Meu velho Agostinho,
Sem necessidade de eternizar a ocasião extraordinária do diálogo comigo própria, roubo-te a expressão e digo-te …toda a nossa vida é poesia e eu prometo-te que há-de continuar a ser feita. De ti , e pelas tuas palavras que gritaram a sede de haver tanto por cumprir.
Há 106 anos nasceste para o Mundo e como saberás o Mundo ainda não nasceu para ti. O teu Quinto Império, o que guardaste da mão do nosso António, o Vieira, mantém-se vivo nos escritos que vão aparecendo, sem que a comprensão os acompanhe. O malandro do Pessoa sempre deixou as arcas e parece que é agora que nos vamos deleitar a descobrir mais um pouco da vossa simplicidade. Aquela que vos tornou grandes. Enormes. Para lá da Dízima.
Encontrei cartas trocadas entre ti e o meu pai. Encontrei-as na memória, no arquivo da mente, nesse extraordinário compartimento que guarda a marca de água da Existência. A Essência é o que se manifesta dela, ou se vai manifestando. Num momento em que a raiz é assolada pelo encontro do fruto, revisito-te nas prateleiras onde te guardo, a ti e ao espaço mágico da tua sala, onde as janelas dignas de umas Águas Furtadas vertiam mil memórias e outras tantas histórias.
Felicidade e Alegria, dizias tu, meu velho Agostinho, que o importante é a liberdade do espírito, que a dificuldade da diacronia pedia alegria tornando a felicidade indiferente. O que é isso de ser feliz?… Se pudesse dir-te-ia hoje que descobri que a felicidade é o ponto de situação da diacronia, indiferente à euforia e à medida do tempo, e que o importante não é ser feliz mas ir sendo.
Sem necessidade de eternizar a ocasião extraordinária do diálogo comigo própria, roubo-te a expressão e digo-te …toda a nossa vida é poesia e eu prometo-te que há-de continuar a ser feita. De ti , e pelas tuas palavras que gritaram a sede de haver tanto por cumprir.
Parabéns meu velho. Sempre.
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