quinta-feira, 26 de abril de 2012

A chuva da liberdade a regar o dia de Feira

O 25 de Abril trouxe-nos chuva, muita chuva miudinha como a ânsia que começa a incomodar as pessoas tempo antes de começarem a reagir e a coçar, a incomodar. Hoje pelo país festejou-se essa libertação de 1974, no Porto honrou-se a data da melhor forma, marcando-o de novo pela vontade popular. Este 25 de Abril fica também marcado por ser o 25, o primeiro dos 25, em que um homem forte, que dizia nunca ter desistido, já não festejou. 

Porque a chuva foi mesmo a marca, serve de desculpa para recordar um livro que também é filme. "Uma Abelha na Chuva" de Carlos Oliveira, adaptado em 1972 por Fernando Lopes ao 
cinema.

  

Na imensidão das dunas e da atmosfera mística da Gândara, terra primordial da obra de Carlos de Oliveira, as pessoas são como as abelhas. Em colmeias podres ou em comunidades obreiras à espera da ferroada, decorre esta narrativa de forte carga simbólica. 

O foco da história incide no amargurado casamento de Dona Maria dos Prazeres com Álvaro Silvestre. Sem filhos e sem amor que os una, sobrevivem entre discussões acaloradas (pelo álcool e pelo desprezo) e a farsa que representam para os habitantes da localidade. Numa narrativa que arranca do presente (anos 50, em pleno Portugal do Estado Novo) e que se enleia nos momentos passados, adensando a tragédia, descobrimos um Álvaro penitente. Na redacção do jornal da vila, o comerciante quer publicar um acto público de contrição, assumindo as culpas por burlas e outros dolos. Mas surge a sua orgulhosa esposa para o amedrontar e nada acaba por ser publicado. 


O ódio que este casal nutre entre si, ou o fel que destila das suas almas, acaba por verter sobre os criados e outros personagens secundários que esvoaçam ao seu redor. Jacinto e Clara, o jovem par de namorados que concebia um futuro, é atingido por esse mal e perde a vida num clímax trágico que anuncia a tempestade. Ele é assassinado, vítima do ciúme doentio de um pretendente, da repulsa de um pai com aspirações sociais e de um Álvaro bêbado que fala sem pensar nas consequências. Ela escolhe a água, no fundo de um poço, para finar a sua vida e a da esperança que transportava na barriga. 

Ficam os outros. Fica uma colmeia putrefacta.

1 comentário:

  1. Parabéns pelo blogue.

    Muito cativante para quem aprecia o mundo dos livros.

    Abraço e boas leituras,


    silenciosquefalam.blogspot.com

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