Ao Domingo...
Letras Focadas
“Na ponta da pena, soltam-se letras conjugadas, bem focadas, para serem percebidas”
De
longas barbas brancas, com auscultadores nas orelhas, vociferava contra a pobre
garrafa vazia que ao seu lado estava. O fiel companheiro, talvez habituado já àquele discurso monólogo, mantinha-se quieto à espera de melhores momentos.
Aproximei-me para tentar perceber...
-Diz-me lá porquê! diz-me! - dizia de forma insistente para a
garrafa de plástico.
Arranjei
coragem e aproximei-me:
- Posso
ajudá-lo? - questiono
Fulmina-me
com o olhar. Desta vez vou sair-me mal, penso.
- Se a
Senhora conseguir explicar-me o porquê, ajuda!
- Diga
lá então! - sinto-me agora mais confortável na presença daquele olhar.
- É capaz de me explicar porque raio a estúpida da garrafa é verde, verde esperança
quando eu já não a tenho!? Consegue explicar?
Levo um
soco. Perante mim, está um homem com olhar alucinado e tão lúcido.
- Talvez
porque ela gosta de ser diferente - respondo-lhe
Faz-se
um silêncio!
Mantendo a cabeça em baixo, olha para a direita, olha para a
esquerda, como se estivesse a negar a minha resposta.
De
repente, levanta a cara e os seus lindíssimos olhos verdes a sorrirem,
oferece-me o olhar mais doce que vi até hoje.
- Tem
toda a razão... ela é diferente, como eu sou também. Agora não é só a mim que me
vão chamar maluco... ahahahahahah
Levanta-se,
estica-me a mão e eu, instintivamente, dou-lhe um abraço e o seu cheiro
nauseabundo pareceu-me cheiro a jasmim.
Numa
ponte romana, encontrei o "Pai Natal" que usava auscultadores e era
deste tempo.
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