitos deixaram o devaneio eternizado esculpindo versos,
somando páginas sólidas à sua memória afectiva. E aqui a água corre em
pequeninas fontes. Sabe tão bem, de Verão ou de Inverno. E as Serenatas? As Serenatas
no Penedo dão-lhe o auge da Saudade, não é preciso mais nada para conhecer o
aperto e deixar a voz ecoar ou os sentidos permitirem o arrepio da pele. O
Penedo é a outra face da imagem das pedras da calçada, aquelas que testemunham
os passos, a caminhada, o trajecto de uma vida feita de símbolos. Não é uma
inspiração, é uma ode à eternidade. Capa
negra de Saudade, no momento da partida, Segredos desta cidade levo comigo para
a vida.* É um canto mais que próprio, por si, porque quem passa, por quem se
quer inspirar, abrir os pulmões (salvo seja) e sentir Coimbra. Não há folha de
papel que não se converta em folha perene. Canto e recanto? Sem dúvida este!
Coimbra está cheia, inchada,
crescente. Acontece-lhe a enormidade em cada equinócio, parece que o ar muda.
Do Penedo caminhamos em direcção ao jardim Botânico, magno. Entramos pelo portão
do lado do busto de Avelar Brotero. Este jardim, cheio de exemplares exóticos,
alguns únicos no Universo (estes exageros sabem bem) tem uma fonte e a
expressão da vontade de um Marquês do Pombal a marcar o ritmo das caminhadas.
Segue-se, segue-se e desbravam-se as correntes verdes. A fonte anuncia
labirintos. Os esquilos anunciam chuva de nozes na certa. Gosto da ideia de me
sentar no chão. De ver o fim do dia passar pelos Arcos, os ditos que desenham o aqueduto de São
Sebastião. Mas há um cantinho que oferece cadeiras e chá quente, como quem
entra pelo Departamento de Antropologia e descobre, à esquerda, uma varanda para
o Mondego com o jardim Botânico como prolongamento da casa. Lembro-me de estar
aqui em fins de dia vários a fotografar as gradações do pôr-do-sol. De
conversas excelentes, de gargalhadas fortes. Mais um sitio a chamar nosso, para
ler, escrever, pensar, imergir.
Faço o caminho em direcção à
rotunda do Papa, sigo pela Guarda Inglesa, e torno a encontrar o Jardim da
Sereia, subo em direcção à esplanada do café Atenas e sim, sento-me um
pouco. A intenção é percorrer a rua
Pedro Monteiro e entrar na casa da Cultura. A Feira do livro de Coimbra está
quase aí. Inaugura sexta-feira, no Parque Verde da cidade, espera-se que o
calor brinde os visitantes. Se o fizer brilhante será o conjunto de “ sentados
na relva”. O rio Mondego ali a chamar à
margem, livro na mão, o corpo na relva, a oportunidade da livraria ao ar livre.
Vou lá passar no Sábado e depois conto-vos.
Para já antecipa-se a audição dos hinos que me acompanham na Leitura. O
Festival Internacional de Jazz de Coimbra também abre apetite no dia 25. Duas molduras
brilhantes, livros e música, livros e Jazz.
Até à próxima caminhada, pela
feira do Livro. Da cidade, redescobri-lhe
a essência. Não esgota.
Foto: Pedra no Penedo Da Saudade.
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