segunda-feira, 12 de março de 2012

in Campo de Sangue

... a mãe não nasceu com os olhos opacos que o confundem, os olhos velaram-se com os enxovais das noivas que vinham de fora do bairro, traziam peças de pano branco que a mãe transformava em lençóis bordados para as noivas se oferecerem aos maridos, entregavam-se sobre as flores bordadas que cegaram os olhos da mãe, os olhos encheram-se de flores bordadas até não conseguirem ver mais nada, este é o lençol das núpcias mostrava a mãe e as noivas coravam, nunca percebi a satisfação daquelas criaturas transitórias, nunca percebi a linguagem dos bordados, fundos ajourados, ponto de cetim, as noivas escolhiam desenhos para as toalhas de mesa, em ponto de Assis, mais flores e mais passarinhos numa inocência enjoativa, a mãe a encher os riscos a lápis com linhas de cores, as noivas diziam as iniciais dos nomes dos noivos, o monograma era bordado no peito do futuro marido, um roupão com um eme e um efe entrelaçados, o pé da mãe no pedal e a máquina na lengalenga, não posso continuar a sustentar-te, estou cansada...

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