terça-feira, 13 de março de 2012

O nossO Unhappy END

A luz do dia declinou mudando de lugar a sombra dos móveis.
O candeeiro da rua ficou pontualmente amarelo… amarelando a sala.
E nada mais mudou…
Um silêncio sólido, mas não pesado, talvez leve.
O som do meu respirar.
O som do teu respirar.
Conseguíamos respirar.
Sentados lado a lado no sofá, dentro de uma sala amarela, conseguíamos respirar.
O amarelo tem o seu quê de alegre e doce… o amarelo sempre me faz lembrar, não sóis, rebuçados, com sabor a limão, talvez a ananás… mas, o momento era trágico.
Depois... passaram talvez dez minutos ou uma quantidade enorme de segundos… um segundo uma ovelha a saltar a cerca, um rebanho imenso, tanta lã na Primavera… dez minutos intermináveis…
… e continuávamos a respirar…
Dez minutos sem palavras… as palavras todas ditas… todas gastas… desnecessárias… porque nada mais a dizer… talvez por isso um silêncio feito de uma estranha leveza… a leveza depois do depois, do já passou, do acabou…
... os dois corpos no sofá cansados…estafados… mas, ainda a respirar…
Há discussões que são como correr uma maratona…... ficamos sem pernas, sem pulmões, sem ar, o coração fora do sítio, ao pé da boca…. sem conseguir, depois da meta, dar mais um passo... só mais um passo...
Quantos quilómetros tem uma maratona?
Como se fosse coisa que me interessasse!
Como se eu corresse!
Dez minutos intermináveis… e os meus pensamentos saturados e em consequência vazios… a fugir de pensar em coisas más… as almofadas são feitas de linho azul… mas com a luz amarela… as almofadas parecem verdes… lá está… nem tudo é o que parece… e nós parecíamos tão felizes…
Até que os intermináveis dez minutos terminaram… a verdade é que nem tu nem eu sabemos quantos minutos passaram… mas... não passaram horas, não passou a noite, não amanheceu…
Levantaste-te do sofá…
Eu continuava a respirar… tu continuavas a respirar…
Atravessaste a sala e, no corredor, à porta do quarto… do nosso quarto… e já não era o nosso quarto… o teu olhar… pareceu-me triste… nem tudo é o que parece… talvez porque um desses olhares que antigamente se viam nos filmes... nas cenas em estações de comboios… de despedida.
 
Raquel Serejo Martins


 

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