segunda-feira, 23 de abril de 2012

“Eu não sei que tenho em Évora, que de Évora me estou lembrando. Ao passar o rio Tejo as ondas me vão levando”.


A caminho de Évora, sem passar o rio Tejo pois foi Portalegre que deixei para trás. Não tive tempo de visitar um espaço mas não é por isso que não deixo a referência. Estava no roteiro mas as paredes de José Régio revelaram-se tão densas que a minha vontade foi voar directa para Vila do Conde e prolongar-me noutra sua casa museu. Fica para o roteiro do norte, o assunto será retomado. O tal espaço, ainda em Portalegre, é uma livraria/cafetaria de sua graça Ponto Final. Parágrafo. Compram-se livros, bebem-se sessões culturais, saboreia-se café. Infelizmente não lhe medi a cor nem a dinâmica mas é bom saber que existe.

Inevitavelmente a Évora que me espera tem sabor a Vergílio Ferreira e às reflexões existencialistas de uma Aparição. E também por ele tem comparação a Coimbra e, por isso, o acto de geminação é tentador. Porém, mais do que deambular pela pele da vivência, das comparações e das inspirações, esta passagem por Évora terá que isso mesmo, uma passagem. A tentação de prolongar a estadia é muita porque esta cidade, entre muralhas, dá vontade de ficar.

Évora recebeu, em Fevereiro, pela Sociedade Portuguesa de Autores, o prémio de melhor programação cultural autárquica, em áreas como cinema, literatura e música. Da janela onde estou aguardo pelo nascer do dia para ir recolher mais informações, parar nas esplanadas das arcadas da Praça do Giraldo, para continuar esta partilha. As mãos vão estar geladas mas valerá a pena. Quando o Verão entra no seu tempo, o calor sufoca a respiração. O extremo, aqui, é compensado com o céu enorme o ano inteiro, com a luz que esta cidade emana, que faz nascer um sentimento de conforto, que entra na pele. Muito haveria para destacar neste recanto alentejano, bem como de todos os sítios já visitados. Mas temos que nos cingir ao encanto literário, esse é o mote!

Já na praça enunciada, e munida de informação, tenho que falar de três autores. Apenas três, a lista é grande. Tão grande quanto a vontade de adicionar Vila Viçosa ao roteiro e dar um abraço à Florbela Espanca. Mas não será necessário passar por lá para, oportunamente, falar nela. André de Resende é o primeiro a “sentar-se comigo à mesa”. Nascido em Évora no século XVI, um dos nossos Humanistas, cujo acervo literário é extenso, em latim e português, e tido como um dos homens pioneiros da arqueologia em Portugal. Muito sobre ele se escreveu também, do seu papel da obra deixada, das referências. Conversei com a cadeira vazia que lhe destinei. Falamos de António Gancho, falecido nem há dez anos, conhecido como o “poeta nocturno”, cuja obra poética é única, destacando-se O Ar da Manhã, que aconselho a leitura. António dizia-se Pessoa e também Bocage assumindo-se como Luís de Camões. A sua história é conhecida para sociedade como a de um louco, não é leve o enredo que o rodeia. Há um sentimento de injustiça no que toca ao reconhecimento da sua genialidade. O terceiro é Álvaro Lapa, pintor e escritor, também já desaparecido e amigo de António Gancho, um homem que conjugou a arte, pode dizer-se, na tela escrita, tal é o mundo abstracto que explana. O sentimento que me assalta é a vontade de ter duas vidas mais para conseguir ler tudo de tanto que há, que temos e que tivemos nestes homens que, não sendo desconhecidos, deixaram tanto por conhecer.

A passagem pela biblioteca encerra a informação que daqui vos transmito. A comemoração do  Dia Mundial do Livro, 23 de Abril, data da publicação deste roteiro, terá em Évora Conversas Informais entre autores, livreiros, bibliotecários e leitores. Também no espaço da Biblioteca e no mesmo âmbito, tendo como mote Os Dias do Livro terá lugar a iniciativa Sete Dias, Sete Livros Sete Tesouros, a decorrer até ao dia 29 de Abril. O intuito é dar a conhecer sete obras raras, uma por dia, proporcionando o acesso a um acervo raro e único que a Biblioteca de Évora contempla na sua colecção.

Na próxima quinta-feira vamos mudar a mão. Sair do Sul, onde voltaremos, e pernoitar no centro. Na bela Coimbra.

Bom dia Mundial do Livro!
*foto - Praça do Giraldo
*Titulo: extrato do poema popular "Meu Alentejo"
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2 comentários:

  1. Muito bom! Só fui uma vez a Évora,era pequena e não me lembro bem mas agora já sei como preparar a próxima visita.

    Estou ansiosa pelo roteiro de Coimbra por vezes a cidade onde vivemos é a que pior conhecemos.
    Boa estadia...*

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  2. :) O roteiro de Coimbra vai ser repartido em 3 textos. Vamos ver como corre, ou escorre ;) *

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