domingo, 8 de julho de 2012

Abrindo o livro de Junqueira...


Abri o livro de Sandro William Junqueira («Um Piano para Cavalos Altos») e, mesmo antes de ler a contracapa, a sinopse e a breve referência biográfica; tropecei na frase que o escritor escolheu de Tchékhov:

«Quando uma pessoa nasce, segue por um de três caminhos, para além dos quais não há outros: viras à direita, e és comido pelos lobos; viras à esquerda e comes os lobos; segues em frente e comes-te a ti mesmo.»


Antes de ir às capas, vou ver a sinopse que a Caminho disponibiliza nos sites de livros... Só para vos espevitar um pouco:

"Uma cidadela cercada pela natureza onde os lobos são ameaça. Um muro que serve de barreira. Uma sociedade exemplarmente organizada, anos após um grande desastre. Um governo que sabe que o medo é motor e que legisla música. Uma fábrica que produz empadas e apronta cremações. Um microcosmo familiar onde um filho é amarrado a um piano. Um homem dotado da capacidade de sonhar com aquilo que ainda não aconteceu, mas que é certo ir acontecer. Uma rebelião que se levanta. Um cavalo que não perde elegância. Um corvo que gralhará na hora da sorte.Um Piano para Cavalos Altos pretende ser uma metáfora de um mundo regido pela ordem, pela disciplina. Uma premente reflexão sobre o poder: o poder do controlo, o poder da comunicação, o poder do corpo."


E agora, qual Monge Copista, dedico-me à arte de sublinhar o que a Internet ainda não publicou... 

"Criada: a Ruiva é sua patroa, o Director é seu patrão; sofre de miopia: não sabe lavar o arroz.
Gato: boceja e espreguiça-se frequentemente; mia um segundo antes de acontecer alguma coisa.
Filho: não gosta de sopa nem de lobos; toca piano.
Médico Loiro: pessoa de palavra; sabe desenhar sobrancelhas; possui o código de acesso ao corpo.
Mensageiro: operário de Fábrica; sonha com aquilo que ainda não aconteceu.
Militar Coxo: monta um cavalo alto; tem uma perna adivinha.
Militar de Olhos Azuis: guarda a fronteira da Zona Amarela; olha para as mulheres com força.
Ministro Calvo: chefe do Governo; enquanto come empadas faz ditados e leis.
Peixes: seres silenciosos que não julgam; habitam certos aquários e terrinas.
Prostituta Anã: faz o que sabe; tem uma cama que fala."


De volta às cópias já lançadas no mundo dos computadores, prossigo com a contra-capa:

«Concordemos todos: o perigo que é ouvir pássaros cantarem melodias alegres. O perigo que é! Felizmente, o Muro serve de barreira, a
Floresta fica longe, e os ramos das árvores. Mas não sejamos
desprevenidos. A música não é apenas, como muitos julgam, mera
organização matemática de sons. Ou: que bonito!, ou: que horror! A
música também é medicamento: pode deter a eficácia inata de um
poderoso ansiolítico, ou guardar fortes propriedades vitamínicas. Daí
alterar estados de ânimo, compassos cardíacos. Pois, tal como uma arma
de grande calibre quando empunhada, um violoncelo, um saxofone,
derrubam, imobilizam, silenciam, amolecem, colocam lágrimas onde antes
não as tínhamos. E, de igual forma, vocês sabem isto, um piano faz
deslizar o corpo, ou levanta-nos de um pulo como um gafanhoto, ou
põe-nos a correr com o vento da alegria a arreganhar a boca.
Posto isto, colocam-se questões indispensáveis:
Que música deve o Governo ouvir para se fazer mais forte, e irresistível?
E que música permitiremos nós dar a todas as cabeças silvestres e
corações toscos que nesta cidade abundam, para que não lhes cresça na
boca a espuma da baba raivosa?»

E, para remate, a nota biográfica. Volto a passar letra-por-letra. Os sites de livros estão desactualizados! 

"Sandro William Junqueira nasceu em 1974 em Untali, na Rodésia. Retornou em 1976.
Experimentou a música, escultura, pintura. Foi designer gráfico. Diz poesia. Trabalha regularmente no teatro como actor e encenador. Lecciona Expressão Dramática. Publicou O Caderno de Algoz (Caminho, 2009), e foi um dos onze escritores da novela policial O Caso do Cadáver Esquisito (Associação Cultural Prado, 2011)."

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