terça-feira, 13 de março de 2012

Como li o livro de Penelope Fitzgerald, leitura conjunta de Fevereiro

Quero agradecer à Cristina Correia o facto de ter escolhido este livro. Andei a espiá-lo durante algum tempo na livraria onde trabalho. O título não pode ser mais sugestivo para quem, como nós, gosta de livros. Então de histórias que falam deste mundo, nem se conta... O mundo da leitura, dos autores (nesta história o destaque vai para Lolita de Nabokov), dos espaços onde habitam e circulam as personagens... Narrativas que nos levam ao sonho. Àquele sonho particular de fazermos parte da História Universal dos livros...

Mas confesso: A livraria não me encheu as medidas. Talvez esperasse mais de Penelope Fitzgerald, que ganhou um Booker Prize em 1979 com Offshore e teve este livro na celebre "shortlist" do mesmo (bem como The Beginning of Spring e The Gate of Angels). Os prémios (ou as obras"finalistas") podem gerar uma expectativa errada nos leitores. Como tal, não me apaixonei pela escritora (apesar de lhe dar o benefício da dúvida em relação aos seus outros livros que, como é óbvio, ainda não li).

Longe de ser um livro péssimo e de estar mal escrito, o que menos apreciei foi o desenrolar da acção e o desenvolvimento das personagens. A ideia central está bem conseguida: uma mulher que resolve abrir uma livraria numa localidade pequena com o dinheiro que o marido lhe deixou. O pormenor de ser numa casa abandonada, ter uma criança de 10 anos que depois lhe ajuda na manutenção do espaço... tudo isso me parece interessante. E, de certo modo, fez com que acreditasse mais na história. Algo que não acontece mais à frente...



Isto porque falta chama. Porque faltam ingredientes essenciais: a magia de ser livreiro, a beleza de falar de livros, o poder de conquistar as pessoas pela leitura... Toda a história de Florence Green acaba por ser, no íntimo, uma luta burocrática contra o poder instalado local que pretende dar um outro rumo à casa e que, na verdade, o consegue fazer. Substitui a livraria por um Centro de Artes... Mas até este pormenor me irritou um pouco. Um Centro de Artes? Então substitui-se um espaço cultural por outro? Se ainda fosse um talho... uma mercearia... Algo com uma finalidade distante faria mais sentido para mim enquanto leitor.

Salva-se a atitude louvável (digamos assim) da personagem principal. Do sonho de edificar um espaço destes num pequeno e remoto lugar perdido no campo... Há qualquer coisa de romântico nesta ideia. Permanece uma vontade de inverter as lógicas instaladas. Apesar disso, o desfecho acaba por ser a desilusão: o espaço fecha mesmo. Na minha opinião (que vale o que vale), a escritora dá um tiro no sonho. Mesmo que a história se tenha passado nos finais dos anos 50, noutra época, com outras mentalidades.

O que me fica é este final. Uma história infeliz. Que podia ter sido mais explorada. Que podia ter-me feito sonhar mais... Mas que não conseguiu! Tenho que ser honesto: o desenrolar da acção perde-se nas disputas da casa e faz esquecer a livraria... Título que acaba por não fazer jus ao romance.

1 comentário:

  1. Foi exatamente a minha leitura. Quando comprei o livro, fui levada pelo título (adoro livros com livros dentro), pela sinopse da contracapa (Florence Green decide abrir uma livraria contra tudo e contra todos) que me fez pensar no livro “Chocolate”, de J. Harris, (aí, sim, a protagonista teve uma luta titânica para manter a chocolataria) e pela propaganda que envolve o livro: “excepcional… Uma preciosidade”, escreveu o Nem York Times. Não achei nenhuma preciosidade. Tem passagens sem ritmo, não achei piada nenhuma ao “fantasma”, não percebi a mistura de livraria com biblioteca, não foi nada explorada a venda da “Lolita” de Nabokov. Enfim. Li até ao fim, gostei da frase final, mas não me apaixonei nem fiquei com vontade de ler mais tarde.

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