quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

in Terno Bárbaro

"Tal como eu, Vladimir sabia falar com os animais; cada vez que encontrava uma gata, logo lhe estendia o dedo e, tocando o seu focinho, entrava em comunicação com ela e dizia-me: «Doutor, quem é amigo dos animais é graciosamente amigo de Deus, e assim, duma só vez, une e liga o que há de mais baixo com o mais alto, fechando o círculo, exactamente como eu quando através das minhas gravuras fujo do lixo da fábrica para o arrebatamento máximo do meu espírito.»

(...) Chegamos à igreja de Proseky e, como estava aberta, entrámos, porque essa igrejinha tinha quase mil anos...
Aí, uma arrumadeira limpava os bancos e junto dela andava um belo gato, tal como eu gosto, cinzento e preto, com patinhas e peito brancos e focinho cor-de-rosa, e o gato passeava pelos bancos, e quando a mulher da limpeza se ajoelhou para limpar o altar o gato saltou atrás dela sobre o estrado; sentado ao lado da campainha da elevação, olhava como se fosse o ajudante da missa ou o sacristão, ou algo ainda mais, como receava Vladimir...


(...) Quando no domingo fomos à missa, foi exactamente como Vladimir tinha previsto. Durante a missa solene, o gato lá estava sentado ao lado da campainha, olhando o altar, e quando nos viramos verificámos que nenhuma cara humana exprimia tanta devoção e tanta sabedoria como o gato, de modo que Vladimir me sussurrou que o gato, que observava deliciado o padre dizendo a missa, estava em comunicação directa com Deus e Deus, através do padre, estava em ligação directa com o gato, e que assim, em casos excepcionais, os gatos superam a fé morna de certos crentes, e que o céu deve estar cheio de gatos."

* a imagem foi retirada do blogue Lulinlulin.

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