Uma coisa certa: no dia vinte e cinco de Abril de mil novecentos e
setenta e quatro, faltaria ainda um bom bocado para as sete da manhã, Celestino
apertou a cartucheira à cintura, enfiou a Browning
a tiracolo, verificou o tabaco e as mortalhas, esqueceu-se do relógio pendurado
num prego que também segurava um calendário e saiu porta fora. O céu começava a
clarear. Ou talvez nem sequer tivesse começado a clarear. Por cima das sopas de
café com leite, Celestino emborcara, sem esforço, dois tragos de bagaço. O
primeiro, para a azia. O segundo, para os pensamentos cismáticos, que ele,
como, aliás, todos os traços fisionómicos sugeriam, era homem dado a
prolongadas melancolias.
* João Ricardo
Pedro nasceu em 1973, na Reboleira, Amadora.
* Este é o seu
romance de estreia e com o mesmo ganhou o Prémio Leya 2011, tornando-se no
primeiro português a ser distinguido com este galardão.
Um livro cheio de mistérios para o leitor decifrar...
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